Espaço de Pesquisas
Oi! Este é um espaço do qual você pode pesquisar e encontrar histórias de mulheres que participaram do nosso projeto por todo o Brasil! Legal, né?
Pra usar, basta digitar no espaço de pesquisa alguma palavra-chave, por exemplo: alguma profissão, alguma cidade, algum tema...
É o nosso verdadeiro banco de dados - o primeiro, da história das mulheres que se relacionam afetivamente
com mulheres - e precisa ser valorizado! ♥
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- Dani e Aline
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Dani e da Aline, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! Hoje em dia elas brincam que não chegaram a namorar porque a Aline não deixava elas namorarem, nunca quis assumir esse namoro porque não queria prender alguém naquela vida. Mas brincam porque passavam o dia das namoradas juntas e inclusive a Aline comprou um presente de dia das namoradas pra ela e desistiu de dar por esse medo de assumir algo que fosse contra o que ela ideologicamente dizia - mesmo que elas soubessem que, no fundo, estavam juntas. Acreditamos que a brincadeira existe hoje em dia justamente por entendermos que isso era um processo dela entender o seu próprio tempo, porque naquele dia mesmo, a mãe dela inclusive estava radiante e super feliz por elas estarem juntas ali comemorando o dia. E a própria relação da Dani com a mãe da Aline era algo que sempre mexia e tocava muito ela também. Nesse começo de relacionamento que não era relacionamento (mas era! hahaha só não conta pra elas, tá?), a Dani se mudou de Friburgo para Miguel Pereira, também no interior do Rio, e depois, em Miguel, surgiu a oportunidade de voltar a morar no Rio de Janeiro. Nessa época a Aline havia se mudado para o Rio há pouco tempo atrás com a mãe e, quando elas já estavam aqui, tudo foi acontecendo e acharam um local perfeito do qual conseguiriam adaptar todo ele para que fosse confortável manter a nova vida delas enquanto um casal, a mãe com suas necessidades e poderem bancar financeiramente as cuidadoras e enfermeiras que o momento pedia para auxiliar no dia a dia dentro de casa. Era muito natural que a mãe da Aline fosse pensada em primeiro lugar e isso nunca foi visto como um peso ou algo sofrido para a Dani. Inclusive, era bastante o contrário. O carinho com que ela trata e relembra dos momentos que tiveram juntas é algo realmente emocionante. A mãe da Aline era uma pessoa que, mesmo enfrentando um momento muito difícil, nunca deixou de ser risonha, leve e brincalhona… e a Dani a acompanhava nas brincadeiras. Estavam sempre se divertindo. As cuidadoras mesmo, até hoje, frequentam a casa delas e dizem o quanto sentem saudade do lugar onde moravam todas juntas. A Dani comenta sobre ter sido um encontro, realmente, um encontro de pessoas que estavam dispostas. Ela entende que talvez se fosse outra pessoa, não conseguiria aguentar ou não estaria disposta. Mas para as três foi natural, elas estavam ali. Não era nenhum pouco fácil, mas a Dani era um contraponto, era uma alegria, uma diversão, alguém que chegava e alegrava. Quando se conheceram, a Dani morava em Friburgo, no interior do Rio de Janeiro e a Aline morava em Nilópolis, na baixada fluminense. Elas conversaram rapidamente no aplicativo e a Dani não continuou muito o assunto, se sentiu com pouca confiança, com o papo chato. Por outro lado, a Aline nem se quer pensou que ela tinha papo chato, pelo contrário, se questionou com um “nossa, por que será que ela parou de falar?” e tudo ao redor colaborou com o afastamento porque a Dani ficou sem internet e era feriado de Páscoa… porém a Aline aproveitou o feriado e puxou um novo assunto, mandou um simples: “Feliz Páscoa!”. E era o bastante para a Dani entender que ela não estava sendo chata, que a Aline queria conversar e seguir aquele papo deixado de lado anteriormente… deu certo! A partir de então, conversaram dias e dias até se encontrarem pessoalmente, no Rio de Janeiro. É impossível falar de como começou a história da Aline e da Dani (ou contar a história da Aline e da Dani, sendo o começo ou não), sem citar a presença da mãe da Aline. Durante dez anos, a mãe dela passou por uma doença desmielinizante que era incurável, ou seja, gradativamente ela foi perdendo a voz, os movimentos, se tornou dependente… e quando a Aline conheceu a Dani ela já passava pelo momento de dedicar 100% da vida aos cuidados da mãe. Por mais que ela conhecesse pessoas e fizesse amizades, era uma pessoa muito arredia e fechada aos relacionamentos. Já tinha vivido um casamento e não se via embarcando em uma nova relação (não só por ela, mas por achar injusto com a outra mulher… por achar que ninguém merece se ver em uma situação assim). E mesmo encontrando pessoas legais que desejassem ter algo sério ou montar um projeto de futuro, ela criava barreiras para que isso não acontecesse porque não era capaz de enxergar esse futuro naquela circunstância. No meio disso tudo, a Dani chegou trazendo uma perspectiva totalmente diferente. A ideia era não precisar escolher entre abrir mão de tudo pelos cuidados da mãe ou abrir mão da mãe para poder aproveitar a vida, mas sim, incluir a mãe nos projetos de vida. Com muita persistência a Dani foi mostrando isso diariamente (mas não de forma incisiva obrigatória, foi uma persistência que acontecia naturalmente por querer ver as coisas bem), ela foi atrás de uma cadeira de rodas, de uma readaptação à vida e ao mundo novamente já que a mãe da Aline não tinha contato com a rua (para divertimento) há muito tempo… elas passaram a trazer muita vida de volta ao lar. Jantares, viagens, sorrisos, piadas, animação e divertimento. Aline tem 38 anos, é jornalista, carioca, faz mestrado em Mídias Criativas e tem uma rotina suuuuper intensa no trabalho! Enquanto a Dani tem 53 anos, também é carioca e trabalha enquanto designer… nos hobbies, adora cozinhar e deseja ainda se dedicar um dia a estudar mais sobre gastronomia, na área voltada à padaria e confeitaria. É na cozinha - e mais especificamente, no café da manhã - o ponto de encontro mais importante do dia. Quando sentam à mesa, junto com o sobrinho que mora com elas, é que constroem o espaço de conversa, de partilha da comida, de acolhimento e de debates sobre tudo o que está acontecendo no dia a dia. Elas comentam que são pessoas que adoram agregar as coisas - desde a família, os assuntos e o afeto - tudo é muito agregador. A Dani e a Aline se conheceram em um aplicativo para mulheres, no ano de 2016. A Dani não sabia da existência de aplicativos que mulheres poderiam usar além do famoso Tinder, foi então que a tia dela (que também é lésbica) indicou e insistiu para que ela instalasse para conhecer novas pessoas. Ela se convenceu, instalou mas percebeu que não tinha quase ninguém e quis desistir, mas mais uma vez a tia insistiu e disse que talvez ela devesse baixar a faixa etária que estava colocando e procurar por algumas mulheres mais novas. Ela achou isso absurdo, mas colocou e então apareceu a Aline. O que mais chamou atenção no perfil da Aline foi a frase em destaque, que era algo como: gayzista, esquerdopata, feminazi, etc. Achou divertido e começaram a conversar logo sobre eles: os opostos complementares dos signos. Para explicar o amor entre a Aline e a Dani é importante destacar que uma é o oposto complementar da outra. E esse papo de oposto complementar, por mais que tenha muito sentido pra quem adora falar de signos (e sabemos que entre as mulheres que beijam mulheres é um assunto muito comum), no caso delas, vai muito além de astros: elas se complementam em seus elementos o tempo todo. A Aline é mais pé no chão, explosiva e sentia dificuldades de se entregar à diversas coisas antes da chegada da Dani. E a Dani chegou com muita leveza, muita fé, um alívio na própria presença e no deixar fluir. Juntas elas foram se encontrando (uma encontrando a outra e ambas se reencontrando em si) e a Aline foi ensinando muito para a Dani também (a receber críticas, a ouvir os outros de formas diferentes e a estar vivendo algo novo). Tudo aconteceu porque elas sempre tiveram propósito. E ter propósito não quer dizer que será fácil - até porque não foi, elas enfrentaram muitas barreiras juntas e não romantizam as dores e os perrengues diários - mas durante a conversa, diversas vezes ambas falam o quanto a vida melhorou por escolherem se permitir viver isso e o quanto isso continua refletindo no querer estar junto e seguir criando planos e construindo uma vida lado a lado. A Aline e a Dani falam, por fim, sobre a urgência de termos uma cidade que fale com seu povo, que respeite sua população de verdade - mas respeitar não significa apenas que duas mulheres consigam sair de mãos dadas na rua à tarde em um bairro nobre se quando voltam está tendo tiroteio na porta de casa e não conseguem entrar em segurança. Falamos de uma cidade em que conseguiremos viver com dignidade pela nossa existência. Com menos violência e menos guerras, menos violência contra mulher, menos genocídio nas favelas. Com comida, água, saneamento básico, acesso às educações e saúdes. É uma urgência de mudar as coisas pela base, de acreditar nas pessoas, de tirar o foraBolsonaro do poder e de não desacreditar, de fazer a nossa parte. De não normalizar a questão de tudo estar errado. É uma cidade em que esse respeito chegue para todo mundo, e principalmente: até onde hoje em dia ele não chega. Quando falamos sobre a pandemia e sobre o que estamos vivendo atualmente, elas falam que diariamente enfrentamos muitos problemas e que não há como enxergar algo de positivo na pandemia ou no governo foraBolsonaro em si, mas que é muito importante reconhecermos onde estamos: se estamos aqui, se elas estão juntas ainda, se superamos isso dia após dia e se nossos relacionamentos resistem é porque estamos realmente dispostas, é porque queremos muito. E além disso, é também porque queremos construir nossos planos… não queremos só nos imaginar com a pessoa que amamos, mas estar lá ainda, viver o que sonhamos, querer seguir construindo coisas tão boas e tão bacanas como, no caso delas, foram esses anos juntas. A Dani conta o quanto estar dentro de casa também tem feito repensar e se comunicar de formas tão diferentes. Às vezes ela vê algo de uma forma e a Aline enxerga por outro ângulo, analisa com um olhar muito diferente, com outra cabeça, outra vivência, outra idade. É uma forma de expressão que está sempre em aprendizado. E juntas elas acabam virando referência para as sobrinhas, para as crianças da família, vão construindo confianças e conversando também com elas sobre todos os tipos de assuntos, porque isso é também falar de amor. A Aline comenta uma frase, que é: “nada que você confessar vai me fazer te amar menos”, e então completa “mas eu sei que você não tem nada para confessar (porque eu já sei de tudo sobre você)” e isso, para ela, fala sobre o quanto a gente se entrega quando ama e o quanto está disposto para ouvir do outro também, conhecer o outro com todas as formas dele. E a Dani diz que, para ela, amar é ter parceria, resiliência, respeito e resignação. É ceder para ganhar lá na frente. E é também uma mistura de preocupação, de afeto e de abraço. Na época em que moravam juntas (as três) e que cuidavam da mãe da Aline, a Dani trabalhou por um tempo enquanto motorista de aplicativo e falou muito sobre a realidade dura dos trabalhadores autônomos no Brasil. Como é uma correria ter alguém debilitado em casa, estar trabalhando durante horas, passar por diversas situações de risco e mesmo assim chegar em casa disposta. Ela cita novamente a sensação que era chegar e ver um sorriso ou chegar e ter um tempo com a Aline também, porque de certa forma elas tinham um momento delas, um tempo para que pudessem se conectar e estarem juntas e o quanto esse momento era precioso. Elas comentam que são muito felizes pela forma que a história se construiu, pois entendem que cada casal possui a sua história e que a história delas tem uma pessoa tão importante no meio que é a mãe da Aline e que para sempre possuirá um carinho gigante no coração delas. Identifico na história delas uma potencia gigante de entendimento sobre o que é o amor entre mulheres, não só romanticamente enquanto mulheres que se relacionam em suas relações sexuais, mas sobre algo que só poderia ser explicado por uma relação baseada entre três mulheres: a forma que elas se encontraram, se ajudaram e se amaram. A troca entre a Dani e a Aline é o amor entre um casal e o acolhimento delas com a mãe da Aline é algo que só o amor entre mulheres é capaz de fazer. Por mais que os homens saibam acolher, nunca seria dessa mesma forma, nunca caberia nessa mesma relação, porque não teria esse olhar. Por mais que fosse uma pessoa incrível, a forma colocada seria diferente. E se fosse um pai, ao invés de uma mãe? Seria totalmente diferente. Se a Aline fosse um filho homem ela teria que procurar uma esposa para ajudar a cuidar e não o contrário, como ela fez, porque essa esposa é a mulher que faz o papel do cuidado que nos é socialmente imposto e designado. Mas não, nessa relação, não. Tudo, enquanto três mulheres, foi completamente natural: elas se encontraram, se acolheram e se amaram. Daniela Aline
- Rhanna e Lais | Documentadas
Rhanna viu Lais pela primeira vez numa prova de concurso em Salvador, em 2017. Na época, tinha um relacionamento aberto com a companheira, que morava no Rio, e achou as duas muito parecidas… Um tempo depois, foi visitar a companheira e viu Lais novamente, numa coincidência estranha, num bar na Lapa. Ela nem imaginava, mas Lais morava no Rio também. Lais foi morar em Feira de Santana em 2018, por ter conseguido um trabalho novo. Durante o período de São João conheceu a festa O Bando Anunciador, um cortejo que acontece na cidade - e que era tema da pesquisa de Rhanna, nascida (e criada) em Feira. Nos dias que antecederam a festa, participaram de um evento juntas: uma mesa de debates. Quando Rhanna chegou e viu Lais, contou que a conhecia, já tinha visto ela nessas duas situações aleatórias em lugares tão diferentes. Lais achou bastante estranho, engraçado ao mesmo tempo, mas se deram bem e foram dividir a mesa de convidadas. Quando se encontraram novamente, na festa do Bando Anunciador, Lais foi roubada. Ficou indignada porque foi roubada por um menino, um “moleque”, que quis sair correndo na rua atrás dele, mas não o encontrou. Viu Rhanna, mas mal a cumprimentou. Quando chegou em casa se sentiu até mal, sabia que ela estava empolgada com a festa, era um dia que queria ter vivido. Foi pesquisar por ela nas redes sociais, pedir desculpas… mas não achava de jeito nenhum, principalmente pela dificuldade de escrever o nome: H, dois Ns… só conseguiu quando achou uma divulgação do evento que participaram juntas. Mandou uma mensagem se desculpando por estar emburrada daquela forma, contou o ocorrido e assim começaram a conversar. Desde antes da relação virar uma relação, amizade, ou qualquer outra coisa, o que deu certo e fez acontecer foi o fato delas sempre toparem as coisas. Tanto Rhanna, quanto Lais, são pessoas que falam: “Bora? Bora!”. A primeira vez que saíram foi para um show que geralmente as pessoas não iriam, mas a festa tinha a ver ainda com o cortejo do Bando Anunciador. Se divertiram por lá e começaram uma amizade. Lais sabia da relação de Rhanna e sempre pensava que não queria se meter, achava que poderia resultar em alguma confusão, por mais que sim, se sentisse um pouco envolvida por Rhanna. Demorou alguns meses para que começassem a se envolver de fato, houve o processo da paixão, de encerrar o outro relacionamento, de se permitirem viver a paixão e de transformar isso em namoro… Sentem que o tempo foi colaborando no processo, o fato de morarem próximas e estarem sempre juntas também foi grande aliado. Durante a pandemia de Covid-19 estiveram juntas em Feira de Santana, se mantiveram isoladas em uma casa com quintal, com um gatinho, cozinhando, com muito tempo para se conhecer… sentem um pouco de falta agora que a dinâmica do trabalho intenso toma conta. Em 2020, ainda durante a pandemia, fizeram parte de uma campanha política - que começou de forma online e passou por uma parte nas ruas. Ficaram boa parte do ano em campanha dentro de casa. Depois, quando foi necessário ir às ruas, alugaram uma kitnet em Salvador e chegaram para trabalhar presencialmente. A candidata para quem elas fizeram campanha foi eleita e no ano seguinte, em 2021, foram convidadas para fazer parte do novo mandato que se construiria na cidade. O apartamento que haviam alugado era temporário, apenas para a campanha, depois voltaram para Feira de Santana, mas como aceitaram a proposta de trabalho voltaram para Salvador no início do ano. Ficaram de 2021 até 2022, quando se mudaram oficialmente para o Rio de Janeiro, nessa nova proposta de trabalho diretamente com cultura e comunicação. Quando nos encontramos, no fim de 2024, estavam na preparação para a festa de casamento que aconteceria no começo de 2025 em Salvador. Lais sempre quis casar, brinca que tem essa vontade de fazer as coisas como uma família tradicional brasileira, mas a verdade é que quer ter tudo o que tem direito e o casamento é uma dessas coisas, casar é importante porque faz parte de um processo político, um reconhecimento de que essa relação existe. Lais enxerga o amor que vivem como algo revolucionário, ainda mais no momento em que estavam se preparando para o casamento. É muito importante falar sobre o amor com todas as letras. Explica que sempre falamos sobre o nosso amor “pela metade”, sempre falamos pouco, com medo de julgamento, com cuidado sob quem vai ouvir… e agora é o momento que estão falando abertamente e naturalmente sobre uma relação tão bonita que vivem. O casamento é o momento das famílias, dos amigos, de unir tantos mundos diferentes. Refletiu bastante ao convidar a família toda para a cerimônia. E viu que o dia se tornou uma afirmação, um dia que puderam reafirmar e sentirem celebradas, apoiadas por esse amor. Falamos sobre como o amor entre mulheres pode ser capaz de inverter uma lógica masculina, não precisamos nos guiar por ela - por mais que somos criadas num mundo patriarcal e que desde pequenas somos guiadas por questões masculinas - em relacionamentos com mulheres podemos nos reinventar e fazer diversas coisas como nos sentirmos melhor. Lais e Rhanna, por exemplo, possuem uma comunicação muito aberta sobre suas vivências, seja cotidiana em casa, seja suas relações no trabalho por trabalharem juntas… E tudo isso existe por não se cobrarem nos moldes de um sistema que nos coloca numa posição inferior. Já criaram seus próprios mecanismos internos na relação que para estarem sempre se impulsionando, admirando e principalmente se apaixonando uma pela outra pelas coisas que se “completam”, pelos seus detalhes. Finalizamos a conversa contando a história de Raj, que veio somar na família, cachorrinho que encontraram na estrada, levaram para a casa e tentaram buscar adoção, mas conquistou o coração. Ou seja: ele quem adotou elas. Lais estava com 33 anos no momento da documentação. É produtora cultural, trabalha com políticas públicas para a cultura na FUNARTE. É natural de Salvador, mas mora no Rio de Janeiro e fez sua mudança por conta do trabalho. Já havia morado no Rio em 2015, ficou até 2017 e se mudou para Feira de Santana, onde trabalhou no SESC. Adora teatro, fez teatro por alguns anos e acredita que escolheu sua profissão por conta disso. Rhanna estava com 33 anos no momento da documentação. É natural de Feira de Santana, interior da Bahia. Formou-se em direito, fez mestrado em Antropologia e começou a pesquisar sobre festas. Hoje em dia trabalha com cultura e comunicação na FUNARTE e gosta de transitar entre as festas populares, culturas, histórias… Já trabalhou com fotografia, arte de rua… Como ela e Lais se mudaram ao Rio para trabalhar, a rotina vive em torno do trabalho e da vida profissional, no tempo livre desejam descansar e planejar o momento de estar com suas famílias na Bahia. Nesse tempo de relação, foram 5 anos e 5 casas, contam que a vida é assim mesmo, corrida. Desde 2016, Lais conta que participou da ocupação do Ministério da Cultura no Rio, foi construindo sua vida e seus caminhos de lá pra cá, e hoje comemoram o fato de estarem completando quase dois anos num só lugar. ↓ rolar para baixo ↓ Rhanna Lais
- Barbara e Isa | Documentadas
