Espaço de Pesquisas
Oi! Este é um espaço do qual você pode pesquisar e encontrar histórias de mulheres que participaram do nosso projeto por todo o Brasil! Legal, né?
Pra usar, basta digitar no espaço de pesquisa alguma palavra-chave, por exemplo: alguma profissão, alguma cidade, algum tema...
É o nosso verdadeiro banco de dados - o primeiro, da história das mulheres que se relacionam afetivamente
com mulheres - e precisa ser valorizado! ♥
197 resultados encontrados com uma busca vazia
- Naiara e Mary | Documentadas
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Naiara estava com 58 anos no momento da documentação. Se dedicou 32 anos ao serviço público, sendo 29 deles no Tribunal do Trabalho, na área de Tecnologia da Informação, período em que participou da informatização completa do órgão, da migração do papel para os sistemas digitais. Antes de qualquer profissão, sempre se reconheceu militante: desde os 13 anos, quando começou a entender o que era ser mulher e pensar sobre gênero e sexualidade. Em toda sua vida esteve presente em movimentos políticos, sindicais, LGBTs e de mulheres, construindo muita participação na luta. Nasceu em São Jorge, no interior do Rio Grande do Sul, mas foi morar em Porto Alegre quando ainda era bebê e lá cresceu, trabalhou, conheceu a Mery, começaram esse relacionamento que já dura 40 anos… e criou suas raízes. Mary estava com 73 anos no momento da documentação. Nasceu em Porto Alegre, na rua Lima e Silva, uma das principais do bairro Cidade Baixa, mas confessa que nunca deixou de ser “bicho do mato”. Depois de um curto período morando com a avó, novamente na rua onde nasceu, voltou para Viamão, cidade vizinha de Porto Alegre, para viver com os pais, que estavam começando a construir a vida por lá. Trabalhou desde muito cedo, com carteira ‘de menor’ assinada, e se aposentou cedo por conta disso, aos 45 anos. Sua carreira se baseou mais de duas décadas em uma empresa imobiliária, no setor de microfilmagem - uma profissão que praticamente desapareceu com a tecnologia, mas ela explica: cada documento que passava pelo condomínio chegava às mãos dela, que filmava, e assim viravam um rolinho de filme. Quando começou a trabalhar, ainda sendo ‘de menor’, jogava vôlei e era apaixonada por esportes. Foi quando questionou sua sexualidade pela primeira vez também. Ainda que as dúvidas vieram na adolescência, Mary lembra que, ainda criança, “namorava as bonecas” e era reprimida pela mãe - e por si mesma. Da mesma forma era cobrada pelos pais e por si mesma. Mas no fundo, conta que se ganhava uma boneca ou um sapato, ficava magoada. Queria mesmo era uma bola. Quando começou a jogar vôlei, Mary ainda não havia se envolvido com nenhuma menina. Tinha apenas admirações platônicas difíceis de nomear… e o esporte se tornou também um espaço para entender o que estava acontecendo. Trabalhando muito cedo, ouvia conversas pelos cantos do refeitório na ‘firma’ sobre existir uma casa/uma boate cheio de bicha, de sapatão. Um dia, entre os seus 17/18 anos, criou coragem e foi lá. Era o início da década de 70. Conta que ficou nem quinze minutos, saiu assustada. Foi o impacto de ver no mundo real aquilo que tentava ignorar, a materialização de pensamentos que achava que não poderiam existir. Não eram só coisas da cabeça dela. Depois de uma viagem de férias, surgiu um jogo de futebol entre empresas e ela foi convidada a participar. Afinal, jogava bola desde criança nas ruas de Viamão e, apesar de se machucar nesse primeiro jogo, foi ali que começou a jogar de verdade e conhecer mulheres lésbicas de verdade. Diferente do vôlei, no futebol pareciam falar mais sobre as coisas. Lá se aproximou de uma amiga - que era a tia de Naiara e foi quem as apresentou - e passou a conviver frequentemente com as “entendidas” ou, em brincadeira, as “cebolas”, referência a um time de São José do Norte (cidade referência na plantação de cebolas) cujas jogadoras/treinadoras/diretoras eram todas lésbicas. No futebol, enfrentaram dificuldades e muitos preconceitos. Como Mary mesmo diz: “Nessa época, jogar futebol era perigoso”. Com a criação do Parque da Marinha, criaram o time Marinha do Brasil. Defendendo Porto Alegre no Citadino, um campeonato. Só conseguiam treinar depois das dez da noite porque a elite ocupava as quadras do Parque Marinha até tarde. Muitas vezes foram expulsas violentamente, quando tentavam chegar antes. Contaram com a ajuda dos homens negros de Alvorada, que também treinavam depois das 22h, e que as treinaram por quase um ano, ensinando fundamentos, jogadas e resistência. O ambiente era perigoso, e todas trabalhavam, então saiam cansadas e iam jogar bola. O futebol era coisa da periferia e não havia jogadora que vivesse apenas do esporte ou de estudos. Quando venceram o campeonato, foram junto aos homens negros, numa grande comemoração. Mary jogou durante muitos anos, tanto que, aos 33 conheceu Naiara - mais de dez anos depois de ter iniciado nos jogos. Quando já estavam juntas, namorando, houve um torneio de empresas e Mary sofreu o primeiro bullying que foi muito marcante em sua vida. Após atingir uma colega com a bola, ouviu insultos e comentários muito violentos, sendo humilhada diante de toda a empresa. Chorou muitas vezes ao lembrar, o que magoava era que poucas pessoas, como a Nai e mais alguns amigos, ficaram ao lado dela, ainda que ela não tivesse feito nada de errado. A culpa era ela ser uma mulher lésbica, como se isso a tornasse agressiva demais, como se quisesse ‘virar homem’. Fala sobre isso destacando a importância de terem se mantido sustentando juntas as dores - e as vitórias - de tantos momentos marcados por coragem, e de tanta história importante para a nossa própria comunidade LGBT. A vida delas mudou numa dessas noites de boate, quando Mary foi encontrar a tia da Nai e acabou esbarrando com ela. Tocava uma música brega que elas contam rindo, com vergonha, e a tia insistiu para que Mary tirasse Nai para dançar. Ela assim o fez e lançou logo uma cantada, horrível, e a Nai não retribuiu. Mary brinca: “Ela foi embora, me deixou no meio do salão!” mas Nai desmente, diz que não foi assim, só foi uma cantada ruim mesmo. Continuaram se encontrando aos poucos, até que finalmente deu certo. Mas tinham medo da reação da tia, afinal, se envolverem já era um passo a mais, Nai estava fazendo 18 anos e Mary já tinha 33. Levou meses, praticamente um ano, para se tornar de fato um namoro. Com a convivência crescendo, Mary começou a circular entre o grupo de amigos da Naiara - obviamente bem mais jovens - e que adorava a presença dela porque ela tinha carro, proporcionava carona e passeios mais adultos. A intimidade, porém, era difícil de dar certo: ambas moravam com os pais, não tinham muita privacidade, a não ser na casa da Mary. Foi então que alugaram um apartamento simples no bairro Menino Deus, entre 1984–1985. A verdade é que ninguém sabia sobre elas, sempre foi como se fossem boas amigas. Na rua, a dificuldade era outra porque Mary evitava qualquer demonstração de afeto em público, temendo que Nai fosse agredida por causa dela. Foi muito tempo para conseguirem conversar sobre e mudar os atos, sobretudo trabalhar a militância lésbica. Com o tempo, construíram uma vida conjunta. Nai fala uma coisa muito importante sobre essa formação: de que muitas mulheres lésbicas começaram a passar em concursos para poder ter a certeza que não seriam demitidas e, só assim, assumirem suas vidas, pegarem nas mãos na rua sem medo. Como foi o caso dela. Ela sempre pôde falar mais por ser concursada. Anos depois, compraram uma casa em Viamão - grande, acessível e perto da família da Mary - e ficaram ali por vinte anos. O lugar virou ponto de encontro: churrascos, aniversários, amizades que entravam e saíam como num clube familiar. E a própria convivência da relação também enfrentou diversas barreiras internas e externas. Nai admitia ter preconceitos em relação ao futebol de Mary, e ambas viveram momentos marcados pela transfobia estrutural da época. Mary, por exemplo, chegava a se travestir de homem para conseguir sair de Viamão até Porto Alegre durante a noite e voltar em segurança. Essas camadas mostravam como o relacionamento delas se entrelaçou com a construção de uma comunidade LGBT que buscava sobreviver, existir e ganhar voz. Ao longo dos anos, se reconheceram de muitas formas, algumas que não fazem mais parte de quem são (como essa visão transfóbica que existiu por um momento), e também se reconheceram nas muitas mudanças individuais. Mary e Nai carregam hoje uma família enorme: onze sobrinhos, dois sobrinhos-netos, e o reconhecimento, desde sempre, como um casal diante de todos eles. Agora voltando a morar em Porto Alegre, num apartamento menor, falam muito sobre o ato de envelhecer juntas: não com peso, mas com essa lucidez de quem olha o mundo e percebe o quanto ainda precisa mudar. Veem gente jovem repetindo ideias de décadas atrás, enquanto elas seguem se atualizando, se abrindo, se movendo. “A idade não engessa quem não quer”, dizem. Foram muitas coisas vividas nos últimos anos também: Nai enfrentou o câncer enquanto, no mesmo período, Mary sofreu dois aneurismas cerebrais. As marcas permanecem, especialmente para Nai, que ainda lida com dificuldades deixadas pelo tratamento. Mesmo assim, transforma tudo em ação: pensa em projetos de lei, busca articulação política, tenta abrir caminhos para outras pessoas viverem processos menos exaustivos que os seus. Conversamos sobre como cansa existir em estruturas que já são adoecedoras e, ainda assim, precisar lutar o tempo todo. O pai da Mary faleceu em 2025, aos 93, tendo passado os últimos anos sendo cuidado por elas. A mãe de Nai, agora com 90, segue sendo cuidada por elas também. E observando esse cuidado, elas não deixam de pensar e falar sobre como desejam viver a velhice juntas. Sem depositar nas irmãs, nos sobrinhos ou na família grande a responsabilidade pelo que virá. A mudança da casa para o apartamento veio desse pensamento: perceberam que viviam mais em função da manutenção do espaço do que da própria vida. Hoje, planejam o futuro com a serenidade possível. Sabem que o tempo diminui a agilidade, a disposição, a vontade… mas não diminui o amor. Ajustam rotinas, fazem escolhas, reorganizam o que for preciso para permanecerem lado a lado, do jeito que sempre quiseram: com lucidez, coragem e a leve rebeldia de quem nunca deixou de construir uma relação - diga-se de passagem, de mais de 40 anos. ↓ rolar para baixo ↓ Ana Naiara Mary
- Oi, eu sou o doc! | Documentadas
Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Vem participar você também! chega pra cá, vai ser um prazer te conhecer! O Documentadas é um banco de documentação sobre mulheres que amam outras mulheres, com o intuito de registrar historicamente o amor entre lésbicas, bissexuais e pansexuais (cis e/ou transsexuais), construindo uma literatura que até então era inexistente sobre essa população. Completando quatro anos em março de 2025, o projeto já documentou mais de 460 mulheres em 15 estados brasileiros. Para além de contar as histórias de casais brasileiros, o .doc acredita em 4 vias para atingir mudanças reais na nossa sociedade brasileira: gerar empregabilidade, divulgando as profissões e trabalhados exercidos pelas mulheres que participam do projeto; Gerar conexão com encontros presenciais e online; Espalhar artes pelas ruas falando sobre o amor entre mulheres combatendo o preconceito em espaços públicos; Gerar atendimento psicológico através da plataforma, contando com 25 profissionais oferecendo serviços de apoio psicológico e psicanalítico online por valores populares (atualmente, mais de 200 mulheres já passaram pelos nossos atendimentos). > para além da documentação > Acreditamos que a igualdade de gênero pode ser alcançada por meio do combate ao machismo e através da equidade de oportunidades de fala/escuta. Além disso, entendemos que criar um banco de dados de fácil acesso, para a divulgação de ofícios exercidos por mulheres que amam outras mulheres possibilita, assim, oportunidades de contratação dos serviços prestados pelas mesmas, uma vez que os ambientes de trabalho tendem a ser espaços de conflito e preconceito quando não oferecem diálogos e reeducação social. Visibilizar as histórias de mulheres de diferentes corpos, raças e classes sociais exerce um papel fundamental para o reconhecimento dessas populações vivas. o .doc já passou por 15 estados brasileiros, contando histórias de mais de 460 mulheres. QUER COLABORAR COM O DOC PARA QUE ELE TENHA MAIS LAMBES POR AÍ OU NOS CHAMAR PARA UMA EXPOSIÇÃO EM ALGUM LOCAL? ENTRA EM CONTATO PELO SITE OU NO E-MAIL: FERNANDA@DOCUMENTADAS.COM o .doc para além do .doc Entendemos também que a representatividade é algo extremamente importante para construção da subjetividade, tendo como intuito divulgar histórias que inspirem e motivem outras mulheres a se reconhecerem e valorizarem suas próprias histórias e histórias de amor, quando a coerção social, imposta pela heteronormatividade, diz o contrário. ainda podemos ser podcast cursos ou palestras exposições produtos curtas referência em saúde mental LGBT+ cartilhas inclusivas e muito mais! empregabilidade, psicologia, conexão, arte urbana viu a gente pela cidade? Estar na rua nos abriu a possibilidade de troca com públicos antes inalcançáveis. Passamos entre universidades, boêmias e comunidades. Se as mulheres amam outras mulheres em múltiplos espaços, acreditamos que nossa arte também deva ocupar múltiplos espaços. Foi através das técnicas arte urbana como lambe-lambe e stickers que começamos a espalhar uma frase famosa por aqui: “Toda mulher merece amar outra mulher”, além de uma tiragem de 1500 fotografias de casais que já participaram do projeto, com intervenções gráficas escritas por cima e o @documentadas, identificando nosso Instagram/site. quer contratar o documentadas para uma palestra na sua empresa, propor parcerias, fazer alguma reportagem ou conhecer mais sobre o nosso trabalho? entre em contato aqui pelo site ou mande um e-mail para fernanda@documentadas.com
- Banco de Images | Documentadas
Aqui documentamos a história de mulheres por todo o Brasil. Naiara e Mary amor de uma vida inteira. Carla e Paula amor de tagarelar. Paola e Tai amor de 'não' que virou 'sim' Patrini e Gabi amor de conversa. Juliana e Luísa amor de desassombro Jess e Amanda amor de desabafos. Susy e Pâmela amor de último ddd. Amanda e Julie amor de juventude. Cláudia e Vanessa amor de vida inteira. Yula e Rebeca amor de bairro. Melina e Acácia amor de marcante. Tamiris e Ágata amor de tempo. Camila e Rafaela amor de etapas. Joyce e Gabi amor de persistência. Gabi e Raffa amor de ficar à vontade. Laura e Camila amor de presente. Babi e Maria amor de companhia. Vivi e Darlene amor de não viver sem. Jaque e Tainá amor de novo olhar. Thacia e Ju amor de cuidado. Anik e Isabelle amor de desaguar. Raquel e Dandara amor de mudanças. Aline e Isabela amor de novidades. Luiza e Milena amor de paciência. Marcela e Jana amor de liberdade. Mariana e Viviane amor de manhã na praça. Clara e Laura amor de cuidado. Aline e Nathalia amor de paródia. Iana e Amanda amor de salvador. Yaskara e Jade amor de conversas. Daniella e Flávia amor de futuro. Isadora e Isabelle amor de equação. Luanna e Laira amor de cicloativismo. Ellen e Bianca amor de confraternização. Lorrayne e Joyce amor de casa. Mari e Jéssica amor de cura. Elis e Vandréa amor de ancestralidade. Carol e Sofia amor de hobbie. Letícia e Giovanna amor de persistência. Ane e Ari amor de companhia. Lorrayne e Mari amor de bilhete. Sarah e Rosa amor de novidade. Jamile e Raquel amor de leitura. Raquel e Rachel amor de pedidos. Aline e Aya amor de maternidade. Cassia e Kercya amor de marinar. Gabriela e Mariana amor de mãos dadas. Luiza e Maria Pérola amor de nebulosas. Lara e Ana amor de âncora. Sharon e Vivian amor de natureza. Yasmin e Juliana amor de diálogo. Isa e Camila amor de fã. Mari e Rey amor de outros lugares. Manu e Alyce amor de abraço. Cecilia e Jady amor de riso esvoaçante. Clara e Rayanne amor de jeito. Maria Clara e Antônia amor de cinema. Priscilla e Raphaela amor de conexões. Mari e Vivi amor de música. Júlia e Milena amor de reencontro. Talita e Louise amor de história. Juliana e Tercianne amor de teatro. Ju e Nicoli amor de vida toda. Luana e Maiara amor de domingo no parque. Tânia e Clarissa amor de trajetória. Ju e Marci amor de tempo. Rennata e Vanessa amor de impacto. Bruna e Flávia amor de suporte. Bibi e Emily amor de mãos dadas. Clara e Mayara amor de doce. Carol e Joyce amor de propósito. Thaysmara e Leticia amor de pôr do sol Júlia e Ana Carolina amor de cuidado ao detalhe. Natasha e Jéssica amor de ciclos. Rafa e Gizelly amor de acordar juntas. Carla e Yasmin amor de expressão. Yasmin e Ignez amor de encontro. Nathi e Emanu amor de força. Camila e Samantha amor de evento. Lu e Joana amor de flor. Nath e Carla amor de parque. Karol e Beatriz amor de webnamoro. Clara e Mariana amor de sétima arte. Jamyle e Rebeca amor de festa. Dani e Aline amor de oposto complementar. Camilla e Karol amor de calma e maresia. Bia e Marina amor de conversa. Amanda e Thaís amor de lagoa. Ju e Yasmin amor de compaixão. Wan e Lívia amor de lugares. Vanessa e Denise amor de pretitude. Mari e Marie amor de estrada. Marcela e Karina amor de refúgio. Ana e Paula amor de almoço no domingo. Thaty e Lari amor de descrição. Melissa e Sofia amor de sítio. Carol e Marlise amor de construção. Fabi e Dani amor de brilho. Isa e Carina amor de versões. Taynah e Estrella amor de ano novo. Glauci e Alice amor de casa. Maiara e Vitória amor de sol e lua. Joyce e Malu amor de renovar. Gabi e Dani amor de gatos. Marcia e Kamylla amor de faculdade. Luiza e Mariah amor de produção artística. Drika e Jana amor de dia após dia. Thay e Louise amor de samba. Jeniffer e Renata amor de aventura. Ana Clara e Evelyn amor de nascer do sol. Bruna e La Salle amor de confirmação. Mariana e Bárbara amor de interior. Maíra e Kelly amor de estar em casa. Janelle e Gyanny amor de fé. Lia e Thalita amor de lar. Alessandra e Roberta amor de diversão. Iasmin e Natalia amor de tatuagem. Bruna e Mari amor de arte na rua. Carla e Cynthia amor de diferença. Inara e Nina amor de recomeço. Hinde e Renata amor de intercâmbio. Thay e Cami amor de afeto. Luana e Marília amor de corpo. Fernanda e Ana amor de tentativas. Gabi e Gabriela amor de coragem. Jéssica e Priscila amor de diferença. Melina e Karyne amor de frio na barriga. Mariana e Fabiola amor de redescoberta. Luana e Bruna amor de emoção e razão. Ane e Thelassyn amor de persistência. Nayara e Jamyle amor de geek. Tami e Fran amor de casa nova. Gabi e Pamela amor de ajuste. Tay e Beatriz amor de elevação. Alice e Fernanda amor de apoio. Julia e Duda amor de muito. Luciana e Viviane amor de recomeços. Kelly e Amanda amor de tempos. Anne e Lari amor de paz. Júlia e Vitória amor de moda. Paula e Mari amor de cor. Luma e Stefany amor de árvore. Anne e Talita amor de oportunidade. Uine e Denise amor de aliança. Larissa e Claricy amor de ritual. Laiô e Íris amor de horizontalidade. Brenda e Jéssica amor de aventura. Dalila e Andréia amor de "praciar". Carla e Laura amor de porto seguro. Vanessa e Vitória amor de nova perspectiva. Carol e Cris amor de energia. Angélica e Jaque amor de segundo encontro. Kétule e Beatriz amor de cachoeira. Alissa e Rafaela amor de recomeços. Lilian e Marcella amor de padaria. Natália e Bruna amor de ano novo. Rachel e Larissa amor de paciência. Jade e Laura amor de segurança. Barbara e Isadora amor de cativar. Marina e Patrícia amor de pedidos rápidos. Gabi e Aline amor de aposta. Débora e Paula amor de comentário. Bruna e Vanessa amor de transformação. Cintia e Carmen amor de cultura. Dállete e Dyanne amor de redescobrir. Keziah e Patricia amor de compartilhar Cynthia e Leylane amor de esporte. Rafa e Helena amor de dia. Emilly e Thuane amor de maracatu. Sue e Sil amor de teatro. Fernanda e Talita amor de som. Carol e Gabi amor de fotografia Carol e Andressa amor de lugar. Ingrid e Cecília amor de estrada. Vanessa e Dayanne amor de caminho. Emily e Raissa amor de tentativa. Beatriz e Kika amor de são joão. Bruna e Tereza amor de sonho realizado. Juliana e Bianca amor de tempo. Clara e Marina amor de céu aberto. Samara e Rebeca amor de impulso. Raíssa e Lorena amor de experimentar. Laura e Dedê amor de samba. Maria Vitória e Fernanda amor de carro. Manô e Bruna amor de vivência. Denise e Julia amor de cerveja&cinema. Maíra e Duda amor de tatuagem. Marina e Luiza amor de cumplicidade. Juliana e Tayna amor de mil histórias. Bruna e Fran amor de resistência. Marcia e Pethra-13_edited amor de pé na porta. Mari e Nonô amor de escola. Joana e Ana Clara amor à primeira vista. Priscila e Rebecca amor de mar. Bruna e Sophia amor de carnaval. Renata e Marcela amor de arte. Clara e Karine amor de parceria. Bela e Maitê amor de risadas. Victoria e Gabi amor de praia. Brenda e Jhéssica amor de destinos. Carol e Gabi amor de militância. Beatriz e Tamara amor de esporte. Paula e Luiza amor de plantas e pássaros. Luana e Gabrielle amor de família. Mariana e Thalassa amor de plantinhas. Carol e Beanca amor de acompanhamento. Rita e Dede-23_edited amor de 10 reais. Cilla e Fabi amor de luz Bruna e Brena amor de axé. Stefannie e Jaque amor de decisão. Marianna e Bruna amor de coisas em comum. Natália e Talita amor de admiração. Ingra e Lara amor de diversidade. Roberta e Laura amor de ser possível amar. Yulli e Nadine amor de profissão em comum. Sandra e Larissa amor de oceanos. Vanessa e Suélen amor de simplicidade. Rhanna e Lais amor de festa popular. Inara e Juliana amor de samba. Juliana e Priscila amor de grande família. Clarissa e Agnis amor de crescimento. Ariadne e Barbara amor de faculdade. Karol e Hémely amor de abrir portas. Nayara e Mayara amor de educação. Vivian e Dani amor de nova visão de si. Olga e Flávia amor de política. Clarissa e Roberta amor de são joão.
