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Espaço de Pesquisas

Oi! Este é um espaço do qual você pode pesquisar e encontrar histórias de mulheres que participaram do nosso projeto por todo o Brasil! Legal, né? 

Pra usar, basta digitar no espaço de pesquisa alguma palavra-chave, por exemplo: alguma profissão, alguma cidade, algum tema... 

 

É o nosso verdadeiro banco de dados - o primeiro, da história das mulheres que se relacionam afetivamente

com mulheres - e precisa ser valorizado! ♥

107 resultados encontrados com uma busca vazia

  • Banco de Images | Documentadas

    Aqui documentamos a história de mulheres por todo o Brasil. Sandra e Larissa amor de oceanos. Vanessa e Suélen amor de simplicidade. Rhanna e Lais amor de festa popular. Inara e Juliana amor de samba. Juliana e Priscila amor de grande família. Clarissa e Agnis amor de crescimento. Ariadne e Barbara amor de faculdade. Karol e Hémely amor de abrir portas. Nayara e Mayara amor de educação. Vivian e Dani amor de nova visão de si. Olga e Flávia amor de política. Clarissa e Roberta amor de são joão. Tamiris e Ágata amor de tempo. Camila e Rafaela amor de etapas. Joyce e Gabi amor de persistência. Gabi e Raffa amor de ficar à vontade. Laura e Camila amor de presente. Babi e Maria amor de companhia. Vivi e Darlene amor de não viver sem. Jaque e Tainá amor de novo olhar. Thacia e Ju amor de cuidado. Anik e Isabelle amor de desaguar. Raquel e Dandara amor de mudanças. Aline e Isabela amor de novidades. Luiza e Milena amor de paciência. Marcela e Jana amor de liberdade. Mariana e Viviane amor de manhã na praça. Clara e Laura amor de cuidado. Aline e Nathalia amor de paródia. Iana e Amanda amor de salvador. Yaskara e Jade amor de conversas. Daniella e Flávia amor de futuro. Isadora e Isabelle amor de equação. Luanna e Laira amor de cicloativismo. Ellen e Bianca amor de confraternização. Lorrayne e Joyce amor de casa. Mari e Jéssica amor de cura. Elis e Vandréa amor de ancestralidade. Carol e Sofia amor de hobbie. Letícia e Giovanna amor de persistência. Ane e Ari amor de companhia. Lorrayne e Mari amor de bilhete. Sarah e Rosa amor de novidade. Jamile e Raquel amor de leitura. Raquel e Rachel amor de pedidos. Aline e Aya amor de maternidade. Cassia e Kercya amor de marinar. Gabriela e Mariana amor de mãos dadas. Luiza e Maria Pérola amor de nebulosas. Lara e Ana amor de âncora. Sharon e Vivian amor de natureza. Yasmin e Juliana amor de diálogo. Isa e Camila amor de fã. Mari e Rey amor de outros lugares. Manu e Alyce amor de abraço. Cecilia e Jady amor de riso esvoaçante. Clara e Rayanne amor de jeito. Maria Clara e Antônia amor de cinema. Priscilla e Raphaela amor de conexões. Mari e Vivi amor de música. Júlia e Milena amor de reencontro. Talita e Louise amor de história. Juliana e Tercianne amor de teatro. Ju e Nicoli amor de vida toda. Luana e Maiara amor de domingo no parque. Tânia e Clarissa amor de trajetória. Ju e Marci amor de tempo. Rennata e Vanessa amor de impacto. Bruna e Flávia amor de suporte. Bibi e Emily amor de mãos dadas. Clara e Mayara amor de doce. Carol e Joyce amor de propósito. Thaysmara e Leticia amor de pôr do sol Júlia e Ana Carolina amor de cuidado ao detalhe. Natasha e Jéssica amor de ciclos. Rafa e Gizelly amor de acordar juntas. Carla e Yasmin amor de expressão. Yasmin e Ignez amor de encontro. Nathi e Emanu amor de força. Camila e Samantha amor de evento. Lu e Joana amor de flor. Nath e Carla amor de parque. Karol e Beatriz amor de webnamoro. Clara e Mariana amor de sétima arte. Jamyle e Rebeca amor de festa. Dani e Aline amor de oposto complementar. Camilla e Karol amor de calma e maresia. Bia e Marina amor de conversa. Amanda e Thaís amor de lagoa. Ju e Yasmin amor de compaixão. Wan e Lívia amor de lugares. Vanessa e Denise amor de pretitude. Mari e Marie amor de estrada. Marcela e Karina amor de refúgio. Ana e Paula amor de almoço no domingo. Thaty e Lari amor de descrição. Melissa e Sofia amor de sítio. Carol e Marlise amor de construção. Fabi e Dani amor de brilho. Isa e Carina amor de versões. Taynah e Estrella amor de ano novo. Glauci e Alice amor de casa. Maiara e Vitória amor de sol e lua. Joyce e Malu amor de renovar. Gabi e Dani amor de gatos. Marcia e Kamylla amor de faculdade. Luiza e Mariah amor de produção artística. Drika e Jana amor de dia após dia. Thay e Louise amor de samba. Jeniffer e Renata amor de aventura. Ana Clara e Evelyn amor de nascer do sol. Bruna e La Salle amor de confirmação. Mariana e Bárbara amor de interior. Maíra e Kelly amor de estar em casa. Janelle e Gyanny amor de fé. Lia e Thalita amor de lar. Alessandra e Roberta amor de diversão. Iasmin e Natalia amor de tatuagem. Bruna e Mari amor de arte na rua. Carla e Cynthia amor de diferença. Inara e Nina amor de recomeço. Hinde e Renata amor de intercâmbio. Thay e Cami amor de afeto. Luana e Marília amor de corpo. Fernanda e Ana amor de tentativas. Gabi e Gabriela amor de coragem. Jéssica e Priscila amor de diferença. Melina e Karyne amor de frio na barriga. Mariana e Fabiola amor de redescoberta. Luana e Bruna amor de emoção e razão. Ane e Thelassyn amor de persistência. Nayara e Jamyle amor de geek. Tami e Fran amor de casa nova. Gabi e Pamela amor de ajuste. Tay e Beatriz amor de elevação. Alice e Fernanda amor de apoio. Julia e Duda amor de muito. Luciana e Viviane amor de recomeços. Kelly e Amanda amor de tempos. Anne e Lari amor de paz. Júlia e Vitória amor de moda. Paula e Mari amor de cor. Luma e Stefany amor de árvore. Anne e Talita amor de oportunidade. Uine e Denise amor de aliança. Larissa e Claricy amor de ritual. Laiô e Íris amor de horizontalidade. Brenda e Jéssica amor de aventura. Dalila e Andréia amor de "praciar". Carla e Laura amor de porto seguro. Vanessa e Vitória amor de nova perspectiva. Carol e Cris amor de energia. Angélica e Jaque amor de segundo encontro. Kétule e Beatriz amor de cachoeira. Alissa e Rafaela amor de recomeços. Lilian e Marcella amor de padaria. Natália e Bruna amor de ano novo. Rachel e Larissa amor de paciência. Jade e Laura amor de segurança. Barbara e Isadora amor de cativar. Marina e Patrícia amor de pedidos rápidos. Gabi e Aline amor de aposta. Débora e Paula amor de comentário. Bruna e Vanessa amor de transformação. Cintia e Carmen amor de cultura. Dállete e Dyanne amor de redescobrir. Keziah e Patricia amor de compartilhar Cynthia e Leylane amor de esporte. Rafa e Helena amor de dia. Emilly e Thuane amor de maracatu. Sue e Sil amor de teatro. Fernanda e Talita amor de som. Carol e Gabi amor de fotografia Carol e Andressa amor de lugar. Ingrid e Cecília amor de estrada. Vanessa e Dayanne amor de caminho. Emily e Raissa amor de tentativa. Beatriz e Kika amor de são joão. Bruna e Tereza amor de sonho realizado. Juliana e Bianca amor de tempo. Clara e Marina amor de céu aberto. Samara e Rebeca amor de impulso. Raíssa e Lorena amor de experimentar. Laura e Dedê amor de samba. Maria Vitória e Fernanda amor de carro. Manô e Bruna amor de vivência. Denise e Julia amor de cerveja&cinema. Maíra e Duda amor de tatuagem. Marina e Luiza amor de cumplicidade. Juliana e Tayna amor de mil histórias. Bruna e Fran amor de resistência. Marcia e Pethra-13_edited amor de pé na porta. Mari e Nonô amor de escola. Joana e Ana Clara amor à primeira vista. Priscila e Rebecca amor de mar. Bruna e Sophia amor de carnaval. Renata e Marcela amor de arte. Clara e Karine amor de parceria. Bela e Maitê amor de risadas. Victoria e Gabi amor de praia. Brenda e Jhéssica amor de destinos. Carol e Gabi amor de militância. Beatriz e Tamara amor de esporte. Paula e Luiza amor de plantas e pássaros. Luana e Gabrielle amor de família. Mariana e Thalassa amor de plantinhas. Carol e Beanca amor de acompanhamento. Rita e Dede-23_edited amor de 10 reais.

  • Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Toda mulher merece amar outra mulher. Olá; AQUI REGISTRAMOS O AMOR ENTRE MULHERES ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA. Portfólio Para conhecer nossas histórias, clique aqui > sobre 02 sobre nós O documentadas começou através de diversos estudos e da percepção de que as mulheres são pouquíssimo registradas em toda a sua história, principalmente tratando-se de mulheres que se relacionam afetivamente com outras mulheres. Para dar um basta e contar nossa própria história, percorro o país registrando casais e através desse site criamos conexões e laços de fortalecimento. Para conhecer quem faz o documentadas, clique aqui > Nosso livro está em pré-venda garante o teu aqui ♥ Banco de images QUER PARTICIPAR DO PROJETO? vem por aqui! :P Mariana Musicista Leia mais Mari, além de ser uma pessoa extremamente doce, é uma musicista e compositora incrível! Ela tem um canal com a Vivi e juntas compõem histórias no Canta Minha História! Iasmim Advogada Iasmin, além de uma mulher super sorridente e alto astral, é também uma grande advogada. Natural de Duque de Caxias, baixada fluminense, hoje trabalha em um escritório no centro do Rio de Janeiro. Leia mais Carla Professora Carla, além de ser grande amante das artes e do teatro, também é professora e pedagoga em escolas públicas de Rio das Ostras e Macaé. Leia mais gerando renda para a comunidade Acreditamos que - além de que contar histórias de mulheres - podemos conecta-las. Falarmos sobre seus trabalhos, compartilharmos situações, momentos e, enfim, gerarmos renda. O mercado de trabalho segue difícil e podemos nos apoiar contratando trabalhos de mulheres da comunidade LGBT. Sendo assim, no nosso espaço de 'busca' você consegue pesquisar pela palavra-chave (o serviço que você precisa), ver qual profissional está à disposição, ler sua história e nos mandar uma mensagem. Nosso papel será te conectar diretamente com a profissional desejada! gerando renda para o projeto Manter o projeto não é tarefa fácil! Fazer viagens, pegar metrôs, ônibus, barcas... disponibilizar tempo e conseguir manter as contas pagas é um grande desafio. E como queremos documentar o maior número de casais possíveis, disponibilizamos o nosso PIX e aceitamos qualquer valor como quantia de doação! Você pode nos ajudar clicando aqui e fazendo a doação (qualquer valor!) de forma voluntária direto pelo aplicativo do seu banco! Colabore com a documentação histórica do amor entre mulheres! temos uma loja no ar! chega pra cá ♥ Contato

  • Sue e Sil

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Sue estava com 64 no momento da documentação e nasceu em Salvador. Quando seus pais se separaram, mudou-se para Maceió com a mãe, que trabalhava na Petrobras. Em seguida, viveu no Rio de Janeiro sua maior infância até os 25 anos, formando-se com forte influência carioca. Em 1998, retornou à Maceió para atuar no Teatro Deodoro, onde conheceu Silvana. Hoje, compartilham a vida e o trabalho, dirigindo juntas uma produtora cultural. Silvana estava com 58 anos no momento da documentação, nasceu em Maruim, Sergipe, e chegou em Maceió no ano de 1982. Jornalista, radialista e produtora cultural, sempre esteve ligada ao meio artístico. Criou o primeiro caderno de cultura do principal jornal da cidade e, posteriormente, trabalhou no Teatro Deodoro. Como frequentadora assídua das artes cênicas, encontrou lá uma verdadeira realização profissional. A relação entre elas começou pela admiração no trabalho. Durante as trocas na rotina do Teatro Deodoro, Sue já nutria sentimentos por Silvana. Juntas, fizeram uma verdadeira revolução artística na cidade, reabrindo um teatro centenário que ficou 11 anos fechado e que nem era mais considerado. Sem a facilidade da internet, num mundo de comunicações por fax, enfrentaram desafios para recolocar o espaço no circuito cultural nacional. Entre projetos, parcerias e grandes aprendizados, construíram um vínculo que ultrapassou o trabalho, tornando-se um amor sólido, baseado no respeito, na arte e na construção de um legado cultural alagoano. Sue conta que a relação sempre esteve entrelaçada ao trabalho, especialmente no início, quando chegou de Salvador após uma outra relação turbulenta que havia acabado. Trouxe consigo uma bagagem cultural fresca da Bahia e do Rio de Janeiro, que se refletiu no que estavam construindo no Teatro Deodoro. Juntas, ela e Sil levantaram diversos espetáculos e recolocaram o teatro no mapa cultural do Brasil, elevando o profissionalismo artístico em Alagoas - tudo isso sob a liderança de duas mulheres lésbicas, importante ressaltar. Ambas sempre se entenderam como lésbicas e viveram essa identidade de forma natural dentro dos meios culturais que frequentavam. Nos anos 70, 80 e 90, Sue no Rio e Sil em Sergipe encontraram espaços onde a sexualidade não era um tabu. No entanto, conversam muito e sentem que hoje as coisas estão dentro de muitas “gavetas” Estas “gavetas” estão aí para realmente trazer liberdade, identidade, autonomia e auto afirmação do que cada um é, mas muitas vezes acabam dividindo mais, se tornando uma separação. “E eu não gosto de separação. Eu gosto de tudo misturado. Não gosto de ambientes que são só isso ou só aquilo. Gosto de gente.” Por conta do trabalho, Sue e Sil abriram mão de viver uma rotina mais romântica. Como passam a maior parte do tempo juntas, lidando com demandas intensas e muitas pessoas (ainda mais agora, com o escritório dentro de casa), aprenderam a valorizar os momentos de tranquilidade a sós. Para elas, esses instantes de calma são essenciais para manter o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Elas reconhecem o impacto do que fizeram: duas mulheres liderando espetáculos em Alagoas era algo inédito. Foi assim que se encontraram, criando projetos culturais transformadores, como o “Teatro é o Maior Barato”, que democratizou o acesso ao teatro com ingressos a R$ 1,99, e espetáculos que circulavam pelo estado. Além de movimentar a cena artística, construíram uma relação de pertencimento com o público, que passou a ver o teatro como um espaço acessível e vibrante. Sil sempre teve paixão pelo jornalismo e adorava sair pelo estado imaginando matérias, transformando a busca por pautas em uma brincadeira. Como o mercado era novo, havia muito a explorar: tudo era cultura. Até os anos 90, Alagoas sequer tinha uma coluna dedicada ao tema nos jornais, sendo reduzido a notas esporádicas indicando filmes ou menções na coluna social. Criar um espaço fixo para a cultura se tornou um vício, um compromisso de dar voz e visibilidade à produção artística local. A relação começou de forma intensa, marcada por um gesto simbólico: Sue morava em um lugar muito quente, sem estrutura porque havia recém se mudado, e Sil apareceu com um ar-condicionado de presente. “A gente já tinha começado a namorar, ela chegou lá em casa, um forno! No outro dia, chega com o ar-condicionado… e depois ela.” Foram se envolvendo e percebendo que compartilhavam o mesmo ritmo e gostos. Hoje, olham para trás e se surpreendem: “25 anos de relação! É muito tempo! Mas, ao mesmo tempo, a gente vai se descobrindo e redescobrindo.” Atualmente, moram ao lado da família de Sil, para estarem próximas da mãe idosa, em uma vila acolhedora e repleta de gatos. Recentemente passaram por uma grande reforma em casa, o que exigiu ainda mais energia e paciência. Refletem sobre as inúmeras crises que enfrentaram - principalmente financeiras, pela instabilidade do trabalho em um país que não valoriza a cultura - e reconhecem que nem todo casal suportaria esses desafios. Mas atravessar tudo isso juntas fortaleceu ainda mais o amor. Entre noites que se olham antes de dormir e percebem o cansaço e momentos de conexão, sabem exatamente como lidar uma com a outra, guiadas por maturidade e intimidade construídas ao longo desses 25 anos. Sue sente que Sil trouxe um chão para sua vida, mesmo quando ela mesma diz se sentir insegura. “A Sil trouxe para mim, apesar dela dizer que não lida, que enlouquece, que fica insegura, mas ela trouxe para mim, para a minha vida, uma segurança em um lastro, um chão, que é tão importante. Eu nem sei se estaria nesse plano ainda. Porque eu era muito desligada, muito apaixonada por tudo, entrava de cabeça em tudo, de tudo, de trabalho. E a Sil, sem impor nada. Ela veio, foi amor mesmo, com o amor dela. E ela me acolheu de uma forma que eu cresci. Me tornei uma pessoa muito melhor. Para mim mesma.” ↓ rolar para baixo ↓ Sil Sue