Bárbara, no momento da documentação, estava com 30 anos. Trabalha enquanto comissária de bordo e é apaixonada por viajar. Antes de ser comissária, foi tatuadora e trabalhou bastante tempo com arte, começou pela necessidade de juntar dinheiro, foi seguindo a profissão e fez carreira, até fechar o estúdio durante a pandemia de Covid-19. Hoje em dia, a arte segue nos detalhes da sua casa, na decoração que faz, nos móveis que transformou e quando dança com a Isa pelos cômodos. Mas sua rotina mesmo, é voltada ao sonho de conhecer o mundo viajando - que realiza através do trabalho. Isadora, no momento da documentação, estava com 29 anos. Ela é atriz, narradora de audiolivros e foi bailarina por 11 anos. Sua rotina, atualmente, é trabalhar no Rio de Janeiro com a narração e edição de audiolivros, além de cuidar de diversas plantinhas em casa e querer ter cada vez mais - alimentando um sonho antigo da Bárbara de um dia morarem no campo. Isa explica que nunca desejou morar num lugar como um sítio ou campo, sempre quis o centro, mas é pelo fato de sempre morar longe da escola ou do trabalho e demorar muito tempo para chegar. Hoje em dia, ao analisar e pensar sobre, acha que seria feliz morando num lugar bem arborizado. Atualmente, elas moram juntas há cerca de um ano na Ilha do Governador, local em que Bárbara nasceu. Isa é natural do Rio de Janeiro, mas de bairros distantes da Ilha. Resolveram morar juntas depois que o namoro caminhou e pelo convívio delas/com os gatinhos irem crescendo. Antes da Isa chegar, Bárbara era muito bagunceira, não tinha uma casa com cara de lar e a bagunça era também uma das causas da sua ansiedade. Foi nessa mudança que viu sua casa virar lar, entendeu a ter mais cuidado com prazer, viu uma evolução acontecendo e hoje em dia, quando chega em casa entende a grandiosidade disso tudo. Ambas cuidam muito do seu cantinho, amam a parceria desse cuidado, dançam, fazem churrasco ouvindo pagode, vão à praia próxima, recebem amigos, curtem a casa e organizam com carinho. Foi no final de 2022 que Bárbara e Isa se conheceram. Bárbara tinha um grupo de amigas lésbicas que sempre saiam juntas, mas logo no dia que queria sair a maioria não topou e acabou indo só com uma delas num bar - este voltado ao público feminino que existia no Rio de Janeiro: o Boleia - porque estava com desejo de comer uma batata frita que só tinha lá. Quando chegou ele estava bem cheio, o clima agitado, não tinha mais a famosa batata frita, mas ela insistiu com a amiga: “Vamos ficar por aqui, quem sabe conhecemos alguém legal!”. E conheceram mesmo, o grupo de amigas que a Isadora estava. Bárbara chamou a Isa para dançar um forró e enquanto elas dançavam, no meio do barulho, até perguntou para a Isa se ela estava solteira, mas ela nem ouviu, não respondeu - e foi insistente, que bom, porque meses depois ficou sabendo que Isa não estava nem aí, não tinha muita disposição para conhecer alguém naquele momento. O bar já estava fechando e, em grupo, seguiram para outro lugar, mais calmo. Foi lá que conseguiram conversar, a Isa pensou: “Nossa, que menina interessante!” e as coisas se desenvolveram. Depois de se conhecerem nesse primeiro encontro, passaram 15 dias até conversarem novamente online e surgir o convite para se encontrarem novamente. Saíram, as coisas fluíram e seguiram se encontrando, mas confirmaram: não queriam nada sério. Dois meses depois, não tinham como negar, já estava sério. O pedido de namoro aconteceu no começo de 2023. A verdade é que tanto Bárbara, quanto Isa tinham bastante medo de se relacionar. Mas o que ajudou a enfrentar o medo foi observar o quanto eram pessoas que mereciam viver algo bom, que desejavam coisas boas para os outros e para si. Cativaram uma à outra. Acreditam que a dinâmica de relação que possuem é muito bem sucedida e Isa traz o exemplo da relação dos pais dela - conta que é a mais bonita que conhece, eles estão juntos desde a adolescência e são muito parceiros, são o maior exemplo de vida que possui. Aos poucos, ela enxerga o que deseja na relação com a Bárbara também e se orgulha muito disso. Para Bárbara, o amor sempre vai nos encontrar. É a força mais poderosa do mundo. Vai nos encontrar num animal que nos olha na rua, num café que bebemos, numa pessoa que amamos. O amor é a força criadora. É a proposta por estarmos aqui: para nos desenvolver no caminho do amor. Ela sempre teve a dualidade: ser uma pessoa um pouco solitária, mas também buscar o amor nas pessoas. No começo da relação, a mãe orientou: “Filha, vai com calma. Você se entrega muito.” E ela respondeu: “Mas a Isadora também é assim”. E a Isa também passou por isso com a mãe e com as amigas. Hoje em dia ela enxerga a relação que vive com a Isa como algo muito curativa: curando traumas, cuidando… alguém que abraça mesmo o que não é perfeito (como a questão da bagunça, citada no começo do texto) e te ajuda a melhorar. Para Isa, o amor de alguma forma é clichê. É uma transformação constante, ser a sua melhor versão para si e para o outro, para quem enxerga a melhor versão de você. Ter ternura e respeito, deixar a pessoa digerir no tempo dela, ter cuidado. Acha incrível o quanto as famílias delas se gostam e apoiam a relação delas e isso é muito valioso, acredita que o amor também mora nesses momentos. ↓ rolar para baixo ↓
- Clara e Laura
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Clara e da Laura, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! Clara e Laura, por mais que estejam há pouco tempo juntas, entendem que já passaram por muitas coisas. Seja pelo fato de que vivem a grande maioria dos dias na casa da Clara, ou por serem muito dispostas uma para a outra, acabam todos os dias topando diversos eventos diferentes, desde que estejam juntas. É na rotina que criaram que Laura entende o que é o amor. Quando lembra de ter se assumido durante o período que estão juntas, também reflete que foi ali que se permitiu viver detalhes cotidianos: dormir e acordar com quem se gosta, compartilhar o dia com a família, sair com os cachorros para passear sem medo e receio de que alguém pudesse ver… São coisas muito simples, porém que não poderia viver antes, e hoje em dia encontra seu sentido de amor no cotidiano. Clara complementa que para além dos fatos diários, tem o ponto chave para ela: o cuidado. Elas cuidam muito uma da outra e de quem amam: sejam os amigos, a família, os bichinhos, o curso que estudam na faculdade. Tratam tudo com muito cuidado, até mesmo nas palavras, e é no carinho que uma demonstra pela outra ao ter cuidado que enxerga o amor. = Laura, no momento da documentação, estava com 20 anos. Ela estuda Relações Internacionais na PUC-Rio, é carioca, adora ler e escrever. Clara, no momento da documentação, estava com 22 anos. Ela também é carioca e estuda Psicologia na PUC-Rio, se forma esse ano e está completando o estágio na clinica social da universidade. Clara também ama escrever, já lançou até um livro, mas hoje em dia se vê um pouco distante do hobbie, pretende voltar. Ambas são muito próximas das suas famílias, contam que suas mães são as maiores amigas e inspirações que possuem e admiram tudo o que já foi conquistado por elas. E hoje em dia, como ambas as mães sabem sobre suas relações, gostam bastante de conviver em família. = Laura gosta de pensar que a história delas é dividida em duas partes: uma da qual elas não se encontravam mesmo estando nos mesmos lugares durante meses (e tendo amigos em comum/vivendo situações em comum) e outra em que elas finalmente se encontram e começam a se envolver. A primeira vez que se esbarraram foi nos jogos universitários, que aconteceram no interior do Rio de Janeiro. Ambas fazem parte de atléticas dos seus cursos e, lá, durante os dias de jogos, se viram na arquibancada pela primeira vez. Até esperaram se encontrar nas festas que tinham no fim do dia, mas não aconteceu. Voltaram para o Rio sem ao menos conversar. Laura achou o perfil da Clara nas redes sociais e adicionou - enquanto Clara achou que era apenas uma menina hétero com amigos em comum e aceitou. = Um tempo depois, com suas vidas seguindo rumos bem distintos, começaram a conversar através do Instagram. Enquanto o tempo foi passando Clara já tinha entendido que a Laura era uma mulher que se relacionava com outras mulheres e que estava solteira, foi quando começou a demonstrar interesse. Passaram muito tempo conversando e não conseguiam se encontrar: quando uma chegava na faculdade a outra estava saindo, nas festas de universidades quando uma estava a outra não ia, e assim seguiram até que um dia Clara chamou a Laura para um date. Ela topou, mas novamente não conseguiram se encontrar por imprevistos no dia e o tempo foi passando. Clara brinca sobre o quanto é uma pessoa emocionada e apegada, então mesmo sem encontrar a Laura já sentia corações saindo dos olhos… Os amigos, por sua vez, orientavam: “Tenha calma!”, mas quando ela percebia já estava se deixando levar novamente. Foi quando marcaram de sair em uma confraternização dentro da própria faculdade. Havia muita gente, estava um tanto quanto caótico, mas junto com todos os amigos (que já sabiam da existência uma da outra, de tanto que conversavam), conseguiram se encontrar e tiveram o primeiro beijo. = Desde que se beijaram pela primeira vez, seguiram conversando. No dia seguinte, Clara mandou uma foto que tiraram juntas para a Laura e marcaram de se reencontrar na próxima semana. Numa quarta-feira foram beber cerveja em um bar qualquer, depois viram o jogo do Flamengo e seguiram numa sequência de fechar bares até às 4h da madrugada. Sentiam que não queriam se separar, encerrar a noite: queriam ficar juntas. Antes do encontro ficaram com muito medo de uma falar demais, a outra ser tímida, mas eram duas tagarelas e acreditam que se dão até melhor por conta disso: quando uma está quieta é porque tem algo errado. E entender o que está errado nesses momentos também é um novo desafio. São pessoas que se veem entre muitos diálogos, sentem as coisas de forma parecida, mas desejam cada vez mais um relacionamento comunicativo, que entende seus tempos, dores e individualidades. = Fizemos as fotos na casa da Clara e também numa rotina que as representa muito: sair com os cachorros. E, dentre o encontro, outros detalhes estiveram presentes também: como os símbolos da lhama e do pato, animais que representam suas atléticas, e que acompanharam nos pedidos de namoro e escritas na parede da casa. Hoje em dia planejam viagens, gostam de misturar os amigos (que viraram um grupo só) e também de ficar em casa, comendo e assistindo filmes e séries. São mulheres muito dispostas, desde acordar cedo para tomar café uma com a outra antes dos seus afazeres começarem, a vivenciar coisas que nunca imaginaram só pela alegria de estarem juntas. ↓ rolar para baixo ↓ < Laura Clara
- Bruna e Sophia
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Bruna e da Sophia, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! Sophia quando pensa em inspiração vem logo a mãe dela na cabeça porque sempre foi a figura que representa todas as superações ao decorrer da vida (beijo, dona Maria Antônia!). Bruna também fala muito sobre a mãe e sobre a bisa - a pessoa que ela mais admira. Pensar na bisa é pensar na paz - era uma pessoa muito boa e querida por todas as pessoas, cujo também pensam nela com esse carinho enorme. A família delas têm lidado de forma respeitosa, tentando, aos poucos, entender. Elas também dão esse espaço e o tempo delas processarem as coisas. A mãe da Bruna hoje em dia adora a Sophia e até sente um pouco de ciúme. E o pai da Sophia chamou a Bruna para passar o último natal na casa deles. A relação delas é formada por uma comunicação muito aberta, falam sobre as outras relações, os traumas de vida, criam laços de fortalecimento. Acreditam que o amor é físico e inatingível. Sentem o amor e consideram algo muito sagrado - por ser imaterial mas por você conseguir sentir. “É um sentimento com vida própria”. Antes da pandemia voltaram mais uma vez ao MAM, durante uma abertura de exposição. Fizemos questão de fotografar exatamente no local que aconteceu o primeiro beijo, naquele quadrado, cheio de memória afetiva. Cantarolei Minha Pequena Eva enquanto fotografava. Conversamos muito sobre o nosso corpo ser político enquanto mulher lésbica e tudo o que isso envolve. Elas acreditam que o amor entre mulheres envolve um cuidado muito maior e acreditam que as relações requerem sempre uma manutenção, uma atenção diária. “O amor entre mulheres é algo que vem na gente, porque ninguém nunca nos ensinou como amar as mulheres, você apenas sente, e então ama”, diz Sophia. Ela comenta que não sabe olhar para o corpo de uma mulher como olham os homens e que já ouviu amigos falando “pô, então você nem gosta de mulher tanto assim, se não acha ela gostosa, se não olha pra bunda...”, e mesmo que ela saiba que isso não signifique nada, entende que ela não liga pra isso porque ela nunca foi ensinada a gostar de mulher como os homens são, ainda jovens, de acordo com o patriarcado - ou seja, não existe regras para nós gostarmos de mulher, nem manual de instruções, porque nem nos consideram (nós, mulheres que se relacionam com mulheres) dentro do sistema patriarcal. A Bruna conta que amigos homens já fizeram ela parar de trabalhar para olhar mulher bonita passando... e que o sentimento sentido foi de desrespeito e desconforto. Bruna contou que uma cidade feliz e ideal para ela seria uma cidade da qual ela possa andar na rua sem medo - que ninguém olhe feio, solte comentários quando ela passa. Ela quer andar com paz. Desde pequena ela se entende enquanto mulher lésbica e comenta que na escola, quando perguntavam o menino que ela gostava, dizia logo o nome do mais bonito e disputado, para assim ficar no canto com um descargo de consciência por saber que ele não daria bola para ela. Sophia tem 21 anos e é lojista, mas cursa Cenografia. É aí que acontecem seus trabalhos no carnaval: ajudando a montar os carros alegóricos. Bruna tem 21 anos também, é cozinheira em um restaurante na Barra da Tijuca, mesmo morando em Niterói - e faz essa jornada diariamente. Ela tem uma cabeça muito aberta, fala sobre amor, diz que amar é muito diverso e que quando você percebe, já aconteceu. Ela demonstra muito cuidado com a Sophia, principalmente cozinhando as comidas favoritas dela e fazendo receitas bem elaboradas (leia-se, um pão cor de rosa, com massa natural, porque é a cor favorita dela…………. pois é, não tem coração que aguente ler isso, foi difícil pra mim também segurar a vontade de abraçá-las). Ambas amam maquiagem e seu maior hobbie é fazer vídeos para o tiktok. Estão na rede social desde antes do grande boom durante a pandemia. Inclusive, vale citar, que o pedido de namoro foi feito por lá, já que estavam separadas pela quarentena. Carnaval no Rio, dia de chuva, tinder ligado, glitter no corpo, bloco lotado, passando pelo Museu de Arte Moderna (MAM). Imaginou a cena? Quando a música toca embaixo do concreto do MAM o eco é imenso. Você sente seu corpo todo tremer. Pessoas em cima de pernas de pau dançam ao redor no espaço entre a grama e a calçada. Ali, tudo faz sentido: de fato, é carnaval no Rio. Foi assim que Bruna e Sophia se conheceram pela primeira vez, entre chuva, tinder e bloco. Se encontraram no meio da multidão… e sabe o que faz tudo ser tão característico de uma cena real do carnaval? o primeiro beijo ter sido ao som de Minha Pequena Eva, contando com todas as pessoas ao redor cantando e pulando muito. Acho que uma das coisas mais instigantes nessa história toda é que a Sophia era crítica assídua do Tinder. Dizia que jamais serviria para algo e que não dava para esperar nada “dessas pessoas”. Melhor ainda é o fato de que elas moram muito longe uma da outra, se encontraram porque foi um dia do qual a Sophia foi até o centro da cidade e assim que a Bruna apareceu ela deu ‘like’ pensando: é bonita, mas sei que não vai dar em nada. A Bruna, pelo outro lado, assim que descobriu que a Sophia trabalhava em um barracão de escola de samba já queria pedir logo em casamento. Apaixonada pelo carnaval e pela Sapucaí, ficou empolgada ouvindo as histórias que Sophia contava. Bruna Sophia
- Victória e Gabriela
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Vick e da Gabi, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! Durante o período em que se relacionaram à distância, faziam muitos planos sobre morar mais próximas. A Gabi chegou a tentar vestibular para Porto Alegre e a Vick queria muito vir para o Rio. Depois de formada, conseguiu passar para o mestrado na Fiocruz e a mudança finalmente aconteceu algumas semanas antes da pandemia. Passaram a quarentena juntinhas. Nessa história, a praia significa o lugar onde se conheceram, onde puderam ficar à vontade, onde fez a Vick tanto amar o Rio… é o lugar delas. Amam amar a praia, amar as coisas que fazem parte das suas histórias. Acreditam que o amor foi o que moveu tudo, o sentimento que transbordou. Além da praia, amam pular carnaval, cozinhar coisas do zero - fazer massas, cada detalhe de todas as receitas e depois beber com um bom vinho barato. Um tempo depois, por estarem juntas no Rio, a mãe da Gabi percebeu e não aceitou. Foi um momento bem conturbado, a Victória tinha muito medo de voltar a viajar e acabar só piorando a relação familiar da Gabi… e a Gabi pensava que talvez fosse melhor não estarem juntas porque seria ruim para a Vick ter que lidar com isso. Mas depois, quando conversaram, decidiram passar por isso juntas, enfrentando cada desafio lado a lado. A Victória tem 23 anos, é mestranda em epidemiologia e saúde pública e formada em veterinária. Gosta de fazer de tudo um pouco, bordar, pintar, tocar saxofone… se inspira muito na sua mãe, que é doutora em engenharia. Gabriela tem 26 anos, estuda biblioteconomia, adora design e tem a família toda envolvida em profissões aéreas, então fez curso de comissária de bordo e gosta muito de temas voltados à aviação. Gabi se inspira e se referencia muito na tia dela, que foi a primeira pessoa para quem contou sobre a sexualidade. Depois que a mãe da Gabi descobriu, elas passaram alguns meses sem conseguir se encontrar, era muito difícil ir para Porto Alegre e acabava indo só no seu aniversário, pois pedia a passagem de presente. Chegou a passar mais de dois anos sem ter muito convívio com a mãe. Há pouco tempo atrás as coisas foram mudando, quando a Vick já estava muito mais próxima, e foi convidada a jantar na casa delas. Passaram todo o verão juntas e até decidiram estender um pouco a viagem, pois entenderam que um sentimento estava sendo criado. Resolveram passar seus aniversários juntas: o da Vick, em março (do qual a Gabi iria para Porto Alegre) e o da Gabi em julho (do qual a Vick iria para o Rio de Janeiro). Acabou que cumpriram o acordo, a Gabi chegou em Porto Alegre no mês de março e foi ótimo. Já em julho, a Vick ficou um pouco insegura de ir. Elas não estavam conseguindo manter tanto contato de forma online e faltava pouco para a data, mas deu tudo certo! Ela chegou no Rio, passou dias turistando, conhecendo as praias e se sentiu apaixonada.... pelo Rio de Janeiro e pela Gabriela. Passaram todo o restante do ano conversando bastante de forma online e conseguiram se encontrar em outubro. Decidiram, aos poucos, sustentar esse relacionamento à distância. No verão de 2016, tudo já foi diferente, ao invés da Gabi ficar na casa dela, resolveu passar todo o tempo hospedada na casa da Victória. Passaram o início do carnaval juntas na Praia da Ferrugem e o fim do carnaval no Rio. Ambas queriam muito declarar o amor uma para a outra, mas estavam com medo de acabar estragando tudo, pelo fato da distância. Uma desconhecida, em meio ao carnaval, ajudou a declaração acontecer… e foi aí que elas verbalizaram o amor que sentiam. Essa história de amor mostra que o sonho de muitos relacionamentos à distância podem dar certo! Victória e Gabriela se conheceram durante um verão em Garopaba, interior de Santa Catarina, a Vick é da região metropolitana de Porto Alegre, mais especificamente, de Viamão. A Gabi é do Rio de Janeiro. A maior coincidência dessa história é que elas são vizinhas em Garopaba desde que nasceram, possuem os mesmos amigos, mas veraneiam com uma semana de diferença, então nunca se encontraram. Em 2014 a Gabi resolveu ficar mais um tempo em Garopaba e então acabaram se conhecendo. Logo de cara ela sentiu interesse pela Vick e meio que todos os amigos ficaram na expectativa do beijo, o que gerou certa pressão também. No segundo dia, elas se encontraram junto com os amigos para beber e ficaram, mas no dia seguinte a Gabi acabou voltando para o Rio e passaram todo o inverno sem se ver ou conversar. Em 2015 estavam lá novamente e dessa vez a Gabi decidiu ir na mesma semana que a Victória estaria. Elas se encontraram com os amigos, foram para um bar e depois de um tempo acabaram se beijando novamente - e brincam: “aí não nos desgrudamos mais”. < Victória Gabi
- Lara e Ana
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Lara e da Ana, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! A Lara comenta que o amor entre mulheres pode envolver maior cuidado pelo reconhecimento que uma mulher possui pela luta da outra, mas também comenta a não-generalização justamente tanto por ela quanto pela Ana já terem passado por relações com pessoas que acabaram sendo bastante tóxicas. Além do amor em si, comenta sobre a necessidade de olharmos para nós e para o que somos, as pressões que nossos corpos passam, nossa estética, nos olharmos com cuidado, entendermos nossas inseguranças, nossos medos… não desacreditarmos no amor de forma geral. Elas entendem que o preconceito existe pela falta de conhecimento e pelas pessoas tirarem conclusões precipitadas, julgarem por algo que não tentam conhecer. Falam que o amor lésbico deveria ser olhado com mais afeto e menos hipersexualização, menos olhar de indústria pornográfica, porque no fim as pessoas precisam apenas saber querer conhecer, ter essa proatividade de reconhecer que precisam buscar mais, mudar as coisas, quebrar preconceitos… e que a partir do momento que elas perceberem que é tão simples, que tá tudo bem, que isso tudo é “só” amor, as coisas vão ser muito mais fáceis para todo mundo. Mas que para isso acontecer temos um longo caminho ainda. Não à toa, elas tentam estar sempre abertas à dialogar e mudar cenários, independente de tudo. Quer contribuir financeiramente com o Documentadas para conseguirmos registrar cada vez mais casais por esse Brasilzão? cá entre nós, é muito fácil! Se liga no PIX, aqui :D Hoje em dia, a Lara trabalha em uma loja de roupas, é modelo plus size e estudante pré-vestibular. Sonha em fazer relações públicas para se especializar em marketing digital. Sua ligação com a mãe é absurdamente forte, assim como a fé e a religião. Frequenta a umbanda/candomblé e ama cultivar os momentos em que está no centro de religião. Além disso, também é uma grande fazedora-de-poemas. A Ana trabalha em uma farmácia de manipulação e também possui uma ligação muito forte com a religião. Foi algo que ela sempre se encontrou e que o relacionamento potencializou de um jeito transformador para ambas. Ela comenta que se viu muito tempo distante do que mais gostava, se sentia perdida, longe dos amigos e não se sentia bem nos outros relacionamentos e por muito tempo falar com a Lara, mesmo que rapidamente pelas redes sociais, acabava trazendo de volta o que ela sentia falta e não sabia nomear. Hoje em dia disse que se encontrou de novo e que sente uma paz muito grande, algo muito saudável. “Meu lar se ancorou nos olhos dela”. A história da Ana e da Lara te ajudou de alguma forma? Gostaria de mandar uma mensagem para elas? Vem cá que conectamos vocês ♥ Tem alguma proposta de trabalho para elas? Opa! Pode mandar por aqui! A Lara conta que nessa época começou a entender que quando beijasse a Ana, iria se apaixonar. Elas sempre tiveram muita sintonia, a amizade ia além, o afeto conectava, se encaixava… e elas se pareciam muito também. Então surgia até um certo receio do momento em que isso fosse acontecer, por mais que ambas sentissem vontade. Com a chegada de 2020 e o início da pandemia, elas tiveram um afastamento automático na amizade, que só voltou após o término do relacionamento da Ana e de ela passar por momentos bem difíceis, já próximos ao fim do ano. A Lara ofereceu muito suporte nessa época, elas voltaram a se aproximar e foi aí que decidiram finalmente dar uma chance a essa história de amor acontecer (no começo, em forma de amizade colorida, pra ver se daria certo!!!! e hoje em dia estão de aliança e tudo!). Perguntei para a Ana se não foi difícil assumir um relacionamento logo depois de ter passado por algo assim, justamente por ela ter proposto a amizade colorida, e ela comentou que sim, que não pensava em se envolver dessa forma, mas como gostava da Lara há tantos anos e desde tão nova, sentiu esse momento como finalmente uma oportunidade de estarem juntas, não havia formas de deixar isso passar. No dia primeiro de janeiro de 2021 elas estavam conversando e a Ana mandou uma música para a Lara (Mirrors, do Justin Timberlake), dizendo que era uma música que sempre ouvia e a fazia pensar nela. Essa música secretamente é a música favorita da vida da Lara e ela nunca tinha compartilhado isso com ninguém, o que a fez ficar muito emocionada, porque sempre quis que alguém a visse como a música descreve. Foi a partir da música que elas ficaram juntas e que o pedido de namoro também aconteceu, meses depois, cheio de jantar, vinhos, painel de led, comidas gostosas e preparativos. ♥ O romance das duas, teoricamente, começou ainda láááá no ensino fundamental, mas só de um lado. Elas estavam em um grupo de amigos e a Lara chegou para a Ana e disse “ei, escuta uma música chamada Segredos, da Manu Gavassi”, até aí ok, Ana foi pra casa e quando decidiu ouvir viu que a música era super romântica e pensou que pudesse ser algum tipo de indireta para ela, sendo que na verdade não envolvia nenhuma maldade, era realmente só uma indicação, mas a menina se deixou levar, criou um sentimento, desenvolveu um interesse e ficou com isso guardado no peito. O tempo se passou, elas não eram tão próximas e quando chegaram no ensino médio foi criado um grupo e a amizade foi se desenvolvendo, enquanto simultaneamente estavam se descobrindo nas suas vidas também. Hoje em dia, a Ana conta que naquela época percebia que o corpo automaticamente, como se fossem instintos, respondia às ações da Lara - cada vez que ouvia a voz, ou que ela saía para ir ao banheiro… coisas do tipo - o coração disparava, as borboletas batiam no estômago… e assim, a relação ficava mais próxima. Porém, aconteceram uma série de situações que fez com que esse grupo acabasse se envolvendo em discussões e todo mundo optou pelo afastamento, então as duas acabaram se afastando nisso também e interromperam a amizade. Ambas se envolveram com pessoas e acabaram criando relações bastante tóxicas, a Ana enquanto um namoro, e a Lara por mais que não chegasse a namorar de fato, acabava tendo envolvimentos, idas e vindas e não se sentia bem no que vivia. Foi quando ela resolveu retomar um contato com a Ana, saber como ela estava e as duas voltaram a conversar frequentemente. Foi nesse momento em que a Ana passou a olhar a Lara com novos olhares, a relação que antes mostrava o interesse surgindo só dela agora parecia ser diferente, sempre tinha uma implicância de brincadeira, uma bobagem à toa para ver a Lara sorrindo, uma palhaçada… e naquele momento parecia ser diferente, com o passar dos anos e já no fim do ensino médio, elas também estavam diferentes. Foi quando ela tentou um primeiro flerte e foi correspondido, mas elas nunca chegaram a se beijar, terminaram o ensino médio, a Ana começou a namorar outra pessoa, se envolveu em outro relacionamento do qual não se sentia tendo algo saudável e toda vez que parava para analisar e pensar sobre a situação em que estava, se via caminhando em círculos. A história da Lara e da Ana faz acontecer uma boa mistura na nossa cabeça porque envolve muita coisa, mesmo elas sendo tão tão tão novinhas, já se conhecem há 7 anos! Elas se conheceram no colégio, ainda no ensino fundamental. Sim, geração 2000! (se você não está se sentindo velha, é porque você provavelmente também faz parte dessa geração). A Lara tem 19 anos, a Ana tem 20 e por mais que no colégio fossem amigas, lá, no auge dos 14 aninhos, elas não eram tããão próximas assim. A Ana conta que já era capaz de se sentir mexida com algumas coisas que a Lara fazia, mas não sabia que nome dar para isso, porque tudo é muito novo quando se está na adolescência. Ela foi se entender e se descobrir mesmo aos 16, quando beijou uma mulher pela primeira vez. Começamos a conversa falando sobre isso, esse momento que envolve o descobrimento da sexualidade, do corpo, dos sentimentos… e sobre como a tendência é nos levarmos à uma heteronormatividade compulsória. A Ana comenta que passou por muitos problemas enquanto bullying, problemas com o próprio corpo, chegou a namorar um menino e só em 2017/2018 que começou a entender o que era de fato se relacionar com mulheres, foi um processo muito delicado conhecer e se identificar com o movimento LGBT. Já a Lara, conta que o processo da bissexualidade foi também caminhando e se desenvolvendo um tempo depois, no ensino médio. Hoje em dia, a Ana é a sua primeira namorada e isso implica em desafios diários - ela está começando a contar para as pessoas, começando um processo de realmente assumir quem é, como se sente. E por mais que ambas famílias apoiam e reconheçam este relacionamento, ela entende que não é a maioria da realidade no Brasil e que não é a realidade das ruas também, que pode enfrentar preconceitos e outras barreiras por conta da sua orientação. < Lara Ana
- Joyce e Gabi
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Joyce e da Gabi, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! Na intensa rotina de trabalho que Gabriela e Joyce possuem, nos encontramos num final de semana no centro do Rio de Janeiro. Gabi trabalha em farmácia, Joyce em supermercado, são horários bastante cheios e cotidianos exaustivos. Elas moram em Duque de Caxias, região da baixada fluminense, e o que mais gostam de fazer juntas - além de cozinhar (sempre acompanhadas de vinhos) e tirar fotos das coisas por aí, é também ir até o Rio para aproveitar a praia e descobrir lugares novos - ser turista na própria cidade. É justamente entre a dinâmica pouco fácil de uma rotina cheia, de horários de trabalho que não nos dão muitos momentos de descanso e de uma vida agitada que elas entendem o quão é importante se esforçar para enxergarem o amor na relação que vivem. Já são mais de 6 anos morando juntas, Joyce acredita que o amor está nos pequenos gestos do dia que demonstram uma pela outra - uma somatória de coisas que vão se acumulando, fazendo com que a paixão siga existindo. Conta que desde o começo, como não tinha dinheiro, demonstrava escrevendo cartas, imprimindo fotos, criando coisas personalizadas… Hoje em dia, mesmo odiando café, por exemplo, sabe o quanto a Gabi ama e faz café pra ela, compra cafés diferentes quando vê no mercado, sempre quando sai sozinha traz algo que lembrou a Gabi para demonstrar o quanto ela estava presente em pensamento… e sente que nesses pequenos gestos estão vivos os significados do amor. No momento da documentação Gabi estava com 33 anos e Joyce com 24. Por mais que hoje em dia essa idade ainda tenha seu peso pelas diferenças, quando elas começaram o relacionamento, tudo era ainda mais conflituoso. Na época, Joyce nunca tinha se relacionado com mulheres. Gabi tinha uma vida mais agitada, era uma mulher independente, trabalhava numa drogaria próxima à casa da Joyce e foram assim que se viram pela primeira vez. Foi Joyce quem se interessou pela Gabi - e Gabi estava num momento de querer sossego, pensou que era melhor não retribuir interesses, principalmente pela diferença de idade. Mas quando se deu conta já estava entregue e interagindo. Não foi um início fácil, bem pelo contrário. Viveram muitos problemas vindo por conta da não aceitação familiar da Joyce. Ela até então era uma mulher que vivia uma cultura cristã, com padrões sociais, e pensava que no momento que descobrissem até poderia ficar tudo bem pois tinha um tio gay que era casado há anos e aceito na família… mas não foi apoiada nem por ele. Todos foram contra, gerando confusão ainda maior. Gabi foi a mais prejudicada, pois envolveram o trabalho dela, passando por uma grande exposição. Precisou mudar de loja e só não foi demitida porque era uma funcionária exemplar. Todos os conflitos familiares que viveram começaram quando tinham cerca de 6 meses juntas, e duraram mais de um ano e meio, quando Joyce já tinha 18 anos e sem terem outras opções, decidiram morar juntas. Joyce conta que foi num domingo, se sentiu exausta após uma discussão muito grande e saiu de casa. Hoje em dia, aliviada, a família se dá muito bem. A mãe pediu desculpas para a Gabi, entende que a visão que tinha sobre a relação delas era muito distorcida e que a Gabi não era a pessoa que ela pensava. Gabi entende também que as coisas mudam com o tempo e que a base para que tudo mude é o diálogo. Sente muito por não ter tido isso na infância, não foi ensinada a dialogar dentro de casa e não era algo instigado pela sua família. Ao decorrer da vida adulta tenta mudar isso de todas as formas e conversa o tempo todo: sempre está disposta a falar o que sente. Gabi entende que amar é respeitar, em qualquer âmbito. Pensa que talvez na família, no modelo em que vive, as pessoas não respeitam tanto - elas aceitam. Já nos amigos e no relacionamento, aí sim, é diferente: se sente respeitada de verdade, pode ser quem ela é, sem julgamentos, de forma livre. Num momento da conversa, lembram de um filme evangélico que viram uma vez e que fala sobre amar ser uma forma de não desistir, de passar pelas fases, persistir. Sempre pensam no filme quando as coisas estão difíceis, se impulsionam a acreditar no relacionamento, reforçam o amor que sentem. Joyce, por fim, fala sobre o quanto gostaria de mudar algumas vivências que possuem nos dias de hoje no dia a dia morando em Duque de Caxias e tendo as rotinas de passeios pelo Rio também, como o fato de que gostaria muito de sair andando na rua em paz. Comentou que quando vieram me encontrar para registrarmos essa documentação, desceram na rodoviária e estavam caminhando na rua em direção ao lugar que nos encontramos, nisso passaram dois homens de moto e gritaram “Quatro é par” em alusão à elas estarem ‘sozinhas’ e eles também. Reforça que o assédio que sofremos quando estamos na rua enquanto um casal de mulheres (ou enquanto mulheres quando estamos sozinhas) é uma das piores coisas que podemos sentir. E que só queriam estar vivendo bem enquanto um casal que sai na rua, sem essa violência, esse medo. Queriam sair de casa a hora que quisessem (muito cedo ou muito tarde) sem o medo acompanhando o tempo todo. ↓ rolar para baixo ↓ Joyce Gabriela
- Alyce e Manu
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Alyce e Manu, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! Em um momento prévio da nossa conversa a Alyce contou sobre um domingo em que ela e a Manu saíram de manhã para comprar chocolate e passaram por uma manifestação bolsonarista na praia. Ela ressalta que em nenhum momento elas pegaram na mão, nem se tocaram, mal falaram. E quando está falando sobre amar uma mulher, relembra dessa manifestação, sobre não tocar na Manu e diz uma frase que ecoou na minha cabeça por um bom tempo: “estar com uma mulher, infelizmente, é estar em um lugar que a qualquer momento pode ser tirado de você”. Ainda quando falávamos sobre este episódio da manifestação, falamos também sobre hoje em dia estarmos muito ocupadas tentando nos manter vivas, e que isso é o nosso foco e tem que ser o nosso foco, por mais que soe exagerado. Quando pergunto a elas o que elas mais gostariam de mudar no cenário atual sobre a sociedade em que estamos, elas respondem que dentre esse governo, ainda se sentem invisíveis. Exigem respeito, e para termos respeito precisaríamos investir em políticas de educação, em seguranças para acabar com as milícias (que, na realidade de São Gonçalo, por exemplo, toma cada vez mais espaço) (porém, não só, visto que cresce desenfreadamente por todo o Brasil). Comentam também sobre não se sentirem seguras, sobre sentirem falta de coletivos de mulheres lésbicas que possam acolher, gerar segurança, comunicação, para além dos meios acadêmicos, para as mulheres que ainda estão nas periferias. E que gostariam também de ver mais cultura sendo explorada em São Gonçalo porque só a cultura é capaz de unir e dar conta de salvar as pessoas de muitas coisas que nem conseguimos dimensionar que possam estar acontecendo. A história da Manuela e da Alyce te ajudou de alguma forma? Gostaria de mandar uma mensagem para elas? Vem cá que conectamos vocês ♥ Tem alguma proposta de trabalho para elas? Opa! Pode mandar por aqui! Quando falamos sobre o amor entre mulheres, a Manu diz sentir o amor enquanto algo desafiador e importante, mas que mais que isso, o amor entre mulheres, é um gesto político e revolucionário. Ela já se viu em muitos momentos refletindo sobre a quantidade de coisas que precisou enfrentar (e que as amigas ou que outras mulheres que já conheceu/que já se relacionou também precisaram enfrentar) para que pudessem viver o amor de forma livre e para que também pudessem aceitar esse amor em seus próprios corpos de forma livre. Estar vivendo um amor de verdade de forma tão saudável, hoje em dia, é algo muito grandioso. Já a Alyce, se refere ao amor enquanto acolhimento. Ela diz que amar é ter um lugar para voltar. É sobre revisitar também, porque você se revisita, revisita o outro, revisita momentos. E amar outra mulher é muito intenso porque essa pessoa sabe penetrar muito fundo no que você é, sabe entender e compreender. “Além de que, às vezes, você fala algo para a pessoa que você se relaciona e em pouco tempo depois ela consegue descrever tão perfeitamente coisas que são tão íntimas, porque ela compreende, se coloca no seu lugar, tem empatia”. Na época em que elas se conheceram, a avó da Manu, que mora no interior, estava pelo Rio, por conta da Manu estar passando por alguns momentos mais delicados devido ao psicológico não estar totalmente saudável e feliz. Então elas acabaram tendo um contato com a avó que criou a Manu e esse laço familiar foi naturalmente nascendo no relacionamento. Como em março de 2020 foi declarado o início da pandemia, elas só tiveram 4 meses de namoro em espaços de convívio social antes da quarentena. Conseguiram aproveitar vendo os amigos, indo para bares, shows, espaços de lazer, porém contam que ainda era um momento bastante inicial. Foi muito desafiador realmente conhecer alguém nesse contexto pandêmico e adaptar convivências com as famílias. A relação virou uma relação do agora, do presente, porque tudo foi acontecendo e elas foram se colocando dia após dia, “ninguém sabia como iria ser, só fomos vendo e vivendo”. Elas contam dos aniversários que passaram juntas e das formas que usaram a criatividade para se inventar, mas também falam sobre a maior dificuldade ser já estar aqui, mais de um ano após tudo ter começado, e ainda não enxergar um fim em saber quando que realmente poderão fazer algo fora de casa, planejar algo realmente na rua. Tentam se apoiar na ideia de agora estarem voltando a trabalhar fora aos poucos e de não estarem mais tão trancadas no apartamento, até pela importância da rotina ter mudado pelo fato de estarem vendo outras pessoas no trabalho/no transporte/na rua e o quanto isso melhora o nosso estado de espírito, e também comentam que o que faz com que elas segurem as barras e as dificuldades que sentem é poder conversarem sobre isso, terem uma comunicação aberta para falarem sobre suas inseguranças e sobre o que sentem perante a própria pandemia e os desafios que nos são colocados diariamente. A história da Manu e da Alyce aconteceu de uma forma aleatória, por conta de uma amiga que elas tinham em comum e que estava na casa da Manu, junto com outras pessoas em uma noite. Todo mundo comendo, bebendo, até que tocou uma música da Ana Carolina e essa amiga falou “gente, tenho uma amiga que é muito parecida, assim, de jeito, com a Ana Carolina…”, e a Manu respondeu “e por que você ainda não me apresentou???”, então a amiga mostrou o Instagram dessa amiga teoricamente parecida com a Ana Carolina, que era, a Alyce, cujo a Manu nem achou tão parecida, mas se interessou da mesma forma, então seguiu. A Alyce não seguiu ela de volta e na época a Manu tentava acompanhar o que ela postava nos stories para tentar puxar algum assunto, mas ela só postava sobre o trabalho, até que um dia postou uma selfie e o flerte estava lançado! Agora, pergunto, vocês acham que ela respondeu? Claro que não. Ou melhor, até respondeu, mas não correspondeu ao flerte. Elas conversaram, a Manu chamou ela para sair e ela topou, mas disse que sairia sem segundas intenções, porque não estava interessada. Combinaram assim, mas a Manu conta que na cabeça dela estava tudo planejado, quando chegasse o momento a intenção iria acontecer, era quase que uma questão de honra… “vai rolar, em algum momento, vai rolar”. A conversa seguiu por mais uns dias e a Manu chamou a Alyce para ir na casa dela beber, mas a Alyce achou meio absurdo, ficou pensando como ela iria lidar com os pais da menina logo no primeiro dia, não pensou na possibilidade dela morar sozinha, disse que preferiria ir em algum local público e o encontro não aconteceu. Mais um tempo passou e finalmente, depois de uma viagem da Manu e com a Alyce já entendendo que ela não teria que lidar com familiares, ela topou encontrar a Manu na volta da viagem e foi almoçar no apartamento assim que ela desembarcou. Elas brincam que foi o primeiro encontro mais aleatório possível. A Manu chegou de viagem do nordeste. A Alyce chegou com um engradado de cerveja e chocolates. Elas se encontraram ao meio dia, ela foi embora às onze horas da noite. E nesse meio tempo, o que aconteceu? elas beberam, em algum momento se sentiram com sono e, sim, dormiram. Abraçadas. Ou seja. Conhecer algum familiar no primeiro encontro? Jamais! Local público! Dormir abraçada no meio do dia com alguém que até então “não tínhamos interesse”? Aceitamos! Hahahaha. Tudo bem, Alyce. A gente te entende. ♥ Foi esse dormir abraçadas que conquistou tudo, depois desse dia, em outubro de 2019, não tinha mais volta, ficaram juntas. A Alyce e a Manuela são duas pessoas muito calmas e encantadoras. Visitei o apartamento da Manu em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, local em que passaram a morar juntas, mas a Alyce é natural de São Gonçalo, cidade vizinha. Foi um fim de tarde muito acolhedor, elas se apresentaram, eu falei sobre o projeto, caminhamos juntas na praia e conheci o lar. A Alyce tem 22 anos, é técnica em química, trabalha na FioCruz fazendo o controle de qualidade das vacinas da Covid-19. Seu trabalho envolve o laboratório biofármaco - e além das vacinas da covid, também fazem controle de outras vacinas como a da poliomielite, sarampo, febre amarela, etc. Além disso, como hobbie, em casa, ela ama cozinhar, é algo que realmente a distrai. Gosta de testar novas receitas e explorar novas coisas. Antes da pandemia trabalhava com pesquisas em meio ambiente e comenta sobre a responsabilidade e a importância que é trabalhar com uma causa tão nobre em tempos tão difíceis como os que vivemos atualmente. A Manu tem 23 anos, faz faculdade de estudos de mídias e atualmente está estagiando enquanto jornalista em uma escola. Lá ela faz cobertura de eventos, já trabalhou também em agências de publicidade e, pasmem, já publicou um livro. Alô, literatura LGBT, ela manda MUITO bem. O livro se chama ‘Diário de Guernica e Cartas de Amor’ e é só clicar aqui para comprar ♥ (apoia o trabalho dela!). Tanto a Manu, quanto a Alyce, desde o começo da conversa, ainda na praia, falaram coisas muito interessantes sobre a pandemia e sobre o tempo em que estão juntas, por passarem muito em casa e por estarem sempre se reinventando e se ajudando. Passar tanto tempo juntas em um apartamento fez com que elas se redescobrissem de muitas formas, mas fez com que, mais que tudo, elas sempre estivessem tentando se puxar para cima, se fortalecer e servir de apoio, de abraço, uma para a outra. . Manuela Alyce
- Evelyn e Ana Clara