- Documentadas
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Toda mulher merece amar outra mulher. Olá; AQUI REGISTRAMOS O AMOR ENTRE MULHERES ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA. Portfólio Para conhecer nossas histórias, clique aqui > sobre 02 sobre nós O documentadas começou através de diversos estudos e da percepção de que as mulheres são pouquíssimo registradas em toda a sua história, principalmente tratando-se de mulheres que se relacionam afetivamente com outras mulheres. Para dar um basta e contar nossa própria história, percorro o país registrando casais e através desse site criamos conexões e laços de fortalecimento. Para conhecer quem faz o documentadas, clique aqui > lançamos um livro! vem saber mais sobre aqui Banco de images QUER PARTICIPAR DO PROJETO? vem por aqui! :P Mariana Musicista Leia mais Mari, além de ser uma pessoa extremamente doce, é uma musicista e compositora incrível! Ela tem um canal com a Vivi e juntas compõem histórias no Canta Minha História! Iasmim Advogada Iasmin, além de uma mulher super sorridente e alto astral, é também uma grande advogada. Natural de Duque de Caxias, baixada fluminense, hoje trabalha em um escritório no centro do Rio de Janeiro. Leia mais Carla Professora Carla, além de ser grande amante das artes e do teatro, também é professora e pedagoga em escolas públicas de Rio das Ostras e Macaé. Leia mais gerando renda para a comunidade Acreditamos que - além de que contar histórias de mulheres - podemos conecta-las. Falarmos sobre seus trabalhos, compartilharmos situações, momentos e, enfim, gerarmos renda. O mercado de trabalho segue difícil e podemos nos apoiar contratando trabalhos de mulheres da comunidade LGBT. Sendo assim, no nosso espaço de 'busca' você consegue pesquisar pela palavra-chave (o serviço que você precisa), ver qual profissional está à disposição, ler sua história e nos mandar uma mensagem. Nosso papel será te conectar diretamente com a profissional desejada! gerando renda para o projeto Manter o projeto não é tarefa fácil! Fazer viagens, pegar metrôs, ônibus, barcas... disponibilizar tempo e conseguir manter as contas pagas é um grande desafio. E como queremos documentar o maior número de casais possíveis, disponibilizamos o nosso PIX e aceitamos qualquer valor como quantia de doação! Você pode nos ajudar clicando aqui e fazendo a doação (qualquer valor!) de forma voluntária direto pelo aplicativo do seu banco! Colabore com a documentação histórica do amor entre mulheres! Contato
- Documentadas - O Livro | Documentadas
Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Vem participar você também! documentadas - o livro quer ver ele por aí? seja na livraria mais próxima de você, em um bate-papo na sua cidade ou na estante da sua casa: entre em contato com a editora ou adquira um exemplar no site da Funilaria! clica aqui! como ele surgiu? no livro sobre o documentadas há uma seleção de histórias que trazem um pouco da grandiosidade do amor. ele é a materialização desse projeto que está há anos percorrendo o brasil em busca de contar nossas histórias e reconhecer as mulheres sáficas brasileiras enquanto mulheres diversas - com infinitas histórias, realidades e recortes. nas histórias presentes no livro temos diversas cidades do brasil, classes, idades, mas o que une tudo é o fato das mulheres estarem dispostas e serem corajosas em nome do amor. este livro é o primeiro documento brasileiro que se dispõe a contar histórias reais em forma de fotolivro sobre casais formados apenas por duas mulheres. um motivo de celebração para toda a comunidade lgbt. monica benício "esse livro e esse projeto não são apenas peças importantes para nossa história e a nossa cultura. eles são, antes de tudo, ferramentas para a transformação do nosso mundo. um mundo para as mulheres." contando com um prefácio de monica benício, que tanto nos representa na política brasileira (mas não só - numa trajetória de militância que transpassa a política), na sua escrita traz recortes sobre a representatividade e a documentação finalmente nos contarem essa história que foi tão apagada. e dessa vez através do amor, de forma corajosa, com histórias de mulheres inspiradoras que nos impulsionam a desejar seguir nossos sonhos em frente. mariana mortani "uma afirmação da beleza e da profundidade desses relacionamentos que muitas vezes foram deixados de lado." prefácio & posfácio contando com o posfácio da mari mortani, que tem uma trajetória incrível na literatura LGBT+ como roteirista, tradutora e produtora de conteúdos sobre literatura sáfica, ela também fundou o clube sáfico e o podcast chá das quatro, que o doc tanto ama e admira. ter ela no livro é parte importantíssima, explicando o motivo da representatividade e da documentação caminharem juntos. encontre o livro aqui ficha técnica que fez o livro ser possível: todas as pessoas que acreditam na potência do doc, obrigada! autora do livro: fernanda piccolo huggentobler coordenação editorial: caio valiengo, marilia jahnel, renata dei vecchio revisão: caroline fernandes e daniel moreira safadi capa: angela mendes projeto gráfico: angela mendes diagramação: camila provenzi áudios: isadora volino o livro conta com + de 35 casais documentados
- Carla e Paula | Documentadas
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Paula estava com 34 anos no momento da documentação. Nasceu em Porto Alegre, mas passou boa parte da vida em Maceió com a mãe, indo visitar a família no sul poucas vezes ao ano. Formada em Direito em Maceió, trabalhou em empregos temporários até retornar ao sul, onde hoje atua como servidora pública. Carrega consigo essa sensação de deslocamento - não é totalmente de Maceió, nem de Porto Alegre. Uma gaúcha nordestina - algo que molda uma personalidade mais fluida, tranquila e aberta às mudanças. Carla estava com 29 anos no momento da documentação. É natural de Maceió e foi lá que conheceu Paula, ainda no período em que ela morava no nordeste. É advogada, formada em sua cidade natal e concluiu a graduação já vivendo em Porto Alegre, após se mudar no meio da pandemia. Carla se destaca por ser cheia de hobbies: corre, borda, gosta das coisas manuais, dos esportes (é faixa preta no karatê desde os dez anos de idade) e entende que manter o corpo em movimento traz a disciplina e o equilíbrio que a hiperatividade demanda. O que as aproxima, além dos caminhos cruzados que a vida fez, é a forma como se completam: brincam com os signos, pois são opostas complementares, mas entendem que vai um pouco além disso. Paula é quieta, reservada, enquanto Carla transborda movimento e, como ela mesma diz, é tagarela - uma fala pelas duas quando necessário, a outra observa, absorve e oferece silêncio seguro. Carla sempre brinca dizendo que elas se conheceram porque ela era estagiária da Paula, gosta de começar a história assim. Mas Paula desmente porque ela era estagiária na empresa, não dela especificamente. Deixam interpretação livre: “Tu escolhe em quem tu vai acreditar!”. Fato é que as duas apenas trabalhavam no mesmo lugar, cada uma com sua rotina, seus horários, seus trajetos dentro do prédio. Para Paula, esse emprego era temporário, e foi num dia em 2018 que sua mãe anunciou: estava prestes a se aposentar e queria retornar ao sul, não moraria mais em Maceió, depois de tantos anos. O convite veio de forma natural: “Tu não quer voltar junto?” e a resposta foi natural também, ela acreditava que nada a prendia em Maceió, então pensou que poderia prestar algum concurso no sul e fazer a mudança para lá. Duas ou três semanas depois dessa conversa com a mãe, ela conheceu a Carla. A amizade foi o primeiro lugar. Ambas tinham terminado relacionamentos recentes, conversavam muito sobre suas dores, histórias em comum e até acompanharam as histórias das pessoas que ficaram depois dos términos. Como Carla era mais nova, Paula pensava que algo entre elas “jamais” aconteceria. Mas a convivência se estreitou - e a resistência capricorniana de Paula não resistiu aos quatro shots de tequila que beberam numa noite. Quando começaram a se envolver romanticamente, tentaram manter um pacto: não transformar isso em algo maior, sabendo que a Paula tinha data para ir embora. Bom, sabemos o resultado, né? Alguns meses se passaram e Paula tentava ao máximo ‘empurrar’ adiar a ida, mas precisou partir para Porto Alegre, em 2019. Dirigia muitos quilômetros chorando, até que sua mãe, vendo o sofrimento, falou: “Minha filha, se tiver que ser, vai ser. Vocês vão dar um jeito, vai dar tudo certo, se tiver. Também se não tiver, não vai.”. E assim elas começaram um novo passo na relação: o namoro à distância. Depois da mudança de Paula para Porto Alegre, Carla fez a primeira visita quando tudo se estabilizou. Foi em maio de 2019, o auge do frio para uma nordestina conhecer o sul, que desembarcou na capital querendo conhecer um destino romântico clássico: Gramado. Elas explicam que desde a primeira vez que concordaram em viver essa relação à distância, tinham uma coisa muito marcada: a escolha consciente de permanecer. Entre idas, vindas e incertezas, sempre escolheram ficar. E, embora a história pareça redonda contada assim, “depois que passou”, foi muito difícil enquanto estava passando… o caminho foi marcado por coisas além das distâncias, como homofobias, conflitos familiares e feridas que só foram cicatrizando com o tempo e com a convivência. Ao longo desses sete anos, elas seguiram escolhendo viver juntas, construindo algo sólido. Conversar sempre foi a essência de tudo. Carla brinca que elas não ficam quietas, estão dissecando cada pedacinho das coisas para estar 100% com tudo. São tagarelas assumidas. E o namoro à distância ajudou a moldar esse hábito: viviam conectadas, entre Skype e FaceTime, indo dormir em chamada, cozinhando ao mesmo tempo, até indo ao cinema cada uma no seu estado. Destacam também sobre como saber que são amigas é importante dentro de uma relação amorosa, é poder confiar muito em quem você ama. Até hoje, qualquer detalhe visto na rua é assunto e é compartilhado entre elas, entendem que o compartilhar é parte natural de amar. E Paula destaca também que nessas trocas, desde cedo falavam em casar e ter filhos, mesmo enquanto repetiam que viveriam um dia de cada vez. Havia uma certeza silenciosa: seguir adiante faria sentido porque o futuro delas já existia, mesmo quando ainda era só um plano. No final de 2019, Carla voltou para Porto Alegre para passar três meses, mas precisou retornar a Maceió no início de março de 2020 por conta das aulas na faculdade. Foi exatamente quando a pandemia de Covid-19 estourou: aeroportos fechados, voos cancelados e aquele período pequeno que iria resolver as coisas em Maceió viraram meses de isolamento. Além do medo e da incerteza do momento, havia também o peso das situações de homofobia dentro da própria família, que tornavam tudo ainda mais delicado. De qualquer forma, sabiam que nada poderia ser feito de forma precipitada. Era importante que Carla terminasse a faculdade, que cuidasse da própria vida individual antes de qualquer mudança definitiva, faltava muito pouco para conseguir o seu diploma. Quando, finalmente, em junho de 2020, conseguiu um voo, Carla veio de vez. Ficaram um tempo morando com a mãe de Paula, e foi ali que Carla apresentou o TCC, se formando de forma online na pandemia - e já residindo em Porto Alegre. Em março de 2021, com a OAB em mãos e já adaptada morando em Porto Alegre, Carla começou a procurar emprego como advogada e as duas decidiram que era hora de ter a própria casa. E foi nesse mesmo período que veio a vontade de celebrar o amor. Depois de tantos obstáculos, medos, partidas e retornos, parecia justo transformar tudo isso em um rito de afirmação. Optaram por um casamento simples, íntimo, com poucos convidados, mas cheio de significado. Marcaram a data exatamente no aniversário de três anos de namoro e foi assim, no terceiro ano juntas, que se casaram. Ainda que alguns familiares não tenham participado do casamento, outros estiveram presentes e os amigos da Carla vieram diretamente de Maceió, então foi um momento incrível de celebração. O casamento firmou o que elas constroem: a escolha, a continuidade e a coragem. Carla conta que quando elas andavam de mãos dadas como namoradas em Porto Alegre, as pessoas não olhavam muito… Mas, quando a barriga apareceu, tudo mudou. As pessoas entendiam, se surpreendiam, sorriam. E havia também aqueles pequenos gestos silenciosos: como o casal de meninas que, numa feira, se cutucou mutuamente ao vê-las juntas. Tipo: “Caramba, é possível!!”, uma esperança. Era bonito perceber que elas também podiam ser referência para outras mulheres, para outras famílias que ainda estavam começando a imaginar a própria possibilidade de existir. Porque, antes de tudo, elas sempre sonharam com isso: uma família, um lar, uma criança para amar. E porque pouco tivemos referências quando foi a nossa vez. O caminho até ali vinha sendo construído aos poucos, elas já eram uma família, com o cachorrinho, depois com a decisão de engravidar. Na primeira tentativa o teste deu positivo. E de um pontinho de luz, como dizia a médica, surgiu a Olivia.Decidiram viver os três primeiros meses só entre elas e os médicos, guardando o segredo como quem protege uma chama acesa no peito. Começaram a contar pela mãe da Paula, que ficou perdida, surpresa, feliz, curiosa, tudo junto! Falou: “Tá. Entendi. Mas tá em quem????” e riram. Tudo se ajeitava. A parte mais delicada foi contar para a família de Carla. Depois de anos de rupturas, medos e afastamentos, ela foi sem expectativa alguma. E, justamente por isso, a surpresa foi tão imensa. A mãe reagiu com alegria, tentou adivinhar o sexo, vibrou por haver mais uma menina na família, dizendo que “Nossa família é uma família de mulheres!”. Em nenhum momento reclamou pelo fato de Paula ser quem estava gerando, pelo contrário: houve carinho, acolhimento e vontade sincera de reparar o que havia sido quebrado. Quando Olivia nasceu, a avó veio até Porto Alegre, e foi assim que ela e Paula se conheceram pessoalmente. Hoje, se Carla passa um dia sem mandar foto, a mensagem chega rápida: “Cadê a Olivia?” Paula falou uma frase muito marcante na nossa conversa: “Que gostoso que é ver o amor da sua vida sendo mãe do amor da sua vida” e isso mostra como a Carla é uma mãe incrível para a Olivia. Ela só dorme com a Carla, o primeiro sorriso foi para ela, a primeira troca de fralda foi com ela. Nas noites difíceis elas se apoiam, nas crises de choro, na amamentação que machucou o peito ou nos medos do que ainda pode acontecer. E nos risos no meio do caos, lágrimas divididas, cansaço partilhado é onde está a força também. A maternidade não mudou quem elas eram (ok, talvez mudou um pouquinho pra melhor!), mas principalmente tornou mais nítido o que sempre existiu. ↓ rolar para baixo ↓ Paula Carla
- Paola e Taiane | Documentadas
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Paola estava com 37 anos no momento da documentação. Trabalha enquanto assistente social, sendo funcionária pública há mais de uma década, com trajetória marcada pelo compromisso com o cuidado e a proteção social. É natural de Porto Alegre, adora morar na cidade e foi criada na zona sul, morando agora na zona norte com a Tai. Jogou futebol por muitos anos e é apaixonada - um tanto quanto fanática - pelo Internacional. Além de dividir o lar com a Tai, também mora com seus pets: dois cachorros e um gato e nos momentos livres adora tocar violão. Brinca que é uma sapatona tradicional. Taiane estava com 30 anos no momento da documentação. Também é natural de Porto Alegre, da zona norte. Se formou em relações internacionais e trabalha com comércio, mas é marcada pelas suas grandes paixões: os idiomas, os livros e os estudos. Assim como a Paola, já passou pelo mundo dos esportes: desde criança praticou patinação artística, mas parou por questões de saúde (ainda que continue amando dançar). De forma tardia, Tai descobriu o diagnóstico de TDAH e autismo, o que fez reorganizar sua vida, ampliar compreensões e redesenhar a maneira que lê a si mesma e suas relações sociais. Hoje diz o quanto foi bom ter esse diagnóstico para entender melhor como a vida acontece ao seu redor, descobrindo novas formas de existir. Quando pergunto sobre a história da Tai e da Paola, elas explicam que tudo começou num aplicativo de relacionamentos, em janeiro de 2022, que funcionava por geolocalizações. Até hoje não entendem como foi possível, porque era bastante improvável elas se cruzarem via app porque estavam um pouco longe uma da outra, mas em algum momento o gps se esbarrou. Foi assim que conversaram e marcaram um encontro no local em que fizemos as fotos, o Parque da Redenção, no centro da cidade. Até hoje, quando voltam ao local, fazem um ritual que é reviver o momento que se viram pela primeira vez, lá no mesmo lugar, na entrada do parque. O primeiro encontro foi como deveria ser… superou as expectativas e a história começou a nascer de “nãos” que viraram “sims”: não queriam casar, não queriam morar com ninguém, não imaginavam dividir uma vida. Mas tudo começou a mudar. Ao decorrer desses anos juntas compraram um carro, formalizaram a união estável, dividiram o lar, assinaram o casamento. Misturaram universos. Cachorro, gato, outro cachorro. Muitos desafios novos. Tai conta que no dia seguinte do primeiro encontro, o afilhado da Paola nasceu. E o crescimento dele passou a caminhar lado a lado com o crescimento do relacionamento delas. Com um mês de vida dele, elas estavam se pedindo em namoro… Hoje em dia, com ele já sendo uma criança que corre, fala, entende quem elas são, elas pensam: “Caramba, como crescemos também!”