  • Sandra e Larissa | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Sandra é natural da Espanha, de uma cidade chamada Algeciras, localizada no sul do país. Se mudou para o México depois de morar em alguns lugares e foi lá que conheceu Larissa, começaram o relacionamento e fizeram seu primeiro lar. Hoje em dia, decidiram passar uma temporada no Brasil por conta de Lari ser brasileira, sua família morar no Rio Grande do Sul e, como formam uma família junto ao Otto, filho de Lari que Sandra adotou desde pequeno, entenderam também que seria bom para a educação dele estudar em uma escola brasileira por um tempo. Sandra estava com 32 anos no momento da documentação. É professora de espanhol, dá aulas online para estrangeiros e possui um foco em ter alunas mulheres, pessoas queers e não-binárias. Larissa, com 40 anos, trabalha com comunicação corporativa, de forma remota, e adora essa liberdade de poder viajar e não precisar estar em um lugar fixo por conta do trabalho. Lari sempre foi apaixonada pela América Latina e se dedicou à viajar por um bom tempo, pegando caronas, conseguindo trabalhos… Não tinha pretensão de ficar no México durante muito tempo, acabou ficando onze anos por conta das mudanças que aconteceram na sua vida. Engravidou, seu relacionamento de 15 anos chegou ao fim depois de se entender enquanto uma mulher que ama outra mulher, mudou as formas de ver o seu corpo e se enxergar na sociedade. Foi quando começou a conhecer novas pessoas e frequentar novos espaços no México - e, assim, conheceu Sandra. Logo que Sandra se mudou para o México, no fim de 2018, fez algumas amizades na cidade em que estava morando - Mérida - e foi num festival (que contava inclusive com algumas atrações brasileiras). Lá, lembra de ter conhecido Larissa, mas não chegaram a interagir muito. Um tempo depois, as duas entraram em um projeto de ativismo muito forte, por conta da onda de feminismo que estava acontecendo no México. Aconteciam muitos atos políticos, atividades e debates, então decidiram formar um grupo para pintar fachadas de casas e lugares com frases feministas. Começaram a ter amigas em comum e se encontrar com frequência, até que em 2019, no dia da Marcha do Orgulho, elas se envolveram pela primeira vez. Se reuniram com as amigas depois da Marcha e, mesmo Lari dizendo que não percebia que Sandra tinha interesse por ela, viu Sandra dançando uma dança espanhola e achou muito bonita, sentiu algo diferente. Depois, na festa, as pessoas estavam se beijando e ela não sentia que queria participar, mas queria beijar Sandra, foi quando ficaram juntas. Na hora nem imaginavam, mas ali começaria uma longa relação. Lari explica que hoje em dia entende o “clichê sapatônico”, mas na época nunca havia vivido algo assim e foi muito simbólico, principalmente pelo fato de ela ter um filho e isso soar como delicado para muitas mulheres. Para ela era muito importante entender a maternidade, o quanto isso faz parte de quem ela é, sendo protagonista da sua própria vida. E ver que Sandra abraçou quem era por completo e continuaram se encontrando com intensidade foi muito importante. No começo, Sandra não pensava em ficar no México por tanto tempo. Queria viver lá apenas um ano. Enquanto elas foram passando mais tempo juntas e se apaixonando, de alguma forma, isso foi virando um conflito, porque não levavam a relação tão a sério visto que havia um certo “prazo de validade”. Sandra, por mais que acolhia Lari em totalidade (ela sendo uma mulher, mãe, com um filho ainda pequeno), não entendia que estava entrando de fato em uma família. Demorou um bom tempo para que conversassem e pontuassem: ‘não podemos alimentar e gerar essa insegurança no que vai acontecer, desgasta, desperdiça energia. Ficaremos juntas ou não?’. Sandra teve o tempo que foi preciso para decidir se ficaria no México ou não, nesses meses que se passaram alugou uma casa. Lari também já tinha sua casa - que era uma casa mais antiga, meio colonial. Até que em setembro, no meio da pandemia de Covid-19, tiveram fortes chuvas e a casa estava velha, não havia preparo para aguentar aquele tempo e tanto volume de água, tudo alagou. Foram para o apartamento de Sandra e, por conta desse acidente, começaram a morar juntas, pelo menos até arranjarem um novo lar. Quando encontraram uma nova casa, num processo devidamente rápido, viram que ela era espaçosa o bastante para que Sandra morasse junto - com a condição de que cada uma tivesse um quarto. Com o passar dos anos, Otto cresceu e mudaram as ordens: Sandra e Lari ficaram juntas num quarto, Otto ganhou o próprio quarto só para ele. Entenderam que já estavam prontas para dividir o mesmo espaço. As vindas para o Brasil aconteciam de vez em quando para visitar a família da Lari. Sempre tentavam ficar alguns meses para Otto ter bastante contato com a cultura, conhecer pessoas novas e para Sandra também conhecer novos lugares - principalmente porque antes de namorar Lari ela nunca havia vindo para cá. Acontece que Otto passou por alguns problemas na escola, ele é bastante tímido e tem um jeito muito seu, que obviamente elas apoiam e incentivam que ele seja quem ele quiser ser, mas durante a pandemia era difícil ele ser alfabetizado através das telas. Ele não queria ligar a câmera, não era uma metodologia de fato acolhedora para as crianças e ele se sentia desconfortável. Acharam melhor tirar ele da escola por um tempo, fazer a alfabetização em casa e, quando ele voltou, também foi difícil a readaptação por conta de diversos preconceitos nas escolas mexicanas. Desde a primeira vez que visitaram o Brasil juntas, percebem o quanto ele se sente feliz aqui e muito adaptado com a liberdade que a cultura brasileira oferece. Foi crescendo a ideia de que ele poderia ser feliz estudando em uma escola brasileira, por isso, decidiram morar um tempo no Brasil e entender como seria a adaptação. Inicialmente a ideia era passar um ano, agora estenderam e será um ano e meio, visto que está dando certo: todos estão felizes. E, por mais que ainda existam julgamentos sobre o modelo de família que são, ele está cercado de pessoas que o apoiam, e isso que importa. Sandra conta que tem adorado o Brasil, fica muito feliz em conhecer cada vez mais um pouquinho da diversidade brasileira e que a própria rotina em casa tem sido muito mais leve com a mãe da Lari morando próximo e ajudando na educação do Otto. No entanto, ainda sente muita falta de terem amigas por aqui, sejam compartilhando a maternidade, a lesbianidade ou companhias para sambas e eventos pela cidade. Quando conversamos sobre o amor que constroem e também sobre as referências de amizade - suas amigas que ficaram no México - Lari conta que por ter vivido muitos anos uma relação heterossexual que estava num molde (que era feliz, tinha seus momentos ótimos, mas ainda sim estava num lugar confortável), então passou a descobrir muitas coisas quando amou outra mulher pela primeira vez. Foi num lugar de carinho imenso que a relação com Sandra aconteceu, e também de autoconhecimento. Nunca pensaram que se casariam, por exemplo, mas fizeram questão ao entender o significado disso, por questões políticas, sociais, burocráticas… pelo nosso merecimento ao amor. Brincam que existe um oceano que as separa e foi uma forma de irem deixando essas águas mais curtas. Hoje em dia, entendem que vem de realidades e culturas muito diferentes, mas instigam o melhor uma da outra. Sandra, por exemplo, sempre colabora para que Lari descubra um novo hobbie, possa sair um pouco da ideia de que só é mãe… Acreditam que o amor mora nesse lugar de incentivo, de parceria, família e crescimento. ↓ rolar para baixo ↓ Larissa Sandra

  • Vanessa e Suelen | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Suélen estava com 27 anos no momento da documentação. É natural de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e cursa pedagogia, trabalhando enquanto monitora de inclusão. Mora com os pais e com duas gatas e uma cachorrinha, o que a faz ser apaixonada por animais (além de gateira de carteirinha). Também gosta muito de assistir séries no tempo livre - principalmente quando assiste em conjunto com a Vanessa. Vanessa estava com 24 anos no momento da documentação, também é natural de Porto Alegre e estuda psicologia, já prestes a completar a graduação. Adora falar sobre signos, sobre séries, filmes… e sobre seus dois animais, os cachorros Jake e a Malu. Além disso, seu hobby principal é o que envolve cozinha - não só cozinhar, mas assistir vídeos de pessoas cozinhando, realities etc. Os pais de Suélen se divertem vendo as tentativas de cozinhar, são sempre experiências. Vanessa e Suélen se encontraram em um aplicativo de relacionamentos, mas já se conheciam por conta de uma amiga em comum e se tinham nas redes sociais desde o Facebook, mas nunca haviam conversado. Durante a pandemia, participaram de um grupo e essa foi a primeira interação de fato, mas era algo muito superficial. Foi o aplicativo que fez elas entenderem o interesse para além da amizade. Desde a primeira conversa já se divertiram trocando figurinhas e contam que a paixão chegou bem rápido. Os assuntos foram fluindo entre signos, sobre a vida naquele período pandêmico… Por mais que demorassem um pouco para responder, gostavam de conversar com calma, atenção, e isso era algo que chamava atenção positivamente. Suélen conta que num dos dias durante as conversas, faltou luz na casa da Vanessa e ela mandou um SMS dizendo que não sumiu do nada, só estava meio incomunicável sem internet… e Suélen achou muito legal da parte dela, entendeu que ela estava se importando. A partir desse dia as conversas seguiram cada vez mais longas, até o momento que decidiram se encontrar pessoalmente - com cuidado e calma, por conta de ainda ser um momento de pandemia. O lugar escolhido para o encontro foi onde, anos depois, fizemos as fotos da documentação - mas ele era completamente diferente. Hoje em dia existe um shopping, na época era literalmente mato e a beira do rio, um lugar aberto, com árvores, gramado e a vista. Foi escolhido porque era perfeito para assistir ao pôr do sol. O dia do primeiro encontro foi o dia das namoradas, tomaram um café juntas e Suélen levou uma cartinha para Vanessa. Ela conta que, de alguma forma, sabia que iriam namorar. Antes de completar um mês do dia que tiveram o primeiro encontro, já assumiram o namoro. Estavam num shopping e entraram numa loja para olhar algumas alianças, quando comentaram com a atendente que nem estavam namorando ainda, só estavam de olho nos modelos e valores… Segundos depois, Suélen resolveu o problema: “Quer namorar comigo?” “Quero!”. Então pronto, agora podem ver os modelos já estando namorando. Para a família, Suélen já havia contado para a mãe e para as irmãs, que já estavam empolgadas para conhecer. O pai ainda estava na dele, ele via ela se arrumando para sair e comentava que ela iria encontrar um namorado, e ela afirmava que não era namorado, mas sabia que era um processo para ele entender e aceitar. Um tempo depois, Vanessa e a mãe de Suélen se conheceram numa ida ao shopping, tomando um café juntas, e a mãe deu a ideia de Vanessa ir à casa delas primeiro enquanto amiga, para o pai conhecer quem ela era primeiro, gostar dela, e depois processar que estavam juntas. Naquele dia, elas iriam dormir na casa da irmã da Suélen, até que quando saíram, o pai perguntou à mãe “ah, mas por quê elas vão dormir lá?” e a mãe respondeu “bom… tu sabes porquê”. Foi quando ele entendeu quem era a Vanessa. Como ele gostou dela logo de cara, mudou a postura e disse que não precisava dormir na casa da irmã, poderiam voltar e dormir ali, na casa deles. Foi um dia em que todos eles estavam aprendendo a se dar bem, medindo cada reação para tudo dar certo, todos meio sem jeito, mas entendem que foi legal da parte dele ter enfrentado o preconceito vendo como a filha estava feliz namorando alguém legal. E hoje em dia tudo já é muito mais tranquilo, tanto que eles se divertem e adoram a presença da Vanessa em casa. Para Vanessa, a aceitação em casa é mais difícil e caminha em passos diferentes. Sua família é bastante cristã, seu pai não sabe e sua mãe sabe, mas não acolhe. Passou muitos anos tentando tirar esse “demônio” que acredita existir na pessoa homossexual - e até Vanessa passou muito tempo não aceitando quem era. Hoje em dia, ela conhece Suélen, sabe que elas namoram e trata Suélen bem, inclusive é nítido que gosta de Suélen, o que ela não gosta é do fato delas namorarem. Mas entendem que isso também faz parte do processo de aceitação. Elas sabem que ela enxerga o quanto Vanessa é feliz no relacionamento. Tanto para Vanessa, quanto para Suélen, o que elas podem fazer é continuar mantendo esse amor existindo. O problema do preconceito é de quem tem o preconceito, elas sabem que isso vai amenizar com o tempo e com o afeto delas sendo demonstrado gerando coisas boas. Ainda que seja um processo difícil. Como tanto Vanessa, quanto Suélen ainda moram com os pais, ficam muito emocionadas quando percebem a família juntando algumas coisas e tratando elas enquanto um casal, pensando no momento de montarem o próprio lar. São duas mulheres que performam feminilidade então o tempo todo são tratadas como amigas. Os momentos que as pessoas e, principalmente, seus familiares, as entendem enquanto uma unidade familiar, significa muito. Contam que o pai de Suélen chama Vanessa de nora e já separou alguns kits de cozinha e decoração que ganha em promoções ou assinaturas de jornal e as presenteou dizendo ser para o lar quando morarem juntas. E, por mais que elas saibam que isso pode demorar um pouco porque querem estar formadas e com uma certa estabilidade, ficam muito felizes pela consideração e pelo apoio. Sentem que a relação dá certo pelo tanto que conversam. Quando não estão se encaixando, conversam com calma e decidem o que vão fazer sobre o problema em questão. No começo tinham muito receio das discussões, mas hoje entendem o fortalecimento disso. É como se uma “discussão”, ou melhor, uma “conversa séria” se torna um degrau a mais no relacionamento. Além disso, sempre buscam formas de manter a conexão, seja mantendo “dates” diferentes, presentes, palavras de afirmação… entendem suas linguagens de amor e querem que a relação seja leve com coisas boas, brincadeiras diárias, momentos felizes… mas principalmente com a segurança: não ter medo de que vá acabar o tempo todo, de poder confiar e poder contar uma com a outra para as coisas difíceis. Suélen explica que no começo, elas não sabiam viver uma relação que não fosse pisando em ovos, com medo da pessoa largar no primeiro deslize. Aprenderam juntas a ter uma relação realmente segura. E, para ela, um exemplo de amor seguro é o amor que sente pela família, que tá contigo independente das suas escolhas, porque te ama. Hoje em dia, enxerga Vanessa como sua família, um amor que se constroi ao longo do tempo e se projeta pra vida, sem medo de julgamento. ↓ rolar para baixo ↓ Vanessa Suélen