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Evelyn e Ana Clara, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! Ana Clara e Evelyn começaram o relacionamento durante a pandemia e viram suas percepções sobre compartilharem momentos mudar diversas vezes: primeiro, viviam entre as chamadas de vídeo do Zoom, assistiam séries dando play no mesmo instante; depois, começaram a se encontrar no condomínio em que Ana mora, com cuidados e apenas na parte externa, mas planejavam a vida voltando ao normal, faziam lista do que gostariam de realizar quando desbravariam a cidade juntas. E, hoje, ficam muito felizes em perceber que já fizeram várias coisas, mesmo que sem planejar tanto: caminham pelo Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, vão aos seus restaurantes favoritos, visitam amigas e se encontram com frequência. Para Evelyn, amar é se sentir confortável ultrapassando uma barreira do medo. Por isso, elas constroem espaços na relação que sejam adaptáveis para que se sintam bem. Gostam desse amor que sentem fluir diariamente. E, além disso, fazem questão de mostrar que são um casal - acreditam que isso é muito importante enquanto uma forma política de ser, mesmo que tomem muito cuidado com a sua segurança. No momento da documentação, Ana estava com 24 anos. Ela trabalha enquanto psicóloga e segue em constante estudo. A Evelyn também estava com 24 anos e atualmente trabalha enquanto designer de interiores no Rio de Janeiro. Sobre seus gostos em comum, elas chegam com uma curiosidade: as duas são apaixonadas por Titanic. Segundo a mãe de cada uma, tudo isso aconteceu porque, quando estavam grávidas, elas foram ao cinema assistir o filme. Então acreditam que desde a barriga gostaram do filme e, até hoje, se emocionam e assistem inúmeras vezes. No dia a dia, adoram frequentar restaurantes, beber vinho, viajar e ficar na casa dos amigos enquanto eles viajam - inclusive, cuidam muito bem dos lares, imaginando o momento que terão os seus cantinhos. Em 2017, numa coincidência de um amigo em comum levar a Ana no aniversário da Evelyn, elas se conheceram - mas não interagiram e não lembram muito desse dia. Foram se conhecer pela segunda vez (e interagir de verdade), efetivamente, já em 2018, quando o mesmo amigo convidou ambas para uma confraternização de pré-natal. Como ambas moram numa região mais distante do Rio (mesmo que próximas uma da outra) e a confraternização era por perto, elas toparam na hora! Chegando lá, se divertiram bastante, interagiram e jogaram cartas, videogame etc. Conversaram muito, trocaram várias ideias, um interesse até tentou surgir, mas nada foi cogitado quando a Ana descobriu que a Evelyn estava namorando. O tempo passou, elas se seguiram no Instagram, mas nunca mais interagiram. Em 2019 se viram duas vezes, mas sem grandes interações. Até que no fim do ano a Evelyn já estava solteira e perguntou para o amigo sobre a Ana - ele não perdeu tempo, sabendo do interesse mútuo, foi correndo contar. Ela reagiu com um áudio dizendo que era a notícia que ela precisava, que ela estava contente, com o astral lá no alto, etc. E nesse momento a Ana achava que a Evelyn sabia que ela tinha interesse, mas não, a Evelyn não fazia ideia (e também não tinha recebido o áudio através do amigo). Nos primeiros meses de 2020 elas não conseguiram se encontrar, então a pandemia de Covid-19 começou e, com isso, aconteceu um boom de chamadas online. Todos marcaram conversas em grupo, faziam coisas juntos e por mais que elas não conhecessem todas as pessoas na chamada, topavam entrar, interagiam e passavam horas conversando. Assim, foram realmente se aproximando: assistiam séries online juntas, faziam chamadas de horas e conversavam até tarde. Um tempo depois, a Evelyn precisou começar a sair para trabalhar e no dia do aniversário da Ana ela tinha um cliente no mesmo condomínio que a Ana morava. Decidiu levar um presente, fez uma caixinha com coisas que a Ana gostava e levou até a portaria do prédio dela. A fita, que enrolava a caixinha, nas cores do arco-íris, é usada por elas até hoje em todos os presentes. Ela chegou para deixar na portaria, mas não conseguiu: a Ana teve que descer e assim se encontraram pela primeira vez após a aproximação. Super nervosas e a Ana surpresa com o presente. Um tempo depois, decidiram se encontrar novamente no condomínio, caminhar por lá e aproveitar o dia. Depois que o encontro deu certo, começaram a repetir diversas vezes na semana: compravam vinho, sentavam na grama e assistiam séries, conversavam sobre a vida ou só caminhavam juntas. Um tempo depois, a Evelyn conheceu as duas melhores amigas da Ana. Elas foram até Copacabana, o lugar onde elas moram, e ficaram lá uma noite. Esse apartamento se tornou como um refúgio para a Evelyn e a Ana, porque é lá que elas passam diversos dias e, as amigas, agora formam uma família. Em outubro de 2020, num desses encontros no condomínio, Ana pediu a Evelyn em namoro. Relembrando o início, dão muito valor por esse namoro ter começado assim, com muita conversa, aos poucos, se permitindo o envolvimento, num ritmo totalmente diferente do que já vivenciaram: sem muito do convívio social porque a pandemia não permitia, algo muito mais íntimo. Hoje em dia, por mais que tenham rotinas bastante cheias e nem sempre conseguem se encontrar, tentam manter os hábitos iniciais: de se ligar todos os dias e assistir coisas juntas de forma online. Além disso, também fazem viagens juntas e ficam na casa das amigas em Copacabana. Nessas idas, elas acabam vendo o nascer do sol, por ser perto da praia: adoram o silêncio desse momento da manhã, são pessoas bastante diurnas e comentam que gostariam de aproveitar isso com mais segurança. Nas viagens, sempre que perto da praia, tentam ver o nascer do sol. É algo que faz parte delas e dos momentos preferidos que vivem juntas. ↓ rolar para baixo ↓ Ana Clara Evelyn
- Priscila e Rebecca
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Priscila e Rebecca, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! Perante as questões dentro de casa, elas sentem que não existem problemas entre elas - na relação em si. Os problemas são sempre sobre o cotidiano e sobre a moradia, mas elas, enquanto casal, tem uma conversa aberta e se apoiam muito juntas. Sonham com o momento em que a Rebecca vai se formar (em breve!) e que poderão deixar de fazer o DogHero, para assim poderem alugar um apartamento e viver entre suas profissões, nos hospitais e nas indústrias. Elas passaram por muito terror psicológico pelo medo de trocarem carinhos dentro de casa, por conta do preconceito. A Rebecca, durante a nossa conversa, comenta sobre a LGBTfobia e sobre como a dor fica mais forte sendo vivida dentro de casa. Mas entendem que este é um período provisório e que logo vão se estabilizar e ter seu próprio cantinho. Para a Priscila, amor é se doar. Doar tempo, doar cuidado, doar atenção. Elas comentam que isso sabem fazer muito bem: amar (e por decorrência, se doar). Se doam para ver a família bem, o relacionamento bem, a amizade entre o casal sempre cultivada e cuidada. Se tem uma coisa que gostam muito de fazer, essa coisa é conhecer novos lugares. Gostam de ir para os bares, mesmo quase não tendo feito isso em 2020 por conta da pandemia. Gostam de viajar, de ver gente. O que mais fica claro, durante toda a conversa, é o quanto o amor delas significa parceria. Tentam dividir qualquer tipo de peso juntas, não soltam as mãos nunca. A mudança da Priscila para o Rio foi muito significativa e extremamente fundamental para o relacionamento delas. Estava muito difícil manter a distância e a Pri já estava em busca de faculdade e trabalho pelo RJ, foi então que a avó e a tia da Rebecca estavam morando num apartamento da família dela e estava sobrando um quarto lá e surgiu a ideia dela fazer a mudança. Foi tudo planejado com cuidado, então a Priscila chegou na cidade já tendo emprego e estudo garantido. Porém, no meio da mudança, ainda existia um problema: ninguém da família sabia que elas namoravam. Aos poucos foi ficando mais claro, a tia da Rebecca hoje em dia adora a Priscila, e por problemas de saúde, acabaram todas se mudando daquele apartamento: foram morar na casa da Rebecca e dos pais dela. É uma casa grande, com os pais, a avó, a irmã, a tia, os bichos… e elas. Até o momento elas não possuem autonomia enquanto casal, porque mesmo que todos já saibam que elas namoram, acabam vivendo como amigas dentro de casa. Sentem falta da privacidade, de poderem trocar algum carinho. A pandemia têm sido um desafio muito grande, primeiramente pela Rebecca ser da área da saúde e estar trabalhando em hospital, depois por serem as mais jovens elas acabam fazendo tudo na rua para que os outros familiares não precisem sair. Como um todo, é desgastante e cansativo a rotina de cuidar da casa, da saúde dos parentes e dos cachorros, mas elas têm levado isso juntas. A Priscila faz de tudo para agradar a família da Rebeca e assim vai conquistando mais confiança também. Hoje em dia, mesmo a sogra tendo diversos problemas envolvendo preconceito, ela está muito mais tranquila e aceitando dia após dia a relação. Rebecca tem 26 anos e está terminando a faculdade de medicina, mas também adora mexer com design gráfico e sente muita vontade de um dia fazer um curso de fotografia. Priscila tem 28 anos, é engenheira e trabalha em uma indústria fazendo a programação da produção, mas sua paixão mesmo são ourives (trabalhar com ouro) e sonha em fazer engenharia de minas. Elas amam animais, principalmente cachorros. Além da Agnes, sua petfilha, existem diversos outros cachorros na casa da mãe da Rebecca, local em que elas moram. Acabam atuando enquanto DogHero também, por garantir uma renda extra e aumentar o amor pelos bichanos. A Agnes foi adotada e chegou como um presente da Priscila para a Rebecca, ela é totalmente companheira das duas, não deixa elas sozinhas, ama igualmente. É uma relação de muito carinho. A Agnes ama a praia - e foi esse um dos motivos por termos escolhido este local para nos encontrarmos. Mas, além disso, a praia significa liberdade para elas. É o local que elas costumam ir muito, foi palco do pedido de namoro, o lugar onde abraçam e beijam sem medo e sem vergonha. É onde passam o dia felizes. A Priscila sentia muito receio de se envolver com alguém… e foi vindo para o Rio durante alguns meses quando percebeu que seu sentimento estava se fortalecendo, causando um grande medo (leia-se, desespero) por não querer se envolver num relacionamento. Quando a ficha caiu já era um pouco tarde, pois estavam, com todas as amigas, embarcando em uma viagem para a serra. A única reação da Pri nessa viagem foi se afastar brutalmente da Rebecca... falava pouco, ficava longe, se fechava de tudo. E aí, mais uma vez, entra quem? Natasha. Natasha conversou com a Priscila durante um bom tempo, incentivando uma nova chance para a Rebecca, falando sobre o quanto ela era uma pessoa legal e o quanto elas mereciam ser felizes juntas. Ela resolveu dar essa chance, mas o começo foi muito turbulento, porque toda vez em que a ficha caia, ela automaticamente tentava se afastar. Lidava com bastante medo. Até que a Rebecca colocou um basta por não querer mais viver esse “efeito sanfona” e disse que elas deveriam conversar abertamente cada vez que isso acontecesse para que assim pudessem encontrar o melhor caminho juntas. Foi no ano novo, alguns meses depois, que rolou o pedido de namoro. De 2016 para 2017, em meio ao réveillon na praia, a Rebecca fez o pedido. A Pri aceitou, foi lindo. Mas todo bom ano novo começa com uma boa história, e nesse caso, a Priscila ficou tão bêbada ao ponto de esquecer do pedido. No dia seguinte soube porque a Rebecca contou, rindo muito. Se vocês acreditarem que existe algum cupido por trás de cada amor, com toda a certeza, nessa história, o cupido se chama Natasha. Natasha é prima da Rebecca e foi a grande incentivadora da formação desse casal. Para vocês entenderem melhor como isso tudo começou, a Priscila morava no Espírito Santo e a Rebecca no Rio de Janeiro. A Pri era amiga da Natasha, se conheceram através de um grupo online. Em 2012 a amizade se desenvolveu e em 2014 resolveram ir juntas para alguns shows que teriam no Rio. Foi aí que a Natasha apresentou a Pri e a Rebecca, mas de cara elas não se deram bem, ou melhor, nem se olharam direito. Com as vindas da Priscila para o Rio se tornando mais frequentes, a Natasha praticamente obrigou as duas a conviverem, então elas passaram a fazer parte do mesmo grupo. Viagem vem, viagem vai. E aí te pergunto, elas passaram a ser amigas? Claro que não. A Natasha fazia de tudo para juntá-las, mas elas ainda interagiam pouco e não se davam muito bem. Como elas acabaram juntas? te respondo aqui. Elas estavam em uma viagem e as amigas insistiam para que ficassem com duas meninas aleatórias, mas elas não estavam afim, então, dos males o menor: vamos ficar entre nós para não termos que beijar as meninas - porque mesmo não indo com a cara, ao menos a gente se conhece. E foi desse jeito que passaram toda a viagem sendo um casal. Foi como uma válvula de escape, mas contam que a Natasha, se pudesse, teria soltado fogos. Esse começo é muito engraçado e desajeitado, mas foi a partir daí que a Priscila começou a vir aos poucos do Espírito Santo para o Rio, fazendo viagens estilo bate-e-volta no fim de semana para ver a Rebecca. Rebecca Priscila
- Janelle e Gyanny
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Janelle e Gyanny, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! Foi no Rio de Janeiro que encontrei a Janelle e a Gyanny, depois de elas enviarem uma mensagem para o Documentadas falando sobre um projeto que possuem e nos convidando para ir até Belo Horizonte fotografar alguns casais por lá. O motivo do encontro no Rio, diferente do local de residência, é a paixão e o carinho que possuem por aqui: a Gy é carioca e a Janelle é encantada pela natureza misturada na cidade. Janelle, no momento da documentação, estava com 41 anos. Ela é natural de Belo Horizonte e trabalha na área da fisioterapia. Gyanny, no momento da documentação, estava com 39 anos. Ela é carioca, mas mora em Belo Horizonte há cerca de 4 anos - antes, inclusive, de se relacionarem - e por mais que tenha se formado em educação física, hoje em dia trabalha enquanto analista de mídias sociais. Juntas, elas fundaram um projeto chamado Jesus Hope. Foi pela necessidade que sentiam de ver LGBTQIA+ sendo representados no meio cristão que decidiram criar um perfil no Instagram para divulgar conteúdos de pessoas e igrejas que falassem sobre o tema. Entendem que muitas pessoas não sabem que existem igrejas inclusivas (são mais de 200 no Brasil!) e o papel do perfil, além de comunicar e ensinar, é evangelizar entre a comunidade de uma maneira inclusiva e acessível. Quando a Janelle e a Gyanny se conheceram, há oito anos atrás, não imaginavam que um dia iriam estar juntas. Na época, a Gy morava no Rio de Janeiro, ambas tinham outros relacionamentos e a única coisa em comum é que frequentavam a Igreja Contemporânea. Como a igreja tem bases muito fortes no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, ela promove diversos encontros e retiros. Foi numa viagem ao Rio através de um desses encontros que o encontro das duas aconteceu, mas não virou uma amizade logo de cara. O tempo passou, ambas terminaram seus relacionamentos, a Gy se mudou para Belo Horizonte e durante a pandemia elas começaram a conversar, de forma online. Foi no dia das namoradas que se encontraram pela primeira vez depois de passarem um tempo trocando mensagens. A Gy conta que nunca quis morar no Rio, sempre procurou outros lugares e que amou Belo Horizonte desde o primeiro momento, então um amigo a incentivou a ir, ela conseguiu um emprego e foi. Mesmo que ainda veja muitas pessoas com mentes fechadas e situações de machismo acontecendo na cidade, deseja participar da mudança ativa para as coisas melhorarem; Hoje em dia, morando com a Janelle, sente que lá é o seu verdadeiro lar. Atualmente, a rotina da Gy e da Janelle circula entre a família, os trabalhos e a igreja. Têm suas responsabilidades para além do Jesus Hope, organizam encontros e grupos de jovens, vão nos retiros e congressos. Intercalam seus dias com as orações, os encontros de fé e os encontros familiares. Começar a gravar vídeos para a página foi um salto, assim como usar alguns materiais de pastores. Entregam diversos conteúdos falando a Palavra e também trazendo debates sobre inclusão, chamando pastores de diversas igrejas para opinar, etc. Elas contam o quanto a “cura gay” atrapalha e machuca as pessoas. O quanto, também, são altos os casos de suicídio por pessoas que não se sentem parte do mundo e/ou sentem que estão cometendo algum pecado por amar alguém do mesmo sexo. Por isso, prezam pelo acolhimento mostrando isso através da fé, não da condenação. Gy conta que quando se assumiu para a família dela houve um ponto que a fez pensar muito: ela era da Igreja Batista, mas a mãe dela não frequentava igrejas. Mesmo assim, a mãe falou que não aceitaria, que era pecado, que Deus não aceitaria, e fez questão de falar com o pastor. Ou seja: a Igreja vai muito além de um local físico - suas crenças atingem quem está fora, que ouve e acaba reproduzindo de alguma forma. No entanto, a Jesus Hope vem justamente para transformar isso: mostrar que não é pecado. A Janelle e a Gy possuem uma relação muito calma e caseira. Acreditam que fazem o amor dar certo porque se doam para ele - através das preocupações, dos cuidados, estando junto e respeitando de verdade, acolhendo ambas família e aceitando como todos são. A Gy acredita que o amor vem de Deus e fala sobre amar o outro como a si mesmo, com empatia, pensando no outro até mesmo antes de pensar em você. “Amar é uma construção e também um suporte”. Por fim, também reflete sobre como até os sentimentos hoje estão muito descartáveis: estamos vivendo relações em que se acontece alguma coisa que a pessoa não goste/não queira, ela já se desfaz. Entendem que o amor não é isso, se queremos viver o amor, precisamos passar por cima de algumas coisas em algumas situações, ceder um pouco, relevar um pouco para tentar construir algo (e, claro, respeitando uma a outra sempre!) mas entendendo que é uma situação passageira que servirá para fortalecer e viver situações melhores futuramente. ↓ rolar para baixo ↓ Janelle Gyanny
- Renata e Marcela
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Renata e da Marcela, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! Hoje em dia elas entendem que isso fez parte da história, mas tentam sempre ressignificar o sentido de família. A Marcela passou o último natal com a família da Renata, os amigos estão sempre por perto, inclusive, são grandes admiradores do casal. Elas fomentam o lar, o amor e o cuidado. Tudo o que viveram serve de fortalecimento não só na relação, mas também enquanto seres humanas. Quando perguntei sobre o amor, me disseram que o amor, mesmo que de forma geral, é político, porque ele está em tudo. Identificam esse atual momento como o pior que já viveram em relação ao ódio e à ignorância disseminada e que, mais perigoso que isso, é sobre o “agressor” estar gerando o nosso país. “O amor tem que ser colocado em prática. Não responder o ódio com mais ódio.” Renata comenta o quanto o ódio é tentador, o quanto nos deixamos levar pelo impulso do ódio. O amor, não. Ele é muito maior que a gente. O amor está entre as relações de pessoas conhecidas (amigos, familiares) e também nas relações sociais. “Quem ama não coloca uma calçada com espinhos em cimento para as pessoas em situação de rua não poderem deitar embaixo do viaduto. Como que chegamos nesse ponto?! Se chegamos, foi porque alguém normalizou o ódio nesse nível. E o nosso maior desafio é não deixar o primeiro passo ser dado para chegarmos onde estamos, ou, agora, revertermos a situação.” Marcela comenta que amar mulheres é ter um tipo de amizade único também. É uma relação muito mais completa - é ter respeito, trocar, entender, ter vontade de estar junto e querer que funcione, mesmo que nem tudo sejam flores. É entender que são pessoas incríveis separadas, mas que estando juntas são ainda mais. Quanto mais a relação delas se desenvolvia, mais a Marcela achava injusto que seus pais não soubessem do relacionamento. Ela já era uma mulher financeiramente e emocionalmente independente, mas acabava tendo uma vida ‘dupla’ por dentro de casa não poder demonstrar seu amor por outra mulher. O pai reagiu de uma forma mais tranquila, mas a mãe não lidou (e não lida) bem. Marcela costuma contar que foi a madrugada mais longa que ela já viveu. A mãe não aceitou e ela decidiu sair de casa. Renata deixou a porta de casa aberta, para que ela pudesse, ao voltar, entrar. Ela voltou com uma mochila cheia de roupas e assim passaram os meses seguintes, juntas, tentando se cuidar. Marcela começou a fazer terapia (inclusive, o pai acompanhou algumas sessões também), e começou a dividir o apartamento com a Renata. Ela contou que não acha justo mentir. Não queria dizer que estava num bar se estava na casa da Renata, por exemplo. Além do mais, elas sentem algo tão bonito, tão bom, que merece ser compartilhado, por mais que existisse o medo de contar. Hoje em dia, ela ainda tenta, aos poucos, ficar bem com a família, mas comenta sobre o quanto é difícil. Hoje em dia, elas sentem muito que os pais não estejam presente nos detalhes bons da vida, como a forma que elas montam o apartamento delas, os motivos que dão risada, as plantinhas que acabaram morrendo mas que elas estão determinadas a aprender a cuidar, os gatos e o que as fazem felizes ou tristes. E o quanto valem esses detalhes, afinal? Vale a pena não tentar quebrar esse preconceito que existe em troca de conviver e compartilhar a vida com os filhos? Perder essa fração de vida? E tudo isso por não aceitar que o amor? No fim, a conta não fecha. Renata tem 39 anos, ama andar de bicicleta, dançar e escrever. Marcela tem 25 anos e na quarentena tem descoberto que gosta de trabalhar com edição. Elas vivem num apartamento juntas, com seus dois gatinhos e os milhões de pássaros agapornis que chegam até a janela para fazer uma visita e comer umas sementinhas. São mulheres que possuem uma vida cultural e social muito ativa, sempre estiveram entre teatro, cinema, bares, etc. Tiveram um primeiro encontro meio sem querer - queriam assistir uma peça juntas, mas não conseguiram chegar em tempo. E aí decidiram ver uma peça chamada ‘40 Anos Essa Noite’, que fala sobre vivências LGBTs. Depois da peça pegaram um uber para o bar e era engraçado que no caminho, como uma não sabia se a outra se considerava hétero ou LGBT, acabaram contando suas experiências, para deixar bem claro, estilo “uma vez vivi isso com A minhA namoradAAAA/e ai elAAA/na perspectiva delAAA”. Depois disso começaram a se permitir conhecer, se apaixonar e viver a relação. Enquanto estudavam juntas no Tablado, os exercícios cênicos eram sempre feitos através de grupos e as cenas improvisadas com temas da atualidade. Os grupos eram escolhidos de forma aleatória, então elas nunca acabavam caindo juntas. A primeira cena que fizeram de verdade foi uma cena de Orange Is The New Black, da qual interpretavam a "Pennsatucky” e a “Boo” no dia das mães. Após atuarem juntas no Tablado, se juntaram com um grupo de amigos e decidiram fundar uma companhia de teatro, os Banalizadores do Evoé, que durou alguns meses antes da pandemia. "O Amor entre duas mulheres e a rejeição social desse "comportamento" gera a dor gigante daquela cujo sentimento só sabe ser livre..." Foi através de ‘O Efeito Urano’ que Fernanda Young chegou até a Renata e a Marcela e se tornou uma das primeiras cenas que fizeram juntas, no começo do relacionamento, após se encontrarem no teatro Tablado. Renata e Marcela são atrizes, além de professora e de advogada. Elas se conheceram estudando teatro juntas, já em palco. A Renata sempre se viu um pouco na Fernanda Young, as obras dela permitiram com que entendesse que seu corpo também era livre. Fernanda sempre dizia que não cabia nos lugares, enquanto, Renata, também se sentia assim… até que ambas entenderam que não precisamos caber em lugar algum, mas que criar nosso próprio lugar. Renata apresentou O Efeito Urano para a Marcela. Virou o livro delas. Marcela leu e Renata releu, simultaneamente - assim grifaram tudo o que achavam importante, depois juntaram os papéis, no chão de casa, separando em três atos: a paixão, o relacionamento e o ato final. Foram para a praia, com os textos em mãos, e passaram o dia ensaiando. Depois disso, qualquer momento se tornou oportuno: passaram o texto enquanto estavam cozinhando, dirigindo e andando por aí. Se tornaram muito parceiras em ensaios, sempre trocando muito aprendizado. Hoje em dia o livro virou a parede do quarto delas, literalmente. !