. Logo no início do relacionamento entre Paola e Tai, chegaram diversos desafios. Desde os mais leves e até mesmo divertidos, como apresentar os bichos uns aos outros - e adotar um novo cachorrinho - aos mais intensos, como o diagnóstico do autismo da Tai e o preconceito vindo de familiares e amigos perante o diagnóstico. Começando com a vida compartilhada com os animais, o Max, pinscher da Paola, adotou Taiane imediatamente. Já a gata que era da Thai, virou amiga fiel da Paola. A questão maior foi o terceiro integrante, o Sirius, que chegou com muita energia criando uma nova dinâmica para todos dentro de casa. Elas confessam que às vezes rola uma confusão, porque ele ainda é muito jovem, mas deixa a casa muito mais animada. Sobre o diagnóstico tardio, a Tai já sabia o de TDAH desde os 17 anos, mas as particularidades da rotina, da rigidez com mudanças e da seletividade alimentar começaram a ser percebidas no início do relacionamento, levando elas a conversarem entre si, pesquisar e conversar mais com a terapeuta sobre. Elas lidaram bem com o diagnóstico, Tai sempre reforça como foi bom entender melhor o que vivia, redescobrir como lidar cada vez mais com os seus limites e respeitá-los. O problema foi descobrir como as pessoas podem ser tão preconceituosas com algo que não deveria existir preconceito. Pessoas que eram amigas da Paola reagiram de forma capacitista e cruel, como se ela tivesse assumindo o namoro com alguém que fosse eternamente dependente, como se virasse uma cuidadora. E pior: como se o diagnóstico fosse uma mentira. “Como a Tai tem autismo se ela consegue falar?” questionaram. A falta de informação era muito grande. E ainda que conversassem sobre, o preconceito firmava presença. A postura deles gerou afastamentos dolorosos, mesmo que necessários, fazendo com que elas se unissem cada vez mais no enfrentamento desses estigmas. Dentro das unidades familiares o processo foi doloroso também, mas mais tranquilo pelo fato de entenderem os comportamentos que existiam antes do diagnóstico. Tai conta sobre uma situação que viveram na praia, um tempo depois, quando chegaram e haviam comprado uma cama de casal para que elas pudessem ficar mais confortáveis num quarto que antes era formado por camas de solteiro. Foi como um conforto, um acolhimento e uma aceitação. Toda a relação foi se transformando, principalmente considerando os limites e não tratando com capacitismo: a Tai ajuda muito a Paola, e a Paola ajuda muito a Tai. É uma relação de troca. Uma relação que se transforma. O diagnóstico da Tai também transformou a vida cotidiana, trazendo novas compreensões sobre limites, questões sensoriais, rotinas e sobrecargas. Antes, situações simples como mudança de planos, uma festa ou um shopping cheio geravam desconfortos que ninguém entendia. Hoje, elas reconhecem gatilhos: exaustão, mudanças no humor. Paola muitas vezes percebe antes da própria Tai e “muda a rota” ou cria uma saída, acolhendo e garantindo segurança. A consciência sobre o autismo também trouxe novos gestos simbólicos, como a tatuagem que Paola fez entrelaçando, que tem o símbolo do espectro e duas mãos entrelaçadas. É sobre serem um casal, se amarem, se apoiarem, crescerem juntas em uma sociedade que insiste em questionar essa legitimidade. Elas contam também como o preconceito existe em momentos que as pessoas tentam infantilizar Tai e colocar a Paola nesse lugar de eterno cuidado, como se a relação sempre fosse se resumir à isso: não como esposa, mas num capacitismo que atravessa a leitura social sobre mulheres autistas independentes. A luta diária que elas travam envolve reafirmar a autonomia, identidade e o vínculo que construíram, sem precisar provar a existência de cuidado, suporte ou reciprocidade. Ainda assim, é nítido o quanto se amam. Independente das críticas. E sobretudo, o quanto crescem: as transformações são profundas - como quando Paola parou de fumar um dia antes de pedir a Tai em namoro, como quando ela redesenhou sua vida financeira com a ajuda da Tai ou como quando elas conversaram, melhorando cada vez mais a comunicação, sobre os lugares que a Tai se sentia bem ou não frequentando e entenderam os limites não “forçando a barra”. Foi em 2024 que Tai e Paola oficializaram a união com um casamento. A data foi cheia de significados: dia 26 porque ambas nasceram em um dia 26, começaram a namorar em um dia 26 e gostam da harmonia numérica. O pedido de casamento havia acontecido meses antes, em 2023, durante um período especial. A festa foi para as pessoas que realmente torciam por elas e acompanharam a relação - um dia para comemorar, genuinamente. Quando conversamos sobre o dia a dia e o amor nele presente, para além de todos os desafios que marcaram muito nossa conversa, elas contam sobre o quanto aprendem uma com a outra de forma leve. Riem muito juntas, brincam, se jogam água em dias quentes, implicam uma com a outra, mas também gostam de se mimar, de apoiar, tomar um café, deixar um bilhete. São apaixonadas por Harry Potter e tudo o que envolve o mundo da saga. Acreditam que nesses afetos de detalhes cotidianos está muito da essência da relação, porque é onde se apoiam quando acontece algo difícil. Geralmente a relação é composta por todas as “coisas pequenas” e não por coisas grandiosas. Cultivam essa manutenção delicada do amor, que impede que se tornem apenas colegas de apartamento e garante que a parceria siga viva, alegre e presente. Também aprenderam a respeitar e acolher as particularidades uma da outra, especialmente as rotinas e rituais estruturais. Depois de quatro anos juntas, projetam um futuro mútuo, consciente e responsável. ↓ rolar para baixo ↓ Paola Taiane
- Patrini e Gabi | Documentadas
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Patrini estava com 30 anos no momento da documentação. É natural de São Sebastião do Caí, interior do Rio Grande do Sul, e mora em Porto Alegre há pouco mais de três anos. Trabalha como psicóloga e desde o início da carreira já se dedicava ao trabalho com foco em sexualidade e gênero, participando de coletivos e acolhendo pessoas LGBTs em seus atendimentos, mas foi nos últimos anos que fora do consultório olhou para si e também permitiu o entendimento da sua própria sexualidade enquanto uma mulher que ama outra mulher - ainda que, nesse processo, nunca havia imaginado namorar outras pessoas porque sempre se via sozinha e não-monogâmica, até começar a relação com a Gabi. É no tempo livre que Patrini encontra o ritmo e o descanso na música: sendo percussionista. Filha de baterista, explica que o som sempre foi um modo de se manter viva. Religiosa de matriz africana, costuma dizer que o orixá orienta seus caminhos… e talvez por isso veja na vida, na música e no amor um lugar de movimento, de cruzamentos, de liberdade. Gabriela estava com 23 anos no momento da documentação. É natural de Taquara, interior do Rio Grande do Sul, e cursa psicologia. Quando começou a se relacionar com mulheres, na adolescência e antes de se mudar para Porto Alegre, enfrentou uma reação violenta dos pais, que só mudou com o tempo, com a maturidade e a terapia. Aos 18 chegou em Porto Alegre para cursar a faculdade e desde então constrói sua carreira. Para além da psicologia, Gabi adora fazer crossfit e surfar. Sonha em unir o esporte à psicologia, principalmente na praia, onde se sente completa. Foi em 2023 que Patrini e Gabi se conheceram, sem marcar encontros ou sair de casa com grandes expectativas, estavam apenas com suas amigas curtindo o Bloco da Laje, famoso bloco carnavalesco gaúcho. Uma delas havia ido ao evento com uma antiga ficante, mas acabou se afastando para reencontrar uma amiga. A outra chegou mais tarde, apenas querendo se divertir e rever conhecidos. O encontro aconteceu quando uniram os grupos de amigos e trocaram olhares, sorriram uma para a outra e puxaram alguns assuntos falando sobre o glitter que usavam. Depois de uma rápida conversa descobriram que tinham a psicologia em comum, até que Patrini questionou: “Vem cá, você tem quantos anos hein?!”. A troca que tiveram no bloco foi curta, trocaram o Instagram rapidamente e logo se perderam nos grupos. Patrini foi para casa em seguida, pois morava perto, e no dia seguinte trocaram mensagens no Instagram para se encontrar novamente. Ela achava que não iria dar em nada, principalmente pela diferença de idade, mas topou o encontro, que foi em um pagode, num lugar bastante aleatório. Se deram bem, seguiram se encontrando e entrando aos poucos uma na rotina da outra. Brincam que o que era ficarem juntas durante o fim de semana se estendeu para segunda, depois segunda e terça, depois quinta até segunda… até que não fazia mais sentido dormir separadas. A convivência se intensificou entre risadas, cafés, cachorros indo e vindo, e o caos afetuoso das diferenças também se revelaram com o tempo. Patrini, que há anos morava sozinha, estranhou o ritmo de uma casa mais cheia. Gabi, que morava com mais pessoas, mostrava outra forma de ver as coisas. Em meio a conversas sinceras, falaram sobre os limites da relação, sobre monogamia e liberdade, com respeito e escuta. Foi um tempo depois de ficarem pela primeira vez - e de terem se conhecido no bloco - que Patrini e Gabi começaram o namoro, ainda em 2023. Um ano e meio depois, decidiram morar juntas, primeiro porque a logística de idas e vindas para ambas casas não fazia mais sentido, e segundo porque coincidiram suas datas de encerramentos de contratos dos imóveis locados. Um ultimato que virou oportunidade: se já se escolhiam na prática, por que não oficializar na rotina? O novo lar, porém, trouxe seus próprios ruídos: um bairro que não era o favorito, era escolhido por necessidade. Deslocamentos maiores. Outras adaptações. Ainda assim, ficaram. E seguem planejando, inclusive mudar de novo quando a vida permitir. Nesse tempo que estão juntas passaram por muitas coisas, entre felicidades, tristezas, desafios e coisas que só o tempo comporta. Foram lutos, roubos, ansiedades, burnouts, reflexões sobre si, crescimento profissional… Nasceu a percepção de companhia: um porto seguro. Uma base que não é só idealizada, ela atravessa vulnerabilidade com presença. A terapia entrou como ferramenta e como espelho. Falou sobre conflitos antigos, influências familiares, a dificuldade de separar individualidade e dependência. Foi como colocar tudo sob a mesa. Coisas até que nem estavam preparadas para ver - e entender isso também. Entender que são pessoas, que compromisso não é cobrança. Perceberam que estar juntas implica aceitar também o que a outra é no mundo: sua história, suas crenças, suas formas de amar. E que essa decisão, apesar de exigir disposição, devolve amor de um jeito que faz sentido. Com o tempo, a relação começou a transbordar para fora das duas. Olharam para as relações alheias com menos julgamento, entenderam acordos, nuances, possibilidades. A diferença de idade virou aprendizado mútuo: uma traz estabilidade e perspectiva, a outra traz experimentação e futuro em construção. Uma aprende organização financeira, aprende a respirar mais; a outra ganha calma, confiança, orientações de quem já ocupou alguns caminhos antes. A rotina é como um ritual para Patrini e Gabi: o chimarrão ao fim do dia, o café da manhã, as conversas que acontecem nesses momentos… Gostam de cozinhar juntas, viver o dia sem pressa aos sábados. Ir na feira. Dormir um pouco a mais. Cuidar da casa, viver o dia com a cachorrinha. Cuidar das plantas. Há uma alegria tranquila em estar cuidando do lar, em organizar e ver tudo no lugar, sentindo que aquilo as representa. A rotina, antes dividida entre deslocamentos e urgências, hoje é feita de pausas, tendo cuidado no descanso. De certa forma isso reflete o amor que amadureceu junto da relação, entre as conquistas nos dias comuns, os momentos de perdas. Um cotidiano que vai se construindo em coisas boas, em dias mais vulneráveis, sobretudo na companhia e numa intimidade que antes nem imaginavam conquistar: estar uma com a outra, e em casa. ↓ rolar para baixo ↓ Gabriela Patrini
- Nayara e Mayara | Documentadas
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. ↓ rolar para baixo ↓ Nayara Mayara
- Carol e Cris | Documentadas
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Carol e Cris possuem um estúdio em Criciúma/Santa Catarina, onde fazem cabelos, unhas, body piercings e, junto com uma amiga, tatuagens. Foi conversando com essa amiga, inclusive, que planejaram o lugar: tiveram várias ideias para sair do padrão e criar um ambiente cada vez mais acolhedor. O estúdio começou quando elas foram para São Paulo, em 2023, viver o Lollapalooza. Descobriram que estava tendo uma feira de produtos de salão e tinham um cartão de crédito com limite disponível, chegaram lá e compraram muitos utensílios, desde potes até acessórios e montaram o estúdio assim. Jogaram ao universo. Quando chegaram no hotel, colocaram as compras em cima da cama e falaram em voz alta: “O que que a gente fez? Onde vamos colocar tudo isso?!” Quando voltaram para Criciúma acharam a sala que alugaram porque ficava na rua onde a Cris morava. O local era bem diferente, elas decoraram do jeito que gostavam, foram reinventando tudo. Agora, um ano depois, entendem o crescimento, o poder do sonho. Fazem questão de refletir isso em tudo: na escuta, acolhimento e cuidado com cada cliente. E entendem que é revolucionário ter um espaço voltado ao público LGBT+ e para as mulheres numa cidade conservadora. Não querem negociar os pontos que as fizeram criar este lugar: ser um espaço seguro para as pessoas se abrirem, conversarem, rirem, chorarem. Ser quem são sem medo de julgamento e sair de lá se sentindo empoderadas. E é isso que desejam para a cidade em si. Mesmo sendo uma salinha pequena, lá existe verdade. Se sentem felizes. E desejam isso para além: não querem mais olhares tortos por onde andam, serem julgadas pelas tatuagens, por andarem de mãos dadas… querem que o espaço seguro ultrapasse as barreiras do estúdio. Cristina, no momento da documentação, estava com 31 anos e é natural de Criciúma. Trabalha como cabeleireira, com foco em cabelos com curvatura. Se formou com o cabeleireiro Rodrigo Vizu, de São Paulo, e alguns outros cabeleireiros que ela tanto admira. Acredita que a questão do cabelo com curvatura veio dela mesmo, tinha o cabelo alisado e pouco depois da pandemia resolveu mudar, não se identificava mais. Estava começando a namorar com a Carol e ela super apoiou a transição. Além de trabalhar, gosta de descansar, assistir séries, ficar no sol, passear, tomar café, provar coisas diferentes. Veio de uma família tradicional evangélica, saiu de casa com 26 anos, morou em Balneário Camboriú e depois voltou para Criciúma, dividiu apartamento com uma amiga, foi bem difícil entender que não havia mais espaço na sua casa pra ela, e então passou a respeitar o seu corpo e quem ela é de verdade. Carol, no momento da documentação, estava com 29 anos e também é natural de Criciúma. Tem sua formação em administração, sempre gostou da área administrativa e financeira, mas aos poucos foi desconstruindo essa visão “executiva” e heteronormativa de vida que ela tinha e entendendo uma nova personalidade que condizia mais com quem ela realmente era. Trazia muitas vivências da igreja também, então aos poucos foi mudando a aparência, entendendo do que realmente gostava… Logo depois conheceu a Cris, foi um processo de descobrimento em conjunto. E hoje em dia ela também trabalha no estúdio, tanto como manicure/pedicure quanto como body piercing. Depois de 4 anos juntas, elas estão morando no mesmo lar, junto com seus três gatos e uma cachorra. Sentem que podem morar em qualquer lugar, desde que levem eles. E, no lar, cada uma continua com seu espaço: como seu guarda-roupa, por exemplo. Acreditam que isso contribui muito para suas individualidades. Foi num aplicativo de relacionamentos que se cruzaram oficialmente em 2020, mas já haviam muitos amigos em comum e os caminhos estavam entrelaçados há muito tempo. Carol já havia trabalhado no local em que Cris trabalhava, já tinham se esbarrado na igreja (e Carol aparecia no fundo de uma foto da Cris dentro da igreja!)... existiam vários ambientes e amigos, mas sempre muito heterossexualizados. Em um período, logo no começo da relação, ficaram desempregadas e buscavam essa rotina CLT, então surgiu um salão de beleza em que Cris foi trabalhar enquanto cabeleireira e Carol foi trabalhar na recepção. Ficaram lá bastante tempo, mas em algum momento sentiram que não era mais o ambiente ideal, estavam exaustas pela rotina, era um lugar muito diferente do que elas queriam estar… Sentiam que precisavam mudar o rumo das coisas. Na época, Carol sempre fazia as unhas da Cris e ela elogiava, dizia que deveria investir nisso. Coincidentemente, mulheres lésbicas que elas conheciam sempre iam fazer as unhas no salão que trabalhavam e acabava rolando alguns comentários complicados, elas não se sentiam bem, pensaram o quanto seria incrível ter um lugar acolhedor. Carol resolveu fazer um curso de manicure e pedicure tradicional para entender se gostava mesmo de trabalhar com aquilo e deu certo. Iniciou e depois chegou a ideia das perfurações corporais: o body piercing. Sair do salão que trabalhavam e abrir o seu próprio negócio não foi nada fácil. Quando escolheram o local e começaram do zero, precisavam atrair novas clientes, e começaram pelo marketing mais antigo (e melhor) que existe: o boca a boca. No prédio havia uma agência e chamaram as trabalhadoras para conhecer o salão, elas adoraram e começaram a frequentar. Logo em seguida foram surgindo novas pessoas, indicações e o negócio foi dando certo. Acreditam que a energia atrai coisas boas e possuem a sorte de ter essa energia boa. Deixam claro a preferência por mulheres e pelo público LGBT+, Cris também adora atender adolescentes, pessoas jovens que trazem a família e vai gerando trocas… Acha muito legal esse momento no salão; e também toma muito o cuidado em agendar pessoas que combinam no mesmo horário, que tenham a mesma ‘vibe’, que vão se dar bem nos papos. Falamos como é difícil apostar nesse sonho, viver essa rotina de trabalho e no meio disso ir morar juntas, captar novos clientes, enfrentar todos os novos desafios que nem imaginavam lidar. E como lidar com isso? Como enfrentar esses desafios? Elas respondem sobre a importância da terapia, de entender que as coisas levam tempo para se consolidar, de que nem tudo vai ser o fim do mundo, que vai fechar o salão na primeira baixa de cliente… E que é muito importante manter o pensamento positivo de que vai dar certo, de que vão dar um jeito, nem que o jeito seja parcelando o cartão, ainda assim é um jeito, estão juntas e as coisas vão acontecer. Sobre o tempo que levaram para morarem juntas e os processos acontecerem em si, entendem que foi o tempo necessário de amadurecimento da relação, ainda mais que convivem muito. Rindo, contam que conversam o dia todo e que quando chegam em casa continuam conversando, “haja assunto!”, mas adoram isso. No começo do namoro não tinham muitas amigas mulheres lésbicas ou bissexuais, as poucas que tinham perfumavam muito machismo, eram referências negativas, então quando viam mulheres respeitando outras mulheres ficavam muito empolgadas e pensavam “Que legal que isso existe!”, eram verdadeiras inspirações. Cris lembra como sexualizaram a sua relação, como recebeu perguntas muito invasivas e depois foi perdendo suas amizades aos poucos. Por isso, acreditam que o relacionamento que possuem está entre muito respeito desde o primeiro momento, foi a coisa pontual que definiram como inegociável. Esse respeito respinga na relação que possuem com os amigos, com os clientes, transparece com todos ao redor. Respeitam os bichinhos em casa, respeitam suas decisões, suas formas de ser, não se anulam ou se atropelam. Foi no relacionamento a primeira vez que viram um amor tranquilo. Possuiam uma ideia de que precisavam brigar para ser amor, ter ciúmes… E a relação mostrou o contrário: sossego, à vontade, ser quem se é sem medo de julgamento, sem modelo de relação heteronormativa para se guiar. Gostam do poder do companheirismo que permite dizer: “Hoje não quero ser forte o tempo todo”. ↓ rolar para baixo ↓ Cris Carol