  • Fernanda e Talita

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Fernanda e Talita se conheceram no início de 2014, apresentadas por um amigo em comum - o melhor amigo de ambas. O interesse surgiu aos poucos, mas nenhuma das duas falou nada no começo, achando que poderia ser coisa da própria cabeça. Fernanda já tinha experiência em se relacionar com mulheres, então Tatá achou que, se houvesse algo ali, ela tomaria a iniciativa. Mas foi o contrário: depois de meses nessa dúvida silenciosa, Tatá percebeu que precisava agir. No verão de 2015, finalmente ficaram juntas. Na época, Talita morava em São Paulo, onde fazia residência médica. Fernanda, por outro lado, sonhava em se mudar para lá, mas a vida deu uma reviravolta. Tatá decidiu voltar para Maceió, e Fernanda acabou ficando também. Foi uma escolha que transformou tudo, e de lá para cá, já se passaram quase dez anos de companheirismo, desafios e conquistas. O início do relacionamento foi um processo para Talita. Demorou um tempo para aceitar que estava apaixonada por uma mulher, e até mesmo quando voltou para Maceió não foram de cara morar juntas. Passaram alguns meses morando em lugares diferentes, até que, em 2017, compartilharam o lar. Quando finalmente assumiu esse sentimento, não teve mais dúvidas e encarou tudo sem olhar para trás, de cabeça erguida, principalmente pelos preconceitos familiares. Entendem, também, que morar juntas trouxe a oportunidade de se conhecerem de verdade, lidando com as diferenças e descobrindo o quanto se parecem em visão de mundo, mesmo tendo personalidades diferentes. Fê lembra de uma conversa que aconteceu com Tatá logo no início sobre o machismo e como aí ela percebeu que, ao se relacionar com uma mulher, os desafios e as trocas eram diferentes. Até compôs uma música na época, falando sobre compartilhar tanto as alegrias quanto os momentos difíceis - e o relacionamento trouxe essa conexão profunda, onde não apenas se amam, mas também se apoiam em questões que só elas entendem. Tatá nunca havia morado com alguém antes, enquanto Fernanda já tinha experiência em dividir um lar com outras companheiras. No início, Fernanda fez questão de deixar espaço para que Tatá se adaptasse sem pressão, mas riem lembrando como eram diferentes as vivências. Ela admira o jeito da Tatá que está sempre disposta a crescer e se transformar, sem medo da mudança. “Tem coisas que a gente não consegue mudar, mas a maioria dá para ajustar”, diz Fernanda, reconhecendo que essa abertura para evoluir é um dos traços mais bonitos de Tatá. Fernanda entende que não é fácil mudar: as pessoas são mais resistentes à mudança, mas que Tatá muda porque entende que a mudança a torna uma pessoa melhor (e que sempre está disposta a ser melhor). É um desprendimento muito interessante. E uma das coisas que mais admira nela. Cartola, o cachorro, é parte essencial da família que construíram juntas. Fazem questão de levá-lo para todos os lugares possíveis, sempre respeitando seu bem-estar, reforçando esse vínculo. Ele as acompanha em shows, restaurantes, encontros com amigos e passeios. Para elas, amor está na lealdade e na confiança, no equilíbrio entre o vínculo profundo e a liberdade individual. Não precisam estar juntas o tempo todo, fazer tudo lado a lado, porque o amor não é sobre posse, mas sobre autonomia. “A gente ama quem a pessoa é e dá autonomia para que ela continue sendo, e isso faz com que o amor permaneça.” Essa segurança mútua torna a relação duradoura, sem a necessidade de provar constantemente algo que já está solidificado. Sentem orgulho em inspirar outros casais e reconhecem a amorosidade particular dos relacionamentos entre mulheres. Criadas por mulheres fortes, aprenderam a escutar e acolher. Suas histórias ajudaram a transformar as famílias, quebrando barreiras de preconceito e culpa cristã. Hoje, são admiradas pelos que antes hesitavam em aceitar. Demonstraram que o amor não precisa se restringir a guetos, que podem ocupar qualquer espaço, vivendo uma relação bela e legítima, sem constrangimento ou necessidade de esconder quem são. Fernanda estava com 43 anos no momento da documentação. É natural de Maceió, sempre foi cantora, desde a adolescência, e a música virou sua profissão e sua vida. Mas em determinado momento, sem perceber, passou a ouvir música apenas como estudo ou trabalho, perdendo o prazer diário da escuta que antes sentia. Foi Thalita quem a fez reaprender a ouvir música com emoção, a cantar alto, a abrir os braços para sentir o som. Um resgate que trouxe de volta muitas sensações sobre a música enquanto arte, não apenas trabalho na sua vida. Além disso, ama praia - seria muito difícil mora longe a água - e ama passar o tempo com Cartola, seu cachorro. Talita estava com 40 anos no momento da documentação. É médica cardiologista pediátrica, equilibra sua rotina intensa na medicina com os momentos que compartilha com Fernanda. A música é o que as une: cantam juntas, fazem carnaval, organizam blocos. Se estressam no processo, mas no fim do dia dormem juntas, acordam e encontram no amor um alívio para os desafios. Vivem Maceió, entre consultas e palcos, o amor e a arte se entrelaçam. Fundaram um bloco de carnaval na cidade muito importante para a narrativa da diversidade, fazem questão da população LGBT+ ser ouvida e acreditam que isso reverbera para diversos corpos e para a história da cidade ser cada vez mais reconhecida. ↓ rolar para baixo ↓ Talita Fernanda

  • Clarissa e Roberta | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Clarissa estava com 31 anos no momento da documentação, é natural de Carpina, cidade interiorana de Pernambuco. Chegou em Recife para fazer faculdade de farmácia, fez um intercâmbio para o estado de Minas Gerais onde passou um ano e meio lá estudando - e conhecendo um pouco mais de si, do mundo, tendo influências positivas diferentes das que possuía na cidade pequena ou em Recife - e quando voltou já se sentia muito diferente. Começou a viajar mais pelo Brasil, se inscreveu em congressos e cursos, aconteceram também suas primeiras experiências com mulheres, seu primeiro relacionamento e, assim, morou em outras cidades… sentiu que passou a conhecer mais quem ela era de verdade. Depois do seu primeiro relacionamento não ter dado certo e não ter sido tão bom quanto esperava, decidiu voltar para Recife, e voltou com um olhar totalmente diferente daquela primeira vez quando chegou. Se reconectou com a cidade, conheceu novas pessoas e se permitiu fazer uma viagem que sempre sonhou: para a Amazônia. Quando voltou: conheceu Roberta. Hoje em dia, moram juntas e parte do seu trabalho é compartilhado em casa com ela, numa sala com máquinas impressoras 3D montando recursos terapêuticos para auxiliar pessoas com dificuldade em mobilidade. Roberta estava com 28 anos no momento da documentação. Ouvindo Clarissa contar sua parte no momento da nossa conversa, ela comenta que seu momento de descoberta não foi assim aos poucos como o da companheira, sempre se viu 100% hétero. Suas amigas comentavam que ela deveria ficar com meninas para experimentar, mas ela nos padrões heteronormativos não concordava, até comentava que achava uma mulher ou outra bonita, mas era admiração, não atração. No íntimo, confessa: tinha curiosidade, mas não pensava em explorar. Pensava que se encontrasse uma mulher que realmente chamasse a atenção ela se permitiria, enquanto isso, não pensaria sobre. Foi um processo de muito autoconhecimento até se relacionar com Clarissa. Roberta é natural de Recife, morou muitos anos em Jaboatão dos Guararapes e fez uma especialização enquanto terapeuta ocupacional em reabilitação física. Hoje em dia, é responsável pela Ocupacional 3D, onde fazem os produtos citados no início do texto e também dá palestras e cursos sobre recursos terapêuticos. Quando Clarissa chegou em Pernambuco após a viagem, era época de São João e decidiu instalar um aplicativo de relacionamentos para encontrar alguém e ir nas festas dançar um forrozinho. Foi assim que conheceu Roberta. Na época, Roberta já havia desconstruído - ou melhor, construído - um pouco a ideia de se relacionar com mulheres, já passara por algumas experiências e entendeu que poderia, sim, estar numa relação com uma mulher. Às vezes deixava seu app voltado para homens, às vezes para mulheres… não tentava se enquadrar em algo. E em 2023 estava num momento de cura, depois de períodos difíceis vividos em 2021 e 2022, queria conhecer pessoas novas. O primeiro encontro foi o bastante para entender que iriam se conectar (o primeiro mesmo que deu certo, ainda bem! Porque o primeiro que a Clarissa havia sugerido era um encontro que nitidamente daria errado, uma ação social de catar lixo no rio…). Mas ufa, o primeiro encontro foi o forrozinho sonhado, conversas com conexão e tudo mais. Até comentaram com os amigos que provavelmente iriam ouvir falar mais o nome uma da outra nas conversas… porque provavelmente não seria algo passageiro. Continuaram se encontrando, descobriram coisas semelhantes, foram sentindo que tudo poderia virar um namoro, mas não falaram sobre isso diretamente, aos poucos introduziram o assunto, até que um mês depois estavam de fato namorando. Depois do início do namoro, passavam muito tempo juntas. Não ficavam mais de três dias sem se encontrar. Foi quando decidiram dividir o lar. Cerca de um ano depois, já estavam noivas. Num pedido de casamento, Clarissa criou um cordel inspirado na história delas e presenteou Roberta. O São João é muito significativo para elas, afinal, é a data que se conheceram e o período preferido do ano. Mas não podemos deixar de citar: entre os presentes, desde o começo do namoro Clarissa se destaca pelas ideias criativas. Tudo foi caminhando com intensidade, afirmam a rapidez quando relembram, mas entendem que o aprofundamento da relação foi feito à vontade. A própria família da Clarissa, que nos outros relacionamentos nunca se aproximou, fez questão de conhecer a Roberta e estar próxima durante a mudança, conhecendo o lar que elas moram. Para elas, isso mostra o quanto esse relacionamento é diferente. Apesar da família ainda ter seus limites, é muito importante ver como tudo já caminhou com disposição, como as pessoas ao redor já mudaram suas percepções e seus preconceitos nesses últimos anos através do amor. Roberta conta que no começo ela sentia bastante medo da rapidez e da proximidade, mas que de alguma forma se sentia à vontade e gostava do que vivia, queria dar uma chance para essa relação. Por mais assustadora que fosse a velocidade, praticamente avassaladora, possuía a sensação de que já se conheciam. E não queria mais estar distante. Foi estranho ver uma pessoa chegando “de mala e cuia” na sua casa aos poucos, encaixando suas coisas, compartilhando sua rotina. Depois seria estranho não ter mais essa pessoa. Hoje explica como foi importante a existência da Clarisse na sua vida para tantas outras coisas, como a questão das impressoras 3D que possuem em casa, que ela sempre sonhou em ter para fazer os produtos com adaptações para pessoas com deficiência. Foi Clarissa quem incentivou a busca pelo sonho e hoje são companheiras de estudos e sócias, criaram a empresa da Roberta, que explica o quanto o trabalho a salva diariamente. Ela é uma pessoa que se move pelo cuidado, seja com a família ou os amigos, está sempre zelando por quem ama. É dedicada e sente que isso está na sua cultura, aprendeu a ser assim desde criança, tanto que escolheu essa profissão. Fizemos questão de documentar esse sonho nas fotos também, nessa parceria num dos quartos de casa é onde mora uma parte muito grande desse amor. ↓ rolar para baixo ↓ Clarissa Roberta