- Cecília e Jady
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Cecília e da Jady, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! Nos últimos meses, depois de várias conversas e de entender que o momento ideal tá chegando, elas decidiram procurar um apartamento e em breve estarão morando juntas. A ideia surgiu porque o contrato do apartamento que a Jady aluga com alguns colegas vai vencer no próximo mês e ela até cogitou propor algo em conjunto com a Ceci, mas pelas faculdades das duas serem em cidades diferentes, surgiram empecilhos sobre onde seria o imóvel. Com o tempo, ficou certo de que o curso da Cecília continuará à distância até o fim e isso abre novas possibilidades, então conversaram, as famílias apoiaram bastante e por já estarem passando muito tempo juntas, tudo passou a ficar cada vez mais concreto. Hoje em dia, o maior passatempo está sendo planejar os cantinhos do novo apartamento e cada decoração, cada móvel, cada objeto com a carinha delas ♥ (boa sorte, meninas!) O apoio da família da Cecília é algo que ela se orgulha muito em ter. Quando era mais nova ela passou por momentos muito difíceis ao se entender enquanto bissexual e por se relacionar afetivamente com mulheres. Passou pela expulsão de casa e hoje em dia, 11 anos depois, tem uma relação completamente diferente. A família dela considera a Jady como “uma filha paulista” e realmente apoia as duas, enchem elas de carinhos e estão sempre perguntando e querendo estar por perto. Ela conta que vê a Jady enquanto sua melhor amiga e que a pandemia representa recomeços em cima de recomeços, não só pela relação delas em si estar no começo, mas porque ela voltou pra casa dos pais, porque eles mesmos se mudaram, tudo se encaminhou para coisas novas o tempo todo (sem contar que o mundo estava vivendo algo completamente novo e inesperado), mas que ao mesmo tempo foi muito mais tranquilo por ter ela por perto, por ter a amizade e o amor dela ao seu lado. Hoje em dia a Jady está trabalhando como vendedora em uma loja de objetos praianos (biquínis, cangas etc) e a Cecília é redatora em uma agência de marketing, mas acaba trabalhando mais enquanto autônoma com seus freelances. Ambas se encontram o tempo todo em suas artes, a Jady já fez teatro por bastante tempo e contou o quanto ama, além de se dedicar ao desenho e a pintura, e a Ceci adora fotografar e também faz parte de um coletivo feminista que envolve lambes enquanto arte urbana e poesias feitas por mulheres. Falamos sobre o trabalho da Jady ser algo bastante recente, por conta de antes da pandemia todas as formas de renda serem bem diferentes. Na faculdade ela organizava brechós, fazia freelances, vendia doces e tinha outras rendas, além de também receber ajuda do pai dela. No começo da pandemia ela pensou que precisaria voltar para São Paulo, por não ter internet e computador em casa para estudar à distância e por não ver uma forma de continuar tendo uma renda independente. No começo a Cecília teve um papel importante na ajuda e no afeto na busca por um notebook e por conseguirem colocar internet em casa, até que infelizmente o pai dela, que trabalha enquanto motoboy, sofreu um acidente de trabalho e não conseguiu mais colaborar financeiramente nos custos. Foi nesse momento em que ela precisou voltar para as ruas, sair de casa e procurar algum trabalho fixo, e nisso falamos sobre as dificuldades que envolvem colocar nossos corpos na rua durante uma pandemia, com ônibus e BRTs lotados, dificuldades de achar máscaras PFF2s por valores acessíveis e o quanto é difícil nos cuidarmos dia após dia contra um inimigo invisível enquanto na volta do trabalho passamos por bares e festas com muita aglomeração, sem contar o sentimento que acaba causando de revolta muito grande, ao se sentir trouxa, usada, de estar remando contra uma maré de coisas erradas. É preciso muita força para seguir enfrentando. Desde que o primeiro beijo aconteceu e que elas começaram a conversar, meio que sem jeito e aleatoriamente, se encaixaram e decidiram logo em seguida se encontrar novamente. Com o decorrer do tempo, com os encontros e com o desenvolver de sentimentos, foram deixando as coisas fluírem e começaram o namoro. Tudo aconteceu num fluxo bastante natural porque elas se permitiram e também por tantas coisas que possuem em comum e pelo tanto que se divertem juntas. Desde o momento que nos encontramos elas comentaram sobre as bobajadas e as brincadeiras infinitas que fazem, contam que o verdadeiro encontro aconteceu por causa do riso (além do brigadeiro e do macarrão ao molho branco que a Ceci fez e ganhou o coração logo de primeira!), o que elas mais gostam de fazer é ouvir músicas, ver filmes e séries, comer várias sobremesas, apreciar diversas artes, mas mais que tudo: rir infinitamente. Estão sempre sorrindo, tendo crises de riso sobre coisas bestas, vendo memes na internet e compartilhando situações engraçadas. A Jady tem 21 anos, é natural da região metropolitana de São Paulo, mais especificamente de uma cidade chamada Taboão da Serra e veio para o Rio de Janeiro ser estudante de figurino na Escola de Belas Artes da UFRJ. Foi durante uma festa da faculdade, lá na UFRJ, que ela viu a Cecília pela primeira vez. O detalhe é que a Cecília não apenas não estudava na UFRJ, como era a primeira vez que estava indo lá. Ela faz faculdade também, mas na UFF, em Niterói, cidade que fica na região metropolitana do Rio de Janeiro. Cecília tem 27 anos, é natural do Rio e faz Estudos de Mídias na Universidade Federal Fluminense. No dia da festa, a Ceci estava lá apenas acompanhando um amigo - na verdade, na hora que elas se encontraram, ela já estava mesmo era praticamente indo embora. E aí, ao som de muito funk (antes que elas me corrijam, era um bastante específico: vem e brota aqui na base ) e no meio de todo mundo dançando, a Jady surgiu com uma roupa super esvoaçante e tão simplesmente tascou-lhe um beijo. A Ceci, por estar 100% sóbria (ela não bebe) e por não ser da UFRJ, não sabia se tinha entendido direito o que tinha rolado ali, sentiu que tudo estava super aleatório, mas rapidamente elas conseguiram conversar e decidiram trocar contatos. Detalhe: ambas estavam sem celular. Então atravessaram as pessoas dançando e foram até os amigos, pegaram um celular emprestado, a Jady passou o user do Instagram dela para a Ceci - que logo que ela chegou em casa, adicionou e mandou uma mensagem engraçadinha - e assim começaram a conversar no dia seguinte. Rolar Cecília Jady
- Luiza e Maria Pérola
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Luiza e Maria Pérola, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! Quando elas se encontraram tiveram um dia bom e logo em seguida e Luiza viajou de volta para o Rio de Janeiro, elas seguiram conversando de forma online e surgiu uma nova oportunidade: dessa vez, um colega de apartamento da Maria que viajava muito iria até o Rio e ela poderia ir junto, então ela topou, avisou a Luiza e elas conseguiram se encontrar novamente. Quando o encontro aconteceu, elas entenderam que queriam novos encontros e que, melhor que isso, não queriam parar de se encontrar. Enquanto o relacionamento da Luiza já estava em um ponto que era muito mais amizade que relação amorosa em si, ela optou por conversar sobre a bissexualidade e pelo término. O namorado entendeu, realmente, inclusive incentivou as duas, por ver o quanto isso estava fazendo bem à ela - e hoje eles são bastante amigos (ele quem instalou as prateleiras no apartamento delas! haha) e no fundo eles comentam que sabiam que a relação não iria mais para frente e que ambos estariam mais felizes em novos caminhos, era o mais justo a ser feito. A Luiza nunca foi uma pessoa impulsiva e diz que essa foi a coisa que ela mais teve certeza ao fazer em toda a vida. Elas começaram a namorar em dezembro de 2019 e a maior dificuldade na época foi enfrentar a forma dos amigos e da família de lidar, tanto pelo relacionamento anterior ter terminado, quanto pelo fato da Luiza ter ficado com uma mulher. Ao mesmo tempo, como tudo era muito claro para ela, o jogo foi quase que ao contrário, ela sabia que quem estava passando por “uma fase” eram os amigos e a família: a fase de lidar com a mudança e aceitar, porque ela, a Maria e o ex namorado estavam muito felizes e bem resolvidos. Existe uma troca muito genuína entre as duas, desde os escritos, as músicas, as composições… a Luiza também participa de uma roda de choro e samba feita apenas por mulheres no Rio, que é um estilo musical muito presente e está aprendendo e desenvolvendo a música popular para além da música erudita, coisa que a Maria Pérola ajuda muito! É sempre um aprendizado. Quando a Luiza e a Maria Pérola se conheceram, ambas já viviam de música e moravam no sudeste. A Maria viu um conteúdo que um amigo em comum entre elas publicou sobre mulheres artistas e seguiu as pessoas que ele marcou, para acompanhar o trabalho delas, sendo que uma delas era a Luiza. Na época elas trocaram uma ideia quando se adicionaram e foram, com o decorrer do tempo, acompanhando o trabalho aos poucos uma da outra. A Luiza postava algo e a Maria interagia, vice versa, era um troca profissional de admiração. Nisso mais de um ano se passou, até que aconteceu delas conversarem de fato, por conta do poema… e aí foi tudo muito rápido: interagiram durante um mês quase que diariamente e a Luiza foi chamada para fazer uma apresentação com a orquestra em São Paulo, convidou a Maria Pérola e ela foi assistir. A Maria conta que tentou não criar muitas expectativas no encontro das duas sob o viés amoroso, porque a Luiza vivia um relacionamento de três anos, com um homem, e não tinha ficado com uma mulher. Por mais que eles estivessem vivendo um relacionamento aberto e ela já tivesse compartilhado com ele sobre os sentimentos que estava desenvolvendo pela Maria, tudo era muito novo e elas não sabiam o que poderia acontecer, então ela apenas tentou não nutrir expectativas. Maria Pérola tem 27 anos, é pernambucana e nasceu em Jaboatão dos Guararapes, cidade da região metropolitana de Recife. Morou num local chamado Alto da Colina e foi lá onde passou toda sua infância. Como sua família viajava bastante para São Paulo por conta do trabalho, ela acabava fazendo essa ponte aérea e foi aos poucos se familiarizando. Sempre gostou de música, mas se formou em psicologia e só depois, quando se mudou para SP, decidiu que seu caminho e sua carreira eram, de fato, cantando. Por muito tempo a família não aceitou que ela seguisse o caminho da música popular periférica nordestina, acreditavam que ela precisava de uma “profissão de verdade” e que a música não traria um futuro profissional digno, mas ela seguiu atrás desse sonho e dessa paixão. Hoje em dia, vive sendo uma artista e é uma entusiasta da música autoral. Adora ouvir gente cantando. Vou deixar as redes da Maria Pérola aqui, porque vale MUITO (muito mesmo!) ouvir, é sensacional: YOUTUBE SPOTIFY INSTAGRAM Luiza tem 26 anos e é natural de São João del Rei, uma cidade histórica localizada no interior de Minas Gerais. Por lá ela estudou música no conservatório desde criança e decidiu se mudar para o Rio de Janeiro em 2014, quando entrou no Conservatório Brasileiro, por conta de alguns contatos que criou com professores da UFRJ. A Luiza é uma violinista incrível! Já fez parte de várias orquestras, inclusive a Orquestra Sinfônica Cesgranrio e a Orquestra de Mulheres do Rio de Janeiro, das quais faz parte/fez ativamente antes de entrarmos em pandemia, e também a Nova Orquestra, com quem se apresentou no Rock In Rio. Além disso, ela dá aulas particulares de violino e há pouco começou um projeto social ensinando violino para crianças em uma vila militar no bairro de Realengo, na zona oeste do Rio. A Luiza, além da sua ligação intensa com a música, também escreve desde pequena. A poesia foi talvez um dos pontos chave que tenha conectado ela com a Maria Pérola logo de início, fazendo com que ela voltasse a escrever mais e que também despertasse a vontade de postar suas poesias na internet. A Maria tem uma poesia que a Lu fez pra ela tatuada (e que inclusive tatuou antes de elas se conhecerem pessoalmente!) e isso fala muito sobre essa troca que elas possuem (entre as poesias que a Lu escreve para a Maria, e as músicas que a Maria compõe para a Luiza) - inclusive, brincam que dá para escrever um livro e lançar um CD com tudo o que já produziram. Explicar sobre o amor da Maria Pérola e da Luiza é um desafio imenso porque elas representam aquele tipo de encontro que você não sabe como dimensionar, como colocar dentro de palavras ou expressões, porque são acontecimentos e experiências muito grandiosos. São encontros que quando você bate o olho, passa a entender e tudo faz sentido. A Maria comentou duas coisas que talvez expliquem um pouco sobre esse amor, a primeira é que ela nunca tinha pensado em morar no Rio, mas ao mesmo tempo ela nunca tinha se sentido realmente pertencente à algum lugar, e a partir do momento que passou a morar com a Luiza entendeu que o apartamento era o lugar dela - ou melhor, não o apartamento, nem o Rio em si, mas a Luiza. O lar que ela sente é muito mais pela expansão do encontro dela com a Lu do que por todo o resto, é isso que fez ela realmente se sentir em casa. E a segunda é que a Luiza é a pessoa que ela mais confia no mundo e com ela, aos poucos, foi aprendendo a gostar de tanta coisa que se viu gostando de coisas que antes ela até mesmo odiava (desde o furo no queixo que lhe causava muita insegurança na pressão estética, até detalhes na convivência familiar). O amor foi acontecendo porque elas se apoiam muito, tentam resolver as coisas juntas e de forma rápida e por mais que em algum momento até existiu uma resistência sobre morarem juntas, hoje em dia não mais se veem morando longe. Entendem que o amor transparece no que são: muito acolhedoras e cuidadosas. O ato de estarem juntas sempre significou muita coragem e quando falamos de amor, surge essa palavra. Como elas já estiveram em outros relacionamentos, falam sobre alguns terem sido abusivos, por exemplo: a Maria já esteve em relacionamentos com outras mulheres que não gostavam que ela cantasse… que não a “permitiam” cantar, não apoiavam. E explica como é diferente estar com alguém que te apoia e te impulsiona, como foi importante ter a Luiza na vida dela sempre incentivando ela na música. Falamos muito sobre a presença de relacionamentos abusivos e como é muito fácil mascararmos eles, não verbalizamos o que estamos vivendo ou como estamos nos sentindo, sendo que muitas vezes nos vemos privadas de fazer algo tão nosso, como é o ato de cantar para ela, e que não merecemos mais viver relações assim, que é importante procurarmos apoio, procurarmos ajuda para sairmos desse tipo de relacionamento, seja hetero ou homoafetivo. “Amor entre mulheres é uma revolução. Você ama reafirmando. Você ama existindo. Eu não consigo olhar para o amor sem pensar no amor entre mulheres. É coragem, pra mim, o amor… pra gente amar… tem que ter muita coragem.” A Luiza diz que o amor tem a ver com entrega e com estar aberto porque você entrega e também recebe muita coisa de volta. E no amor ela se viu disposta a ajudar, a doar, a ser intensa e potente. E que isso exige muito da gente, que não é fácil, que também significa muita resistência. Mas que também acontece muito reconhecimento nesse encontro, que a Maria Pérola trouxe muita leveza na vida dela, desde saber que ela está em casa tudo já fica mais leve… e que o amor no fundo envolve o tanto que elas se dividem e se entregam. A Maria Pérola trouxe uma história interessante sobre uma vez que o Dominguinhos foi numa rádio se apresentar e no intervalo começou a tocar Chopin na sanfona. E então todos ficaram surpresos, chocados, como se ele não pudesse gostar de uma música considerada clássica por tocar forró, e quando ele é questionado sobre isso ele explica que ele é músico, um artista, que ele é gente, que pode gostar de tudo. Com esse assunto, começamos a falar sobre as múltiplas formas de cultura, não só a música ou a escrita, por ser mais presente na vida delas enquanto mulheres artistas, mas na cultura desde o circo, a feira de rua, as artes cênicas, tudo. O quanto essa inclusão e essa valorização é muito importante. A Luiza trouxe informações da roda de choro e samba que ela participa e sobre o acesso à elas, só que como ao mesmo tempo é difícil a cultura chegar até as pessoas, desde o erudita até o próprio popular, e o questionamento: o que de fato é considerado “cultura”? Ela conta também que por mais que ame participar de orquestras, hoje em dia não se vê mais longe dos trabalhos sociais e de levar música para as pessoas - e ressalta que isso não quer dizer que todo mundo tenha que gostar de orquestras, mas que todo mundo possa ter a oportunidade de gostar, possa ter acesso aos teatros, roupas para entrar nesses lugares e tempo para consumir cultura. Rolar . . . Luiza Maria Pérola
- Mariana e Thalassa
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Mari e da Thalassa, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! Entenderam que para o relacionamento acontecer de verdade precisavam ter uma comunicação muito ativa e transparente. Mesmo em dias ruins, tentam conversar antes de dormir e dormem abraçadas. Thalassa diz o quanto se sente completa: na casa, com os cachorros, as plantas, tendo o carro, tudo. Entende que é uma mulher adulta que conquistou o que sonhava. Ela fala também sobre o quanto aprendeu a admirar a Mari, a persistência dela e a forma que lida com as coisas. Para a Mari, amar é ter cuidado, ter respeito. Tenta sempre entender o ponto de vista da Thay sobre as coisas do mundo. Amar é um exercício diário. Por fim, falamos sobre o amor ser um mosaico - tem a risada, o tempo, o respeito, a compreensão, a lealdade… não tem como falar dele sem todas as coisas que completam. Cada parte é importante para construir o todo. A história da Thay e da Mari te ajudou de alguma forma? Gostaria de mandar uma mensagem para elas? Vem cá que conectamos vocês ♥ Tem alguma proposta de trabalho para elas? Opa! Pode mandar por aqui! Thalassa tem 32 anos, é professora de biologia e ciências para alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio. Está atualmente no chamado “ensino híbrido”, do qual a carga de trabalho é muito maior que em tempos comuns (que já é grande!). Ela trabalha em Niterói e mora próximo ao Recreio, é uma distância longa, costuma demorar 2h para chegar (mas já chegou a demorar 5h, em dias de trânsito). Fala sobre como é ser professora no Brasil e como os desafios triplicaram na pandemia. Mariana tem 27 anos, é bancária, trabalha com abertura de empréstimos. Está cursando psicologia e fala sobre a vontade de ouvir e poder auxiliar pessoas. Trabalhar com o público não é fácil, ainda mais em grande escala. Existem muitos desafios e com a modernização dos aparelhos bancários e precisamos sempre exercitar o cuidado com todos os tipos de público, entendendo suas especificidades. Mari cuida muito de si, quer viver com tranquilidade. A maior dificuldade que elas passaram foi quando decidiram morar juntas, em janeiro de 2015. O dinheiro era muito curto e precisavam mobiliar a casa, Thalassa chegou a pegar diversos freelas - sendo Uber, professora em outros lugares... foi um momento bastante turbulento. Se conheceram de uma forma um tanto quanto aleatória. A Thay ainda mantinha uma amizade com a ex namorada e a Mari ficava com essa menina (tá ouvindo esse barulho???? é o som do rebuceteio!). Na época, a Thay já namorava outra pessoa e conhecia a Mari porque já estiveram entre amigos algumas vezes. A menina (amiga/ex de Thay e amiga/atual da Mari) estava de aniversário e elas foram numa festa comemorar (a Thay e a namorada + a Mari e a aniversariante), mas ambas se meteram em confusão, a Thay já não andava bem no relacionamento, brigaram na festa e ela optou pelo término. Enquanto a Mari acabou ficando no canto e um pouco chateada por outros acontecimentos simultâneos. Ambas se viram sozinhas e o que restava era aproveitar a festa juntas. Alguns outros amigos chegaram para aproveitar a noite com elas e numa brincadeira, inventaram de todo mundo se beijar. Até então tudo bem, afinal, estavam só se divertindo. Mas quando a Mari e a Thay se beijaram, logo se sentiram totalmente diferentes, algo único. Não entenderam muito bem o que era esse sentimento/essa sensação, mas passaram a noite juntas aproveitando a festa. Nos dias seguintes elas continuaram se encontrando. Por um momento foi até meio escondido, com medo das pessoas saberem, mas depois entenderam que não tinha outra saída, ficariam juntas. Hoje, 7 anos depois, o sentimento é o mesmo. Quando fui encontrar a Mari e a Thay, não imaginava que iria gostar tanto (delas e do lugar). Marcamos num horto, no Rio de Janeiro. Com espaço para café (e cervejas), foi lá que nos sentamos para conversar. Elas tinham escolhido este lugar porque amam plantas, cuidam de vários tipos e espécies e falam sobre a importância de respeitar o tempo da terra e da natureza. O amor que passam para as plantinhas é de um jeito muito especial, gostam de usar os temperos na hora de fazer comida, esperam ansiosamente as frutas crescerem… acreditam que mexer na terra e acompanhar esse processo faz com que a gente aprenda a ter mais respeito pelo mundo. Depois que elas descobriram o horto, na primeira vez que vieram (ainda moravam longe), se apaixonaram. Agora, por morarem muito próximo dele, criaram uma memória afetiva forte e tentam frequentar o máximo que podem. Tanto a Mari, quanto a Thay são pessoas muito tranquilas. Moram com seus bichos, têm suas rotinas de trabalho… e também são mulheres muito divertidas. Elas acreditam que o encontro que tiveram nessa vida foi um fenômeno da natureza - a partir do primeiro beijo tiveram certeza que ficariam juntas. < Mariana Thalassa
- Natália e Bruna | Documentadas