- Angélica e Jaque | Documentadas
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Angélica, no momento da documentação, estava com 34 anos. Ela é natural de São Miguel do Iguaçu, uma cidade no interior do Paraná, mas mora em Criciúma - Santa Catarina há bastante tempo. É apaixonada pela escrita, gosta de escrever poemas, ler e passar tempo com os seus bichinhos em casa. É formada em letras e trabalha na UNESC, universidade pertencente à cidade de Criciúma, no setor de educação e design instrucional. Sua função é receber o material didático que será passado ao aluno na modalidade de educação à distância e preparar este material para que ele fique mais didático, com elementos, esquemas, imagens, deixando-o mais interessante pensando no autoestudo do aluno, visto que ele estará estudando em casa sozinho. Além disso, Angélica também trabalha com a Jaque, sua companheira, enquanto produtora dos eventos que ela canta e toca. Ela monta o equipamento, cuida do som, faz alguns registros para redes sociais e faz os contatos para fecharem os próximos shows. Quer muito fazer da sua produtora um trabalho fixo, e inclusive, quando nos encontramos para a documentação ser feita, iria acontecer nos dias seguintes o primeiro evento oficial criado por elas. Jaqueline, no momento da documentação, estava com 25 anos. É natural de Sangão, interior catarinense, mas atualmente mora em Criciúma com Angélica. Estuda psicologia e trabalha como estagiária no setor de arte e cultura da UNESC, universidade já citada acima. Aos finais de semana se dedica aos eventos em que trabalha fazendo shows em estilo voz e violão ou com a sua banda. Adora cantar e observar as pessoas enquanto canta, além disso, sempre que pode está assistindo algum show e pegando referências para o seu próprio trabalho. Angélica levava uma vida bastante agitada quando conheceu Jaque. Conta que só queria saber de sair, beber, beijar na boca… Inclusive, estava procurando mulheres para beijar quando encontrou no Twitter um link que levava à um grupo e Whatsapp chamado “SAC Sapatão”. Lá havia gente do Brasil todo e logo perguntou: “Tem algum DDD 48 aqui?”. Alguns dias depois a Jaque respondeu ela no privado, falou: “E aí, Criciumense?!” porque já tinha visto o papo se desenrolar lá no grupo. Passaram duas semanas conversando sem parar, até que resolveram marcar um encontro para se conhecer em que Angélica buscaria a Jaque em sua cidade, próxima à Criciúma, elas beberiam em Criciúma e depois ela a levaria de volta. A questão foi: elas só beberam. E Jaque, pobrezinha, estava cheia de fome, pingava de bar em bar com a Angélica contando mil histórias e bebendo… e só via as comidinhas passando para as outras mesas. Jaque era muito tímida, não disse nada, mas também não comeu. Chegou em casa com fome, achou o date ruim. Deram um beijo na despedida e isso foi o bastante para Angélica, que não tinha noção da fome da Jaque, pensar: “Yes! Arrasei!”. Jaque resolveu dar mais uma chance, se encontraram novamente e dessa vez teve até uma bolachinha dentro do carro, caso a fome batesse. Foram até a cidade de Tubarão, próximo onde Jaque morava, para viverem uma festa. Na época, já se sentiam bastante envolvidas. Angélica via a Jaque cantando nos vídeos e sentia a paixão chegando, mas os amigos não colocavam fé, para eles era só mais uma paixão passageira. A partir do segundo encontro em que foram na festa e que depois da festa dormiram juntas, sentem que algo começou a se firmar. Se encontravam com frequência, Jaque na época cursava uma faculdade em Criciúma e isso fazia com que estivessem sempre juntas… Mas Angélica seguia com o seu jeito agitado, querendo sair e curtir a vida, até que foi preciso entender que não dava para continuar com tanta intensidade assim, foi “sossegando” aos poucos. Do momento em que se conheceram até o começo do namoro foi bem rápido, entre janeiro e fevereiro de 2019. Logo no começo, também, já se apresentaram para as famílias, compraram alianças de namoro e foram seguindo a relação, até que depois de alguns meses entenderam que namorar morando em cidades diferentes estava ficando muito difícil. Jaque se mudou para Criciúma e foi morar com Angélica, se estabilizou num emprego e a vida recomeçou… Até começar a pandemia de Covid-19, onde trabalhavam de casa e passavam o dia inteiro juntas. No meio de tudo o que viviam, para garantir direitos e também celebrar o amor que resistia em tempos pandemicos, casaram-se no papel. Queriam fazer uma grande festa, mas não foi possível. Contam, rindo, que saíram do trabalho num dia chuvoso, foram até o cartório assinar um papel e assim que saíram de lá comeram uma coxinha e beberam uma coca-cola, foi a forma de comemorar. Quando nos encontramos para a documentação haviam recém trocado as alianças de namoro para de casadas, mesmo depois de alguns anos, porque queriam ter condições financeiras para comprar alianças legais. Estavam felizes com isso e fizeram questão de registrar nas fotos. Por mais que já passaram por muitas coisas boas juntas, existem também as difíceis, como a própria pandemia. Angélica perdeu a avó, uma das pessoas mais importantes da sua vida, e por conta do trauma desenvolveu alguns medos e fobias. A relação passou a significar apoio para além do romântico, Jaque se tornou um suporte imenso, um cuidado e ajudou no entendimento desses medos, de viver esse processo. Juntas, elas se apoiam em tudo. É nesses momentos que enxergam o amor de forma clara, refletido no cuidado, companheirismo, ajuda diária a enfrentar a vida. Angélica conta que acorda mais tarde, então Jaque tem todo o cuidado de preparar o café, pensar na rotina uma da outra, deixar os lanches prontos… E isso fala muito sobre apoio. O amor não precisa estar sempre no afeto físico. Ele está, também, na forma que elas sonham em viver da música e fazem o sonho virar realidade, investem em equipamento, em editais de cultura, vão atrás de shows para fazer… em toda a vez que dão as mãos e acreditam uma na outra. Falamos sobre trabalharem juntas, morarem juntas, viverem uma rotina muito intensa. Até para a própria documentação acontecer, batalhamos por um horário. E foi aí que citaram a maior dificuldade que passam atualmente: o cansaço que a rotina demanda. Existem alguns meios que recorrem para que isso não pese tanto, como a terapia, as longas conversas - nunca se veem brigando ou discutindo, mas conversando. Confiam muito uma na outra e isso é o que as movimenta, que mantém tudo em segurança. Se a rotina já é pesada, não querem que a relação também vire um peso. Angélica tem muito cuidado com a limpeza e cita que às vezes sente necessidade de limpar, ainda mais com os bichos em casa, não quer deixar o ambiente sujo para a convivência deles. Mesmo chegando exausta, arrasta os móveis, começa a limpeza… E a Jaque “pega junto”, em suas palavras, para limpar. Não era o que gostariam, prefeririam o descanso, mas reconhecem como a ajuda faz a diferença. Isso também fala sobre o amor, sobre poder contar, sobre não deixar de lado. ↓ rolar para baixo ↓ Angélica Jaque
- Fernanda e Talita
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Fernanda e Talita se conheceram no início de 2014, apresentadas por um amigo em comum - o melhor amigo de ambas. O interesse surgiu aos poucos, mas nenhuma das duas falou nada no começo, achando que poderia ser coisa da própria cabeça. Fernanda já tinha experiência em se relacionar com mulheres, então Tatá achou que, se houvesse algo ali, ela tomaria a iniciativa. Mas foi o contrário: depois de meses nessa dúvida silenciosa, Tatá percebeu que precisava agir. No verão de 2015, finalmente ficaram juntas. Na época, Talita morava em São Paulo, onde fazia residência médica. Fernanda, por outro lado, sonhava em se mudar para lá, mas a vida deu uma reviravolta. Tatá decidiu voltar para Maceió, e Fernanda acabou ficando também. Foi uma escolha que transformou tudo, e de lá para cá, já se passaram quase dez anos de companheirismo, desafios e conquistas. O início do relacionamento foi um processo para Talita. Demorou um tempo para aceitar que estava apaixonada por uma mulher, e até mesmo quando voltou para Maceió não foram de cara morar juntas. Passaram alguns meses morando em lugares diferentes, até que, em 2017, compartilharam o lar. Quando finalmente assumiu esse sentimento, não teve mais dúvidas e encarou tudo sem olhar para trás, de cabeça erguida, principalmente pelos preconceitos familiares. Entendem, também, que morar juntas trouxe a oportunidade de se conhecerem de verdade, lidando com as diferenças e descobrindo o quanto se parecem em visão de mundo, mesmo tendo personalidades diferentes. Fê lembra de uma conversa que aconteceu com Tatá logo no início sobre o machismo e como aí ela percebeu que, ao se relacionar com uma mulher, os desafios e as trocas eram diferentes. Até compôs uma música na época, falando sobre compartilhar tanto as alegrias quanto os momentos difíceis - e o relacionamento trouxe essa conexão profunda, onde não apenas se amam, mas também se apoiam em questões que só elas entendem. Tatá nunca havia morado com alguém antes, enquanto Fernanda já tinha experiência em dividir um lar com outras companheiras. No início, Fernanda fez questão de deixar espaço para que Tatá se adaptasse sem pressão, mas riem lembrando como eram diferentes as vivências. Ela admira o jeito da Tatá que está sempre disposta a crescer e se transformar, sem medo da mudança. “Tem coisas que a gente não consegue mudar, mas a maioria dá para ajustar”, diz Fernanda, reconhecendo que essa abertura para evoluir é um dos traços mais bonitos de Tatá. Fernanda entende que não é fácil mudar: as pessoas são mais resistentes à mudança, mas que Tatá muda porque entende que a mudança a torna uma pessoa melhor (e que sempre está disposta a ser melhor). É um desprendimento muito interessante. E uma das coisas que mais admira nela. Cartola, o cachorro, é parte essencial da família que construíram juntas. Fazem questão de levá-lo para todos os lugares possíveis, sempre respeitando seu bem-estar, reforçando esse vínculo. Ele as acompanha em shows, restaurantes, encontros com amigos e passeios. Para elas, amor está na lealdade e na confiança, no equilíbrio entre o vínculo profundo e a liberdade individual. Não precisam estar juntas o tempo todo, fazer tudo lado a lado, porque o amor não é sobre posse, mas sobre autonomia. “A gente ama quem a pessoa é e dá autonomia para que ela continue sendo, e isso faz com que o amor permaneça.” Essa segurança mútua torna a relação duradoura, sem a necessidade de provar constantemente algo que já está solidificado. Sentem orgulho em inspirar outros casais e reconhecem a amorosidade particular dos relacionamentos entre mulheres. Criadas por mulheres fortes, aprenderam a escutar e acolher. Suas histórias ajudaram a transformar as famílias, quebrando barreiras de preconceito e culpa cristã. Hoje, são admiradas pelos que antes hesitavam em aceitar. Demonstraram que o amor não precisa se restringir a guetos, que podem ocupar qualquer espaço, vivendo uma relação bela e legítima, sem constrangimento ou necessidade de esconder quem são. Fernanda estava com 43 anos no momento da documentação. É natural de Maceió, sempre foi cantora, desde a adolescência, e a música virou sua profissão e sua vida. Mas em determinado momento, sem perceber, passou a ouvir música apenas como estudo ou trabalho, perdendo o prazer diário da escuta que antes sentia. Foi Thalita quem a fez reaprender a ouvir música com emoção, a cantar alto, a abrir os braços para sentir o som. Um resgate que trouxe de volta muitas sensações sobre a música enquanto arte, não apenas trabalho na sua vida. Além disso, ama praia - seria muito difícil mora longe a água - e ama passar o tempo com Cartola, seu cachorro. Talita estava com 40 anos no momento da documentação. É médica cardiologista pediátrica, equilibra sua rotina intensa na medicina com os momentos que compartilha com Fernanda. A música é o que as une: cantam juntas, fazem carnaval, organizam blocos. Se estressam no processo, mas no fim do dia dormem juntas, acordam e encontram no amor um alívio para os desafios. Vivem Maceió, entre consultas e palcos, o amor e a arte se entrelaçam. Fundaram um bloco de carnaval na cidade muito importante para a narrativa da diversidade, fazem questão da população LGBT+ ser ouvida e acreditam que isso reverbera para diversos corpos e para a história da cidade ser cada vez mais reconhecida. ↓ rolar para baixo ↓ Talita Fernanda
- Opa, tão nos copiando por aí? | Documentadas
Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Vem participar você também! • como copiar o doc • que esse projeto é lindo a gente já sabe que todo mundo deseja ter um doczinho pra chamar de seu? é óbvio! mas tem gente ultrapassando os limites para chegar nesse objetivo papo reto: o doc é estudado projetado desenhado... não vamos aceitar cópia barata & cafona por aí. então, decidimos: opa, mas calma. caiu aqui de paraquedas e não tá entendendo nadinha? vem conhecer o doc antes! ♥ agora sim, parte 1: a nossa fonte > os nossos lambes a frase "toda mulher merece amar outra mulher" foi adotada pelo .doc a partir de uma documentação que fizemos na casa de um casal [e fotografamos ela em um objeto] em 2021. na época, postamos algumas vezes e recebemos alguns comentários dizendo que deveríamos fazer um adesivo com ela estampada. e não é que deu certo? foi crescendo, crescendo, e virou a cara do documentadas, sendo usada principalmente nos nossos lambes. até então, não disponibilizávamos esses lambes para colarem por aí, acreditamos que ele é a forma que o doc ocupa as ruas enquanto arte. mas agora você pode obter ele clicando aqui: baixar moldes dos lambes aqui #olha a dica! para colar os lambes direitinho, se liga nisso aqui: - pincel ou rolinho na mão; - superfícies lisas >> e não inventa de colar lambe em local privado sem autorização! por favor! dê preferência à postes e converse com o dono do local antes de sair colando por aí; - cola tipo PVA + água, misturadas em um recipiente, não deixando nem muito denso, nem muito líquido; - chama alguém para te acompanhar, não indicamos fazer a colagem sozinha; - deixa o lambe liso com a cola bem espalhada, assim garante a durabilidade :D espalhar a frase por aí com a nossa fonte e a nossa logo é importante para garantir a identidade e a representatividade do projeto, fazendo com que ele seja reconhecido facilmente e amplamente divulgado - afinal, é assim que chegamos em mais mulheres , né? não edite esse material nem recorte a nossa logo dele. colabore com a arte. parte 3: outros produtos do .doc temos outros produtos de alta qualidade que só a gente faz: quadros, camisetas e postais. esses, você encontra na nossa loja. ó a loja do doc, que linda • para entender melhor • por que a pirataria é mais barata? - material de baixa qualidade; - produção em escala absurdamente maior; - possuem fabricação própria; - não estudam e desenvolvem o material, apenas pegam o que já existe de artistas que produzem; - não possui serviço online de retorno (atendimento) - não enviam para todo o Brasil por que os produtos do .doc custam esse valor? - temos um material de melhor qualidade - não possuímos fabricação própria, inclusive temos gasto de frete buscando na cidade de fabricação; - pagamos uma plataforma de venda; - pagamos taxas bancárias a cada venda; - não temos equipe, tudo é feito por uma pessoa (humana & artista); - pagamos pelos materiais que acompanham a ecobag (panfleto pôster + adesivos brindes) + embalagem + etiquetas; - a ecobag é um produto que garante o projeto a se manter em funcionamento, ainda com margem de lucro pequena; - enviamos para todo o Brasil; - qualquer problema que você tiver com o produto (rasgou, não serviu, foi cobrado errado) estaremos aqui para te atender; vamos ensinar a copiar o doc. //como diria nossa mãe: "quer fazer? faz direito". parte 2: nossas ecobags são elas, as queridinhas da pirataria. para a nossa tristeza: porque a ecobag é o nosso principal produto. que vacilo, né? ainda por cima piratearam ela em comic sans. pô, não dá. pega aqui o molde pra fazer a tua. faz bonito, tá? baixar moldes das ecobags aqui [quer vender com a nossa autorização em alguma feirinha? manda um e-mail para nós através do nosso site ou diretamente para fernanda@documentadas.com ] ah, mas que trabalhão fazer, né? também acho. por isso, nossa ecobag está com 60% de desconto no site depois desse furacão que vivemos. sim, é para zerar o estoque. bora com a gente? vamos encarar a pirataria de frente e fazer a nossa ecobag estar pelo Brasil todo. o que faz do doc uma marca incomparável com a pirataria? somos um projeto artístico, estudado e executado com respeito. além disso, em cada produto adquirido você contribui para que mais mulheres tenham suas histórias registradas por todo o Brasil, num documento inédito e que, até o início do projeto, era inexistente. adquirindo um produto pirata, você só contribui para a desvalorização da arte.