  • Quem faz o doc? | Documentadas

    Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Vem participar você também! QUEM FAZ O DOCUMENTADAS ACONTECER? O Documentadas é o primeiro banco de registros sobre o amor entre mulheres. Suas histórias são acolhidas através da escuta e da fotografia - essas, feitas por mim, a Fernanda. Idealizei o projeto em 2020 e desenvolvo ele desde então. Sou fotógrafa, fotojornalista, artista e entusiasta a mudar as visões das pessoas sobre o mundo. O .doc, hoje, representa um banco de dados online, disponível para todas e quaisquer pessoas interessadas na proposta de conhecer mulheres que amam ou amaram outras mulheres na historiografia. Acredito que o Documentadas não é feito apenas por mim, mas por diversas pessoas que, ao longo dos meses, se dedicaram a doar um valor simbólico para que ele seguisse acontecendo e chegando em cada vez mais casais. Sem essas doações, o projeto jamais seguiria existindo. Portanto, reafirmo: o Documentadas é nosso. Um projeto vivo que segue em transformação. Com essas doações o projeto já chegou em mais de 310 mulheres e 10 estados brasileiros. São as colaboradoras e os colaboradores: Adriana Bueno Valente Alana Laiz Alana Palma Pereira Alessandra Orgando Alessandro dos Santos Alice Cordeiro Alice Sbeghen Tavares Aline Vargas Escobar Allana Fraga Gonçalves Botelho Alyce Carolyne Porto Leal Amanda Fleming Batista Amanda Garcez Amanda Moura Ana Carolina Araujo Soares Ana Carolina Costa da Silva Pinheiro Ana Carolina Cotta Ana Carolina de Lima Ana Carolina de Souza Santos Ana Cecília Resemini Esteves Ana Clara Bento Ruas Ana Clara Piccolo Ana Clara Tavares Ana Flávia Pereira Ana Júlia Cardoso Daer Ana Milene Ana Parreiras Ana Paula Boso Ana Paula Costa Roncálio Ândria Seelig Ane Salazar de Aguiar Anelise Seren Angela Lacerda Anne de Araújo Baliza Anne Mathias Antônia Magno Aria Maria Mendes de Carvalho Augusto Pellizzaro Barbara Fadini Bárbara Fernandes Vieira Dias Beatriz Costa Nogueira Bianca de Souza Rodrigues Francisco Bianca dos Santos Zrycki Bianca Hamad Choma Bibiana Nodari Borges Brenda Eduarda Bruna Dantas Bruna Lourenco Reis Bruna Miranda do Amaral Camila Fernanda da Silva Camila Lobo Camila Monteiro de Oliveira Camila Nishimoto Camila Pereira Silva Camila Petro Camila Santiago Camilla Borges da Costa e Mello Caren Laurindo Carla Correa Carla Murielli Vieira Crispim Carolina Pasin Carolina Peres Caroline Barbosa Rodrigues Caroline Brum Caroline Corrêa Cecilia Couto Cecília Vieira de Paiva Cindy Lima Clara Campos Martins Clara Silva Claudio Daniel Tenório de Barros Cleiciane da Silva Figueiredo Cleiciane Figueiredo Cleicy Guião Cristiane Becker Damares Mendes Rosa Dandara Gonçalves Daniela Maldonado Daniele Silva Caitano Débora Queiroz Denize Dagostim Denyse Filgueiras de Alencar Diego Tomasi Dom Bittencourt Edilene Maria da Silva Elins Daiane Valenca Elis Lua Elisa Tenchini Elisabete Pereira Lopes Ellen Melo Santos Emanuelly Alves dos Santos Emily Blanco Fagundes Estela Caroline Freitas Evelyn Pereira Fabi de Aragão Fabiana Aparecida Peres Felicia Miranda Fernanda B Cardoso Fernanda Carrard Belome Fernanda Cristina Fiore Lessa Fernanda Frota Correia Fernanda Gomes Bergami Fernanda Lopes Fernanda Marques dos Santos Fernanda Uchida Francini Rodrigues da Silva Fredy Alencar Peres Colombini Gabriel Py Gabriela Biazini Talamonte Gabriela Fleck Gabriela Mancini Mainardes Gabriela Montenegro Gabrielle Schmidt Barbosa Gabrielle Secco Sampaio Geovana Maria de Lima Gomes Gilian Rodrigues Ventura Gisele Basquiroto Giulia Baptista Gizelle Cruz Glauciene Nunes Gloria La Falce Glória Lafalce Graciliene Nunes Guacira Fraga dos Santos Hailla Sianny Krulicoski Souza Sena Heloisa Silva Neves Henrique Standt Iana Aguiar Iana Oliveira da Silva Iasmim de Oliveira Isabela Arantes Costa Isabela Cananéa Isabela Damasceno Isabela Pereira Silveira Isabella Acerbi Isabella Bueno Isabella Milena Nascimento da Cunha Isabelle Rocha Nobre Isabelle Rosa Furtado Pereira Izadora Emanuelle Maizonetti Jady Marques Jamyle Rocha Silva Janaina Calu Janaina Dutra Janaina Monteiro Jéssica Bett Jéssica Brandelero Jéssica de Almeida Fernandes Jéssica Dornellas Jéssica Gladzik Jessica Rosa Trindade Jessica Soares Garcia Jéssica Spricigo Joana Cardoso Jose Schwengber Joyce Marinho Jucineia Beatriz Julia Alves Pinheiro Julia Barros Julia Caetano Julia Câmara Julia de Castro Barbosa Julia Marques Tomaz Julia Oliveira Silveira Júlia Rodrigues Júlia Silveira Barbosa Juliana Figueiredo Juliana Poncioni Juliana Scotti Juliane Gomes Kamilla Siciliano Vargas Kamylla Cristina Santos Karine Veras Karoline Camargo Rocha Karoline Camargo Rodrigues Katia Alves de Melo Laira Rocha Tenca Laís Tiburcio Lara Beatriz Nascimento Larissa Sayuri Laura Luiza Rodrigues Nogueira Laura Serpa Palomero Layssa Belfort Letícia Alves Morais Santos Letícia Moreira das Neves Letícia Ribeiro Caetano Letícia Rocha Lia Tostes Liane Mendes Lilian Dina Linnesh Rossy Lorena Vidal Louise dos Santos Martins Louise Valiengo Luana Corrêa Tourino Luana de Lima Marques Luana Moreira Luana Ramalho Martins Luana Riboura Luciana de Sousa Santos Luciana Isabelle Luciana Patrício Luisa Rabelo Cruz Luiza Chaim Luiza Eduarda dos Santos Luíza Vieira Luiza Vieira Moura Maiara Scheila Freitas Santos Maíra de Oliveira Sampaio Maíra Godoy de Carvalho Manuela Almeida Seidel Manuela Teteo Natal Maria Clara Pimentel ATÉ AGORA, 317 PESSOAS JÁ COLABORARAM Maria de Fátima Piccolo Maria Gabriela Medina Maria Gabriela Schwengber Maria Geyze Andrade Barbosa Monteiro Maria Vitoria Candiotto Mariah de Faria Barbosa Mariana Coutinho Mariana Ferreira Dias Mariana Gomes Mariana Gomes dos Santos Mariana Matias de Sousa Mariana Souza Pão Mariane Mendes Lima Marianna Novaes Martins Marília Alves Marina da Silva Maristela Valdivino dos Santos Maurício Oliveira Mayara de Souza Santos da Silva Melissa de Miranda Mérope Messias Miguel Angel Milena Abdala Milena dos Santos Ferreira Milena Pitombo Monique Barbosa Costa Monique Silva de Figueiredo Moreira Natali Alves Lima Natalia Correa Montagner Natalia da Silva Brunelli Natalia Kleinsorgen Natasha Torres G Morgado Nathalia Nascimento Nathalia Silva Nascimento Neuza Ferreira Rodrigues Paloma Gomes da Silva Paula C Vital Mattos Paula Silveira Petra Herdy Pollyana Carvalhaes Ribeiro Priscila Ribeiro Priscilla Bitinia de Araujo Amorim Rafael da Silva Pereira Rafaela de Carvalho Marques Raquel Dantas Rayanne Cristina Nunes Moraes Rayssa Padilha Rebeca Fortunato Santos Ferreira Rebecca Pedroso Monteiro Rebecca S Morgado Bianchini Rejane Rodrigues Renata Canini Renata Del Vecchio Gessullo Renata Martho Renata Santos Lima Maiato Renata Silveira Vidal Reybilis Ismaryen Blanco Espin Roberta Teodoro de Oliveira Barbosa Sabrina Alves de Santana Samantha Moretti Sâmela Amorim Aquino Santiago Figueroa Sarah Nadyne de Codes Oliveira Sharon Werblowsky Simone Ambrósio Sofia Amarante Sofia Conchester Sophia Chueke Stephanie Estrella Taciane Duarte Dias Taina Fernanda Moraes Taina Oliveira Talita Marques Talyta Mendonça Tamiris Ciríaco Társila Elbert Tayami Fonseca Franca Tayana Costa Tercianne de Melo Ferreira Thabatta Alexandra Possamai Thais Agda Rodrigues da Cruz Primo Thais Cristine V Souza Thaissa Mezzari Thatiely Laisse de Queiroz Silva Thayanne Ernesto Thaysmara de S. Araújo Triscya Tamara Lima de Souza Ramos Ursula Inara Mayca Vanessa Pirineti Vania da Silva Victoria Bandeira Moreira Victoria Catharina Dedavid Ferreira Victoria Maciel Farias Victoria Mendonça Vitória Maria de Oliveira Vivian Franco Viviane Lafene Viviane Lima Viviane Otelinger Viviane Rangel Wanessa Gomes Wanessa Oliveira Weila Oliveira Noronha Yasmin da Cunha Martins Yasmin de Freitas Dias FAÇA PARTE DESSA HISTÓRIA. DOE ATRAVÉS DO NOSSO PIX: FERNANDA@DOCUMENTADAS.COM Fernanda Piccolo Huggentobler - Idealizadora

  • Opa, tão nos copiando por aí? | Documentadas

    Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Vem participar você também! • como copiar o doc • que esse projeto é lindo a gente já sabe que todo mundo deseja ter um doczinho pra chamar de seu? é óbvio! mas tem gente ultrapassando os limites para chegar nesse objetivo papo reto: o doc é estudado projetado desenhado... não vamos aceitar cópia barata & cafona por aí. então, decidimos: opa, mas calma. caiu aqui de paraquedas e não tá entendendo nadinha? vem conhecer o doc antes! ♥ agora sim, parte 1: a nossa fonte > os nossos lambes a frase "toda mulher merece amar outra mulher" foi adotada pelo .doc a partir de uma documentação que fizemos na casa de um casal [e fotografamos ela em um objeto] em 2021. na época, postamos algumas vezes e recebemos alguns comentários dizendo que deveríamos fazer um adesivo com ela estampada. e não é que deu certo? foi crescendo, crescendo, e virou a cara do documentadas, sendo usada principalmente nos nossos lambes. até então, não disponibilizávamos esses lambes para colarem por aí, acreditamos que ele é a forma que o doc ocupa as ruas enquanto arte. mas agora você pode obter ele clicando aqui: baixar moldes dos lambes aqui #olha a dica! para colar os lambes direitinho, se liga nisso aqui: - pincel ou rolinho na mão; - superfícies lisas >> e não inventa de colar lambe em local privado sem autorização! por favor! dê preferência à postes e converse com o dono do local antes de sair colando por aí; - cola tipo PVA + água, misturadas em um recipiente, não deixando nem muito denso, nem muito líquido; - chama alguém para te acompanhar, não indicamos fazer a colagem sozinha; - deixa o lambe liso com a cola bem espalhada, assim garante a durabilidade :D espalhar a frase por aí com a nossa fonte e a nossa logo é importante para garantir a identidade e a representatividade do projeto, fazendo com que ele seja reconhecido facilmente e amplamente divulgado - afinal, é assim que chegamos em mais mulheres , né? não edite esse material nem recorte a nossa logo dele. colabore com a arte. parte 3: outros produtos do .doc temos outros produtos de alta qualidade que só a gente faz: quadros, camisetas e postais. esses, você encontra na nossa loja. ó a loja do doc, que linda • para entender melhor • por que a pirataria é mais barata? - material de baixa qualidade; - produção em escala absurdamente maior; - possuem fabricação própria; - não estudam e desenvolvem o material, apenas pegam o que já existe de artistas que produzem; - não possui serviço online de retorno (atendimento) - não enviam para todo o Brasil por que os produtos do .doc custam esse valor? - temos um material de melhor qualidade - não possuímos fabricação própria, inclusive temos gasto de frete buscando na cidade de fabricação; - pagamos uma plataforma de venda; - pagamos taxas bancárias a cada venda; - não temos equipe, tudo é feito por uma pessoa (humana & artista); - pagamos pelos materiais que acompanham a ecobag (panfleto pôster + adesivos brindes) + embalagem + etiquetas; - a ecobag é um produto que garante o projeto a se manter em funcionamento, ainda com margem de lucro pequena; - enviamos para todo o Brasil; - qualquer problema que você tiver com o produto (rasgou, não serviu, foi cobrado errado) estaremos aqui para te atender; vamos ensinar a copiar o doc. //como diria nossa mãe: "quer fazer? faz direito". parte 2: nossas ecobags são elas, as queridinhas da pirataria. para a nossa tristeza: porque a ecobag é o nosso principal produto. que vacilo, né? ainda por cima piratearam ela em comic sans. pô, não dá. pega aqui o molde pra fazer a tua. faz bonito, tá? baixar moldes das ecobags aqui [quer vender com a nossa autorização em alguma feirinha? manda um e-mail para nós através do nosso site ou diretamente para fernanda@documentadas.com ] ah, mas que trabalhão fazer, né? também acho. por isso, nossa ecobag está com 60% de desconto no site depois desse furacão que vivemos. sim, é para zerar o estoque. bora com a gente? vamos encarar a pirataria de frente e fazer a nossa ecobag estar pelo Brasil todo. o que faz do doc uma marca incomparável com a pirataria? somos um projeto artístico, estudado e executado com respeito. além disso, em cada produto adquirido você contribui para que mais mulheres tenham suas histórias registradas por todo o Brasil, num documento inédito e que, até o início do projeto, era inexistente. adquirindo um produto pirata, você só contribui para a desvalorização da arte.

  • Inara e Juliana | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Inara estava com 25 anos no momento da documentação. É natural do Rio de Janeiro, mais especificamente do Morro da Providência, onde fizemos as fotos. Lugares como a Gamboa, a Pedra do Sal e a região boêmia do centro fazem parte do seu lar. Hoje em dia está terminando a faculdade de direito, é uma mulher que ama samba, ama estar com a sua família e principalmente com o seu pai, que já tem 73 anos. Juliana também estava com 25 anos no momento da documentação. É natural do Rio de Janeiro, da zona norte, cursa faculdade de fisioterapia e trabalha com agendamento de exames e outros processos clínicos. Tem gostos muito semelhantes com Inara: adora samba, sua família está sempre em primeiro lugar e é muito ligada ao pai - mesmo ele morando na mesma rua que a mãe, então ainda que separados, tudo é muito próximo. Passou por um processo de aceitação um pouco mais delicado dentro de casa, mas fica muito feliz em entender o quanto está evoluindo, ainda mais por levar Inara e ver ela sendo acolhida, a família perguntando por ela, desejando a presença dela em casa… Isso a faz muito feliz. Foi numa festa de natal durante a pandemia de Covid-19 que Inara contou para a família que se relacionava com mulheres, se assumindo enquanto uma mulher bissexual. Dois anos depois, em 2022, começou o relacionamento com a Ju. Até então, a família achava que talvez fosse uma fase, que ela beijaria mulheres longe de casa, que não seriam relacionamentos sérios… mas ao assumir a relação, algo mudou na forma que lidavam, era um posicionamento, um namoro que desejavam levar à sério e serem respeitadas por isso. Através de um aplicativo de relacionamentos Inara e Ju se conheceram. Inara lembra de ter visto a foto da Juliana no aplicativo, mas passou, não tinha como voltar, e resolveu procurar ela nas redes sociais. Não seria assim fácil encontrar, obviamente. Mas o que ajudou foi o fato de terem amigos em comum. O melhor ainda, é que suas famílias se conhecem há muito tempo, então não são “qualquer” amigos em comum, são pessoas muito próximas… Então, de alguma forma, elas sempre estiveram nos eventos de família uma da outra, mas não se conheciam. Eram 6h da manhã, de sábado para domingo, quando Inara resolveu mandar uma mensagem para Ju dizendo que sentia que tinha que chamar, explicou que havia encontrado o perfil dela no app, mas não conseguiu dar “like” lá, então foi procurar ela nas redes. Poderia ser uma mensagem super estranha, até deixou claro que se fosse estranho ela nem precisaria responder, e nem esperava que Ju estivesse online neste momento. Mas ela estava… Saindo de uma festa. Estranhou a mensagem, claro, mas respondeu. No dia seguinte, quando começaram de fato a conversar, descobriram todas as ligações em comum. Para além das pessoas em comum, Ju e Inara possuem muitos gostos e estilos de vida semelhantes. Desde o primeiro encontro foram vendo suas vidas combinarem, sentiam que se conheciam há muito tempo. No segundo encontro já estavam falando sobre o nome da filha que queriam ter, Ana Lua, por conta de uma música - igual o de Inara, que também é por conta da música - e que elas adoram. E cerca de dois meses seguintes teria o show do artista que canta Ana Lua, Armandinho, então elas já combinaram de ir. Explicam que foi tudo junto: mesmo estando no momento inicial da conversa, saíram fazendo planos a curto, médio e longo prazo. O primeiro mês foi um mês de entendimento e de deixar a paixão acontecer. Queriam namorar oficialmente depois do show, em dezembro, e ambas estavam com a mesma ideia de pedir. Acabaram fazendo surpresas, alugaram um espaço para viver o dia do show, fazer churrasco, curtir um samba - lá fazer um pedido de namoro - e durante o show fazer outro pedido também, na música Analua. Assim, as duas fizeram o pedido, cada uma em um momento, tornando mais especial. Entendem que nesses dois anos de relação muita coisa já está diferente, amadureceram muito pela forma que aprenderam a lidar com a família, as pressões sociais e a própria correria que a vida demanda. Reconhecem as evoluções - o pai da Inara que, com 73 anos, as acolhe nessa adaptação… a mãe da Ju que mudou muito nos últimos anos… Contam que no último dia dos pais reuniram as famílias e que foi um momento muito representativo, não só pelo valor que dão aos seus pais, mas principalmente por ter sido uma iniciativa deles. Foi um momento que ambas choraram muito e que viram ali uma quebra de preconceitos grandiosa acontecer pela vontade maior de estarem todos juntos. Tentam deixar o tempo fluir, não forçam a aceitação o tempo todo, assim as coisas vão acontecendo no tempo que as pessoas conseguem processar. Ju explica que o amor que elas vivem fica refletido no quanto estão felizes e no quando se impulsionam a crescer. A família entende esse amor porque é nítido no carinho, no tratamento diário. Resultado disso é esse esforço genuíno de estarem próximos, assim como acontece nas datas comemorativas que as famílias se juntam, ou nos momentos que percebem o esforço de cada um quebrando aos pouquinhos o preconceito em nome de demonstrar o amor, o orgulho, o respeito que existe amando a pessoa como ela é. Não é algo que surge ‘do dia pra noite’, mas uma linha do tempo que o relacionamento está criando ao longo desses dois anos. ↓ rolar para baixo ↓ Inara Juliana