Bruna diz que ficou até surpresa quando a Natália contou o desejo de inscrever elas no Documentadas, brincou dizendo “Quem te viu, quem te vê, hein?!” porque no começo da relação, principalmente na primeira viagem que fizeram juntas, Natália tinha bastante receio até de pegar nas mãos em público… E agora quer mostrar ao mundo que o amor que vivem é lindo. Entendemos que esse medo é legítimo, assim como essa vontade de afirmação. Bruna completa: a história de amor delas também é a história de descoberta da Natália. Para Nat, o amor precisa ser por completo, ou seja, as pessoas merecem ser amadas como são. Se uma pessoa só te ama se você for heterossexual, ela não está te amando. Existe uma busca na perfeição do que criamos em cima dos outros, mas a verdade é que precisamos aceitar quem eles se tornam, quais profissões escolhem, a forma que entendem o amor, com quem se sentem bem ao relacionar, como vão compartilhar a vida… Isso tudo também é amar. Ela explica que a Bruna traz liberdade, foi um combo: a Bruna + a gatinha dela + o lar é o jeito que elas são felizes. Tudo fica nítido, é estampado a forma que se sentem confortáveis juntas. Não existe um julgamento dentro de casa. Quando uma relação existe e se fortifica é porque ali está o amor, assim enxerga Bruna. O amor a gente encontra na rotina, na construção das pequenas coisas, crescendo, cuidando, estando ali diariamente para se ajudar. Com a Natália foi a primeira vez que ela sentiu de forma plena o equilíbrio: ela pode se doar e vai receber de volta, é acolhedor. Natália, no momento da documentação, estava com 34 anos. Nasceu em Barra do Piraí, interior do Rio de Janeiro, mas foi ainda criança para Niterói e seguiu sua vida na cidade. É formada em jornalismo e fez transição de carreira recentemente, está estudando nutrição. Adora ver filmes, séries, ler e estudar o vegetarianismo e o veganismo. Atualmente, mora no Rio de Janeiro, junto à Bruna, e estão desbravando a cidade, conhecendo novos teatros, parques e outros lugares. No dia seguinte à nossa documentação elas iriam participar da primeira corrida juntas, pois estão focando em atividades físicas no momento. Bruna, no momento da documentação, estava com 36 anos. É natural do Rio de Janeiro, da zona oeste da cidade. Trabalha enquanto enfermeira e atua no ambiente corporativo, cuidando da saúde no trabalho. Além disso, faz trabalhos de marketing digital, adora a área do design e também está estudando tarot, que sempre foi um hobbie. No dia a dia, gosta de praticar exercícios dinâmicos (esportes em geral) e também curte dirigir, se sente calma quando dirige. Entre o réveillon de 2022 para 2023, durante a festa da virada de ano, Bruna e Natália se conheceram. Inicialmente não era nessa festa que Natália iria, ela e a amiga haviam comprado ingresso para outra, mas foi cancelada, então deram a opção de reembolso ou de transferência para uma festa que aconteceria na Barra da Tijuca. Elas, saindo de Niterói, acharam bem ruim a opção de ir para a Barra, mas com o valor do reembolso não conseguiriam comprar outra festa então toparam. Bruna, diferente delas, tinha macado com os amigos para ir na festa da Barra mesmo, sabia que era uma festa com um público muito hétero, que só iria ela e um amigo gay, mas topou ir porque queria se divertir. Logo que chegou, Bruna olhou para Natália. Elas não possuíam amigos em comum, estavam apenas próximas e trocaram olhares. Natália estava apenas com a amiga e percebeu os olhares, mas até então se entendia enquanto uma mulher héterossexual e achou estranho, até engraçado isso acontecendo… A festa seguiu e os olhares também. Bruna então comentou com o amigo sobre elas trocarem olhares e quando ele percebeu, disse que estava sim e a incentivou a ir falar com ela. Quando ela ia tomar iniciativa, um homem chegou até à Nat, e quando ela se livrou dele, Bruna não estava mais lá. Depois da meia noite se reencontraram porque o amigo da Bruna fez amizade com um grupo de meninos gays que a amiga da Natália também havia feito amizade, e assim elas se percebem neste grupo. Dançaram juntas, Bruna chegou rápido na Natália e ela indagou: “Que isso, não vai nem perguntar meu nome?” - então elas falaram os nomes e se beijaram. Natália já tinha ficado com uma menina antes, quando era adolescente, mas seus relacionamentos sempre haviam sido com homens. A festa foi acontecendo e elas não tiveram muitas interações, se encontraram novamente 6h da manhã quando tomaram café e a Bruna foi solicita ajudando a Nat a levar café da manhã para a amiga. Foi quando Nat perguntou como a Bruna se identificava e ela respondeu “Enquanto mulher lésbica, e você?” e ela disse que era bissexual. Ela não pensou muito, isso chegou muito naturalmente e pontual. No dia seguinte conversaram bastante e assistiram à posse do Lula juntas, de forma online. Na semana seguinte ao réveillon tiveram um encontro, se divertiram bastante e passaram a se encontrar com frequência. Ainda em janeiro viajaram juntas e na semana seguinte, dia 4 de fevereiro, começaram a namorar. Quando Bruna soube que Natália não havia ficado com mulheres antes, resolveu ir com mais calma, mas não adiantou, o namoro já estava encaminhado. Foram muitos meses no início da relação indo da zona oeste até Niterói, um caminho bastante longo, para se encontrar - ou melhor, a Bruna indo e voltando buscando a Natália para passar o final de semana na casa dela. Existia um receio muito grande de contar para a família da Nat, então tudo foi acontecendo aos poucos. Somente no começo de 2024, mais de um ano depois de se conhecerem, Nat se abriu para seus familiares. Desde então, não possui mais contato com a sua mãe. Por mais que os outros familiares ainda conversem e acompanhem (ainda que não queiram saber sobre o relacionamento) ela sente muito sobre, é muito triste ficar longe de uma das pessoas que mais ama. Entendem que eles terão seu próprio tempo para processar, assimilar e superar o preconceito, mas que nesse tempo elas não podem deixar de viver o amor mais bonito que já sentiram. Para Natália, o amor que vive com a Bruna é o sentimento mais bonito que já presenciou, que já viu acontecer… é respeitoso, é companheiro e não existe opinião que vá tirá-lo do caminho. Entende também que isso não apaga o que tanto ela, quanto a Bruna, já viveram em outros momentos da vida, em outras relações (que também já foram boas) ou em outras formas de viver, que isso tudo faz parte da construção de serem quem são, e que se esforçam muito para serem as melhores pessoas possíveis, mas que em nenhum momento sucumbirão à um pensamento preconceituoso. Então respeitam o tempo, por mais que doa muito, mas se permitem viver. Pela parte da família da Bruna, recebem muito suporte da mãe, que as trata com muito carinho e afeto. ↓ rolar para baixo ↓ Natália Bruna
- Melina e Karyne | Documentadas
Melina e Karyne se conheceram há cerca de dois anos, mas só começaram a se relacionar de fato no ano passado. Foi num famoso bar com karaokê em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, que elas se esbarraram. Sem amigos ou conhecidos em comum, Melina viu Karyne cantando e falou para os amigos dela o quanto “era bonita e poderia ser a mulher da minha vida”. Depois que ela saiu do palco, Melina ficou procurando ela pelo bar mas não encontrou, até que na hora de ir embora viu ela numa mesa, com alguns amigos… criou coragem, foi falar com ela e pediu um beijo. O beijo aconteceu e ficaram juntas um tempo, depois trocaram perfis no Instagram (e Karyne estava com seu perfil desativado, acabou passando um que usa para publicar seus desenhos), trocaram algumas conversas e começaram a se encontrar aos poucos. Como havia uma boa comunicação quando saiam juntas, falavam sobre não estarem em um momento que desejavam um relacionamento, não era prioridade para as duas. Se encontrar da maneira que estava rolando, uma vez por mês, quando a Karyne respondia as mensagens que Melina enviada, acabava sendo confortável - e quando saiam se divertiam juntas, iam à cinemas de rua (como o lugar em que fizemos as fotos), espaços culturais e bares. Assim seguiram durante um ano. Hoje em dia, estabelecer essa comunicação franca ainda está nos seus principais objetivos enquanto casal. Entendem que são pessoas culturalmente diferentes, que uma é mais fechada que a outra e que só vão se abrindo aos poucos. É por isso, também, que tratam com muito cuidado os momentos difíceis porque sabem que possuem formas diferentes de lidar. Melina estava com 26 anos no momento da documentação, é natural de Niterói - RJ e é atriz. Atualmente está se formando numa escola de teatro (como curso técnico) e este ano vai iniciar os estudos em teatro na universidade. Independente do estudo acadêmico, faz teatro desde os 8 anos de idade e já deu aulas tanto de teatro, quanto de violão (e adora trabalhar com o que envolve educação e arte) explica que foi educada envolta de muita arte e não se vê longe disso. Quanto aos hobbies, adora jogar vôlei e desenhar. Karyne estava com 24 anos no momento da documentação, é natural de São Gonçalo - RJ e se formou em Publicidade. Hoje em dia, faz uma pós-graduação em comunicação e linguagem visual em semiótica, e por mais que não esteja trabalhando no momento, possui experiência como social media, professora de inglês e comunicadora em agências. Seus hobbies permeiam a arte, o desenho, a pintura e a moda. Adora criar coisas. Inclusive, junto com a Melina, trocam diversos presentes cheios de detalhes e coisas que elas mesmo fizeram. Quando começaram a sair, em março de 2022, o primeiro encontro foi num evento circense no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) no Rio de Janeiro. Por mais que já haviam se beijado no bar, estavam muito nervosas e mal conseguiram chegar perto uma da outra. Karyne explica que Melina foi a primeira menina que ela beijou depois de se assumir, pois passou muito tempo na igreja e foi na pandemia que ela entendeu e se abriu com a família sobre quem era, então ficava bastante nervosa, era tudo bem novo. Todos os primeiros encontros eram marcados pelo nervosismo de ambas e ficavam se cobrando que “não precisava desse nervosismo todo, era só viver o encontro”, mas quando chegava a hora ele falava mais alto. Por conta disso, demoraram um tempo para se beijarem novamente, mas todos os encontros eram muito divertidos e sempre sentiam vontade de se ver mais. No início de 2023 foram ao cinema e tiraram a primeira foto juntas. Karyne, depois desse dia, passou um tempo em São Paulo e elas começaram a interagir mais de forma online, conversar bastante e sentem que foi aí que tudo mudou. Quando ela voltou, saíram novamente, foram em espaços culturais e não pararam de se encontrar por conta da conversa que mantinham o tempo todo online. Entendem que precisavam desse tempo até a relação começar porque realmente não estavam preparadas/e nem queriam se relacionar antes. Depois que começaram a se aproximar mais, fizeram piquenique juntas e já se viam completamente apaixonadas. Num dia foram ao show da cantora Liniker, que aconteceu de forma gratuita na praia e por mais que tenham passado muito perrengue para conseguir voltar para casa, se divertiram e entendem que nesse dia já queriam começar o namoro. Foi no evento, também, que Karyne conheceu a irmã da Melina e muitos dos amigos delas. Além dos amigos, Karyne conheceu toda a família da Melina logo no começo do relacionamento, esteve presente em aniversários e todos adoram ela. Nessa mesma época em que estava introduzindo Karyne na sua vida, Melina fazia provas e apresentação de teatro no curso e Karyne ia assistir. Foi num dia desses, quando chegaram em casa que Karyne pediu Melina em namoro e Melina cantou uma música que fez pra ela. Falaram “eu te amo” juntas. Tanto a Melina, quanto a Karyne, desejam seguir caminhos na relação que não refletem coisas que já viram ou vivenciaram, por exemplo: briga dos pais. Por isso, fazem muita questão de sentar, conversar, escutar, compreender… Karyne não tem a aceitação da família - e já até perdeu as esperanças quanto à isso - porque possuem um pensamento muito conservador e seguem os padrões da igreja, mas entende que isso leva tempo. Para Melina a realidade é outra, por mais que tenha sido muito difícil ter se assumido, os pais possuem uma cabeça mais aberta e, por mais que também frequentem a igreja, acreditam que elas precisam se sentir seguras em casa antes de qualquer outro lugar. Independente da não-aceitação da família da Karyne, ela se assumir e conversar com a família fez também com que se aproximasse de outros familiares que a aceitaram (como a prima que também é casada com uma mulher e a tia que já reivindicou o amor delas como algo natural, sem problema algum) e nesse sentido é muito bom ter apoio. Ela entende que existem coisas que precisou ceder para ser ela mesma, principalmente se as pessoas não respeitam, e está disposta a ser o que ela é, se aproximando de quem a respeita e quer ela bem. ↓ rolar para baixo ↓ Karyne Melina
- Jeniffer e Renata
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Jeniffer e Renata, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! Foi no local onde a Jeniffer e a Renata se conheceram há anos atrás que nos encontramos para documentá-las. Logo no início elas brincaram: “Se naquela quinta-feira alguém me contasse que um dia eu estaria aqui com a mãe da minha filha, eu acharia que seria uma loucura!”. Jeniffer é musicista, cantora e faz diversos shows pela noite carioca. Foi numa quinta-feira de 2016 que se apresentou num restaurante chamado Espeto Carioca, que pertencia a uma amiga da Renata. Essa amiga, ligou para a Renata e a convidou, ela marcou um encontro com o grupo de conhecidos que tinham passado pelo mesmo que ela: a cirurgia bariátrica e, foi tão bom, que toda quinta-feira esse passou a ser o encontro oficial do grupo. Nesses encontros, a Jeniffer e a Renata viraram grandes amigas, apresentaram suas companheiras (que também viraram amigas), se juntaram em mais conhecidas e formaram um grande grupo, que saía quase todo fim de semana junto. Um tempo depois, a Jeniffer e a ex companheira dela entraram em um momento muito delicado e tóxico da relação, o que fez com que a Jeniffer sumisse dos ambientes com as amigas. Era muito difícil ter contato com elas e encontrá-las além dos shows… Acabaram todas se afastando. Nesse meio tempo, a Renata também terminou o relacionamento que tinha e, só em 2017, quando ambas estavam solteiras, elas se reencontraram. Decidiram retomar a amizade que tinham e voltaram a ter contato, misturar os grupos de amigas e se reencontrar. Entre todos os programas que faziam juntas, em um dia, assistindo ao lançamento de La Casa de Papel em casa, elas se beijaram. Nesse momento, Jeniffer ficou desnorteada, nitidamente incomodada e Renata compreendeu, elas entraram em um acordo de que era melhor fingir que nada aconteceu e não tocaram mais nesse assunto. No mesmo dia, a Renata ia para um encontro com uma mulher que a Jeniffer apresentou para ela e acabou que o encontro foi bom, elas continuaram se encontrando, o tempo fez seu papel de passar, ela namorou e casou com essa mulher. A Jeniffer, nesse meio tempo, voltou com a ex companheira dela, porém o relacionamento que antes já demonstrava ser tóxico, dessa vez ficou muito pior. Novamente ela se afastou de todos e, algum tempo depois, terminou definitivamente. Em 2019, um tempo depois, a Renata já estava com a ideia de engravidar mais amadurecida dentro do antigo relacionamento. Algo que partia sempre dela, pois ela tinha o desejo muito forte de ser mãe, mas amadureceu ao ponto de decidir: é a hora. Teve a primeira tentativa, através da inseminação, e não deu certo. Foi bastante doloroso, porque querendo ou não existem muitas expectativas, mas ela esperou um tempo, superou aos poucos e decidiu, logo no comecinho de 2020, tentar novamente. Diferente da primeira vez, com muito cuidado e seguindo as regras, a segunda vez foi muito mais desesperançosa. No mesmo dia que foi feita a inseminação ela foi num show da Jeniffer, bebeu, ficou até tarde com os amigos na rua, tinha para si a ideia de que não daria certo. Em meados de fevereiro de 2020, descobriu: a segunda tentativa deu certo! Renata estava grávida. Chamou a Jeniffer para ser madrinha, junto com outra amiga. Começou a cuidar melhor do seu corpo, parou de beber e compreendeu que, parando de beber, percebeu muito melhor tudo o que acontecia ao seu redor. Tudo é muito bom no momento de festa, mas muitas coisas passam batido. Foi numa dessas percepções que as brigas com sua ex-companheira começaram a intensificar até se envolveram em agressões. A chave virou. Não tinha como romantizar ou passar pano. O sonho de ser mãe era dela, ela estava grávida. A Jeniffer e a outra amiga protegeram ela nos atos, no término e, a partir daí, fizeram de tudo: passaram os dias cuidando dela e acompanhando cada detalhe da gestação. Foi nesse momento que começou a pandemia, estavam as três no apartamento vivenciando a gestação juntas: a Renata e as madrinhas da Analu, suas duas melhores amigas, até que uma delas precisou voltar ao trabalho e sair de casa para não as expor ao risco do Covid-19. Quando ficaram só a Jeniffer e a Renata, elas seguiam se ajudando de todas as formas. Conversavam muito, compartilhavam de tudo, até que numa madrugada a Jeniffer resolveu voltar naquele assunto que elas nunca tocaram: o dia que se beijaram. A Renata deu a versão dela, falou que era óbvio que tinha sido horrível para a Jeniffer, já que ela tinha "fugido como foge o diabo da cruz”, até que a Jeniffer revelou que não, era o contrário, tinha fugido porque justamente tinha sido muito bom e sentiu muito medo - de se envolver e acabar perdendo-a. Pensou “se era para ter, de alguma forma, era melhor ter como minha melhor amiga”. Quando elas entenderam suas percepções, se beijaram novamente. No dia seguinte, era dia das mães e a Jeniffer foi na rua, voltou com balões e uma carta, assim, comemoraram o primeiro dia das mães juntas - e entenderam também que não era uma brincadeira, que queriam isso de verdade: ser mães da Analu. Entender que estavam juntas não foi algo tão rápido, só com a noite que passaram, mas uma longa conversa sincera sobre o que sentiam. Para a Renata, o que ela estava vivendo não conversava mais com a pessoa que ela era quando conheceu a Jeniffer: que ia para todos os shows, bebia, vivia nas festas. Agora, a prioridade dela era ser mãe, parir e educar a Analu, trazer cuidado. Se fosse para a Jeniffer estar com ela, sem ser na condição de madrinha, era para estar de verdade, porque ela não queria mais um relacionamento para trazer machucados. Elas entendem que o “Combinado não sai caro para ninguém” e assim foi: a Jeniffer sempre quis ser mãe e mostrou que, se a Renata permitisse, ela embarcaria no sonho da Analu. Depois de um tempo juntas, assumiram o relacionamento. Sabiam que poderia ser complicado, que muitas pessoas julgariam e poderiam achar que era um caso antigo, uma traição - tinham muito cuidado também pela vida pública da Jeniffer enquanto cantora - mas tiveram pulso firme, afinal, essa era a história que elas estavam vivendo no momento, acreditassem ou não. Vivenciar uma nova visão de relacionamento, tanto para a Renata, quanto para a Jeniffer, foi libertador. Depois de terem passado por situações muito abusivas com ex companheiras, hoje em dia elas enxergam as relações humanas de forma bem diferente e tentam conversar sobre tudo. Carregam, também, muito da amizade que já tinham antes do namoro. Tentam não se culpar pelos machismos sofridos diários, pelos preconceitos externos e trazer cada vez mais acolhimento uma para a outra, justamente por terem sentido falta disso em outros momentos. Ver o desenvolvimento da Analu na vida delas é um sonho sendo realizado diariamente. Elas fazem absolutamente tudo por ela e contam como é difícil a missão de educar uma criança. Além disso, como não é fácil também, a rotina de um casal com filhos. Existe uma parceria muito clara em que entendem que não vão estar 100% todos os dias, uma vai preenchendo o que a outra não pode dar no momento, e assim vão seguindo. Jeniffer também conta o quanto a chegada da Analu mudou a forma que ela enxerga o mundo. Ela vivenciou toda a maternidade, desde a escolha do modelo da fralda, até as roupinhas, as decisões mais sérias sobre educação e hoje em dia está em muitos detalhes na formação do ser que a Analu vem formando. Se emociona muito em cada detalhe, explica que nunca sentiu um amor tão grande por alguém. No momento da documentação, a Renata estava com 34 anos e a Jeniffer com 32, elas estão trabalhando juntas - a Jeniffer fazendo os shows e a Renata enquanto empresária, produtora e assessora. Nessa rotina intensa de apresentações, Renata explica a admiração enorme que sente pela Jeniffer no palco, e brinca: da empresa, ela é só funcionária e fã. Para elas, esse cotidiano é um ato de amor também, nele entra tudo o que constroem com a Analu. E, olhando ao redor, chegam à conclusão: amor é essa linha do tempo que viveram desde a primeira vez que tiveram no restaurante, até hoje, que voltaram com a filha. Por fim, me trouxeram a comparação: pensam no relacionamento enquanto uma casa. Muita gente começa a pensar numa casa pelo teto ou pelas paredes, enquanto elas literalmente começam pelo chão, pela base. Hoje em dia, possuem uma casa com a base mais sólida possível, capaz de enfrentar qualquer coisa. Foi a partir da base que foram construindo tudo e a casa foi tendo vida, hoje vivem dentro dela, fortalecida. Entendem como foi bom ter dado uma chance para viver esse amor de verdade, um amor que até então elas não sabiam que existia. “Não era alguém para completar, mas transbordar”. ↓ rolar para baixo ↓ Renata Jeniffer
- Yasmin e Juliana