- Jessica e Amanda | Documentadas
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Jéssica estava com 34 anos no momento da documentação. É natural de Maceió, capital de Alagoas e trabalha como designer gráfica em uma escola, com foco na criação de materiais pedagógicos para a educação infantil. Apaixonada pela profissão, encontra na criatividade uma forma de se conectar ao universo das crianças. Fora do trabalho, seu hobbie é amar café e cerveja: adora explorar botecos ‘raiz’ e estar entre amigos. Também gosta de conhecer lugares diferentes e conta que isso se intensificou depois de conhecer Amanda, já que adoram fazer isso no tempo livre. Amanda estava com 29 anos no momento da documentação e é advogada. Nascida em Santana do Mundaú, interior de Alagoas, cresceu em uma família com 12 irmãos. Entre idas e vindas da faculdade, viveu períodos em Maceió e outros em sua cidade natal, que fica a cerca de uma hora e meia da capital, numa rotina bastante puxada. Apaixonada por praia, pela convivência com a família e por encontros entre amigos, gosta também de programas mais tranquilos, seja em casa ou em saídas leves. Entre cafés, botecos, família e amigos, Jess e Amanda construíram uma relação de simplicidade e afeto. Jess e Amanda se conheceram em 2017, através de uma amiga em comum. Na época, ambas estavam em outros relacionamentos e, num primeiro momento, não houve aproximação imediata porque Amanda era mais introspectiva. A convivência foi crescendo quando Jéssica se mudou para perto dessa amiga, vizinha de Amanda, no mesmo condomínio. As visitas constantes tornaram a presença inevitável e a amizade aconteceu aos poucos. Por mais que já estivessem se acostumando com a presença uma da outra, o vínculo começou em torno dos desabafos: as duas compartilhavam experiências semelhantes sobre os relacionamentos que viviam porque estavam passando por momentos difíceis em suas relações. A amiga em comum, ao ouvir os desabafos, comentava sobre como iriam se identificar por viverem situações muito semelhantes. Esse processo de dividir e verbalizar dores abriu novos olhares para si mesmas e para a vida que levavam. E, conversando, também acolhiam uma a outra. Em 2018, Amanda terminou o relacionamento e voltou para o interior. Estava num momento muito delicado e precisava sair de Maceió. Ainda que distante, manteve breve contato com Jess. Eventualmente, voltavam a se encontrar por meio de amigos em comum, quando ela ia para Maceió. Tempo depois, quando ambas estavam solteiras, perceberam que a aproximação se intensificou. Sentem que se admiravam muito - a forma que enxergavam a vida, lidavam com as situações e a leveza com que conduziam conversas e encontros. Demoraram um tempo para entender que a admiração era desejo, os amigos perceberam que os olhares mudaram antes mesmo delas se darem conta, e aos poucos elas também se permitiram tentar transformar a amizade em algo a mais. Foi em 2019 que Jess e Amanda ficaram pela primeira vez. Após ficarem algumas vezes em 2019, Jess e Amanda entenderam que gostavam uma da outra, mas o grande divisor de águas foi a pandemia de COVID-19, em 2020. Amanda ainda morava no interior e enfrentava dificuldades para trabalhar em home office na casa da mãe, onde viviam muitas pessoas. Jess, por sua vez, morava apenas com a mãe em Maceió e também trabalhava remotamente. Para aliviar a situação, convidou Amanda a passar uma semana em sua casa, assim relaxaria um pouco e teria um espaço mais silencioso para o trabalho. O que era temporário acabou se transformando em permanente. A pandemia se intensificou, Amanda chegou com uma mochila e aos poucos levou suas coisas, até que passou a morar de vez com Jess e sua mãe. De 2020 a 2025, elas dividiram casa com a mãe da Jess, o que trouxe diversos desafios. Apesar de ser um período de fortalecimento do relacionamento e construção de família, a convivência foi marcada por momentos delicados. Amanda precisou lidar com restrições, já que ocupava uma casa que não era de fato dela e não podia reagir a certas situações como gostaria. Para Jess, havia também o peso da relação familiar. O processo de se assumirem enquanto um casal - e um amor entre mulheres - trouxe dor e resistência, mas também acolhimento. Conversas difíceis e importantes com suas famílias, sabedoria e concessões. Foram anos desejando ter seu próprio lar, mas ainda não tinham condições financeiras para isso, então resistiram até se estruturarem. No começo de 2025, conseguiram se mudar para uma nova casa. A mudança representou liberdade e a chance de construir juntas o lar que sempre desejaram. Reconhecem o caminho percorrido, os aprendizados conquistados e celebram a vida que estão conseguindo viver: podendo ser quem são. Com o tempo, Jéssica e Amanda conquistaram uma nova forma de estar no mundo. Hoje, as pessoas olham para elas e reconhecem que são um casal, que estão construindo uma família com carinho e afeto. Já não existe mais o medo de precisar esconder gestos, olhares ou palavras (e lutaram muito por isso). Essa naturalidade se reflete para os ambientes familiares, o trabalho, a vida em geral. A segurança existe perante a coragem de viverem de forma transparente. Para elas, estar em um relacionamento significa disposição: a entrega, a clareza sobre o que querem construir juntas e a vontade de assumir isso sem necessidade de validação externa. O amor se manifesta tanto na intimidade quanto na postura, em uma escolha consciente de não se encolher diante do preconceito. Como se conheceram compartilhando fases difíceis, ressignificaram isso e constroem uma relação baseada em confiança, respeito e admiração. A trajetória revela que a construção de uma vida em comum não se resume ao romance, mas passa também pela decisão diária de enfrentar o mundo lado a lado, sem abrir mão de quem são. ↓ rolar para baixo ↓ Jess Amanda
- Maju e Alícia | Documentadas
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. A história da Maju e da Alícia fala muito sobre aquele período que vivemos quando estamos descobrindo quem somos, ainda entre a pré-adolescência e a adolescência, elas se conheceram e vivem até hoje juntas, enfrentando muitos desafios (que outros adolescentes nem sonham em viver) e, principalmente, se fortalecendo juntas. Maju hoje em dia tem 17 anos e está se formando no terceiro ano do Ensino Médio, Alícia tem 16 e está no primeiro ano. Mas tudo começou bem antes, quando Alícia tinha cerca de 12 anos de idade e estava numa praça em Rio das Ostras, matando o tempo, com uma amiga. Nessa praça, diversos meninos andavam de skate, entre eles tinha uma menina, a Maju. No primeiro momento, Alícia não entendeu se a Maju era menino ou menina, perguntou para a amiga (que a conhecia, mas que também não sabia dizer o que ‘era’ a Maju) e isso automaticamente despertou uma curiosidade enorme na Alícia, que fazia de tudo para observá-la. Quando a Maju entendeu que estava sendo observada, quis chamar atenção. Caiu logo de bunda no chão. Mas levantou, se reergueu e foi lá falar com as meninas. Se apresentou para a Alícia e disse: vem cá, deixa eu te mostrar uma pessoa muito linda aqui de Rio das Ostras - e então entrou no Instagram dela mesma, curtiu todas as suas fotos (pelo perfil da Alícia) e depois saiu, andando de skate de novo. Nesse dia, a Maju levou uma bronca da mãe dela por ter faltado à fisioterapia, mas a resposta em desculpa que ela deu, foi: eu conheci a menina mais bonita da cidade. A Maju é natural de Goiás, mas está no Rio de Janeiro - mais especificamente em Rio das Ostras - há mais de 9 anos. Já a Alícia, é do Rio de Janeiro, capital, mora em Rio das Ostras mas intercala com alguns períodos no Rio, visitando familiares. Depois que elas tiveram o primeiro encontro na praça, a Alícia passou seis meses morando no Rio de Janeiro. Nesse período ficou olhando o Instagram da Maju, mas não interagiram nenhuma vez. Quando ela voltou para Rio das Ostras, começou a namorar um menino (esse que, a pediu em namoro na frente da escola toda, fazendo um vídeo que viralizou o Brasil - um namoro super arranjado com o auxílio da mãe) e duas semanas depois ela e a Maju se encontraram no aniversário de uma amiga em comum. Nesse primeiro encontro, a Maju tentou ficar com ela, mas não tinha como, ainda mais ela estando num namoro tão recente… então ela desviou de todas as formas. Depois disso, começou-se uma amizade, então elas saíram muitas vezes. A Maju dava em cima dela sempre, isso era um fato, mas era quase uma brincadeira também porque elas sabiam que enquanto estivesse namorando não ia rolar. O namorado da Alícia, enquanto isso, morria de ciúmes. E em casa, a Alícia não parava de falar na Maju, deixando a mãe dela muito desconfiada, dizendo: “Tu não vai se apaixonar por ela não, hein, Alícia??!!”. O tempo passou e o relacionamento da Alícia foi ficando muito difícil. Ela estava se sentindo numa relação completamente invasiva, tóxica, e todas as vezes que tentava terminar o namorado não a deixava. Ele simplesmente dizia que não permitia. Numa noite, foram num aniversário e ela já tinha tentado terminar três vezes, a situação estava péssima, um amigo dele passou mal e ele foi embora. Alícia ficou no aniversário, a Maju estava também e num momento determinado da noite elas decidiram dar um basta, chutar o balde: se beijaram. Porém, como era escondido, numa confusão a Maju fingiu que passava mal, a Alícia fingiu que ajudava, elas desligaram a luz da festa toda sem querer e aí virou confusão de verdade. Depois delas se beijarem, a Alícia viu a Maju dando em cima de outra menina e então ficou muito triste. No fim da festa, já com o dia amanhecendo, o namorado (ou quase ex?) fez questão de buscar a Alícia e ela não quis ir embora com ele, então ele gritou e brigou com ela. Quem deu suporte, novamente, foi a Maju. Depois dessa situação eles terminaram, afinal, não tinha como manter esse relacionamento. A Alícia passou um tempo breve no Rio de Janeiro e quando voltou para Rio das Ostras voltou a se encontrar com a Maju. Nesses encontros, ela entendeu que gostava de verdade da Maju, e isso, naquela época, era mais um problema do que algo bom. Ambas não sabiam como lidar com a situação, sabiam que a Maju não buscava relacionamentos, mas também já estavam muito envolvidas. Sentiam que precisavam encarar a situação. Decidiram seguir se encontrando, mesmo sem ninguém saber. Com o tempo, os amigos que sabiam, não torciam para que elas ficassem juntas: não confiavam que elas seriam fiéis uma a outra, ou melhor, incentivaram que não fossem - e assim não haveria relação saudável que se sustentasse. No período em que poucos apostavam no relacionamento delas, um pedido de namoro chegou a acontecer. Namoraram, mas entre situações caóticas, sentiam que não se acertavam. A mãe da Alícia descobriu, fez um escândalo na porta da escola, a agrediu. Tudo ficava muito difícil para que elas se encontrassem e nisso, a pandemia de Covid-19 começou. Elas chegaram a ficar um tempo distantes por conta da quarentena, mas não tanto tempo, como nas grandes cidades, pois lá os encontros foram voltando a acontecer aos poucos. A Alícia, junto com a família dela, abriu uma hamburgueria, e esse local virou um ponto de encontro... porém, todas as intrigas externas foram o bastante para que o namoro não seguisse em frente. Elas terminaram, ainda, em 2020. Foram cerca de 9 meses distantes. Nesses meses, por completa influência familiar, Alícia se relacionou com um menino extremamente abusivo, agressivo, que forçava presença. Ela chegou a pesar menos de 40kg. Ele, sabendo que no fundo ela ainda gostava da Maju, ameaçava bater na Maju quando a encontrava na rua. Alícia fez de tudo para sair desse relacionamento e quando conseguiu, conversou com a Maju. Elas se acertaram, mas não enquanto um casal, apenas voltaram a conversar. Nisso, a Maju encontrou a mãe da Alícia, tomou coragem e decidiu pedir permissão: para num futuro, se tudo desse certo, elas voltarem a se relacionar. Ela respondeu que se a Alícia estivesse feliz, ela estaria feliz também - porque ela percebia que o jeito que a Alícia olha para a Maju é diferente - e no fim elas se abraçaram. Elas voltaram a se envolver e a Maju pensou em a pedir em namoro novamente e dessa vez com tudo o que o brega permite: balões, chocolates, etc. Aconteceu! Porém, infelizmente, ainda passaram por muitas situações horríveis envolvendo o ex. Ele invadia a casa da Alícia, quebrava as coisas e obrigava ela a manter a relação com ele. Foi numa atitude extrema da mãe dela em expulsar ele de lá para que finalmente isso acabar. Porém, esses conflitos já tinham afetado demais a relação da Alícia com a Maju, era difícil que as confusões não as envolvessem. A Alícia seguia pensando na Maju e no relacionamento delas, enquanto a Maju, mais uma vez, se afastara. No natal, elas voltaram a se falar, por conta de uma coincidência. E assim, voltaram de verdade. Conversaram, se encontraram, conversaram também com suas famílias, decidiram que, se era para estarem juntas, dessa vez, era para ser de um jeito diferente - e com apoio de todos, com maior confiança, diferente de todas as outras tentativas. Hoje, acreditam que deu certo. No último ano passaram diversos perrengues que as fizeram crescer e se fortalecer enquanto um casal, juntas, e também enquanto uma família. Alícia e Maju deram apoio às suas mães, chegando a morar com a mãe da Alícia, todas num apartamento, num momento difícil. Alícia também morou com a mãe da Maju. E todas se dão muito bem, valorizam o relacionamento das filhas. Nesse último ano de estudo, finalmente estão na mesma escola. Os planos são, assim que concluírem, se mudarem para o Rio e estudarem Belas Artes. Hoje entendem que a confiança e a comunicação mudou muito e que isso é o principal para que o relacionamento delas funcione. Antes, tudo se quebrava, principalmente com 'picuinhas' ou comentários alheios, hoje, não há nada entre elas que não possa ser conversado. A intimidade que elas criaram juntas não há como ser quebrada e também faz com que elas não se julguem. Acreditam que, pelo tanto que já passaram uma ao lado da outra, o que viram entre seus momentos mais frágeis faz com que também possuam muita liberdade para serem quem são, sem medo. Antes, pensavam muito sobre serem perfeitas, buscavam perfeição, hoje aceitam seus corpos e a si como são. Isso também faz com que a confiança na relação mude, a segurança, a base no amor. Quando entendemos a recapitulação de tantas coisas que viveram sendo tão novas, estando juntas, elas entendem que esse amor é o que importa. A forma que se amam e que se apoiam é o mais importante nesse processo. E se surpreendem, o quanto isso é maneiro. Visualizar a linha do tempo e entenderem que seguem aqui - recapitulam o quanto pensaram em desistir porque era muito difícil se relacionar, mas que hoje é muito legal ver o quão bonito é o que criaram. E, então, sonham com novos passos: a mudança, um casamento, uma adoção. ↓ rolar para baixo ↓ ♥ manda uma mensagem de apoio aqui ☼ entre em contato com elas por aqui! ☺ vem construir esse projeto com a gente! < Alícia Maria Júlia
- Yulli e Nadine | Documentadas
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Yulli foi mãe muito nova então por muitos anos pensou que se ela era mãe, ela era hétero. Passou por um processo diferente onde foi entendendo sua liberdade, individualidade e possibilidade de amar outras mulheres… Conheceu Nadine num momento muito bom, onde já conseguia falar abertamente sobre aceitação - de amar outras mulheres e de amar a si mesma. Foi um momento em que estava aberta a viver um amor tranquilo. Estavam em um bloco carnavalesco bastante conhecido em Porto Alegre, o Bloco da Laje, em 2024. O evento estava no fim, foi na fila do banheiro químico. Nadine sempre amou o Bloco, enquanto Yulli ia pela primeira vez, com um grupo de amigas professoras. Antes de ir embora, Nadine foi ao banheiro e ouviu o grupo de amigas da Yulli falando que eram professoras e interagiu, por ser professora também. Entre aquela fila, o clima de carnaval e toda festa ao redor, elas se olharam e arrumaram uma forma de conversar. Foi quando Nadine perguntou a profissão da Yulli, ela disse que era professora também, lançou uma cantada e elas se beijaram. Trocaram Instagram, seguiram a festa. Aos poucos, interagiram com algumas curtidas no Instagram, puxaram alguns assuntos sobre política e marcaram de sair na semana seguinte. Não sabiam muito o que esperar desse encontro, poderiam se dar bem… mas também poderia ser algo completamente aleatório. Não se conheciam, não tinham amigos em comum ou sabiam os gostos. Só sabiam a opinião política, que trabalhavam na área da educação e que gostavam de músicas semelhantes - pelo o que viram nas redes sociais. Quando conversaram sentiram que tinham muitos pensamentos semelhantes, Yulli resume: “Eu pensei assim... Meu Deus, você conhece isso? Como assim? E aí... Nosso encontro... Foi muito bom”. Seguiram se encontrando. No segundo encontro, dias depois do primeiro, conversaram até às cinco da manhã num bar. Continuaram se vendo com frequência, mas Nadine garante que desde o segundo dia já estava apaixonada. Até verbalizou isso um dia para Yulli. Cerca de duas semanas depois, marcaram um encontro na Casa de Cultura Mario Quintana (local em que fizemos a documentação acontecer) para assistirem um filme no cinema, mas o filme foi péssimo, não entenderam nada, então decidiram sair e beber alguma coisa. Naquele dia foram ao mercado depois de beber, compraram coisas, montaram um jantar, dormiram juntas e pela primeira vez tiveram a experiência de ter um contato enquanto um casal. Acordarem, Nadine foi trabalhar, viveram o dia… Depois disso algo despertou sobre a vontade de viverem a relação, se conhecerem e estabelecerem essa intimidade maior. Num final de semana pouco tempo depois desse dia, estavam num bar com uma amiga da Yulli e enquanto Nadine foi ao banheiro, Yulli comentou: “Se der tudo certo em mais um mês, eu vou pedir ela em namoro”. Mal sabia ela que, ao voltar do banheiro, Nadine faria o pedido. Ela decidiu que estava sendo tão legal, tranquilo, que poderiam começar a namorar. Com pouco tempo desde o início do relacionamento, aconteceram as enchentes em Porto Alegre e a família da Yulli morava em um ponto muito vulnerável que foi tomado pelas águas. Nadine foi muito importante indo até a casa da irmã de Yulli, ajudando a limpar e estando presente. Nadine