  • Rhanna e Lais | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Rhanna viu Lais pela primeira vez numa prova de concurso em Salvador, em 2017. Na época, tinha um relacionamento aberto com a companheira, que morava no Rio, e achou as duas muito parecidas… Um tempo depois, foi visitar a companheira e viu Lais novamente, numa coincidência estranha, num bar na Lapa. Ela nem imaginava, mas Lais morava no Rio também. Lais foi morar em Feira de Santana em 2018, por ter conseguido um trabalho novo. Durante o período de São João conheceu a festa O Bando Anunciador, um cortejo que acontece na cidade - e que era tema da pesquisa de Rhanna, nascida (e criada) em Feira. Nos dias que antecederam a festa, participaram de um evento juntas: uma mesa de debates. Quando Rhanna chegou e viu Lais, contou que a conhecia, já tinha visto ela nessas duas situações aleatórias em lugares tão diferentes. Lais achou bastante estranho, engraçado ao mesmo tempo, mas se deram bem e foram dividir a mesa de convidadas. Quando se encontraram novamente, na festa do Bando Anunciador, Lais foi roubada. Ficou indignada porque foi roubada por um menino, um “moleque”, que quis sair correndo na rua atrás dele, mas não o encontrou. Viu Rhanna, mas mal a cumprimentou. Quando chegou em casa se sentiu até mal, sabia que ela estava empolgada com a festa, era um dia que queria ter vivido. Foi pesquisar por ela nas redes sociais, pedir desculpas… mas não achava de jeito nenhum, principalmente pela dificuldade de escrever o nome: H, dois Ns… só conseguiu quando achou uma divulgação do evento que participaram juntas. Mandou uma mensagem se desculpando por estar emburrada daquela forma, contou o ocorrido e assim começaram a conversar. Desde antes da relação virar uma relação, amizade, ou qualquer outra coisa, o que deu certo e fez acontecer foi o fato delas sempre toparem as coisas. Tanto Rhanna, quanto Lais, são pessoas que falam: “Bora? Bora!”. A primeira vez que saíram foi para um show que geralmente as pessoas não iriam, mas a festa tinha a ver ainda com o cortejo do Bando Anunciador. Se divertiram por lá e começaram uma amizade. Lais sabia da relação de Rhanna e sempre pensava que não queria se meter, achava que poderia resultar em alguma confusão, por mais que sim, se sentisse um pouco envolvida por Rhanna. Demorou alguns meses para que começassem a se envolver de fato, houve o processo da paixão, de encerrar o outro relacionamento, de se permitirem viver a paixão e de transformar isso em namoro… Sentem que o tempo foi colaborando no processo, o fato de morarem próximas e estarem sempre juntas também foi grande aliado. Durante a pandemia de Covid-19 estiveram juntas em Feira de Santana, se mantiveram isoladas em uma casa com quintal, com um gatinho, cozinhando, com muito tempo para se conhecer… sentem um pouco de falta agora que a dinâmica do trabalho intenso toma conta. Em 2020, ainda durante a pandemia, fizeram parte de uma campanha política - que começou de forma online e passou por uma parte nas ruas. Ficaram boa parte do ano em campanha dentro de casa. Depois, quando foi necessário ir às ruas, alugaram uma kitnet em Salvador e chegaram para trabalhar presencialmente. A candidata para quem elas fizeram campanha foi eleita e no ano seguinte, em 2021, foram convidadas para fazer parte do novo mandato que se construiria na cidade. O apartamento que haviam alugado era temporário, apenas para a campanha, depois voltaram para Feira de Santana, mas como aceitaram a proposta de trabalho voltaram para Salvador no início do ano. Ficaram de 2021 até 2022, quando se mudaram oficialmente para o Rio de Janeiro, nessa nova proposta de trabalho diretamente com cultura e comunicação. Quando nos encontramos, no fim de 2024, estavam na preparação para a festa de casamento que aconteceria no começo de 2025 em Salvador. Lais sempre quis casar, brinca que tem essa vontade de fazer as coisas como uma família tradicional brasileira, mas a verdade é que quer ter tudo o que tem direito e o casamento é uma dessas coisas, casar é importante porque faz parte de um processo político, um reconhecimento de que essa relação existe. Lais enxerga o amor que vivem como algo revolucionário, ainda mais no momento em que estavam se preparando para o casamento. É muito importante falar sobre o amor com todas as letras. Explica que sempre falamos sobre o nosso amor “pela metade”, sempre falamos pouco, com medo de julgamento, com cuidado sob quem vai ouvir… e agora é o momento que estão falando abertamente e naturalmente sobre uma relação tão bonita que vivem. O casamento é o momento das famílias, dos amigos, de unir tantos mundos diferentes. Refletiu bastante ao convidar a família toda para a cerimônia. E viu que o dia se tornou uma afirmação, um dia que puderam reafirmar e sentirem celebradas, apoiadas por esse amor. Falamos sobre como o amor entre mulheres pode ser capaz de inverter uma lógica masculina, não precisamos nos guiar por ela - por mais que somos criadas num mundo patriarcal e que desde pequenas somos guiadas por questões masculinas - em relacionamentos com mulheres podemos nos reinventar e fazer diversas coisas como nos sentirmos melhor. Lais e Rhanna, por exemplo, possuem uma comunicação muito aberta sobre suas vivências, seja cotidiana em casa, seja suas relações no trabalho por trabalharem juntas… E tudo isso existe por não se cobrarem nos moldes de um sistema que nos coloca numa posição inferior. Já criaram seus próprios mecanismos internos na relação que para estarem sempre se impulsionando, admirando e principalmente se apaixonando uma pela outra pelas coisas que se “completam”, pelos seus detalhes. Finalizamos a conversa contando a história de Raj, que veio somar na família, cachorrinho que encontraram na estrada, levaram para a casa e tentaram buscar adoção, mas conquistou o coração. Ou seja: ele quem adotou elas. Lais estava com 33 anos no momento da documentação. É produtora cultural, trabalha com políticas públicas para a cultura na FUNARTE. É natural de Salvador, mas mora no Rio de Janeiro e fez sua mudança por conta do trabalho. Já havia morado no Rio em 2015, ficou até 2017 e se mudou para Feira de Santana, onde trabalhou no SESC. Adora teatro, fez teatro por alguns anos e acredita que escolheu sua profissão por conta disso. Rhanna estava com 33 anos no momento da documentação. É natural de Feira de Santana, interior da Bahia. Formou-se em direito, fez mestrado em Antropologia e começou a pesquisar sobre festas. Hoje em dia trabalha com cultura e comunicação na FUNARTE e gosta de transitar entre as festas populares, culturas, histórias… Já trabalhou com fotografia, arte de rua… Como ela e Lais se mudaram ao Rio para trabalhar, a rotina vive em torno do trabalho e da vida profissional, no tempo livre desejam descansar e planejar o momento de estar com suas famílias na Bahia. Nesse tempo de relação, foram 5 anos e 5 casas, contam que a vida é assim mesmo, corrida. Desde 2016, Lais conta que participou da ocupação do Ministério da Cultura no Rio, foi construindo sua vida e seus caminhos de lá pra cá, e hoje comemoram o fato de estarem completando quase dois anos num só lugar. ↓ rolar para baixo ↓ Rhanna Lais

  • Natália e Bruna | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Dalila estava com 28 anos no momento da documentação, nasceu em São Paulo, mas se mudou para uma cidade interiorana próximo à Campinas ainda jovem. É uma pessoa bastante calma, sempre encontrou formas de se adaptar aos diferentes cenários de sua vida - e por isso, gosta de se definir como um camaleão. Formada em contabilidade, começou sua carreira na área administrativa, mas foi aos 24 anos que aproveitou novas oportunidades, indo para hotelaria. Adora yoga e pilates. Andréia, no momento da documentação, estava com 47 anos. Nasceu em São Paulo, saiu de casa aos 17 para desbravar o mundo. Formada em contabilidade, tinha o sonho de trabalhar na Bolsa de Valores e chegou bem perto disso: ingressou em um escritório vinculado à Bolsa, mas o destino tinha outros planos. O departamento de hotelaria no mesmo escritório despertou maior curiosidade, uma das colegas tirou licença-maternidade e ela pegou algumas das suas responsabilidades. Dez meses depois, veio uma promoção e uma proposta: mudar para Recife trabalhando com isso. Era 2003, ela tinha pouco mais de 20 anos e topou na hora, sem nem pensar duas vezes. Passou três meses trabalhando em Angra dos Reis para entender como os hoteis funcionam, depois desembarcou em Recife e ficou por lá alguns anos. Desde então, já possui mais de 20 anos de carreira na área, trabalhando principalmente no nordeste. Juntas, Dalila e Andréia formam uma parceria que se complementa: Dalila é metódica, cuidadosa, calma. Lembra Andréia de levar o casaco, beber água ou ajeitar a postura. Andréia vem com a agitação, o espírito aventureiro, lembra Dalila de viver o momento, a juventude. Depois de passar anos morando no Nordeste, Andréia passou por algumas questões familiares e precisou voltar para São Paulo. Retornou sem emprego, sem contatos e sem um plano claro, considerando até mesmo a possibilidade de um intercâmbio. Enquanto isso, enviou alguns currículos e, em pouco tempo, recebeu uma proposta de emprego em um hotel conhecido em Campinas. Foi lá que conheceu a Dalila. No início, era complicado entender os sentimentos que começavam a surgir entre elas. Dalila tinha 23 anos, estava começando sua carreira. Andréia, além da diferença de idade, ocupava um cargo de liderança. A posição profissional pesava e decidiram manter o relacionamento em segredo. Por mais que a idade fosse um fator, Dalila sempre foi uma pessoa muito madura e isso nunca interferiu na relação, tinham mesmo era receio da questão profissional. Se conheceram um pouco antes da pandemia de Covid-19 e do lockdown acontecer. Quando foi declarado, o hotel ofereceu uma opção de demissão voluntária - os empregados se demitiriam mas teriam todos os direitos garantidos - e elas optaram por fazê-la, e assim, poderiam também assumir a relação sem mais o medo disso interferir no trabalho. Depois disso, passaram por um novo momento: assumir à família. Alguns meses depois, contaram para a mãe da Dalila. Era um momento bem significativo, a primeira vez que falaria da sua sexualidade, somado ao fato de estar com uma mulher mais velha e, ainda, o desejo de sair de casa. Apesar da complexidade, sua mãe, uma mulher incrível, acolheu a notícia com compreensão e amor. Esse período de adaptação levou alguns meses, mas foi essencial para fortalecer a relação entre elas. Ainda nesse processo, tiveram a primeira viagem juntas, o primeiro trabalho pós-demissão e receberam uma nova proposta para trabalhar juntas em Porto Seguro. A primeira mudança que fizeram para Porto Seguro a fim de trabalharem juntas foi um divisor de águas na vida da Andréia e da Dalila. Andréia assumiu a gerência, enquanto Dalila cuidava da parte operacional. Em meio à pandemia, estavam no único hotel aberto em Porto Seguro. Esse período marcou o início de uma vida compartilhada, tanto no trabalho quanto na relação pessoal. Mesmo em tempos desafiadores, encontraram maneiras de aproveitar. Passearam por Arraial d’Ajuda - o local onde fizemos as fotos - beberam água da fonte lendária que promete trazer de volta aqueles que a experimentam e visitaram Trancoso. Essa última viagem ficou ainda mais especial com uma pousada em que se hospedaram e da qual gostaram tanto que, três anos depois, decidiram arrendá-la e trabalhar nela como administradoras. Quando o contrato em Porto Seguro terminou, um novo destino chegou: Porto de Galinhas, em Pernambuco. Em Pernambuco trabalharam em hoteis distintos, exploraram novos hábitos alimentares e descobriram formas diferentes de viver. Foi nesse período que Dalila despertou um amor especial pela cozinha, criando cafés da manhã não só para elas, mas também para vender. Em 2022, surgiu uma oportunidade de retornar à Bahia, entre Porto Seguro e Trancoso, para trabalhar novamente com hoteis e pousadas. Decidiram voltar e, dessa vez, arrendaram a pousada que tanto haviam amado anos antes. Moraram em Arraial d’Ajuda e se deslocavam diariamente para Trancoso, onde gerenciavam a pousada. Dalila voltou a se dedicar à culinária, inclusive fazendo isso na pousada: elaborando cafés da manhã em sua maioria vegetarianos. Ficaram quase um ano nessa rotina. Após o período na pousada, seguiram para outros trabalhos, foi então que Dalila criou o Manhãs e Marés: um serviço especial de cafés da manhã, atendendo tanto pousadas/hoteis quanto clientes individuais. Atualmente, Andréia continua sua carreira na administração de pousadas e beach clubs, enquanto Dalila equilibra sua paixão pelos cafés com o suporte à administração. Hoje, além do trabalho e do tempo de qualidade juntas, Andréia e Dalila dividem o amor por uma gata que adotaram. A vida que construíram reflete a busca constante por leveza, equilíbrio e conexão. Elas se alegram com as pequenas e grandes mudanças que alcançam juntas, aprendendo a ser pés no chão, mas sem se cobrar demais. Dalila conta que Andréia traz a agitação para a vida dela e foi num desses momentos que surgiu o “Praciar” - ato que fizemos na hora da documentação: sentar na praça e observar. Compram uma cerveja, ficam de boa, assistem o movimento. Dalila gosta de dormir cedo, então ficam na praça até ela começar a sentir sono, e vão embora. Adoram a calmaria do relacionamento, acreditam que o amor próprio é a chave para ele dar certo e, ainda mais para a Andréia, que se vê enquanto uma pessoa agitada que sempre fez “muita balbúrdia”, a calma da Dalila a ensina o tempo todo. Entendem esse amor refletido no respeito por ser quem são, no momento de cada uma, nos limites das inseguranças e em enfrentar os momentos difíceis juntas. No momento da documentação, inclusive, haviam acabado de chegar de um encontro de famílias que só aconteceu depois de cinco anos de relacionamento, lá em São Paulo. Pensam na demora e na insegurança que tinham pelo fato da diferença da idade, por terem familiares mais velhos presentes, senhores e senhoras de 80 e 90 anos e que havia receio do que poderiam ouvir, ainda mais por verem Dalila como uma “menininha” e por ela estar namorando uma mulher mais velha. Todavia, foi incrível, acolheram Andréia de uma forma maravilhosa e admiraram a felicidade delas. Nesse ato elas enxergam o amor, entenderam que o importante é serem felizes, estarem em conforto e cuidado. ↓ rolar para baixo ↓ Dalila Andréia