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Yasmin e da Juliana, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! A história da Juliana e da Yasmin te ajudou de alguma forma? Gostaria de mandar uma mensagem para elas? Vem cá que conectamos vocês ♥ Tem alguma proposta de trabalho para elas? Opa! Pode mandar por aqui! Quer contribuir financeiramente com o Documentadas para conseguirmos registrar cada vez mais casais por esse Brasilzão? cá entre nós, é muito fácil! Se liga no PIX, aqui :D O momento mais difícil que passaram juntas foi a chegada da pandemia, porque elas tinham uma realidade bem diferente em 2019, muito mais aberta e com maior liberdade aos encontros. Com a chegada da quarentena decorrente do Covid-19, elas passaram MUITO tempo distante, muito mesmo! Foram um total de 7 meses. A pandemia causou muito pânico na Ju porque toda a família dela se encaixa em grupos de risco e ela sentia muito medo de que algo pudesse acontecer com eles. Ainda sente, é claro, mas o risco estava maior por conta da avó dela, com mais de 90 anos, estar morando com ela. Não tinha a possibilidade dela sair de casa e, por mais que a Yas estivesse com muitas saudades, ela realmente entendia a situação. A relação delas é baseada em muita conversa. Elas se apoiam bastante e conversam sobre tudo, dialogam sobre o que sentem. Hoje em dia elas conseguem se encontrar, a avó dela já não está mais residindo no Rio e elas seguem se cuidando bastante, mas conseguem se ver com maior frequência. A Yas comenta que foi como um relacionamento à distância estando na mesma cidade e elas brincam que mesmo tendo sobrevivido, não querem passar pela experiência novamente. Hoje em dia elas dão muito valor aos momentos juntas, desde que seja assistindo filmes bobos de clichês adolescentes, ouvindo todos os tipos de músicas ou deitadas na cama sem fazer nada, desde que estejam fisicamente no mesmo lugar. Foi no centro, inclusive, que elas se conheceram - em um encontro marcado através de um aplicativo de relacionamentos - o famoso Tinder. Elas não entendem até hoje como conseguiram dar “match” (o famoso combinar perfis), por conta de morarem muito distantes uma da outra e não colocarem uma localização que alcançasse tudo isso, mas conversaram, se deram bem e marcaram de se encontrar. O encontro rolou em um local também muito clássico de encontros de Tinder, o CCBB, um Centro Cultural. Porém, chegando lá, enfrentaram uma fila muito grande, desistiram e decidiram ir até a Escadaria Selarón (o local em que fizemos as fotos), um lugar que costumava acontecer rodas de samba, ter feirantes e bastante movimentação. Yasmin tem 23 anos, trabalha com telemarketing e mora em Bangu. Tem como referência familiar a mãe e é suuuuper tímida. A Juliana tem 22 anos, é professora de inglês e também trabalha corrigindo redações, ela estuda Letras - português/inglês e ama literatura. No dia do encontro, foi desenvolvendo o papo e com o apoio de várias cervejas&caipirinhas que a coisa foi fluindo, até que ficaram e a Ju chamou a Yas para ir até a casa dela (lá no Cordovil). Só que tinha dois detalhes importantes: 1. a Yas não sabia onde esse bairro ficava e 2. a Ju morava com os pais, que não sabiam que ela beijava mulheres. Descartando totalmente a importância desses dois detalhes (afinal, quem nunca?) (mas não façam isso, tá? saibam o local que vocês estão indo, principalmente no primeiro encontro!), a Yasmin acabou indo para a casa da Ju e chegando lá deu de cara com os pais dela. Foi tudo tranquilo (para todos, menos pra Yas, visto que ela realmente é bastante tímida), mas ela se passou pela amiga que morava longe e dormiu lá tranquilamente. Com o passar dos dias elas se encontraram mais uma vez, em Madureira, e assim foram amadurecendo a ideia de terem um interesse mútuo, se relacionarem, até que isso virou de fato um relacionamento, ainda em 2019. Hoje em dia, ambas famílias já sabem e as apoiam enquanto um casal, ficou tudo muito mais tranquilo! ♥ A Yasmin e a Juliana acreditam que amar é tentar, ao máximo, não ter medo. Entendem que na vida a gente sente medo, mas que o amor envolve também se permitir sentir esse medo. A Yas comenta que entendeu mesmo o que era amor quando se apaixonou pela primeira vez por uma menina, que sentiu esse nervoso no peito, esse brilho no olho. E hoje em dia ela ama amar a Ju e cultivar esse relacionamento. As duas são cariocas e sempre viveram no Rio, mas moravam em bairros um tanto distantes do centro quando se conheceram - a Yasmin em Bangu e a Juliana no Cordovil (e distantes entre si também). Elas comentam o quanto é diferente andar no centro da cidade e em seus bairros enquanto duas mulheres que se relacionam afetivamente com outras mulheres, recebem outros olhares, possuem outro tratamento. Elas gostam muito do centro e frequentavam bastante antes da pandemia, aqui sentiam a vida mais aberta a novas oportunidades. Yasmin Juliana
- Isadora e Isabelle
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Isadora e da Isabela, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! A história da Isabelle e da Isadora parte de um ponto que elas fazem questão de justificar: não contam algo que já passaram, uma dificuldade já vivida, mas algo que estão vivendo - o processo intenso. Isa e Dora namoram há um tempo e travam uma luta para que as famílias as aceitem. Isa já era assumida à família desde 2017, mas viveu vários processos dos quais nunca foi completamente aceita. Ela conheceu a Dora durante a pandemia, depois de viver diversos momentos dos quais se obrigou a ficar com homens por aquela ideia de “Você só não conheceu o cara certo” e hoje em dia sente que a Dora é uma das coisas mais importantes e verdadeiras da sua vida. Isa faz questão de levar a Dora nas festas de família, contou para a mãe sobre a Dora logo no começo, quando a paixão estava se iniciando. A mãe respondeu com um imaginário popular tradicional da ‘família brasileira’: “Ela é lésbica? Tem cabelo verde?” porque insiste que, se a filha beija mulheres, precisa beijar apenas mulheres femininas. Já passou por várias fases, como aquela de tudo bem ela ser - desde que seja em silêncio, ou também a de que a família sente culpa como se tivesse errado em algo na criação, ou que só faz isso porque passa por algum processo depressivo e quer se culpar. Diante de muitos preconceitos vindos por ambas famílias, elas se firmam para o enfrentamento disso. Acreditam que o relacionamento que possuem é como um investimento, desejam isso para suas vidas. Isa, ao estudar física e já estar no mestrado, conta que sempre quis descobrir uma equação que mostrasse o sentido de tudo (do universo e de estarmos aqui), e no dia em que encontrou a Dora pela primeira vez entendeu. Hoje, diz que nenhuma fórmula matemática iria explicar o que ela estava sentindo ao ter a resposta do que procurava. Isa e Dora se conheceram por um aplicativo de relacionamentos. Naquela época, Dora baixou o Tinder para não se sentir sozinha, mesmo sem querer relacionamentos. Por conta de ter uma mãe bastante conservadora, não costuma sair muito, então conversar com alguém online seria a solução. Logo no primeiro instante de Tinder, encontrou a Isabelle. Foi um dia bem confuso por conta de mudanças na casa dela, mas conversaram e foram se aproximando. Mesmo morando próximas, numa área mais distante no Rio de Janeiro, elas não podiam se encontrar porque ambas famílias não aceitavam suas formas de ser, então marcaram um encontro em um museu, no centro da cidade. Passaram uma tarde incrível, contam o quanto já estavam apaixonadas. Voltaram para suas casas e no dia seguinte se encontraram de novo, dessa vez em Madureira, o local em que a Dora fazia um curso. Brincam que são bastante emocionadas, porque depois do primeiro encontro, não se desgrudaram. Como a Isa vivia um momento de tentar se envolver com homens antes de conhecer a Dora (do qual a família aplaudia) e a Dora não podia se assumir, começaram o relacionamento de forma escondida. Logo depois, Isa decidiu contar para a sua mãe, que acabou aceitando melhor a Dora por ela ser uma mulher feminina. Conta que sempre ouviu da mãe dela que ela precisava ser uma lésbica feminina, se quisesse beijar mulheres, e se relacionar com uma lésbica feminina também. Foi muito duro ouvir isso durante tanto tempo - e também levar a Dora pela primeira vez em casa, mas conta que hoje em dia a mãe dela acha que a Dora tem uma alegria, uma felicidade, e por isso ela foi a primeira mulher que a família mais ou menos aceitou e abraçou. Isa ressaltou o quanto é ruim você estar fazendo algo escondido por puro preconceito dos outros. É como se você estivesse fazendo algo errado, sendo invalidado. E não que a família precise validar, mas porque amamos nossas famílias e gostariamos de ser nós mesmas na frente de todos. Mesmo com os comentários horríveis, depois que assumiram o relacionamento na família da Isa ela passou a fazer questão de levar a Dora em todos os encontros. Acredita que só assim conseguem encarar: estando juntas. Aos poucos isso tem dado certo, já que a família vai aceitando e considerando a existência da Dora nos espaços. A vivência na casa da Isa também não é nenhum pouco fácil para a Dora. Por ser uma mulher muito tímida, acaba se sentindo num campo minado - cada passo que dá é analisado por alguém. Ela já tomou diversas iniciativas para dominar a timidez (falar em público, participar de concursos de dança, ser professora…) e na casa da família da Isa acaba se vendo muito posturada, tomando cuidado no que fala. Contam que não podem falar da religião da Dora, sendo de umbanda, na casa da Isa composta por pessoas muito católicas. Também contam que uma familiar se negava a cumprimentar e falar com a Dora, mas hoje em dia de tanto ela estar presente já a abraça e conversa. A Dora, por sua vez, vive um processo de sair do armário desde a adolescência. Ela sempre soube que gosta de mulheres - e no começo foi até difícil aceitar a si própria - mas ainda no ensino médio ficou com as primeiras mulheres e entendeu a sua forma de ser. Naquela época, sua mãe descobriu lendo mensagens no celular dela. De início ela tentou lutar, demarcando quem ela era, mas foi vencida pela mãe que cortou todos os seus meios de comunicação e não conseguiu sustentar. Passou anos ouvindo piadas e sendo limitada em diversos aspectos. Até ela se assumir de fato, recentemente, foi uma luta. Passou por psicólogas que eram evangélicas e contra LGBTs, levava as pessoas para casa alegando que eram só amigas, e não conseguia se imaginar falando sobre o relacionamento que possui com a Isa. Foi numa das idas da Isa até a sua casa que a Isa acabou ficando sozinha num cômodo e a mãe da Dora começou a interrogá-la. Vendo sua nítida ansiedade e nervosismo, seguiu a interrogação até que a Isa começasse a chorar. Então, a cada pergunta sobre a intimidade das duas e o silêncio da Isa, ela dizia: “Pergunta respondida.” Quando a Dora chegou, a mãe falou que já sabia tudo sobre elas. Foram momentos muito difíceis, enfrentaram xingamentos, brigas e medos, mas a Dora assumiu e falou: “Estou com a Isabelle”. Até hoje os pais da Dora odeiam a Isa e não permitem mencionar o nome dela na sua casa. Entendem que uma família só pode ser composta por um homem e uma mulher e, por isso, não aceitam e respeitam o que a Dora é. Dora acaba encarando sua mãe dizendo que pode ser expulsa de casa, mas não vai abrir mão do relacionamento. Hoje em dia a relação delas têm melhorado por uma certa teimosia da Dora em fazer dar certo - sai para encontrar a Isa e não dá valor ao preconceito que sofre. A maior dor, para a Dora, é não ver sua família reunida. Sempre cresceu em espaços com muita gente, churrasco e pagode. Queria muito ter uma família com a Isa presente - e também construir uma nova família com ela, mas por enquanto, morando com os pais, não vê possibilidade disso. Ela e a Isa pretendem morar juntas assim que ela for efetivada e tiverem mais estabilidade financeira, então guardam cada centavo (literalmente!) para a nova vida que há de chegar. Isabelle tem 23 anos no momento da documentação, é natural do Rio de Janeiro e cursa mestrado em inteligência artificial. Dora tem 22 anos no momento da documentação, também é natural do Rio de Janeiro e cursa arquitetura. Juntas, adoram ver filmes e provar fast foods - brincam inclusive que estão se tornando sommelier de fast food, porque compram, comem e dão notas. Também adoram filmes cults (e filmes cults ruins), passam o tempo jogando jogos no computador e amam conhecer novos lugares na companhia uma da outra. Hoje em dia, estão noivas e enxergam o noivado enquanto uma firmeza sobre quem são. Também é um álibi para que a família leve-as mais à sério e se sentem tratadas de forma muito mais respeitosa depois que assumiram o noivado. Isa entende que o amor é a única coisa que transcende o tempo e o espaço além da gravidade. E que, para além disso, o que têm com a Dora é um amor baseado em comunhão e disposição. Dora diz que o amor que sente é a resposta de todos os porquês. Entende que todo ser vivo é feito para amar alguma coisa - seja um leão com seus filhotes, um ser humano com seu par. Amar é seu refúgio, é onde vai quando está bem ou mal, e que também está no que sente de forma sensorial - os cheiros, os sons e o prazer de ser quem é. Por fim, elas desejam deixar o recado de que todas as mulheres possuem o direito de amar, independente do preconceito. Nenhuma mulher está sozinha. “Não se fechem para o amor”. ↓ rolar para baixo ↓ < Isabelle Isadora
- Iasmim e Nathália
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Iasmim e da Nathália, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! < A Nathália e a Iasmim começaram a namorar em 2019 com um detalhe: elas já moravam juntas. Dividiam um apartamento com diversas outras pessoas enquanto estavam fazendo a graduação em Direito, no Rio de Janeiro. De lá pra cá, passaram por vários espaços: optaram por morar sozinhas num apartamento bem menor, em Caxias, na Baixada Fluminense, lá enfrentaram a pandemia juntas e depois voltaram ao Rio, com um relacionamento muito mais amadurecido e fortalecido. Na mudança de volta foi que a ficha caiu sobre o quanto cresceram: quando foram pela primeira vez morarem sozinhas enquanto um casal, tinham uma mala de cada e uma televisão; Quando voltaram, precisaram de mais de um caminhão de mudanças. Construíram a casa juntas, os móveis, lembram de quando chegou o fogão, a cama e a máquina de lavar. No momento pensaram: “Como saímos de uma mala e chegamos nisso aqui?!”. Como tudo foi muito batalhado para ser conquistado, é também muito valorizado. Cuidam de cada detalhe, dos móveis, ao amor que dão aos gatos, o cuidado com as plantas, até o quanto ainda desejam crescer juntas. Sentem que o que vivem é um sentimento puro de família, seja no momento de fazerem um churrasco juntas com vários legumes e uma carne só ou no momento de sentar e conversar sobre o que estão sentindo. Nathália é advogada e cantora. Ela estava com 26 anos no momento da documentação, chegou ao Rio de Janeiro para estudar Direito em 2015, mas é natural de Salvador e toda a sua família reside lá até hoje. Antes entendia a música enquanto um hobbie e hoje faz isso de forma mais profissionalizada: possui conteúdos no Spotify (segue ela, gente!) e trabalha nas suas próprias canções. A Iasmim também é advogada. Estava com 28 anos no momento da documentação e é natural de Caxias, na Baixada Fluminense. Na pandemia descobriu vários hobbies, como desenhar, cozinhar e auxiliar a Nath na sua carreira musical. A Nath acredita que a relação que elas constroem é muito baseada nas ações - nos atos de serviço. Ela traz o exemplo de que não consegue conversar com os gatinhos em casa, por exemplo, mas mostra nas ações e dialoga com eles, demonstra o quanto ama e recebe o amor deles. Assim, no relacionamento delas, elas dialogam e se sentem seguras. Além disso, o amor envolve muitos desafios e enquanto vivem isso sentem que surgem novas perspectivas sobre o mundo. Quando a Nath se mudou para o Rio de Janeiro, foi logo encontrar uma amiga que já estava fazendo faculdade de Direito e acabou adentrando no grupo de amigos cariocas dela. Nesse grupo, estava a Iasmim. Um tempo depois, cansada de transitar por vários espaços, decidiu morar em uma república - foi aí que começaram a dividir apartamento. Lá elas viraram amigas, interagiam com todos da casa, viam shows na TV, faziam refeições juntas etc. Elas não eram suuuuuuper amigas e lembram que a Iasmim era uma pessoa mais fechada, mas em um dado momento começaram a se aproximar mais - se aconselhavam, ouviam músicas juntas… As pessoas ao redor notaram essa aproximação, mas elas não viram nada demais acontecendo. Foi em agosto de 2019, num momento em que a Nath estava mais tristinha pois vivia em torno da prova da OAB, que a Ias chegou até ela e a convidou para sair e ficar bem. Elas estavam num momento ruim de grana, acharam que não ia rolar, mas encontraram um evento chamado “Isoporzinho das Sapatão” e decidiram ir - pela primeira vez saíram juntas/só as duas em algum lugar. No evento, se divertiram muito. Conversaram sobre as músicas da Nath, sobre coisas super profundas, antigos relacionamentos… até que alguma chave, em algum momento, virou. Foi ali que elas sentiram que algo poderia acontecer - e se viram de uma forma diferente pela primeira vez. O cigarro acabou, elas tiveram que comprar cigarros avulsos e a Nath ensinou uma forma de conseguir desconto, mas nessa conversa chegou muito próximo da Iasmim para falar. Ela se desconcertou, sentiu algo acontecendo e numas brincadeiras entre cigarros se beijaram. Nos dias seguintes ao evento (e ao beijo) tudo ficou meio caótico. A Nath foi assaltada, então estava sem celular e, para ajudar, a Ias evitava ela dentro de casa. Todos os dias a Ias acordava mais cedo, ficava pronta antes do horário da Nath levantar e só batia na porta dela para acordá-la (já que ela não tinha despertador), mas saía logo em seguida, não dando a chance de uma conversa. Num dia conseguiram conversar um pouco enquanto fumavam um cigarro, mas no momento em que a Nath se aproximou a Ias logo deu a desculpa de que estava tarde e que precisava dormir e saiu do ambiente. Isso deixou a Nath muito frustrada, pensava que a Ias não ia querer mais nada com ela e os amigos falaram: “Foge enquanto é tempo!”. Mas ela decidiu conversar com uma amiga em especial, que confiava, tomando uma cerveja no bar e essa amiga orientou: “Dê tempo ao tempo”. Na mesma semana a Ias mandou para ela a playlist do evento que elas foram e assim elas começaram a conversar pelo Facebook. Uns dias depois, conversando na terapia, a Ias percebeu que isso era apenas um medo momentâneo e que ela merecia se permitir viver aquele momento bom com a Nath - então decidiu falar com ela e chamar para beber uma cerveja. É um sentimento gostoso para elas relembrar que no começo, mesmo se conhecendo e convivendo há anos, elas passaram pelo nervosismo de não saber lidar uma com a outra. Surgiam perguntas como: “Você gosta de pizza?” sendo que a resposta era óbvia porque elas viviam comendo pizza em casa com os outros moradores. Mas, mesmo sendo algo bobo, era uma forma de se redescobrirem aos poucos. Depois de um tempo, a Nath chamou a Ias para conversar e elas decidiram vivenciar de verdade o que tinham enquanto um relacionamento. Foi um pouco depois disso que o contrato do apartamento estava por vencer e elas decidiram seguir morando juntas, mas num espaço novo e só delas. Elas não esperavam que a pandemia de Covid-19 começaria em seguida. Foi um baque, mas seguiram nessa descoberta diária: conviver juntas obrigatoriamente, sem a opção de sair de casa, é também descobrir muito sobre a convivência com a pessoa que se ama. Entendem que viver a pandemia naquela situação de imersão em um relacionamento recente era delicado, mas fizeram de tudo para dar certo. Hoje em dia, trazem o conhecimento que se criou uma com a outra algo muito positivo, mas não descartam as dificuldades nas ansiedades, nos atritos e no ato de aprender a conviver com as diferenças, de conversar e de dialogar sobre os sentimentos. Na pandemia, também passaram pelo desemprego da Ias, a situação financeira apertou e isso também influenciou muito sobre o valor que dão às coisas que conquistaram. Além disso, a Nath fazia um exercício intenso de incentivar a comunicação do casal - e principalmente de incentivar que a Ias falasse mais sobre o que sentia/a procurar o que sentia. Tudo partiu do entendimento de que o que ela sentia também afetava o dia a dia do relacionamento. Foi assim que seguiram juntas e que hoje em dia não se veem de outra forma: estão noivas! Planejaram o casamento aos poucos, com ideias em casa, mas querem vestidos e coisas tradicionais porque acreditam que merecemos isso. Contrataram uma cerimonialista que gostam e, por mais que já tenham passado por uma situação de lesbofobia na hora de procurar um local, encontraram outro e estão super empolgadas! Será lindo ♥ Conquistando também o apoio da família, ficam muito felizes em compartilhar as coisas do casamento e receber conselhos dos familiares que acreditam na potência do amor que elas vivem. A Ias contam que se sente num grande oceano. Ela nada em amor pela Nath - tudo ao redor dela é água; tem coisas que ela gosta ali e tem coisas que pode não gostar, mas não sabe separar o oceano do mar, tudo está junto e ela ama tudo. Acredita, também, que no dia que souber reconhecer o que ela ama e o que ela não ama, de forma específica, vai entender que esse sentimento provavelmente acabou, então ela ama por completo tudo aquilo em que ela se vê nadando: o amor. A Nath completa de que esse amor é de uma forma livre também, no sentido de não sentir medo, de poder ser quem são. E que, amar da forma que amam, não representa que todo dia seja bom. Há dias muito puxados, difíceis e chatos, mas o bom é saber que nada vai acabar por isso: é só um dia ruim. Por fim, amam os atos que envolvem a relação delas: desde o pai da Ias levar caldo quando a Nath está doente, até a forma revolucionária de ver mulheres se amarem através do respeito. Entendem que não vivem regras sociais como as colocadas no mundo heterossexual: se estão casando, por exemplo, é porque querem. E isso as deixa muito confiante de que a relação se baseia somente naquilo que constroem. ↓ rolar para baixo ↓ Nathália Iasmim