morava em Canoas, cidade que também foi muito afetada pelas enchentes, mas sempre fez questão de ajudar a família da Yulli. Em alguns momentos o trajeto que faziam em 15 minutos de carro chegou a demorar três horas. Reforçam como foi importante todo o tempo que passaram juntas, porque estavam muito vulneráveis não só pelo momento em si que era um momento doloroso, inseguro, mas pela falta d’água, por ver a família e os amigos em situações delicadas, por ter que ficar dentro de casa muitas vezes isoladas… No momento mais difícil a saída que arranjaram foi ir para o litoral, como boa parte da população, principalmente pela falta de água e luz. No meio de toda a dor, Yulli passou por um luto, Nadine foi grande suporte para que ela tivesse acolhimento e ajuda nos cuidados com os filhos. Nesse momento da documentação, inclusive, perguntei sobre a adaptação com os meninos. Como era o início da relação, como foi a apresentação de Nadine para os filhos de Yulli e como é a convivência hoje, visto que moram juntos. Nadine contou que nunca havia se relacionado com alguém que tivesse filhos, mas nunca foi um empecilho, sempre quis vivenciar isso. Eles demoraram dois meses para conhecê-la, mas ela usou uma tática que foi: levar seu cachorrinho, o Joaquim, já que criança adora bichos, assim já conquistaria eles de cara, e marcaram de passear no parque. Deu certo. O mais velho, Pedro, é mais observador, mas o Fernando é conversador e foi tranquilo. Foram construindo a relação e aos poucos surgiram as falas “O Fernando perguntou de ti…” “O Pedro perguntou de ti…”. Agora brincam muito juntos e Nadine adora a forma que foi recebida. Eles nunca nem cogitaram questionar o fato da mãe estar se relacionando com outra mulher. Yulli estava com 31 anos no momento da documentação, é professora e trabalha com alfabetização, ama sua profissão e é muito feliz nela. Também é mãe de dois meninos, o Pedro (com 9 anos) e o Fernando (com 5 anos). É natural de Porto Alegre, adora correr, praticar yoga e divide seu tempo de qualidade com os filhos e com o entendimento de não se esquecer enquanto mulher, indivíduo, que possui suas necessidades e que quer estar sempre em crescimento - ser uma profissional melhor, uma mãe melhor, uma companheira melhor. Nadine estava com 24 anos no momento da documentação, é formada em história e estudante de letras. Sempre esteve muito ligada à educação, política, ao movimento social e acredita que a educação é capaz de mudar qualquer pessoa. Adora estar com os amigos, na rua, conhecendo pessoas. Se entende desde muito nova enquanto mulher lésbica e sempre foi muito aberta quanto à isso, com seus pais e as pessoas com quem convive. É uma mulher neurodivergente, uma pessoa com TDAH e conta que aprendeu a viver com isso, e também está aprendendo a ser madrasta, construindo essa troca de amor com os meninos. Hoje em dia, Yulli e Nadine já adotaram outra cachorrinha, a Laika, e indo morar juntas uniram o Joaquim (que era cachorrinho da Nadine) com o Sombra, gato da Yulli e os meninos, Fê e Pedro, viraram uma grande família. Yulli enxerga o amor que vivem dentro dessa família no poder da escuta, da conversa e do cuidado - é onde conseguem se olhar e conviver sem apontamentos, julgamentos, sendo acolhedor estando confortável na liberdade de poder ser quem você é. Explica que surgem questões e que conseguem separar o que é da relação e o que não é, por exemplo: isso aqui vem de antes, preciso trabalhar na minha individualidade. E entende que isso também é cuidado e responsabilidade afetiva. Nadine explica que vê política em tudo e às vezes fica até mal com isso, Yulli acaba tendo que consolar ela sobre o quanto a política afeta sua vida. Mas não consegue não vincular o amor que vivem com um impacto extremamente político. Não saberia viver esse amor hoje se não tivesse construído várias etapas na sua vida, sendo a adolescente que se entendeu lésbica, se não tivesse tido todas as conversas que já viveu com sua família, se não passasse por sua militância que a construíu como mulher… Hoje em dia vê o amor que constroem chegando nos seus pais e na família de Yulli, eles brincando com os meninos, os meninos tomando banho de mangueira, é uma experiência única porque é o amor reverberando para outros lugares - virando a educação deles e virando um espaço seguro para todos eles viverem enquanto uma família. ↓ rolar para baixo ↓ Yulli Nadine
- Carol e Gabi
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. A conexão entre Carol e Gabi foi acontecendo aos poucos, quase por acaso. Frequentavam os mesmos espaços, Carol era amiga da irmã da Gabi e isso fez com que Gabi até fotografasse a Carol em um evento, mas nunca prestaram real atenção uma na outra. O primeiro contato mais direto aconteceu em um evento de fotografia, em 2017. Quando Gabi chegou e reconheceu Carol pela voz, se apresentou de forma animada dizendo que ela era a Gabi, que tinham amigas em comum. Ao contrário do que Gabi na hora esperou, Carol não demonstrou o menor interesse na informação. Ela ficou até um pouco sem jeito, desconcertada, pensou ter sido expansiva demais. Depois do evento e da situação, Carol decidiu seguir Gabi nas redes sociais. No evento em si, não trocaram mais nenhuma palavra. Mas, aos poucos, começaram a interagir online. Em 2018, sem ainda serem exatamente amigas, viajaram juntas para um congresso de fotografia. O motivo foi objetivo: dividir os custos (arrumar um hotel ou apartamento para ficar, dividir os transportes…). Mas essa convivência inesperada mudou a dinâmica entre elas. Gabi, que até então era casada, viveu seu relacionamento até 2019. Conversava muito com seu ex-marido e parceiro de tantos anos, até o momento que entendeu que não cabia mais estar em um relacionamento com um homem. Depois que se separou, viveu um ano de mudanças muito intensas em si. Em 2020, ela e Carol começaram a se relacionar. Aos poucos, foram compartilhando a novidade com os familiares - o maior medo de Gabi sempre foi a reação do filho - e, no dia da conversa, tomada pela emoção, chorava muito enquanto contava… mas ele agiu da melhor forma possível, dizendo: “Você tá chorando por quê, menina? Ah, deita aqui. Que besteira. É importante você ser feliz”. E descreve a sensação de alívio e de acolhimento. Desde então, ela e Carol seguem juntas, mas só em 2021 que de fato Carol começou a frequentar mais a casa de sua família e, em 2022, decidiram morar juntas. Gabi já vivia uma série de mudanças desde 2019, que foi um ano de transformação. Porém, em 2020 com a pandemia de Covid-19 sente que as mudanças deixaram de ser internas para serem externas, todos estavam em mudança (e ainda mais drásticas). Nos primeiros meses da quarentena, ficaram sem se encontrar. Em 2021, Gabi pegou Covid e sentiu muito medo. Ao mesmo tempo, havia os receios do relacionamento: como contar para a mãe, para a irmã? Tudo estava acontecendo ao mesmo tempo e foi necessário se reorganizar em meio às inseguranças. A relação de Carol e Gabi trouxe transformações profundas para ambas. Gabi observa o quanto Carol mudou - antes, ela jamais aceitaria aparecer em frente a uma câmera, e agora, não só topou a documentação da história delas, como se empolgou com a ideia. Isso as fez refletir sobre como, apesar de fotografarem tantas famílias diariamente, pouco documentavam suas próprias vidas assim, contando a história. Dessa vez, entenderam a importância de registrar essa trajetória. O início não foi fácil. A mãe de Gabi se opôs à relação, mas, em 2020, tudo mudou. Com o diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica do pai, Gabi já havia vendido o carro após a separação, e Carol esteve presente em todos os momentos, ajudando Gabi e a mãe a levá-lo onde fosse necessário. Esse cuidado foi essencial para transformar a relação entre elas, e hoje, são muito próximas. Para Gabi, isso reflete a essência de Carol: alguém que se doa, cativa e constroi laços verdadeiros. Essas vivências só reforçaram que o amor entre elas é uma escolha diária. A maturidade trouxe essa certeza. Não é apenas o desejo de estar juntas, mas a decisão de construir algo sólido. Gabi sempre foi vista como uma pessoa alegre, mas, por muito tempo, sentia que não tinha sonhos, que não se via no futuro. Até perceber que essa falta de perspectiva vinha de sua própria história e que era possível mudar isso. Hoje, ao lado de Carol, ela se permite sonhar. Planeja. Visualiza o futuro. E percebe o impacto disso em todas as áreas das suas vidas (pessoal e profissional): uma impulsiona a outra a enxergar mais longe. Gabrielle estava com 37 anos no momento da documentação. É natural de Maceió, mãe de um adolescente de 15 anos. Sempre se reconheceu como bissexual, mas entende que parte dessa vivência foi moldada pela heterossexualidade compulsória e pelas expectativas da família tradicional brasileira. Quando seu filho completou 10 anos, tomou a decisão de se assumir e iniciar um novo capítulo ao lado de Carol. Atualmente, trabalha enquanto fotógrafa e artista visual, se destacando por seus trabalhos com retratos; Além disso, é funcionária pública há 17 anos, trabalhando como secretária em uma escola. Seu tempo livre é preenchido com literatura, música e artes, suas grandes paixões. Carolina estava com 37 anos no momento da documentação. Também fotógrafa, nasceu em Maceió, mas passou boa parte da vida no Rio de Janeiro, além de outras cidades antes de retornar à sua terra natal. Seu trabalho transita por diferentes universos (ensaios, shows, casamentos) e sua paixão por música a acompanha dentro e fora da fotografia. Adora assistir a shows ao vivo, sair para beber uma cerveja e explorar a cidade. O relacionamento entre elas trouxe transformações significativas, especialmente para Carol, que sempre teve hábitos muito fixos e gostos bem definidos. Com Gabi, passou a se permitir experimentar mais, explorar novos caminhos e redescobrir o prazer da novidade. Juntas, construíram uma relação baseada na troca, no respeito e no amadurecimento. Se impulsionam a sonhar, a expandir horizontes e a se reinventar todos os dias. ↓ rolar para baixo ↓ Gabi Carol
- Sue e Sil
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Sue estava com 64 no momento da documentação e nasceu em Salvador. Quando seus pais se separaram, mudou-se para Maceió com a mãe, que trabalhava na Petrobras. Em seguida, viveu no Rio de Janeiro sua maior infância até os 25 anos, formando-se com forte influência carioca. Em 1998, retornou à Maceió para atuar no Teatro Deodoro, onde conheceu Silvana. Hoje, compartilham a vida e o trabalho, dirigindo juntas uma produtora cultural. Silvana estava com 58 anos no momento da documentação, nasceu em Maruim, Sergipe, e chegou em Maceió no ano de 1982. Jornalista, radialista e produtora cultural, sempre esteve ligada ao meio artístico. Criou o primeiro caderno de cultura do principal jornal da cidade e, posteriormente, trabalhou no Teatro Deodoro. Como frequentadora assídua das artes cênicas, encontrou lá uma verdadeira realização profissional. A relação entre elas começou pela admiração no trabalho. Durante as trocas na rotina do Teatro Deodoro, Sue já nutria sentimentos por Silvana. Juntas, fizeram uma verdadeira revolução artística na cidade, reabrindo um teatro centenário que ficou 11 anos fechado e que nem era mais considerado. Sem a facilidade da internet, num mundo de comunicações por fax, enfrentaram desafios para recolocar o espaço no circuito cultural nacional. Entre projetos, parcerias e grandes aprendizados, construíram um vínculo que ultrapassou o trabalho, tornando-se um amor sólido, baseado no respeito, na arte e na construção de um legado cultural alagoano. Sue conta que a relação sempre esteve entrelaçada ao trabalho, especialmente no início, quando chegou de Salvador após uma outra relação turbulenta que havia acabado. Trouxe consigo uma bagagem cultural fresca da Bahia e do Rio de Janeiro, que se refletiu no que estavam construindo no Teatro Deodoro. Juntas, ela e Sil levantaram diversos espetáculos e recolocaram o teatro no mapa cultural do Brasil, elevando o profissionalismo artístico em Alagoas - tudo isso sob a liderança de duas mulheres lésbicas, importante ressaltar. Ambas sempre se entenderam como lésbicas e viveram essa identidade de forma natural dentro dos meios culturais que frequentavam. Nos anos 70, 80 e 90, Sue no Rio e Sil em Sergipe encontraram espaços onde a sexualidade não era um tabu. No entanto, conversam muito e sentem que hoje as coisas estão dentro de muitas “gavetas” Estas “gavetas” estão aí para realmente trazer liberdade, identidade, autonomia e auto afirmação do que cada um é, mas muitas vezes acabam dividindo mais, se tornando uma separação. “E eu não gosto de separação. Eu gosto de tudo misturado. Não gosto de ambientes que são só isso ou só aquilo. Gosto de gente.” Por conta do trabalho, Sue e Sil abriram mão de viver uma rotina mais romântica. Como passam a maior parte do tempo juntas, lidando com demandas intensas e muitas pessoas (ainda mais agora, com o escritório dentro de casa), aprenderam a valorizar os momentos de tranquilidade a sós. Para elas, esses instantes de calma são essenciais para manter o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Elas reconhecem o impacto do que fizeram: duas mulheres liderando espetáculos em Alagoas era algo inédito. Foi assim que se encontraram, criando projetos culturais transformadores, como o “Teatro é o Maior Barato”, que democratizou o acesso ao teatro com ingressos a R$ 1,99, e espetáculos que circulavam pelo estado. Além de movimentar a cena artística, construíram uma relação de pertencimento com o público, que passou a ver o teatro como um espaço acessível e vibrante. Sil sempre teve paixão pelo jornalismo e adorava sair pelo estado imaginando matérias, transformando a busca por pautas em uma brincadeira. Como o mercado era novo, havia muito a explorar: tudo era cultura. Até os anos 90, Alagoas sequer tinha uma coluna dedicada ao tema nos jornais, sendo reduzido a notas esporádicas indicando filmes ou menções na coluna social. Criar um espaço fixo para a cultura se tornou um vício, um compromisso de dar voz e visibilidade à produção artística local. A relação começou de forma intensa, marcada por um gesto simbólico: Sue morava em um lugar muito quente, sem estrutura porque havia recém se mudado, e Sil apareceu com um ar-condicionado de presente. “A gente já tinha começado a namorar, ela chegou lá em casa, um forno! No outro dia, chega com o ar-condicionado… e depois ela.” Foram se envolvendo e percebendo que compartilhavam o mesmo ritmo e gostos. Hoje, olham para trás e se surpreendem: “25 anos de relação! É muito tempo! Mas, ao mesmo tempo, a gente vai se descobrindo e redescobrindo.” Atualmente, moram ao lado da família de Sil, para estarem próximas da mãe idosa, em uma vila acolhedora e repleta de gatos. Recentemente passaram por uma grande reforma em casa, o que exigiu ainda mais energia e paciência. Refletem sobre as inúmeras crises que enfrentaram - principalmente financeiras, pela instabilidade do trabalho em um país que não valoriza a cultura - e reconhecem que nem todo casal suportaria esses desafios. Mas atravessar tudo isso juntas fortaleceu ainda mais o amor. Entre noites que se olham antes de dormir e percebem o cansaço e momentos de conexão, sabem exatamente como lidar uma com a outra, guiadas por maturidade e intimidade construídas ao longo desses 25 anos. Sue sente que Sil trouxe um chão para sua vida, mesmo quando ela mesma diz se sentir insegura. “A Sil trouxe para mim, apesar dela dizer que não lida, que enlouquece, que fica insegura, mas ela trouxe para mim, para a minha vida, uma segurança em um lastro, um chão, que é tão importante. Eu nem sei se estaria nesse plano ainda. Porque eu era muito desligada, muito apaixonada por tudo, entrava de cabeça em tudo, de tudo, de trabalho. E a Sil, sem impor nada. Ela veio, foi amor mesmo, com o amor dela. E ela me acolheu de uma forma que eu cresci. Me tornei uma pessoa muito melhor. Para mim mesma.” ↓ rolar para baixo ↓ Sil Sue
- Quero participar! | Documentadas
Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Vem participar você também! QUERO PARTICIPAR! COMO FAÇO PARA ME INSCREVER? É muito mais fácil que você imagina ♥ Você e sua companheira gostariam de ser fotografadas e participar do projeto? Preencha os campos a seguir e em breve entraremos em contato com você! É importante ressaltar três coisas: 1. Só documentamos e registramos casais. Entendemos a importância de cada mulher enquanto um ser único nesse mundão! Mas nosso objetivo é registrar o amor entre mulheres.* 2. Acabamos registrando mais casais entre o Rio de Janeiro e Porto Alegre devido aos locais de residência, mas o projeto vive em movimento com o intuito de documentar o amor entre mulheres por todo o Brasil, então: não desanima se você morar longe! Pelo contrário: têm casais de amigas que topariam participar também? Chama elas e se inscrevam juntas! Assim, quanto mais pedidos, mais chance de ir até vocês. 3. Fazer o Documentadas dá trabalho! Sou em uma fotógrafa só (mulher, artista-independente) com um projeto artístico e social que demanda muito financeiramente. E por isso, cobramos um valor simbólico. Explicamos tudo no link da inscrição, mas você pode tirar dúvidas sempre ♥ Sua participação é muuuuito importante para nós. * caso você queira muuuuuito ser fotografada de forma individual, pode adquirir nossos serviços pedindo um orçamento de ensaio fotográfico. manda mensagem pra gente através da aba 'contato', ok? até logo! INSCREVA-SE AQUI
- Emily e Raissa | Documentadas