  • Melina e Karyne | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Melina e Karyne se conheceram há cerca de dois anos, mas só começaram a se relacionar de fato no ano passado. Foi num famoso bar com karaokê em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, que elas se esbarraram. Sem amigos ou conhecidos em comum, Melina viu Karyne cantando e falou para os amigos dela o quanto “era bonita e poderia ser a mulher da minha vida”. Depois que ela saiu do palco, Melina ficou procurando ela pelo bar mas não encontrou, até que na hora de ir embora viu ela numa mesa, com alguns amigos… criou coragem, foi falar com ela e pediu um beijo. O beijo aconteceu e ficaram juntas um tempo, depois trocaram perfis no Instagram (e Karyne estava com seu perfil desativado, acabou passando um que usa para publicar seus desenhos), trocaram algumas conversas e começaram a se encontrar aos poucos. Como havia uma boa comunicação quando saiam juntas, falavam sobre não estarem em um momento que desejavam um relacionamento, não era prioridade para as duas. Se encontrar da maneira que estava rolando, uma vez por mês, quando a Karyne respondia as mensagens que Melina enviada, acabava sendo confortável - e quando saiam se divertiam juntas, iam à cinemas de rua (como o lugar em que fizemos as fotos), espaços culturais e bares. Assim seguiram durante um ano. Hoje em dia, estabelecer essa comunicação franca ainda está nos seus principais objetivos enquanto casal. Entendem que são pessoas culturalmente diferentes, que uma é mais fechada que a outra e que só vão se abrindo aos poucos. É por isso, também, que tratam com muito cuidado os momentos difíceis porque sabem que possuem formas diferentes de lidar. Melina estava com 26 anos no momento da documentação, é natural de Niterói - RJ e é atriz. Atualmente está se formando numa escola de teatro (como curso técnico) e este ano vai iniciar os estudos em teatro na universidade. Independente do estudo acadêmico, faz teatro desde os 8 anos de idade e já deu aulas tanto de teatro, quanto de violão (e adora trabalhar com o que envolve educação e arte) explica que foi educada envolta de muita arte e não se vê longe disso. Quanto aos hobbies, adora jogar vôlei e desenhar. Karyne estava com 24 anos no momento da documentação, é natural de São Gonçalo - RJ e se formou em Publicidade. Hoje em dia, faz uma pós-graduação em comunicação e linguagem visual em semiótica, e por mais que não esteja trabalhando no momento, possui experiência como social media, professora de inglês e comunicadora em agências. Seus hobbies permeiam a arte, o desenho, a pintura e a moda. Adora criar coisas. Inclusive, junto com a Melina, trocam diversos presentes cheios de detalhes e coisas que elas mesmo fizeram. Quando começaram a sair, em março de 2022, o primeiro encontro foi num evento circense no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) no Rio de Janeiro. Por mais que já haviam se beijado no bar, estavam muito nervosas e mal conseguiram chegar perto uma da outra. Karyne explica que Melina foi a primeira menina que ela beijou depois de se assumir, pois passou muito tempo na igreja e foi na pandemia que ela entendeu e se abriu com a família sobre quem era, então ficava bastante nervosa, era tudo bem novo. Todos os primeiros encontros eram marcados pelo nervosismo de ambas e ficavam se cobrando que “não precisava desse nervosismo todo, era só viver o encontro”, mas quando chegava a hora ele falava mais alto. Por conta disso, demoraram um tempo para se beijarem novamente, mas todos os encontros eram muito divertidos e sempre sentiam vontade de se ver mais. No início de 2023 foram ao cinema e tiraram a primeira foto juntas. Karyne, depois desse dia, passou um tempo em São Paulo e elas começaram a interagir mais de forma online, conversar bastante e sentem que foi aí que tudo mudou. Quando ela voltou, saíram novamente, foram em espaços culturais e não pararam de se encontrar por conta da conversa que mantinham o tempo todo online. Entendem que precisavam desse tempo até a relação começar porque realmente não estavam preparadas/e nem queriam se relacionar antes. Depois que começaram a se aproximar mais, fizeram piquenique juntas e já se viam completamente apaixonadas. Num dia foram ao show da cantora Liniker, que aconteceu de forma gratuita na praia e por mais que tenham passado muito perrengue para conseguir voltar para casa, se divertiram e entendem que nesse dia já queriam começar o namoro. Foi no evento, também, que Karyne conheceu a irmã da Melina e muitos dos amigos delas. Além dos amigos, Karyne conheceu toda a família da Melina logo no começo do relacionamento, esteve presente em aniversários e todos adoram ela. Nessa mesma época em que estava introduzindo Karyne na sua vida, Melina fazia provas e apresentação de teatro no curso e Karyne ia assistir. Foi num dia desses, quando chegaram em casa que Karyne pediu Melina em namoro e Melina cantou uma música que fez pra ela. Falaram “eu te amo” juntas. Tanto a Melina, quanto a Karyne, desejam seguir caminhos na relação que não refletem coisas que já viram ou vivenciaram, por exemplo: briga dos pais. Por isso, fazem muita questão de sentar, conversar, escutar, compreender… Karyne não tem a aceitação da família - e já até perdeu as esperanças quanto à isso - porque possuem um pensamento muito conservador e seguem os padrões da igreja, mas entende que isso leva tempo. Para Melina a realidade é outra, por mais que tenha sido muito difícil ter se assumido, os pais possuem uma cabeça mais aberta e, por mais que também frequentem a igreja, acreditam que elas precisam se sentir seguras em casa antes de qualquer outro lugar. Independente da não-aceitação da família da Karyne, ela se assumir e conversar com a família fez também com que se aproximasse de outros familiares que a aceitaram (como a prima que também é casada com uma mulher e a tia que já reivindicou o amor delas como algo natural, sem problema algum) e nesse sentido é muito bom ter apoio. Ela entende que existem coisas que precisou ceder para ser ela mesma, principalmente se as pessoas não respeitam, e está disposta a ser o que ela é, se aproximando de quem a respeita e quer ela bem. ↓ rolar para baixo ↓ Karyne Melina

  • Qual é a desse lambe aí? | Documentadas

    Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Toda mulher merece amar outra mulher. E esse lambe aí? Acreditando na potência do Documentadas para além das redes sociais e do mundo online, decidimos colocar o projeto na rua conversando com os espaços das cidades por onde passamos. Foi através das técnicas arte urbana como lambe-lambe e stickers que começamos a espalhar uma frase famosa por aqui: “Toda mulher merece amar outra mulher”, além de uma tiragem inicial de 300 fotografias de casais que já participaram do projeto, com intervenções gráficas escritas por cima e o @documentadas, identificando nosso Instagram/site. Estar na rua nos abriu a possibilidade de troca com públicos antes inalcançáveis. Passamos entre universidades, boêmias e comunidades. Se as mulheres amam outras mulheres em múltiplos espaços, acreditamos que nossa arte também deva ocupar múltiplos espaços. Tal fato foi - e está - sendo possível pela impressão/colagem por valores acessíveis (afinal, o projeto é independente) e também por permitirmos ouvir a linguagem das ruas. Seguimos monitorando os espaços colados através da localização nas redes sociais, vendo postagens com fotos que as pessoas tiram deles e quais são as reações positivas/negativas ao ver essa manifestação. POR QUE NOSSOS LAMBES NÃO DURAM NAS RUAS? Nossos lambes são arrancados, vandalizados, riscados… Isso fala sobre muitas pessoas ainda serem lesbofóbicas e terem ódio ao saber que duas mulheres podem - e merecem - se amar em público, infelizmente. Porém, em nenhum momento um lambe riscado é arrancado para que outro seja colado em cima, pelo contrário: é importante deixar ali para que o preconceito também fique escancarado perante uma manifestação de afeto les-bi. Não deixaremos de colar nossos cartazes e adesivos. O Documentadas é uma forma de combate ao preconceito, enquanto houver cartaz, cola, pincel e adesivo, estaremos colocando nossa arte na rua e ouvindo o que a rua tem a nos dizer. QUER COLABORAR COM O DOC PARA QUE ELE TENHA MAIS LAMBES POR AÍ OU NOS CHAMAR PARA UMA EXPOSIÇÃO EM ALGUM LOCAL? ENTRA EM CONTATO PELO SITE OU NO E-MAIL: FERNANDA@DOCUMENTADAS.COM

  • Larissa e Claricy | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Larissa estava com 33 anos no momento da documentação. É natural de Salvador, viveu a maior parte de sua vida na cidade grande, mas durante a pandemia de Covid-19 deixou para trás a agitação e se mudou para um lugar menor e mais tranquilo, o Vale do Capão, na Chapada Diamantina. Antes, havia sido dona de uma floricultura em Salvador e, embora sua formação fosse em arquitetura, sua atuação profissional se voltava para uma área um pouco distinta, mas sempre conectada à forma como os espaços se comunicam. Em Capão e nas viagens seguintes, Lari retomou sua carreira, direcionando seu olhar para a integração entre arquitetura e natureza. Inicialmente, morando com amigas, dedicou-se profundamente ao estudo da bioconstrução. Foi isso que a levou até Serra Grande, município próximo à Itacaré (onde nos encontramos): um amigo engenheiro desempenhou um papel importante na sua rede de apoio, chamou ela para trabalhar com bioconstrução por lá. Claricy no momento da documentação estava com 37 anos. Nasceu em Niteroi, no Rio de Janeiro, e se formou em economia. Após anos trabalhando no setor corporativo, começou a refletir sobre como poderia equilibrar sua vida profissional com seus valores pessoais em uma sociedade hipercapitalista. Decidiu, então, fazer uma mudança significativa: se mudar para Itacaré, em busca de uma vida mais simples, saudável e reconectada com o que realmente importava. Chegou à cidade sozinha, sem influências externas de amigos ou familiares, em uma tentativa de ‘resetar’ e se reconectar consigo mesma. O que inicialmente era para ser uma estadia de apenas um ou dois meses acabou se transformando em uma permanência de dois anos. No começo, Clari se encantou pela variedade de eventos e atividades que a cidade oferecia, mas logo sua paixão se voltaria para a natureza ao redor e para o estilo de vida mais tranquilo e genuíno que passou a adotar. Assim que Claricy chegou em Itacaré, cruzou com a Lari num aplicativo de relacionamentos e começaram a conversar. Trocaram seus perfis nas redes sociais, mas não marcaram um encontro de fato. Entenderam que Itacaré é um local muito pequeno e que provavelmente iriam se esbarrar em breve. Foi o que aconteceu, acabavam se esbarrando com certa frequência e sempre aos finais dos eventos - naqueles momentos meio que de bar em bar, fim de noite. Acontece que, por mais que interagissem online, pessoalmente mal se cumprimentavam, Lari nunca trocava olhares com a Clari e isso deixava ela num misto de chocada, intrigada… Não entendia o motivo. O tempo passou e num dia Lari interagiu com ela pelo Instagram e ela respondeu falando a verdade: “Você conversa comigo a beça aqui mas pessoalmente finge que nem me vê”. E então a ficha da Lari caiu: ela não fingia, ela realmente não via. Não estava percebendo as pessoas ao redor com a atenção que deveria. O tempo seguiu passando e Clari foi ficando mais difícil. Segundo ela, é porque Lari estava sempre se envolvendo com algum ‘carinha’ por aí. Lari confessa que era verdade: ela nunca tinha namorado e vivido de verdade uma relação com alguma mulher… e isso era um empecilho para Clari. Até que chegou um dia específico que um samba estava no fim, naquela mesma linha de encontros “de bar em bar” que viviam, caiu uma chuva muito intensa e Lari estava indo embora, quando ouviu um samba e avistou Clari dançando - mesmo que na chuva torrencial altas horas da manhã. O samba estava bom, embaixo da marquise, ela resolveu ficar. Chegou logo do lado da Clari. Já tinham se passado meses desde a última conversa, estavam diferentes e foi naquela noite que ficaram (e se conheceram, de fato). Amanheceram na rua, depois do samba. Clari conta que ela até poderia ter ido embora porque morava próximo, mas não queria, de tão legal que estava sendo aquele dia. Foi um dia muito bom para todos, muito divertido. Quando começaram a se envolver, foi tudo diferente do que imaginavam e Lari conta como isso foi importante - a forma em si como aconteceu foi sendo um guia para fazer com que ela entendesse os abusos que sofria nas relações de uma heterossexualidade compulsória; “Porque mesmo amando me relacionar com mulheres, mesmo vivenciando isso desde cedo, aquilo nunca era credibilizado”. Desde que começaram a ficar juntas, caminharam um longo trajeto até o momento da nossa documentação. Lari, por exemplo, é uma mulher não-monogâmica que acredita nessa política, enquanto Clari tem algumas dificuldades com a prática da não-monogamia, ainda possui muitas amarras, reproduções. Então o começo foi caminhando de uma forma muito delicada e comunicativa, entendem que não poderia estar apertado nem para a Claricy, nem para a Larissa, ao mesmo tempo que deveria caber e estar gostoso, confortável. Aos poucos tudo foi caminhando e tomaram a decisão de morarem juntas. Lari já morava mais distante de Itacaré, na região onde hoje em dia possui um terreno - em que fizemos as fotos e que estão planejando construir - e foi morando juntas que se aproximaram definitivamente, ficaram no que chamaram de “grude sapatônico”. Aos poucos foram amadurecendo a ideia de construir a casa no terreno, uma bioconstrução nos moldes que Lari estuda e trabalha. E, depois do primeiro ano de relacionamento, também optaram por uma nova casa, em Serra Grande, enquanto a construção toma forma no terreno. Antes de irem para Serra Grande, passaram um tempo entre o Rio de Janeiro e Salvador, ficando com suas famílias e fechando o primeiro ano de relação. Depois do primeiro ano de relação e das viagens, moraram em uma casa em Serra Grande, mas foi uma vivência muito difícil. Não havia cômodos, por mais que elas tentassem se comunicar da melhor forma, tudo era muito misturado, apertado, sentiam que eram pessoas muito diferentes tentando viver num espaço. Por isso, optaram pela separação por um tempo. Seguiram se relacionando, mas morando em cidades diferentes - Lari voltou para Salvador, Claricy ficou na região de Serra/Itacaré. No final, as rotinas estando tão diferentes ajudavam as coisas a ficarem descompensadas. Aos poucos, tudo foi se normalizando e reconheceram o momento. Foi difícil ter a maturidade de entender o que era preciso, mas nesse processo Clari entendeu muito sobre a solidão, sobre os amigos que vivem na cidade grande e teve novas percepções sobre o que desejava para a relação. Entenderam também novas importâncias de comunicações - é preciso saber comunicar e resolver, demonstrar a emoção, terem que lidar (e que bom lidar), resolverem, melhorarem e evoluírem. Desde o começo do relacionamento, Clari ouvia muito a Larissa falar sobre sua vontade de fazer uma comunidade unindo vários terrenos no lugar em que tinha comprado o seu, no quilômetro, próximo à itacaré. Ela sempre pensava: “Eu vou ser uma visitante? Eu vou morar lá? O que eu serei nesse terreno?”. Até que Lari fez a proposta delas morarem juntas e dela ajudar em toda a construção: arquitetar e construir a própria casa. O projeto, que já está em andamento, está sendo muito bem feito e frequentemente elas vão até o local, que tem nome - “Casa Jussara” - por conta da palmeira-juçara, nativa da mata atlântica, que possui em abundância no terreno. O terreno em si ainda está em mata fechada e a ideia é preservar o máximo que der. Abriram a parte da frente para entender os pontos de construção e desejam em pouco menos de um ano ter tudo pronto. Por fim, elas acreditam que o amor está nessa forma de viver que estão construindo juntas, desde a rotina, os rituais, o saber lidar com um monte de coisa e mesmo assim conseguir desacelerar. Não se torna algo utópico, uma ideia de que tudo é perfeito, mas algo que vem se construindo mesmo em tantos desafios. É no ritual que se tem ao acordar, no ritual que se tem cuidando dos bichos, no ritual de pensar como será a casa, no ritual de colher os alimentos que plantaram por tanto tempo. Ficam muito felizes quando percebem que finalmente vivem uma relação que desejaram por tanto tempo e que merecem viver. Clari conta que já tinha lido muito sobre filosofia, muitos livros, muita coisa, pensava que entendia um pouquinho sobre amor, mas agora percebe que vive um amor muito diferente, onde precisa se amar também, e vê o quanto está sendo bom para si e para os outros. ↓ rolar para baixo ↓ Larissa Claricy