- Inara e Marina
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Inara e Marina, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! A documentação da história da Inara e da Marina veio a acontecer com uma pressa maior que a da maioria dos casais que passam pelo Documentadas, mas por um motivo bastante especial: elas se inscreveram sabendo que, no próximo mês, já não estariam mais morando no Brasil. As duas decidiram começar uma nova vida em Portugal. No começo do namoro era uma brincadeira boba de usar a dupla cidadania da Nina, mas depois virou um sonho concreto. Casaram-se e começaram a organizar como seria a nova vida. Nos encontramos no momento de venda de todos os objetos que elas possuem por aqui e, agora, com a história no ar, elas já estão começando os primeiros passos no novo país. Durante a conversa, elas relembram que quando a Inara foi apresentar a Nina para as melhores amigas dela, comentou algo que nunca tinha falado sobre nenhuma outra pessoa com quem se relacionou: “Anotem aí! Eu vou casar com essa mulher!”. No casamento, essas amigas eram as madrinhas. Assim, elas falam sobre o poder das palavras, do querer estar junto de alguém e, de alguma forma, do curso da vida. Inara e Nina se conheceram naquele aplicativo de relacionamentos super citado por aqui, o Tinder. Elas deram match e conversaram, depois sumiram, voltaram, sumiram de novo… A conversa não saiu de lá. Falavam sobre trabalho, família, diversos assuntos nessas idas e vindas, e foi num dia que a Nina cansou do aplicativo e decidiu sair de forma definitiva que avisou a Inara e pediu o Instagram, para que elas mantivessem o contato e se encontrassem em algum momento. Esse momento chegou, ainda que demorou mais um tanto - o encontro foi ótimo. Na época elas estavam em momentos bem diferentes… a Nina saía de um relacionamento bastante abusivo, a Inara estava numa solteirice contínua do qual ficava com várias pessoas, mas sentia que não se aprofundava com ninguém - e calhou de na época conversar com uma amiga (que, futuramente, viria a dividir apartamento com elas por anos) sobre essa sensação de fazer encontros à troco de nada. A amiga aconselhou a desmarcar o encontro, mas a Inara disse que não tinha como desmarcar, que seria desrespeitoso porque a Nina parecia ser muito legal, era melhor ir e ver no que iria dar - Ela disse: “de qualquer forma, vai ser o último”. E, por fim, foi. Essa história de dividirem apartamento surgiu logo depois, quando a Nina pediu a Inara em namoro elas já estavam praticamente indo morar juntas. O contrato estava por vencer e elas iriam se mudar. Até poderiam ir para o apartamento da Inara, que tinha uma vista ótima, ou optar pelo da Nina, que era grande, mas preferiram alugar um novo, recomeçar. Não queriam lugares que tivessem vivido outras histórias e outras dores. Assim, a amiga da Inara também estava em busca de apartamento e elas foram dividir um imóvel na Lapa, no centro do Rio de Janeiro. Elas contam que mesmo morando juntas, mantinham cada uma o seu quarto, até porque tudo estava muito no início quando alugaram e não sabia o que poderia dar certo. Acabou que juntas, com a companhia da amiga, no apartamento enfrentaram toda a pandemia, compartilharam diversas histórias e viveram muitas coisas. A amiga, por sua vez, confessou no casamento que não chegou nem a desabilitar o aplicativo do Zap Imóveis do celular, imaginando que no começo, pós mudança, elas brigariam, se separaríam, e ela quem teria que arranjar um novo lar. Mas a verdade é que isso não passava na cabeça delas, tinham uma responsabilidade em mãos e queriam estar juntas. Da mesma forma que um apartamento novo significava viver um recomeço, a viagem e a mudança para Portugal significava outro. Não está sendo fácil vender absolutamente tudo, desapegar das coisas que foram compradas e conquistadas ao longo dos anos. Mas é um esforço em conjunto para entender que isso abre caminhos para novas experiências. Elas contam que é uma possibilidade maravilhosa pensar em ter Portugal completamente do zero. Comprar coisas novas, mobiliar com a cara delas o novo lar, construir tudo novamente. É excitante, também, pensar na segurança de viver fora do Brasil. Hoje, viver no Rio de Janeiro, pela concepção delas, está muito difícil. Recentemente passaram por assaltos e criaram medos e traumas de vivenciar a rua. Pensam em viver Portugal por retomar o que amavam fazer aqui e que abdicaram pela violência: andar de bicicleta, curtir a cidade, sair sem medo do que pode acontecer a qualquer momento. Inara explica o quanto isso também dialoga com o trabalho dela, que é explorar o lado criativo: vai ser muito feliz podendo fotografar a rua, usar o celular, filmar mais em vias públicas e produzir mais conteúdos. Inara tem 39 anos, é natural do Rio Grande do Sul, mas desde criança se mudou para o Rio de Janeiro com a família. Ela trabalha com fotografia. Marina tem 39 anos, é natural do Rio de Janeiro e trabalha num site de música digital, sendo head de operações. No período da pandemia agravado pela quarentena, elas viveram momentos muito difíceis e também momentos muito bonitos (como o pedido de noivado e, posteriormente, o casamento). Foi logo no começo, quando ninguém sabia o que era a doença do Covid-19 e que havia-se um sentimento generalizado de luto, de desespero e de incerteza, que no dia do aniversário da Inara, elas juntaram os amigos online e a Nina fez o pedido de casamento. Foi como um sopro de esperança brotando: ver os amigos ali, através de uma vídeo chamada, e sentir que um dia estariam todos juntos novamente na festa, inclusive alguns com seus filhos (pois crianças estavam sendo geradas) era como brotar esperança em meio àquele caos. O casamento de fato aconteceu, cheio de detalhes sobre o que elas gostavam, como sapinhas nos buquês, tudo de mais clássico e que representava elas verdadeiramente. O casamento também inspirou amigos LGBTs próximos a se casarem. Entre os momentos mais delicados que uma relação envolve, como estar uma para a outra passando por coisas difíceis, enfrentando lado a lado e estando juntas de verdade, a Inara viveu uma cena, como ela mesmo diz, de novela, que foi bastante dolorida e que não saberia ter passado por isso sem todo o apoio da Nina. Reencontrou sua mãe depois de muitos anos sem contato, porém, ela estando em um leito de UTI, na fase terminal de um câncer. Foram algumas semanas de contato direto, apoio, em meio às ondas muito fortes de Covid-19 e, mesmo assim, as duas fazendo o possível acreditando com todas as forças que teria algum jeito dela melhorar. A Inara e a Nina acreditam muito no amor em forma de cuidado, em observar a necessidade do outro para além da sua. Isso, na relação delas, está desde os detalhes como a comida preferida da Inara ser o pão com mortadela que a Nina prepara nas manhãs, ou a força que elas tiveram nesses momentos mais difíceis. A Inara nunca tinha conhecido um amor que proporcionasse tanto apoio como quando elas passaram por isso - e, não só pela parte mais técnica e burocrática que sabemos que esses momentos infelizmente impõem - mas pela dor, também. Receber o acolhimento de uma forma que nem sabia que era possível tê-lo. Um cuidado realmente saudável, um amor único - e também calmo. A mãe da Nina, por sua vez, respeita as duas mas ainda não entende o relacionamento delas enquanto uma relação amorosa, de fato. Elas compreendem que isso é por motivos religiosos que são colocados acima de tudo e que, com o tempo, vai se apaziguando da melhor forma. ↓ rolar para baixo ↓ < Marina Inara
- Luana e Bruna | Documentadas
Antes mesmo de se reencontrarem, a mãe da Luana já sabia da existência da Bruna, por ela ficar sorrindo pela casa olhando para o celular enquanto conversavam. Além disso, contaram para os colegas de trabalho que estavam apaixonadas e nem eles acreditaram, afinal, alegaram que “elas sempre estavam apaixonadas por alguém”. Até que aconteceu o reencontro, foi num piquenique no aterro, local em que fizemos as fotos. Compraram um vinho no mercado, uns biscoitos e na hora de sair do estabelecimento encontraram a personal trainer - cujo estava presente antes, no momento que elas se conheceram. Ficaram cheias de vergonha. Chegaram no piquenique, beberam, se empolgaram, beberam mais. Guardam a garrafa de vinho, dizendo que iriam usar no dia do casamento (e até já reutilizaram no pedido de namoro, um mês depois). Por mais intenso que tenha sido, também foi um desafio começar a namorar alguém de uma forma rápida porque ainda estavam se conhecendo. Ambas moram sozinhas, a família da Luana adora a Bruna e isso tudo ajuda bastante, mas não descartam o fato de que são duas pessoas se acostumando com a ideia de terem uma relação amorosa novamente e isso não foi fácil, precisou passar por uma construção. Luana, no momento da documentação, estava com 23 anos. Ela nasceu em Nova Friburgo, interior do Rio de Janeiro e se mudou para a capital para cursar a faculdade. Morou inicialmente com a avó, até se mudar e hoje em dia morar sozinha. É apaixonada por marketing, se formou em publicidade. Trabalha como analista de negócios. Adora samba, pagode e a vida boêmia que o Rio proporciona. Gosta de aproveitar o tempo com as pessoas que ama e por isso, também, vai bastante para a sua cidade natal visitar a família e passar o tempo com a mãe. Além disso, adora esportes: musculação, futebol, handebol. Gosta da rotina agitada. Bruna, no momento da documentação, estava com 26 anos. Nasceu em Minas Gerais, mas ainda bebê a família se mudou para o Rio de Janeiro. Estudava direito e precisou parar o curso por conta do tempo limitado e conseguir se dedicar aos estudos de inglês. Trabalha na área do direito, na pós venda de locação de imóveis. Seu grande hobbie é a dança, desde os 9 anos se dedica à dança de salão e é a música que a deixa feliz sempre - desde o forró, o samba, até as trends de tiktok. Conta que sua festa de 15 anos foi uma grande festa de dança. Além disso, é uma pessoa que curte a estabilidade, a rotina, a não-acumulação de afazeres… gosta da organização. Bruna estava há 6 meses solteira, saindo muito, curtindo… Na época, início de 2023, fazia futevôlei, mas por conta de confusão nos horários precisou mudar e resolveu entrar na academia. Foi julho quando, no terceiro dia de nova rotina, decidiu procurar amizades e esbarrou com a Luana. De início, achou que Luana fosse atleta. Primeiro porque ela treinava com personal acompanhando tudo… segundo, porque o treino era muito pesado. Cita: “uma série de dez repetições, num intervalo de dez segundos… eu ainda falei ‘tá fodida’ (risos)”. Nem teve a opção de revezar o aparelho. E ainda contou… no fim, disse que ela não tinha feito a repetição corretamente, fez nove ao invés de dez. Depois disso, Luana falou para a personal que Bruna estava dando em cima dela, a personal duvidou. Elas entraram em discussão, então Luana disse que se a Bruna olhasse para ela novamente, iria tomar iniciativa, até porque nunca tinha a visto na academia e poderia nunca mais ver, era uma oportunidade única. Quando ela olhou, a iniciativa aconteceu e foi falar. Chegou e perguntou: Se ela fizesse 10 repetições dessa vez, será que Bruna daria o número de telefone dela? Bruna riu e topou. Luana disse que então ela faria até 20. Seguiram os treinos, trocaram os contatos, mas Luana acabou indo para Nova Friburgo visitar sua família no dia seguinte e elas não se encontraram em seguida, só na outra semana, mas passaram os dias em que estava lá conversando. Viram diversas coisas em comum, como amigos, gostos… o papo fluiu. Brincaram que iriam casar por tudo o que tinham dado certo, que já estavam apaixonadas uma pela voz da outra, e tudo foi fluindo até o reencontro acontecer. Luana é uma pessoa muito emocional, enquanto Bruna é muito racional, então tentam encontrar o equilíbrio. Bruna explica que é a pessoa que faz uma linha e diz: “Isso aqui vai funcionar com isso? Não. Então ponto”. Enquanto Luana é a pessoa que insiste até mesmo no que não funciona e faz acontecer, de um jeito ou de outro. Luana, em contraponto, diz que por mais que Bruna seja racional, existe um momento em que ela cede para o emocional. Que as coisas vão se balançando. E que também é preciso entender os limites. Elas tentam ao máximo conversar e entendem que as conversas difíceis precisam existir para compreender os pontos críticos uma da outra, os gatilhos que existem e o que se faz para despertá-los. Até já criaram um grupo no Whatsapp para “reclamar”, ou seja, estimular as conversas que são difíceis, sobre o que é bom manter e o que não gostariam de manter dentro da relação. E prezam por sempre conversar, brincar, até mesmo trazer as coisas em tom debochado, mas nunca brigar sendo rude ou gritando. Bruna acredita que sua linguagem de amor está em atos de serviço, preparando comida, pensando no cuidado, no dia da Luana… enquanto Luana faz muitos presentes, gosta de mimar, de fazer as coisas com zelo. Ambas prezam por deixar as coisas confortáveis principalmente quando os dias não estão bons, porque a rotina nem sempre é fácil e querem estar em conforto nos dias bons e ruins. Por isso, enxergam a relação com muito companheirismo. ↓ rolar para baixo ↓ Luana Bruna
- Gabriela e Mariana
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT Vem conhecer a história da Mari e da Gabi, quando o projeto passou pelo Rio de Janeiro! Ela conseguiu diversos trabalhos fazendo lettering em paredes e outros freelas com comunicação, e por mais que tivesse chegado aqui em dezembro com algum dinheiro guardado, ambas sabiam que o mesmo teria prazo para acabar. Quando a pandemia surgiu em março foi um susto muito grande, porque passaram por um aperto e por muitas incertezas. Ela parou de trabalhar e a Mari corria o risco de também ficar sem emprego. Por mais que ainda tentassem de diversas formas conseguir contornar as situações (no carnaval antes da pandemia, por exemplo, venderam sacolés - que chamaram de sacolésbicos! - e assim conseguiram dinheiro para aproveitar o feriado e pagar as contas), tudo gerava bastante medo de não conseguirem bancar e não sabiam muito o que fazer sobre, até porque a pandemia não mostra nenhuma outra oportunidade ou opção. Elas contam que a família da Mari foi essencial e muito acolhedora nesse momento também, foram muito importantes para que elas não se sentissem sozinhas, e que mesmo com os problemas financeiros, isso nunca afetou elas enquanto um casal nos sentimentos e no amor. Existem vários tratos que nunca precisaram nem serem especificamente feitos, foram surgindo naturalmente entre elas, de que quando uma está com menos dinheiro a outra tenta segurar as pontas, já que ambas estão sempre conversando sobre tudo. A parceria é muito forte nesse sentido. ♥ Por mais que hoje elas brincam e dão muitas risadas pelo começo rápido do namoro, a verdade é que ele não foi nenhum pouco fácil. Elas estavam muito felizes juntas, enquanto um casal, mas a vida da Gabi em Araras estava bastante complicada. Ela passava por muitos momentos complicados no trabalho e sofreu duras críticas dos amigos por ter começado a namorar tão depressa. Muitos se afastaram dela e nem quiseram tentar acompanhar o relacionamento dela com a Mari, ela se sentiu bastante triste e acabava vindo mais para o Rio porque não se sentia tão bem ficando em São Paulo. Além disso, a partir do primeiro momento em que ela esteve no Rio, criou uma conexão muito forte com a cidade. Ela conta que o Rio representa tudo o que ela sempre estudou, a antropologia está muito presente aqui o tempo todo, e acabava também que sempre que estava aqui conseguia bastante trabalho freelancer... as coisas iam acontecendo muito rápido. As pessoas sempre falavam que o lugar dela não era em Araras e um pouco antes delas completarem um ano de namoro sentiu que era o estopim e o momento: fez as malas e largou o emprego em São Paulo, veio apenas com a passagem de ida para o Rio! Assim que ela chegou, ficou hospedada na casa de um amigo e a ideia era ficar lá no primeiro mês, porém o lugar era bastante perigoso e a família da Mari achou melhor acolhê-la. As duas ficaram juntas e conseguiram alugar uma kitnet, por mais que o espaço fosse pequeno e que as coisas tivessem se ajeitando aos poucos, a família da Gabi também foi entendendo que ela estava mais feliz no Rio e foi apoiando a vinda dela, então ela foi conhecendo pessoas, distribuindo currículos e tentando empregos. De uma forma um tanto quanto aleatória, a Gabi viu o perfil da Mari sendo divulgado em algum Twitter LGBT de pessoas solteiras, mais em tom de brincadeira do que de seriedade, e resolveu segui-la, então a Mari seguiu de volta e elas se tinham nessa rede social. O tempo foi passando e em 2019 ambas estavam solteiras e interagiam em alguns tweets. Até que em um sábado, a Gabi estava estudando e resolveu beber... já estava começando a ficar alcoolizada e viu um tweet que a Mari fez sobre queijos (quem quer puxar assunto dá um jeito, né minha filha?) e resolveu responder, resumindo: começaram a conversar e um tempo depois a Mari estava pegando um ônibus, saindo do Rio de Janeiro e indo para Araras em pleno carnaval, para as duas se conhecerem! A Gabi foi buscá-la em Campinas, cidade próxima, e a rodoviária de Campinas tem dois andares, então ela conta que, enquanto estava no piso superior, ao ver a Mari saindo do ônibus, ela teve certeza que namoraria essa mulher. As duas se falaram, ambas nervosas, o papo fluiu, já era tarde da noite e quatro horas depois elas se pediram em namoro - ou seja, quando a família da Gabi acordou e foi dar bom dia para a ‘menina do Rio que finalmente chegou’, a menina já tinha virado ‘a namorada do Rio que finalmente chegou’. A Gabi tem 26 anos e é natural de Araras, interior de São Paulo. Se formou em Ciências Sociais com foco em antropologia e está cursando publicidade e propaganda, trabalhando atualmente em uma agência de publicidade, mas vive entre muitos hobbies, freelas e artes: pinta quadros, faz lettering, web design, curte fotografar, é líder de torcida e adora falar sobre muitos temas na internet, principalmente saúde mental. A Mari tem 31 anos, trabalha enquanto instrutora de informática e faz faculdade de educação física. Ama música, adora cantar, tocar vários instrumentos, já teve até canal no YouTube (alô, sapatão MPB!). Sempre adorou esportes e joga muita bola, além de arrasar na cozinha. Elas amam fazer coisas juntas, falam muito sobre o relacionamento nas redes sociais para incentivar mulheres a saírem do armário e falarem sobre conexões homoafetivas e também gostam muito de criar coisas juntas, a Gabi brinca que a Mari adora montar e fazer coisas, então, por exemplo, elas precisavam comprar um sofá e quando ela se deu conta a menina já estava vendo formas de fazer o próprio sofá! Hahahaha! Se pudesse, faria tudo! Hoje em dia, moram juntas com os gatinhos em um apartamento em que cada cantinho tem algo feito por elas, desde os quadrinhos nas paredes, até as plantas que cuidam juntas e o espaço aconchegante no quarto. Por mais que no primeiro encontro da Mariana com a Gabriela já tenha acontecido o pedido de namoro e isso soe bastante impulsivo e até mesmo um pouco inconsequente, hoje em dia, alguns anos depois, com alguns quilômetros de distância e morando juntas, elas são as pessoas mais sensatas e conscientes sobre suas atitudes que eu poderia conhecer. Não que uma pessoa que comece a namorar no primeiro encontro não esteja consciente da sua atitude, mas que poucas vezes vi casais que conseguem se equilibrar em tanto companheirismo como na tarde que eu passei dentro do apartamento da Gabi e da Mari, em Madureira, no Rio de Janeiro. Me peguei por muito tempo depois pensando se talvez tamanho companheirismo tivesse surgido pela correria diária que passaram juntas - porque nos momentos mais difíceis acabamos sempre nos fortalecendo - mas acredito que o que envolve tamanho amor entre a Gabi e a Mari é o quanto elas se impulsionam em querer ver bem, sobretudo, na saúde mental. Ambas estão sempre com diálogo muito aberto, compartilhando inseguranças, medos, conversando sobre o que sentem, sobre suas admirações e sobre seus olhares à forma de ver o mundo. A Gabi, quando falou da Mari e da importância que ela têm na luta pela saúde mental, se emocionou e deixou claro o quanto é grata pela mulher que a Mari se tornou. Por quem ela é. E a Mari, logo depois, completou com uma fala em que explicava que família é algo que nem sempre está ali para te entender em cada detalhe, mas para te apoiar e dar amor em o que você precisar. Tudo se encaixou entre elas, de alguma forma, nesse amar, admirar, se encontrar, encantar, apaixonar e confiar. A Gabi e a Mari acreditam que o amor entre mulheres envolve não só as relações românticas, mas saber admirar, apoiar, escutar, reconhecer e querer estar com outras mulheres. A Mari comenta que quanto mais descobrimos o mundo de amar e de nos apaixonarmos por coisas feitas por mulheres, por espaços compostos por mulheres… mais queremos estar nesses lugares, mais queremos conhecê-las, e também mais queremos exaltar seus trabalhos e quem essas mulheres são. A Gabi conta também a importância de ter outras mulheres na nossa vida para nos referenciarmos… desde nos nossos trabalhos, na nossa faculdade, nos espaços que antes eram majoritariamente ocupados por homens. Ambas acreditam que para que a sociedade como um todo mude e para que a gente cresça, é preciso uma reeducação sobre o machismo (e sobre os preconceitos em geral), além de uma redistribuição de cargos públicos, de renda, de condições de vida. Para que ninguém mais passe pela fome, que ninguém mais sofra discursos de ódio e que a gente não viva no caos porque o caos só beneficia o lado de um sistema que realmente não quer saber da gente. Que saibamos ir além dele. ♥ Mariana Gabriela