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Emily e Raissa se conheceram em 2020, no auge da pandemia de Covid-19, através de um grupo no WhatsApp com mais de 200 fãs de Camila Cabello e Fifth Harmony. Emily, passando por um momento difícil, encontrou conforto nas músicas da banda por sugestão de uma amiga - a mesma que sugeriu a entrada dela no grupo para interagir com outras pessoas. No início, Emily era mais reservada, mas achava divertido o jeito de Raissa, que frequentemente saía e entrava no grupo, geralmente irritada com algum acontecimento. O primeiro contato direto aconteceu de forma despretensiosa, numa conversa sobre alturas, quando Emily comentou que Raissa era muito baixinha. Com o tempo, as interações cresceram, mesmo enquanto Raissa flertava com outra garota de Manaus, algo que Emily chegou até a incentivar. Porém, meses depois, as duas perceberam que gostavam uma da outra e, sem hesitar, assumiram isso diretamente no grupo, na frente de todos. Era improvável, achavam que nunca aconteceria nada porque consideravam a longa distância entre os estados e o fato de nunca terem se visto pessoalmente, mas decidiram levar a diante. “Qual a probabilidade de dar certo?” Com o passar do tempo, foram ficando cada vez mais próximas e com a conexão fortalecida. Raissa adotou uma gatinha que virou a mascote do grupo, e elas se acostumaram a lidar com a diferença de fuso horário entre Manaus e Sergipe. Até a família de Emily já reconhecia Raissa e as amigas do grupo como parte da rotina porque Emily estava sempre em chamadas ou conversas online. Quando se deram conta de que estavam completamente entregues à relação, oficializaram o namoro online, que durou mais de um ano até que finalmente se encontraram pessoalmente. Namorar online por um ano sem se encontrar pessoalmente foi um desafio que trouxe muita ansiedade para Emily e Raissa. Elas sabiam que a distância não era fácil de superar - e para completar, a passagem era cara, não havia como pegar um ônibus, e seria necessário economizar muito para um encontro que, inevitavelmente, mudaria suas vidas. Mesmo com essa consciência, os meses tornavam a espera mais difícil. Pequenas discussões começaram a surgir (e aumentar), dormiam pouco, estavam se desgastando pessoalmente e cogitaram, inclusive, se bloquear e abandonar a relação antes mesmo de se encontrarem. No meio desse turbilhão, Emily sonhava em entrar na universidade. Porém, nunca havia se inscrito no ENEM, desacreditava em ser capaz. Foi Raissa quem insistiu, incentivou e esteve ao seu lado nos estudos. Mesmo nos momentos mais tensos do relacionamento, quando pensavam em desistir e se bloquearem, Emily pediu que Raissa não se afastasse, dizendo que precisava do apoio naquele momento. A aposta deu certo: Emily passou no ENEM e, pouco depois, ganhou a bolsa de estudos, que usaram para comprar o computador que usam hoje em dia nos estudos em suas ambas graduações. Com essa nova conquista, a conversa sobre o tão aguardado encontro voltou a acontecer. Decidiram dividir o custo da passagem: Emily pagou metade, e Raissa a outra metade. Mesmo assim, o medo persistia. “Você quer vir mesmo? É outro estado... Outra cultura... Sua família está aí”, questionava Emily. A viagem, que inicialmente seria para dois meses, era um teste: entender como lidariam com a nova cultura, com o dia a dia juntas e, principalmente, com a relação que construíram à distância. Não saberiam ainda se seria um namoro ou uma grande amizade. Um dos maiores desafios para Raíssa ao sair de Manaus foi contar para os pais sobre a viagem. No início, eles não acreditaram que ela realmente iria. Quando o dia chegou, tentaram impedir, mas, sendo maior de idade, ela manteve sua decisão. No entanto, toda a confusão acabou fazendo com que perdesse o voo. Depois de conversar com a família, garantindo que voltaria em algum momento, recebeu o aval deles para seguir em frente. Chegando a Aracaju no final de 2021, logo no primeiro mês Raíssa conseguiu se sentir bem na cidade e arranjou um emprego. Viu a relação dar certo com a Emily, superou os medos e as inseguranças. Embora tivessem receio de que a convivência mudasse físicamente, perceberam que a conexão construída online era verdadeira, não eram “personagens”; E mais que isso: tinham uma mentalidade de que seriam mais amigas do que namoradas, apesar de todos ao redor afirmarem o contrário, mas logo se renderam ao óbvio: oficializaram o namoro novamente pouco depois dos primeiros dias juntas. Até hoje, Raíssa não voltou a Manaus, mas carrega o desejo - e a saudade - de reencontrar sua sobrinha, amigos e familiares. No entanto, já está adaptada à vida no Sergipe e pretende continuar construindo seu futuro ao lado de Emily, com quem compartilha uma história de desafios e cumplicidade. m 26 anos no momento da documentação. Nasceu em Aracaju, mas morou boa parte da vida em Itaporanga d’Ajuda, cidade sergipana. Hoje em dia reside próxima da universidade, num local chamado Rosa Elze, onde estuda Leitura de Espanhol na UFS e trabalha em projetos acadêmicos. A mudança foi necessária após um tempo enfrentando a rotina exaustiva de acordar cedo e voltar praticamente de madrugada, por longas horas de transporte público. Além do trabalho e dos estudos, Emily aprendeu com Raissa a se apaixonar por jogos clássicos como Super Mario, também adora filmes de comédia, animação e ouvir música. Raissa estava com 22 anos no momento da documentação. Nasceu em Manaus e está em Sergipe há pouco mais de dois anos. Em 2024, começou a cursar Ecologia na UFS e trabalha como auxiliar administrativa. Fã de jogos online, ela também é apaixonada por cinema, compartilhando com Emily o gosto por momentos tranquilos e divertidos. Agora, Raíssa e Emily dividem a vida em uma casa que se tornou cheia de afeto e propósito. Elas moram sozinhas, mas compartilham o lar com o irmão mais novo de Raíssa, uma criança extremamente carinhosa, que ama estar com elas. As famílias das duas também apoiaram como esteve ao alcance: os pais de Raíssa ajudaram com eletrodomésticos, e a família de Emily oferece suporte estando próxima. Vivendo na cidade próxima à universidade, encontraram um equilíbrio onde tudo é mais acessível e a rotina faz mais sentido. Para Emily, o relacionamento é um porto seguro. Elas aprenderam a identificar os momentos de ansiedade uma da outra e a criar um espaço de calma e cuidado. A universidade, que sempre foi um grande sonho, representa uma nova possibilidade de futuro, construído juntas. Apesar das noites em claro estudando, trabalhando e enfrentando os perrengues que não são fáceis, elas reconhecem como é importante ter esse apoio em cada etapa - seja lidando com os compromissos acadêmicos, seja lidando com as demandas da casa ou com as demandas familiares. Raíssa sente orgulho do que construíram e da admiração que recebem dos amigos e familiares. Ela valoriza profundamente o vínculo, o apoio e a sensação de estar formando uma família, ama estar com o irmão da Emily e sente que o lar é um espaço que vai muito além do cotidiano, mas que reflete a vontade de crescer juntas, um encaixe. ↓ rolar para baixo ↓ Raíssa Emily
- Psicólogas disponíveis | Documentadas
O Documentadas oferece apoio psicológico para mulheres que amam mulheres e fazem parte da comunidade LGBT. nossas profissionais disponíveis Ana Carolina Psicóloga Psicóloga pela Universidade Federal Fluminense - mestrado em Psicologia Social na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. CRP 05/58463 Leia mais Talyta Psicóloga Psicóloga - graduada pela Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) - estudos em psicanálise. CRP 06/169049 Leia mais Marina Albuquerque Psicóloga Psicóloga graduada pelo Centro Universitário IESB e especialista em Psicologia Humanista. CRP-01/19203. Leia mais Mariana Milan Psicóloga Psicóloga formada pela Universidade Federal de Santa Catarina. CRP 12/26613 Leia mais Camila Psicanalista Psicanalista. Membro provisório do Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre/RS (CEPdePA) e Advogada Especialista em Direito Público Leia mais Ana Clara Ruas Psicóloga Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em Niterói. CRP 05/66226 Leia mais Maria Clara Goes Psicóloga Psicóloga mestra sobre saúde sexual de mulheres cis lésbicas, pela Universidade Federal da Bahia. Praticante da Psicanálise - CRP 03/27093 Leia mais Maria Freire Psicanalista Psicanalista pela Escola Letra Freudiana. Doutorado em filosofia. Leia mais Viviane Psicóloga Psicóloga graduada pela PUCRS, especialista em Clínica Psicanalítica (UFRGS) e mestre em Psicologia Social na UFRGS. CRP: 07/23395 Leia mais Júlia Psicóloga Psicóloga - Mestrado na Universidade Federal Fluminense em Psicologia - CRP 05/60076 Leia mais Larissa Psicóloga Psicóloga formada pela Universidade Anhembi Morumbi em São Paulo. CRP 06/161422 Leia mais Ariadne Sitaro Psicóloga Psicóloga Pós Graduanda em Gestalt Terapia e Reprodução Humana Assistida. CRP 02/28387 Leia mais Thays Waichel Psicóloga Psicológa graduada pela Universidade Luterana do Brasil - Canoas/RS Ênfase em Orientação Psicanalítica. CRP 07/37003 Leia mais Ana Flávia Psicanalista Pedagoga pela Universidade Federal do Paraná e psicanalista pela Associação Livre Centro de Estudos em Psicanálise Leia mais Raquel Psicóloga Psicóloga formada pela Faculdade de Pato Branco/FADEP Pós-graduação em Gênero e Sexualidade. CRP 12/23076 Leia mais Gabryella Neves Psicóloga Psicóloga Clínica, formada pela Universidade da Amazônia CRP 10/10695. Leia mais Priscila Dornelas Psicóloga Formada em 2022 pela UNIBRA – Centro Universitário Brasileiro. Atuo pela Abordagem Centrada na Pessoa. CRP 02/29904 Leia mais Jamyle Psicóloga Psicóloga - Mestrado em lesbianidades a partir de uma perspectiva interseccional, pela Universidade Federal do Ceará. CRP 11/18191 Leia mais Deyse Van Der Ham Psicóloga Psicóloga - Especialista em Políticas Públicas e Assistência Social pela PUCRS. CRP 07/24426 Leia mais Laís Tiburcio Psicóloga Psicóloga Clínica, Pós-graduanda em Gênero & Sexualidade, formação em Politica Nacional de Saúde LGBT. Estudos em Psicanálise. CRP 05/57276 Leia mais Paula Martins Psicóloga Psicóloga, formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pós graduanda em Psicopedagogia. CRP 05/63682 Leia mais Caroline Afonso Psicóloga Psicóloga - formada pela Universidade Luterana do Brasil Canoas/RS. CRP 07/38059 Leia mais Rayanne Moreira Psicóloga Psicóloga clínica, Pós-graduada em Gestalt-terapia. CRP 05/57973 Leia mais Gabriela Nunes Psicóloga Psicóloga formada pela UNISINOS e pós-graduanda em Psicologia Clínica pela PUCRS. CRP 07/41102 Leia mais Kíssila Psicóloga Psicóloga formada pela UFF e pós-graduanda em Fenomenologia Decolonial e Clínica Ampliada pelo NUCAFE. CRP 05/69513 Leia mais Maria Célia Psicóloga Psicóloga clínica e social, PUC Minas (campus Poços de Caldas) e mestre em Psicologia pela UFMG. CRP: 04/78352. Leia mais Jade Psicóloga Psicóloga pela Universidade Federal Fluminense - mestrado em Psicologia Social na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. CRP 05/58463 Leia mais para fazer cadastro, basta ler sobre as psicólogas disponíveis, preencher o formulário em cada "Ler Mais" e aguardar o nosso contato! caso tenha alguma dúvida, nos mande um alô por aqui :)
- Flavia e Olga | Documentadas
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Olga estava com 34 anos no momento da documentação, é natural de Recife e mora em Paulista, Pernambuco. Formada em Engenharia Química, possui mestrado e doutorado em Engenharia Mecânica e atualmente trabalha com Engenharia de Software. Entende que não é só das engenharias e das exatas, mas também das artes: adora desenhar, cantar e escrever. Recentemente recebeu o diagnóstico tardio de autismo e TDAH, o que a fez entender diversas coisas e melhorar sua qualidade de vida, podendo visualizar e respeitar seus limites. No tempo livre, adora ler, praticar esportes, ter conversas longas e consumir arte. Flávia estava com 31 anos no momento da documentação, é natural de Recife, mas ainda adolescente se mudou para Paulista e cresceu na cidade. É professora de história por formação e estava ocupando o cargo enquanto vereadora na cidade de Paulista quando nos encontramos. Flávia começou sua militancia no movimento estudantil, participou de alguns movimentos que buscam assistência estudantil para estudantes de origem popular, fez parte de movimentos sociais e se tornou a primeira vereadora negra e lésbica da cidade. É apaixonada pela rua, por estar com as pessoas conversando, no barulho, ouvindo música, falando sobre política… Gosta de fazer política de verdade, até nas folgas está lendo, vendo vídeos e debatendo com alguém. Depois da pandemia de Covid-19, Flávia fez questão de ter sua militância mais voltada para a cidade de Paulista. Sempre saía de casa e se deslocava à capital para participar das atividades, até que começou a pensar em atividades para sua própria cidade, desde ações do Dia da Consciência Negra, até debates pensando mudanças que queriam para a cidade em si. Foi então que, aos poucos, começou a se desenvolver em Paulista, conhecer mais lideranças - e até mesmo se tornar uma - entender que essa era a prioridade. Hoje em dia, a vida em Paulista é muito mais que o trabalho e a casa: é o terreiro, a avó, a irmã, a família, a política que constroem e acreditam, o filho, o relacionamento, o lar. Olga sempre gostou de fazer poesias, em sua maioria tratando sobre temas políticos, e foi quando descobriu o Slam das Minas que começou a se aproximar do movimento de rua e da militância. Em 2018, ano de eleição, Flávia foi para a reunião de candidaturas do partido e percebeu que todas as pessoas eram brancas, metade era composta por homens. Tomou iniciativa porque não se sentiu representada, decidiu colocar seu nome, se tornar candidata à Deputada Federal. Não tinha ideia de como seria fazer uma campanha, mas começaram a se organizar. Nessa organização, criaram um evento de lançamento e chamaram algumas mulheres para participar, inclusive o Slam das Minas, fazendo o convite para Olga recitar um poema. Olga pesquisou um pouco sobre quem era Flávia, para não chegar lá, num evento de política, sem saber onde estava se metendo. Queria estar alinhada, ouvir as propostas. Decidiu conhecer Flávia pessoalmente antes do evento acontecer. Na época, a campanha foi feita como dava: Flávia foi morar no comitê, que era um apartamento bem pequeno no centro de Recife. Estava num dia tentando descansar nessa casa/comitê/escritório e Olga apareceu para conhecê-la. Como esperava ver uma pessoa com pose de Deputada, ficou logo na dúvida se era mesmo Flávia ou não… Achou melhor perguntar logo: “Tu é Flávia, é?!”. E ela respondeu que sim, que talvez conhecesse Olga de algum lugar. Claro, ela sabia que conhecia do Slam das Minas. Sentaram para conversar, falou dos projetos, mostrou panfletos… Pensaram juntas: “Finalmente uma pessoa que pensa como eu!”. Olga conta que o discurso vago na política era algo que a incomodava muito, sempre falavam o quanto a diversidade é importante, o quanto era importante fazer algo, mas nunca era feito, nunca havia proposta efetiva. E ali, independente de um mandato ou não, era o movimento que estava sendo proposto: nós somos o povo, nós quem precisamos fazer algo. O lançamento da Flávia foi um sucesso, coisa que nem o próprio partido esperava, muita gente da cultura estava presente, pessoas representando a militância negra… e quando terminou foram todos para um bar comemorar. Flávia estava muito feliz, estava abraçando as pessoas e abraçou muito Olga. Conta que não é uma pessoa afetuosa fisicamente, mas naquele dia estava muito contente, ficava demonstrando muito para Olga essa felicidade. A vida seguiu depois do lançamento, seguiram os compromissos e começaram a interagir pelas redes sociais. Entre curtidas, comentários e conversas, surgiu um novo evento que seria a inauguração do comitê de campanha. Se beijaram pela primeira vez neste dia, depois de tentarem entender se iria rolar ou não, porque queriam mas estavam tímidas (e as coisas estavam acontecendo todas ao mesmo tempo). Flávia deixou Olga em casa e, no dia seguinte partiu para o Sertão, para trabalhar com a campanha eleitoral por alguns dias. O tempo que a campanha durou, Flávia morou no centro de Recife, próximo de Olga, e elas ficaram juntas. Quando a campanha acabou e ela não foi eleita, voltou para Paulista e pensaram que era muito mais longe, não se veriam mais todos os dias, a rotina mudaria muito… O Miguel, filho de Flávia, estaria muito mais presente - e no começo, por receios, ele não tinha sido apresentado enquanto filho, estava longe dela por conta da campanha, então foi outra questão na relação… Precisaram de um tempo para se entender, entender suas comunicações, suas realidades que ficariam bem diferentes de uma hora para a outra. Flávia começou a mostrar quem ela era de fato: moradora da comunidade, com diversas questões familiares, sem emprego depois de uma campanha… não tinha o conforto de morar no centro da capital como estava tendo por alguns meses. Precisariam repensar a relação. Flávia acreditava que só ia conseguir se relacionar com alguém quando o Miguel tivesse uns cinco anos… assim ele já seria um pouco mais independente e a pessoa que estaria com ela entenderia um pouco melhor também. Na sua visão, quem iria se relacionar com alguém que tem um filho de dois/três anos? Quando Olga chegou com uma comunicação clara, as coisas foram mudando rápido. Ela gostou muito da força, da independência, das coisas que Olga fazia e de como era estar junto com ela. Mas não queria que ela “assumisse um B.O” que não era dela tendo que lidar com seus problemas. Porém, aos poucos, Olga deixou claro que eles, Flávia e Miguel, eram um só. E não eram um problema. Quando conheceu Miguel se deram bem logo de cara e tiveram uma conexão. Aos poucos, Olga seguiu sua vida nos estudos e Flávia conseguiu um emprego depois da campanha eleitoral, foi quando decidiram de fato seguirem juntas e Olga se mudou para Paulista, morando no bairro em que a família de Flávia morava. A mudança para Paulista foi para ajudarem a mãe da Flávia por conta dela estar doente, mesmo ela não aceitando o relacionamento, Flávia pedia para que morassem juntas lá porque não aguentaria ficar longe de sua família. Olga cedeu e refez sua vida e sua rotina em Paulista, entraram num acordo, seu pedido em troca seria que Flávia começasse a fazer terapia e que mantivessem uma comunicação saudável, uma troca pensando em construir um relacionamento confortável juntas. Brincam que demorou um pouco, mas que deu certo. Durante a pandemia de Covid-19 decidiram morar numa casa para reformular mais uma vez a rotina, pois tudo estava sendo feito sob o mesmo teto: os estudos, o trabalho e a vida do Miguel. Começaram a terapia de fato, estavam reaprendendo a se comunicar, foi um divisor de águas. A qualidade de vida mudou muito morando numa casa. Começaram a curtir o espaço, fazer churrascos, exercícios, brincar mais com o Miguel… Não se sentiam presas dentro de um apartamento. Com a pandemia, veio também a segunda eleição, em 2021. Dessa vez já tinham a experiência de uma campanha que Flávia teve uma votação expressiva. Porém, uma campanha eleitoral que exige contato com a população em meio à pandemia era um desafio imenso. Olga conta o quanto foi difícil para ela lidar com as questões do vírus, ver as pessoas sem máscara ou os momentos em que usavam a máscara errado, todos os contatos com as pessoas na rua… tudo mexia demais com ela e causava muito medo. Além de todo o estresse que uma campanha eleitoral já produz, isso era um dos pontos mais difíceis, lidar um um “inimigo invisível” sendo tão direto para a saúde. Mas, a campanha foi feita com sucesso e Flávia foi eleita. No começo, Flávia estava muito destinada a não ser como os outros políticos que só aparecem de quatro em quatro anos. Então seguiu aquele ritmo frenético, trabalhando sem parar todos os dias. Olga entendeu que em algum momento ela adoeceria, estava impossível acompanhar - e entristecendo ver a companheira trabalhar tanto em seu primeiro ano de mandato, mesmo sabendo o quão importante isso é. Foi com muita conversa (e muita terapia) que Flávia entendeu o ritmo, os processos e as propostas. Hoje em dia, Flávia e Olga estão morando num novo lar, apartamento que financiaram juntas pensando na segurança de vida e em parar de pagar aluguel, depois de problemas que tiveram nos lugares que alugaram. Se aproximaram de um terreiro - e a aproximação começou por conta de uma luta contra intolerância religiosa no mandato de Flávia - e sentem que tudo melhorou depois disso. Hoje frequentam as festas, as cerimônias e os ritos, se sentem muito bem cuidando do seu ori. Foi através da religião, também, que chegaram até um terreno onde estão construindo - e reformando com suas próprias mãos - uma casa em Abreu e Lima, local que serve de refúgio, no meio de uma mata frutífera. Fomos até esse local e fizemos parte dessa documentação, pois é lá que se sentem realmente felizes. Flávia conta que pretende continuar trabalhando nas lutas que acredita, pois esse é o seu propósito. Olga deseja seguir seus trabalhos e suas escritas, inclusive, lançou seu novo livro de poesias. E Miguel, agora com nove anos, conta o quanto adora jogar videogame, brincar com Lula, o cachorrinho, e brincar de futebol - com Flávia, ele destaca que gosta de jogar no celular, com Olga, ele gosta de seguir a rotina fazendo as tarefas de casa. Quando perguntamos sobre a casa do sítio, ele responde: gosta de ir lá pra ser feliz, inclusive, é onde quer ir agora. ↓ rolar para baixo ↓ Flávia Olga