  • Vanessa e Bruna | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. O primeiro beijo que a Vanessa deu em uma mulher foi com a Bruna, quando ainda eram pré-adolescentes, descobrindo seu corpo e todos esses novos sentimentos. Eram vizinhas num bairro afastado do centro, em Criciúma - Santa Catarina. Com o tempo, Vanessa sabia que estava se apaixonando por Bruna, sempre admirou ela e eram bastante amigas, participavam muito da vida da outra, mas não chegaram a viver um romance. Hoje em dia, completando oito anos juntas, contam que são mais de vinte anos de amizade. Entendem que Vanessa tinha uma vida na igreja, enquanto Bruna era muito mais independente, os cenários eram outros, não estavam preparadas para ter um relacionamento amoroso, mas adoravam ser amigas e existia uma mútua admiração muito grande. Contam, rindo, que todos os relacionamentos da Bruna duravam dois anos. Quando começaram, a mãe da Bruna olhou para a Vanessa e falou: “Ih, dois anos, hein?! Dois anos!”. Depois desse tempo, a mãe retornou: “Tu me quebrou, hein?! Durou mais de dois anos!”. Sempre mantiveram a conversa e acreditam que isso é o que faz a relação ser tão forte. Vanessa entende que Bruna é a pessoa que acredita nela. Pegou pela mão e atravessou tudo o que foi preciso ao seu lado. No começo terminaram dez vezes (como é citado no decorrer desse texto) e ela poderia ter desistido em alguma dessas vezes, ou poderia ter desistido nos tantos preconceitos que enfrentaram. Considera, inclusive, que ela já tinha passado por isso, já vivia sua vida, era independente, mas voltou atrás, deu as mãos e começou novamente o caminho. Admiram, juntas, essa construção, a relação e tudo o que foi vivido (com momentos difíceis mas também com muitas risadas e coisas boas misturadas). Vanessa repete inúmeras vezes a admiração pela Bruna, o quanto ela é uma pessoa disposta a ajudar e finaliza com o quanto essa ajuda fez ela evoluir sendo um ser humano melhor. Juntas, elas não chegam nem perto de enxergar a relação enquanto algo descartável, se doam o máximo que podem, criaram algo fortalecido, sólido, unido. Vanessa, no momento da documentação, estava com 32 anos. É arquiteta e trabalha com reformas residenciais/prediais de forma autônoma (tá procurando uma arquiteta?! chama ela!). É natural de Criciúma, Santa Catarina. Adora praticar esportes, se movimentar, conhecer pessoas, viajar e tocar bateria. Bruna, no momento da documentação, estava com 31 anos. Trabalha enquanto personal organizer e como consultora/organizadora financeira. É natural de Porto Alegre, mas mora em Criciúma desde a infância. Comenta que não é tão sociável quanto a Vanessa, gosta mesmo de ficar em casa com o Potter, o golden, filho-pet delas, curtindo o lar e cuidando da casa. A história delas começou aproximadamente em 2003, eram vizinhas de bairro. Por incrível que pareça, era o contrário: Vanessa não era sociável, gostava de ficar no quarto assistindo clipes da MTV, com uma vassoura fingindo ser a guitarra, se imaginando numa banda de rock, enquanto as crianças brincavam na rua. Foi um dia depois da festa de aniversário de um ano do seu irmão que ela conheceu a Bruna, que adorava bebês/crianças e frequentava sua casa para vê-lo. Mesmo sendo muito jovens, Vanessa conta que já sabia que a Bruna era lésbica, rolava uma identificação, enquanto a irmã da Bruna comentava com ela em casa: “Aquela nossa vizinha ali é ‘também’”. Bruna conta que quando beijou a primeira menina, foi para a mãe da Vanessa que ela contou, já que vivia lá. Ela reagiu dizendo que a amava muito, mas que não queria mais ela frequentando sua casa. Vanessa também sofreu um pouco quando assumiu sua sexualidade, mas tudo foi mudando com conversas e hoje em dia elas têm uma relação familiar muito legal. O mesmo com a Bruna, que voltou a frequentar a casa, até mesmo naquela época - quando a Vanessa começou a namorar uma menina escondida, foi para a Bruna que a mãe foi tirar dúvidas, inclusive. Hoje, a relação da mãe com as duas é muito boa. Depois do primeiro beijo e de seguirem amigas, a amizade continuou pela adolescência e a vida adulta. Em vários momentos elas conversavam e entendiam que tinham sentimento uma pela outra. Foram vários desencontros. Houveram outros namoros, nos términos conversavam. Em 2016, Vanessa passou por um término e estava muito desesperançosa sobre as relações, conversou com a Bruna e nesse momento Bruna resolveu colocar um ponto final (ou, o contrário): Você decide > ou ficamos juntas agora ou não ficamos mais. Mesmo com tantos anos de amizade, o primeiro ano de relacionamento foi o mais difícil. A Bruna vivia de forma independente, assumida, era organizada com suas demandas e finanças, enquanto Vanessa vivia o contrário. Em um ano passaram por dez términos, praticamente todos os meses terminaram. Explicam que não havia medo ou arrependimento de terem estragado a amizade, de qualquer forma entendiam que queriam estar juntas, mas era uma realidade nova cheia de desafios, não queriam mentir para a família. Depois de passar por isso, conseguiram engatar, enfrentar o preconceito familiar - foram quatro anos “amolecendo” - nas palavras delas - o preconceito. Agora, verbalizando a história, é muito mais fácil olhar tudo o que já passou. Antes de morarem juntas no lar onde estão, Bruna passou por dois assaltos em suas casas, um deles no começo da pandemia, e acreditam que os bandidos focaram em assaltar a casa por serem duas mulheres vivendo nela. Foram experiências traumatizantes e a Vanessa foi essencial em fazer companhia e ajudar nesse processo, foi quando elas decidiram morar juntas em um apartamento. Nesse processo, chegaram a morar com a mãe da Bruna, na casa da adolescência onde tudo começou, no bairro que se conheceram, até encontrarem o apartamento onde estão hoje. Todo o processo, mesmo que ainda caótico no contexto de pandemia, foi essencial para enfrentarem a família da Vanessa e serem reconhecidas também enquanto família, dividirem seu próprio lar. Faz apenas dois anos que estão no apartamento. É muito interessante entender o trajeto, pensar o quanto foi uma saga chegar até aqui e talvez por isso gostem tanto dessa casa, valorizam ela. É, literalmente, o lar. É o lugar. Brincam que o interfone toca e demoram para atender porque querem ficar igual um bichinho na toca. Potter, o cachorro simpático que nos acompanhou o tempo todo durante a conversa - a não ser uns breves segundos de pausa para fofocar na janela - surgiu através do sonho da Bruna, que era ter um golden. Ela falava muito sobre isso, por mais que não pensasse em nada para além disso, sobre todo o trabalho e o espaço que precisaria administrar, queria ter. Um dia estavam no mercado (ela, Vanessa e um amigo), ela recebeu o salário, passou numa vitrine e viu um golden. Vanessa falou: “Compra”. Assim, chegou o Potter. Ela e Vanessa estavam completando um ano juntas. No momento da documentação, Potter estava enfrentando um câncer, então elas estão em um momento de muita luta, cuidado e amor. Conversamos muito sobre como eles (os animais em geral, o Potter e elas enquanto família) merecem o melhor até o último segundo, porque no fim, este é o verdadeiro sentido. Por mais que o câncer nos traga o sentimento do luto previamente e não paramos para pensar sobre isso em vida, antes de sabermos sobre uma doença que pode ser terminal, a vida (e a morte) nos servem o tempo todo para lembrar que temos uns aos outros e a oportunidade de compartilhar coisas boas, amor e afeto. [O .doc deseja que o Potter tenha muito carinho, petiscos e brincadeiras e que elas tenham todo o amor. ♥] Bruna explica que sente algumas dificuldades nas demonstrações de amor e/ou no entendimento do amor em si. Ela sente que ama a Vanessa, que ama o sobrinho dela… mas sente muito medo da perda e que isso se entrelaça com o medo de amar: se eu te amo, em algum momento irei te perder, então prefiro não amar para não perder. Está em processo de entendimento sobre tudo isso. Parte desse entendimento, é perceber que ela demonstra seu amor nos atos de serviço, se doa para quem ama. Vanessa sente o amor na confiança. Para ela, é fácil confiar, fazer amizades. Nasceu em um lar com muito amor, que demonstrou muito e entende que essas relações refletem na cultura dela hoje. Demonstra amor na presença, na escuta… e também no quanto se doa. Quando conversamos sobre a cidade em que elas vivem e sobre a cultura de Criciúma, elas comentam sobre a falta de inclusão que existe. Não se sentem representadas na grande maioria dos espaços. Vanessa explica que na arquitetura (sua profissão) se fala muito sobre a ocupação dos espaços - e deseja isso para a cidade. Ocupar os espaços com corpos como os nossos, corpos que demonstram diversidade e vida. Hoje em dia, elas sentem medo de andar de mãos dadas, medo das reações que as pessoas podem ter. Tentam frequentar as capitais quando querem opções de divertimento e lazer “alternativos”. Entendem que Criciúma não é uma cidade pequena, que ali tem muita coisa acontecendo, mas que a mentalidade ainda está muito pequena e que o pensamento em maioria é: “Incomodados que se mudem” - e isso não está certo. Por fim, Bruna sempre quis ser mãe. Foi por conta do irmão, ainda neném, que elas se conheceram, Bruna ama crianças e querem investir na fertilização. Hoje em dia criaram um grupo de amigas, onde um casal tem um bebê, e há uma rede de apoio muito legal. Ficam felizes em acompanhar essa evolução, ver o crescimento de todas, observar os processos e as vivências. E desejam crescer juntas. ↓ rolar para baixo ↓ Bruna Vanessa