- Natália e Talita | Documentadas
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Talita estava com 36 anos no momento da documentação. É natural do Rio de Janeiro, mas mora em São Paulo há oito anos, quando se mudou por conta do trabalho, sendo gerente de operações em uma multinacional na área de resseguros. No tempo livre, adora passear, fazer atividades físicas, jogar futebol, estar com os amigos e reunir pessoas. Sua família ainda mora no Rio de Janeiro, então busca ir com frequência e ver a cidade com olhares de turista. Natália estava com 28 anos no momento da documentação, é natural de São Paulo, da zona norte. Adora a vida na cidade, as pessoas, os encontros, os bares, exposições, teatros… Trabalha na área de direitos humanos, dentro de uma organização que tem isso enquanto propósito. Gosta muito dos rituais diários e também de tudo o que fala sobre a espiritualidade (do céu, das estrelas…) e também é apaixonada por literatura. Foi em agosto de 2022 que Nath e Talita se conheceram, num momento pós-pandemia que começaram a sair de casa, depois de muito se isolar durante os momentos de Covid-19. Talita chegou a voltar para a casa da sua família no Rio de Janeiro e, quando a vacina foi liberada, veio novamente à São Paulo. Sempre que tentava encontrar os amigos, era em casa ou em praças públicas, foi num dia bastante atípico que se sentiu cansada, depois de uma mudança, e viu que merecia desestressar curtindo um samba. Natália, por sua vez, também vivia um processo de começar a sair após os meses de reclusão. E também tinha vários motivos para não querer sair naquele dia. Mas conheceu uma banda de samba numa ida para o Rio e essa seria a primeira vez da banda em São Paulo. Ela pensou: é a chance de garantir um bom samba em casa! Sente que foi um momento de respiro, um samba de muita liberdade, depois de tanto tempo. Elas se encontraram mas também encontraram muitas pessoas, dançaram, foram felizes. Nath voltou contente para casa pela noite que viveu, não lembra muito bem com detalhes de tudo o que aconteceu no samba, mas no dia seguinte tinha uma mensagem da Talita no Instagram dela propondo o que ela quisesse: um vinho, uma cerveja, um café. Talita também estava muito feliz pelo dia e por ter conhecido Nath. Ela ficou surpresa com a mensagem - positivamente surpresa. E topou o encontro. A questão do primeiro encontro da Nath e da Talita era a seguinte: elas haviam se conhecido em uma festa, conversado numa rede social e não sabiam muito sobre a vida uma da outra; Queriam se encontrar, mas a rotina demandava correria. Marcaram para duas semanas depois, mas foram surgindo compromissos e mais compromissos, Nath entendia que o ideal seria um tempo de qualidade, mas era melhor se encontrarem logo do que só adiar para sabe-se lá quando o encontro. Marcaram um almoço, no meio de um sábado - inclusive no restaurante em que fizemos a documentação acontecer. Logo o primeiro abraço foi interrompido por uma conhecida que estava passando na rua no meio da situação e que começou a conversar, mas quando finalmente sentaram, almoçaram, dividiram uma cerveja… sentem que esse encontro já estava destinado à acontecer. Conversaram sobre muitos assuntos e não viram o tempo passar. Mas passou: e já era a hora do outro compromisso, foi quando Nath falou “Olha, eu preciso ir, tenho um outro compromisso. Mas à noite eu vou pra um samba, aniversário de um amigo. Se você quiser ir…”. Talita inventou um compromisso na hora também, brinca que o compromisso dela era esperar o compromisso da Nath, e assim se reencontraram no aniversário do amigo. Elas estavam tão conectadas que o amigo, aniversariante, chamou a Nath em um canto dizendo o quanto estava encantado por ela estar em um relacionamento, queria saber mais sobre essa nova pessoa. Ela riu e disse: “Conheci essa menina hoje!”. Mas essa fala vindo de uma terceira pessoa percebendo como elas já estavam em sintonia permaneceu sempre marcada em como a relação se constrói. Todo o início do namoro, ou melhor, do não-namoro - e você já vai entender o motivo - foi marcado por um momento muito conectado, unido. Todos os amigos comentavam que elas já estavam namorando, só não nomeavam. E era tranquilo para elas, estava “acontecendo”. Assim foram seguindo os meses em 2022. Sentem que tudo ainda era mais fluído porque não circulavam pelos mesmos meios. Os amigos não eram amigos em comum, acabaram se tornando aos poucos… Não tinham trabalhos semelhantes, não tinham rotinas semelhantes… Se não fosse pelo evento de samba, não se conheceriam por outros meios rotineiros. Então o cotidiano diferente trazia um interesse e uma fluidez que era algo novo na vida delas. Quando 2023 chegou, Nath recebeu uma proposta de trabalho que envolveria se mudar para Brasília. Quando contou para Talita na hora ela apoiou, falou como era incrível, como seria uma nova jornada maravilhosa. Nath não sabia qual reação exatamente esperava, mas essa foi outra surpresa muito boa: o incentivo imediato. Ela tinha quatro dias para decidir se iria se mudar e, com o apoio da Talita vibrando e torcendo por ela, topou a proposta. Naquele mesmo fim de semana, entre os quatro dias, foram no samba novamente (o mesmo em que se conheceram) e no dia seguinte Talita pediu Nath em namoro (viu, aí sim elas estão namorando… aham!) com um pedido super querido em formato de podcast para se ouvir no café da manhã (contando a própria história delas) e no domingo à noite a ficha caiu: “Meu Deus do céu, eu estou namorando, estou indo pra Brasília”. Talita apresentou a Natália para sua família enquanto sua primeira namorada, numa ida de muita festa ao Rio de Janeiro. Os tios, primos, as crianças da família, todos se reuniram numa quarta-feira fazendo um grande churrasco. Com Nath em Brasília, sempre que podia, Talita viajava para lá. Com a possibilidade de trabalho em home office, no começo iria para passar um fim de semana ou feriado, mas depois acabava passando dias e mais dias. Até que meses depois, em dezembro, foi e ficou três meses. Contam que por mais que a distância mexa muito com a saudade, sentiam uma troca muito grande envolvendo a parceria. Ao todo, Natália morou um ano e meio em Brasília e contou com progressos muito importantes na vida profissional. A relação também passou por muitas fases significativas: amadureceram no processo, amadureceram as relações com as suas famílias, suas independências… Mas hoje em dia, juntas na mesma cidade, ficam felizes de estarem mais próximas fisicamente novamente. Em fevereiro de 2024 noivaram numa viagem para Santo Amaro, na Bahia, no dia de Iemanjá. Foi num lugar tradicional, na festa da cidade, com boas energias, num pedido sem muito planejar, onde estavam se sentindo muito bem. Gostam muito de estarem sempre chamando boas pessoas para perto, sejam pessoas que param para elogiar o amor bonito que demonstram sentir, os amigos ou os familiares. No momento estão planejando o casamento e descobrindo o quanto adoram a ideia da celebração. Nessa reflexão sobre como estão felizes se permitirem celebrar um amor tão bonito, percebem que essa relação realçou a melhor parte delas, porque tantas outras relações (amorosas ou não) despersonalizam e fazem com que as pessoas se percam do seu caminho, não se reconheçam mais… enquanto ali é muito bom perceber que a relação que constroem fortalece quem são em seus melhores lugares, mas não só - instiga para que sigam descobrindo outros desejos, inspirações, que cresçam. Para Talita, o amor que vivem hoje em dia é um amor que acrescenta: se vê o tempo todo somando mais amigos, a família aumentando, a mãe mudando o olhar sobre a vida, a parceria o tempo todo presente nos detalhes - seja num café, num esforço que dividem para não ficar tão pesado, no quanto compartilham como está sendo o dia fazendo a companhia presente… é um amor que circula entre o pequeno e a escolha de vida. Para Natália, a relação representa um autoconhecimento muito grande. Mostra que é possível mudar. Mostra o poder da disposição. E o quanto isso se reflete nas outras coisas: sente que ter uma relação saudável faz com que ela tenha um posicionamento muito mais firme em outros lugares da vida, não aceite situações de abuso em outros ambientes, não releve coisas que são violentas, esteja sempre pensando sua comunicação… são momentos assim que percebe como o amor que vivem é muito além de algo romântico, é uma mudança diária. ↓ rolar para baixo ↓ Talita Natália
- Página de erro 404 | Documentadas
404 error vish maria. como você veio parar aqui?! nem eu, que sou o site, sabia que essa página existia. acho que isso é um erro. vem cá, vamos lá para o início. o lugar que você queria chegar é outro, né? pesquise aqui o lugar que você deseja
- Ingrid e Cecília
Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Ingrid estava com 33 anos no momento da documentação. É natural de Pelotas, mas passou boa parte da vida adulta em Florianópolis, sempre alimentando o desejo de viajar. Sua primeira experiência com a estrada veio aos 21 anos, durante um intercâmbio na Austrália, onde vivenciou um motorhome pela primeira vez. Quando voltou, quis se aproximar da natureza e sonhava em ter uma Kombi, mas focou na carreira e adiou esse plano. Ainda assim, as viagens eram sua prioridade: trabalhava para poder estar sempre viajando. Foi há cerca de quatro anos que a Kombi Luz chegou, tornando-se um verdadeiro projeto de vida. Na época, já tinha o Teddy, um de seus cachorros, e também o Godinez, que faleceu em 2023. Com o tempo, sua vontade de se dedicar integralmente à estrada cresceu, então ela vendeu sua parte na empresa em que trabalhava e hoje em dia trabalha criando conteúdos para o YouTube, registrando o dia a dia com Cecília na moradia delas na Kombi atravessando o Brasil. O projeto trouxe um reencontro com o jornalismo, sua formação, e a sensação de finalmente concretizar o sonho que sempre teve. Cecília, no momento da documentação, estava com 30 anos. Nasceu em Itajubá, Minas Gerais, mas passou parte da vida em Taubaté. Não foi criada com uma referência de vida na estrada, mas passou por um momento divisor de águas que a fez enxergar a vida por outro lado: perdeu o pai aos 15 anos. Amadureceu, viveu um luto precoce e tudo a fez entender que ele era um homem cheio de sonhos, mas que infelizmente não teve a oportunidade de realizá-los, então queria ser uma pessoa diferente, se viu movida pela sede de viver. Sua percepção por viagens começou quando ela foi morar e trabalhar fora do Brasil, conhecendo um mundo bem diferente do que a vida e a cidade morava. Lá, guardou dinheiro, planejou mochilões, mas dias antes de começar suas novas viagens recebeu a notícia do falecimento da sua mãe. Decidiu voltar ao Brasil, fez uma pausa nos planos para se reorganizar e se reconectar com sua família e consigo mesma. Com 25 anos, já não tinha mais os pais e precisava redescobrir seu caminho. Cecília, depois de optar ficar no Brasil, se mudou para Ubatuba e trabalhou por um tempo enquanto representante de vendas, fazendo assim diversas viagens. Depois de um tempo, comprou uma caminhonete e adotou a Brisa, sua companheira de estrada. Junto de uma amiga, decidiu dividir uma vida de viagens por um tempo, e, reunindo outros amigos, compartilhou um desejo de se mudar para Florianópolis. Foi quando decidiram fazer a mudança e irem juntos. Em 2022, apenas dez dias depois de Cecília chegar a Florianópolis, ela e Ingrid se encontraram por meio de um aplicativo de relacionamentos. Desde o início, perceberam que suas vidas se encaixavam: Ingrid já estava no momento de largar tudo para cair na estrada, enquanto Cecília já havia vivido essa experiência. Ingrid brinca que, naquela época, a Kombi Luz era uma kombi de solteira - um espaço que tinha até mini biblioteca, sem a ideia fixa de ser uma casa. Mas o primeiro encontro dela com a Cecília já dizia muito: um pôr do sol na Kombi. A primeira grande viagem foi até Pelotas, cidade natal de Ingrid. Na época, ainda não tinham um status definido para a relação, mas Cecília foi apresentada ao pai de Ingrid. O plano era passar apenas alguns dias, mas ao chegarem, perceberam que algo não estava bem: o pai de Ingrid recebeu um diagnóstico de depressão e o que seria uma visita rápida se tornou um período de um mês dando suporte e cuidado. Elas e os três cachorros começaram a vivenciar a kombi enquanto casa. Cecília precisou retornar a Florianópolis, Ingrid ficou um pouco mais. Esse período trouxe muitas reflexões sobre a brevidade da vida, sobre momentos difíceis que já viveram e o desejo de viver intensamente. Mesmo sem uma longa história juntas, já tinham dividido muito - entre se conhecer, passar tantos dias juntas, mudanças e novas perspectivas. E foi justamente nessa intensidade que perceberam que queriam continuar seguindo viagem. Pouco tempo depois de passarem um tempo em Pelotas com o pai de Ingrid, o cachorro mais velho dela, Godinez, faleceu. Depois disso, ela voltou para Santa Catarina, percebeu as melhoras do seu pai e decidiu que oficialmente queria morar na Kombi. Foi então que organizou suas coisas no emprego fixo, tudo foi somada à demissão da Cecília do seu emprego e decidiram seguir o sonho juntas. A primeira grande viagem foi para o Rio de Janeiro, depois voltaram para Florianópolis para passar o ano novo com o pai da Ingrid (que foi até lá também) e no início de 2024 deram inicio, de fato, a morar 100% na kombi, sem mais apartamentos e outras casas. A transição para a vida na estrada aconteceu de forma gradual. No primeiro mês, acabaram morando na Kombi sem planejar, enquanto estavam em Pelotas. Depois, na viagem até o Rio, a experiência foi mais estruturada, mas ainda mantinham o apartamento. Ao voltar para casa, esperavam sentir alívio pelo conforto, mas perceberam que a sensação de pertencimento estava mesmo era na estrada. O lar, de fato, era a Kombi. A vida nômade fazia cada vez mais sentido, mas, talvez se tivessem tomado a decisão de uma hora para outra, não tivessem se sentido tão bem na kombi. Desde então, percorreram o Rio Grande do Sul, exploraram bastante Santa Catarina e subiram até o Nordeste. No caminho, fizeram um desvio para Minas Gerais, onde aprimoraram a Kombi. E foi em Alagoas que finalmente nos encontramos para registrar essa história (depois de várias tentativas de cruzarmos nossos caminhos entre o sul da Bahia e Maceió). A vida na estrada trouxe para Ingrid e Cecília a descoberta de um Brasil interiorano que nem imaginavam - e ainda melhor, o gosto pela vida interiorana. Entre uma viagem e outra, encontram cidades que não estavam nem no mapa, acampam em lugares lindos e tranquilos, e se encantam com a calmaria que só quem viaja sem pressa pode viver. Os cachorros também se adaptaram bem… na verdade, até estranham quando chegam em cidades grandes, sem saber lidar com tanto estímulo de som e movimento ao mesmo tempo. Sem prazos rígidos, vão sentindo cada lugar. Têm um roteiro em mente, mas se um destino as cativa, se permitem ficar mais. Criaram uma rotina própria, independente de onde estão, e isso dá uma sensação de estabilidade mesmo com a estrada. Para elas, o amor está presente em cada detalhe do cotidiano. O romantismo vira só um detalhe, porque a conexão é muito mais profunda. Relacionamentos entre mulheres têm essa intensidade - é o que dizem. E, para além da intensidade, têm a resistência. Em muitos lugares por onde passam o preconceito ainda é muito forte, mas fazem questão de seguir de mãos dadas. E, quando falam em mãos dadas, entendem que seguem de mãos dadas com os amigos também: as redes de apoio que seguem firmes, mesmo à distância. Se elas precisarem ou se os amigos precisarem, basta uma ligação. Fazem de tudo uns pelos outros. Já passaram por situações difíceis na estrada, e a presença dos cachorros não é só companhia, mas também segurança. Acima de tudo, o amor entre elas e a família que estão formando é força. É ele que as impulsiona a continuar vivendo esse sonho. ↓ rolar para baixo ↓ Cecília Ingrid