  • livro | Documentadas

    Aline e Aya audio

  • Juliana e Priscila | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Juliana estava com 40 anos no momento da documentação e é natural de Olinda, cidade pernambucana em que fizemos as fotos. Formada em administração, trabalhou por alguns anos em um banco privado e hoje em dia trabalha numa empresa familiar que é responsável por recicláveis. Juntam os materiais (plástico, papel, papelão, vidro…) em outras empresas e encaminham para o destino correto. Além do trabalho, adora assistir filmes, viajar, ficar com os bichos em casa… Comenta que são tantos anos de relação, praticamente a metade da vida juntas, que faz com que se veem fazendo tudo juntas. Adoram viver a rotina. Priscila é natural de Paulista, cidade vizinha de Olinda. Quando conheceu Ju, Priscila trabalhava na área de merchandising, mas acabou prestando serviços para a família da Ju na empresa de recicláveis e descobrindo o ramo, se encontrou e trabalha com isso até hoje. Também adora gastronomia, sua verdadeira paixão que começou como um hobbie e vêm se desenvolvendo - de vez em quando criam alguns jantares e recebe até encomendas de comidas italianas para produzir. Pergunto para Ju e Pri como funciona uma empresa de reciclados, acho muito incrível esse ser o trabalho delas e poder compartilhar sobre um assunto tão necessário por aqui. Elas explicam que trabalham com empresas como supermercados que reciclam papelão - e papelão vira papelão novamente - ou editoras que reciclam livros didáticos por conta deles precisarem ser renovados por novas normas ortográficas ou atualizações de conteúdos - então fazem separação de papel… E assim encaminham cada material para as indústrias. Por exemplo: um papel branco pode virar papel higiênico, papel toalha, guardanapo… É um trabalho útil, rentável e necessário para o mundo. Em 2008, Priscila havia acabado de se mudar para Olinda e estava dividindo casa com um grupo de amigas. Logo na primeira semana da mudança, junto com essas amigas, decidiram sair para se divertir em Recife, ir beber uma cerveja, curtir e comemorar. Porém, era no meio da semana, os bares fechavam cedo… Sempre foram ‘inimigas do fim’, decidiram parar em Olinda num barzinho que ficava aberto até mais tarde chamado “Estação Maxambomba”. Ju, por sua vez, saía do trabalho em Olinda e ia encontrar suas amigas que tinham uma banda tocando coco e maracatu, gêneros musicais tradicionais de Pernambuco. Do ensaio, iam direto para o bar, algo que virou tradição semanal. Lá, as amigas de Ju e Pri se interessaram umas nas outras, Priscila ficou um pouco chateada porque preferia algo mais reservado, a amiga dela já bêbada brincava de fazer um sotaque carioca, acabaram juntando as mesas e foi assim que Ju e Priscila se conheceram. Foram comprar cigarros juntas, voltaram de braços dados mas sentaram longe quando chegaram na mesa… No final da noite, trocaram o número de telefone. Quando estavam indo embora, Priscila pegou a moto e as amigas começaram a zoar a Ju porque ela estava “flertando” com uma motoqueira… Depois começaram a conversar, na época ainda por SMS, contaram onde trabalhavam (Ju ainda estava trabalhando no banco e pouco conseguia tempo para mexer no telefone), mas marcaram de se encontrar novamente. Não se encontraram no primeiro momento combinado, mas marcaram um almoço no apartamento em que Priscila dividia com as amigas. O almoço durou o dia todo no domingo. Brincam que não seriam elas a mudar a história das lésbicas, então desde que ficaram juntas já não se separaram mais, Ju foi voltando nos dias que seguiram e assim não se desgrudaram. Ju foi morar sozinha quando trabalhava no banco porque sentia que já era a hora de ter sua independência e porque tinha uma cachorra que destruía tudo na casa dos seus pais. Acabou que não conseguiu ficar com a cachorra por conta dela precisar de mais espaço, mas cuidou dela através de uma amiga até ela ficar velhinha. Mesmo Ju tendo sua própria casa, vivia na casa da Priscila e das suas amigas, mas o apartamento estava ficando cada vez mais caótico com o tempo pelo fato de todas serem bastante jovens, faziam várias festas e a casa sempre estava cheia de gente. Até o momento que decidiram que precisavam de um novo lar, era bagunça demais até para elas - que eram inimigas do fim. Em 2009 conseguiram uma casa em Maracaípe, um lugar tranquilo que iam passar os finais de semana. Levaram algumas coisas no caminhão da empresa da família da Ju, já estavam morando juntas em um apartamento e os outros móveis encaminharam para essa casinha “de praia”. Em 2009, também, adotaram o Marvin, primeiro cachorrinho de muitos animais que vieram depois - e fiel companheiro que acompanhou quase toda a relação, faleceu no último ano. Depois de Marvin, chegou Frida, para lhe fazer companhia. Em seguida, num dia saindo para almoçar, ouviram alguns miados e encontraram um gatinho embaixo de uma árvore… Até tentaram não pegar na ida para o almoço, mas na volta não teve jeito, seria Diego. E, um tempo depois, surgiu Magali, uma gatinha que fizeram um resgate e deram uma nova vida. E assim, a família só foi aumentando… Foi chegando o Hulk, a Fiona, Rutinha, Ratinha, Olga, Mingau, o Snoop… Hoje em dia ainda possuem alguns animais em casa, entre gatos e cachorros, mas todos com o mesmo destaque: o direito a boa e a longa vida. Em 2012 chegaram à casa que moram hoje em dia, com os bichos e uma vida relação já construída. Depois que estavam com uma mentalidade mais madura sobre essa construção, começaram a pensar na unidade familiar que estavam construindo e resolveram cogitar a maternidade e a adoção. No começo do processo de adoção, estavam pensando que gostariam de adotar um bebê. Foram atrás, frequentaram as reuniões, começaram a pensar um pouco em outras possibilidades. Mas aconteceu uma situação da qual as deixou muito chateada e as fez voltar atrás, não quiseram seguir com o processo. Depois que cuidaram de uma cachorrinha, a Ratinha, durante alguns anos com cuidados diários desde todas as alimentações com mamadeira, até problemas respiratórios, nos olhos, vitaminas… Viram que estavam dispostas a serem mães e pensarem novamente sobre a disposição de terem alguém para cuidar e amar todos os dias. Foi quando, em 2020, anos depois da primeira tentativa, cogitaram entrar para a adoção novamente. Porém, diferente das ideias iniciais de ter um bebê, já haviam amadurecido outras possibilidades e decidiram adotar um adolescente. Aurelino, que hoje em dia já está com 18 anos, chegou com 13 anos na família. Tudo começou com a ideia de um apadrinhamento, já que quando os meninos completam 18 anos e saem dos orfanatos existe uma mobilização para que eles tenham condições de viverem sozinhos por um tempo. Elas foram até o local onde ele estava, conheceram todos os meninos junto da assistente social, mas havia uma condição: você não pode demonstrar interesse em adotar a criança que quer apadrinhar. Então decidiram mergulhar de vez na adoção. Conversaram com ele para saber se ele teria interesse em fazer parte da família, foi bem legal por conta de serem duas mães e ele já ter uma bagagem de vida, opinião, cultura formada, diferente de uma criança muito pequena… e ele ficou bastante animado. Queria fazer parte da família. Sempre foi carinhoso e atencioso. Ju e Priscila fizeram questão de manter as origens familiares de Aurelino antes de sua adoção também. Entendem que a bagagem que ele trás é única e é sobre quem ele é, sobre a vida dele. Assim como, os momentos que constroem juntos, são muito importantes para essa nova pessoa que ele está se tornando. Hoje em dia, a documentação dele já consta o nome das duas mães, inclusive recentemente quando ele foi se alistar ao exército houve um questionamento sobre e ele tratou de forma completamente natural e elas se orgulharam disso. Da mesma forma que ele enfrenta suas novas questões na fase da adolescência e adultez e elas tentam acompanhar isso da melhor forma, porque também é uma novidade para a primeira vivência na maternidade. São novos diálogos, desafios, vivências escolares, conversas sobre a profissão e o trabalho que deve seguir, relacionamentos… Também foi muito difícil pela primeira vez conviver com um homem dentro de casa, os recortes são outros, aprenderam, viveram muitas mudanças sendo mães, e se deram conta de coisas que ninguém havia ensinado durante o processo de adoção também: a saúde dele era muito mais frágil por conta da sua vivência e da sua alimentação na infância e levou alguns anos para ser fortificada, a educação precisou ser reforçada, a saúde mental, o vocabulário… Fazem muita questão de conversar tudo o tempo todo, entendem que não há tempo a ser desperdiçado em deixar uma conversa para depois. Ju entende que depois de tantos anos de relação, essa família tão forte que formaram reflete o quanto podem contar uma com a outra sem competição, sem disputarem quem é melhor dentro da relação. Vivem um companheirismo que quer o crescimento de todos. Enxergam a amizade, o incentivo, os projetos que dividem, o quanto a família é importante. Hoje em dia a mãe da Priscila mora com elas e foi para todas se fortalecerem, Priscila já ficou fora do Brasil para trabalhar por alguns meses em 2023 e Pri, Aurelino toda a família super apoiaram para que ela fosse porque sabiam que seria importante… Tudo é lutado em conjunto porque entendem que estão caminhando juntos. E o amor que vivem é o que mantém essa luta fazendo sentido. ↓ rolar para baixo ↓ Priscila Juliana

  • Laiô e Íris | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. A história da Laiô e da Íris começou de maneira inesperada, conectando caminhos por meio das redes sociais. Íris mantinha uma página onde compartilhava reflexões sobre relacionamentos não-monogâmicos e experiências pessoais. Laiô, que estava em um momento de autodescoberta após o término de uma relação, passou a acompanhar esse conteúdo. Entre os conteúdos postados, chamava muita atenção a forma que a Íris se expressava, não inicialmente por interesse romântico ou flerte, mas por admiração genuína, curiosidade e vontade de aprender sobre esse novo ‘universo’. Mas, por mais que acompanhasse os conteúdos, Laiô nunca interagiu com a página. Algum tempo depois, Íris apareceu no perfil de Laiô, e ambas começaram a se seguir. Trocaram algumas mensagens e, entre essas interações, perceberam que tinham amigas em comum, iam em lugares em comum - e até outros lugares que Laiô nunca tinha conhecido, o que deixou ela muito intrigada, pensando “Como essa menina chegou aqui em tão pouco tempo e tem conhecido mais coisas que eu?”. Quando finalmente se esbarraram, em setembro de 2023, foi num samba em Itacaré, onde fizemos a documentação acontecer. Foi Íris quem reconheceu Laiô (e até checou no Instagram pra ver se era ela mesmo). Se apresentou, dançaram juntas, mas a interação foi breve. Dias depois, se esbarraram novamente num show que Laiô estava fazendo, dessa vez em Serra Grande, município próximo à Itacaré e local onde Íris morava. Foi lá que Íris sentiu algo diferente, pensou: “Que pessoa interessante”. Cerca de 15 ou 20 dias depois se esbarraram novamente, dessa vez em Salvador. Laiô estava na cidade para mais shows e Ísis ia para lá com frequência, mas não esperava encontrá-la. Foi a terceira coincidência e então decidiram: era hora de marcar um encontro intencional. Tomaram café da manhã juntas e ali começou a se desenhar uma história que parecia ter sido escrita pelo acaso – ou pelo destino. Íris estava com 32 anos no momento da documentação. É natural do Rio de Janeiro, mas, com apenas seis meses de idade, mudou-se para Salvador, onde viveu a maior parte da sua vida. Psicóloga de formação, dedica seu trabalho ao atendimento da comunidade LGBTQIAPN+ e às questões relacionadas à não-monogamia. Teve sua trajetória profissional transformada ao longo do tempo, principalmente quando começou a se reconhecer como uma pessoa LGBT. Esses aspectos foram se refletindo em sua prática clínica, até se tornarem o foco integral de seus atendimentos. Durante a pandemia de Covid-19, com a migração para o formato online, surgiu também o desejo de sair da cidade grande e buscar um estilo de vida mais tranquilo e conectado à natureza, decidiu passar um tempo na Chapada Diamantina, voltou à Salvador, viajou mais um pouco e, finalmente, decidiu se estabelecer em Serra Grande, na Bahia. Hoje, ela vive com Laiô em Ilhéus - uma escolha que inicialmente não fazia parte de seus planos, já que considerava Ilhéus grande demais para o estilo de vida que idealizava - mas a vida e o trabalho de Laiô faziam mais sentido na cidade, e assim encontraram um equilíbrio. Laiô, no momento da documentação, estava com 37 anos. Nasceu em Ilhéus e foi criada em Uruçuca, vindo de uma família de produtores rurais das fazendas de cacau. Essa mesma família, acolheu sua identidade artística e acredita plenamente na pessoa que ela se tornou, investindo na sua educação com o desejo de oferecer um futuro diferente. Hoje ela trabalha enquanto cantora e compositora. Entende que é através da arte que define a forma como se expressa no mundo. Foi em Itacaré o local onde ela se descobriu artista, cantando pela primeira vez. O início do romance entre Íris e Laiô aconteceu num ritmo diferente, entre viagens e deslocamento, no que elas apelidaram de “romance viajante”. Íris precisou dividir seu tempo entre Serra Grande, Salvador e a Paraíba, para dar suporte à família em um processo de luto. Tudo aconteceu logo nas primeiras semanas em que estavam juntas e foi nesse vai e vem que viveram um amor viajante, encaixando encontros entre as viagens, sem saber ao certo o quanto aquilo duraria. Seguiram os primeiros meses assim, até o início de 2024, quando perceberam que os sentimentos estavam se enraizando e intensificando. Laiô apresentou Ilhéus para Íris e os encontros começaram a ganhar um significado maior. Uma situação marcou esse momento: em março, a mãe de Laiô fazia aniversário no dia 9, mas Laiô tinha um show importante em Salvador no dia 8. A única forma de voltar em tempo seria de carro e Íris prontamente se ofereceu para dirigir entendendo a importância da relação de Laiô com a mãe. Foi nesse momento que ambas perceberam o quanto a parceria entre elas já tinha se fortalecido, transformando o que antes era um romance casual em algo mais sólido. Laiô pensou: “Essa não é qualquer pessoa”. O encontro das duas aconteceu em um momento de transformações pessoais para ambas, e essa vulnerabilidade criou uma base de acolhimento e parceria. Mesmo com pouco tempo juntas, já havia um grande cuidado uma com a outra. Nos momentos difíceis de Íris, Laiô enviava músicas e poesias, fortalecendo o vínculo por meio dos gestos afetuosos. E esses detalhes fortaleceram o vínculo que era recente e que não estava fisicamente próximo. No dia em que documentaram essa história, inclusive, estavam finalizando a mudança para o apartamento onde passariam a viver juntas. Conversamos sobre como a convivência traz desafios, as mudanças não são fáceis; mas destacaram a importância de respeitar os tempos e ritmos individuais, enfrentando os conflitos com leveza e comunicação. Dividir o lar, para elas, é um aprendizado constante – e uma forma de construir, juntas, um lugar seguro. Foi ajustando suas rotinas para aproveitar os momentos em que Laiô e Íris encontraram a melhor forma de se adequar à semana corrida, já que trabalham em horários opostos – Laiô à noite, Íris durante o dia. Valorizam muito os cafés da manhã, que se tornaram quase um ritual de conexão. Mesmo quando Iris tem atendimentos mais cedo, ela dá um jeito de sentar à mesa, entre um compromisso e outro, para compartilhar esse momento. É ali que conversam, trocam olhares e se equilibram, criando um espaço de calma e proximidade no meio das rotinas agitadas. Elas veem sua relação como um convite constante à reflexão e ao cuidado mútuo. Foi através desse encontro que aprenderam mais sobre a não-monogamia, a horizontalidade dos afetos e a importância do tempo de qualidade com quem amam - sejam familiares, amigos ou seus animais de estimação. Por mais que estejam apaixonadas e vivam a intensidade de uma relação jovem, entendem que é essencial valorizar a liberdade individual e os outros vínculos que cada uma tem. Esse amor, cuidadoso e maduro, desafia o discurso a ser vivido na prática, lembrando-as de nunca abandonar o cuidado e a atenção com as pessoas ao seu redor. No dia anterior à documentação, Laiô viveu uma situação que as fez refletir sobre os desafios ainda presentes na cidade em que vivem. Enquanto caminhavam pelo centro indo comprar coisas da mudança, de mãos dadas, um homem que passava com sua esposa e seu filho disse: “Não pode não, só pode homem com mulher.” Inicialmente, Laiô pensou ser uma brincadeira vindo de alguém que a conhecia, estava distraída conversando algo sério com a Íris e só percebeu uns passos à frente a seriedade do comentário. Apesar da vontade de reagir, sentiu medo e seguiu em frente. Mais tarde, ficou pensando: o que fazia aquele homem se sentir confortável em dizer algo assim? Por que o simples ato de caminhar de mãos dadas era visto como uma afronta? Onde ela está vendo menos amor entre as duas do que ali, na família dela? Elas só estavam andando na rua. Num calçadão cheio de gente. Elas desejam que o futuro traga mais coragem e menos medo - elas caminhando de mãos dadas conseguiram ofender mais que se um casal heterossexual-cis estivesse se beijando de forma vulgar. O desejo que fica é mais coragem para amar e viver livremente, um mundo onde expressar afeto não seja motivo de ofensa, um lugar onde não tenhamos medo. ↓ rolar para baixo ↓ Laiô Íris

  • Clarissa e Agnis | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Agnes estava com 33 anos no momento da documentação, é natural de São Gabriel, cidade interiorana do Rio Grande do Sul. Saiu de lá aos 17 anos e se mudou para Santa Maria por conta dos estudos, mas parte da família segue na sua cidade natal até hoje. Em Santa Maria se formou em nutrição, morou em Porto Alegre por um tempo, mas voltou à Santa Maria porque passou num concurso administrativo. Hoje em dia, mora novamente em Porto Alegre dividindo o lar com a Clarissa. Clarissa estava com 30 anos no momento da documentação. É natural de Porto Alegre e conta que sempre foi criada dentro da igreja. Se assumiu aos 18 anos, sendo uma mulher desfeminilizada e passou por muitos processos para entender quem era e se sentir bem com a forma que se vestia e com quem se relacionava. Foi muito difícil enfrentar os preconceitos vindos de fora e de dentro de casa, ouvir a palavra da “cura gay”, lutar pela aceitação… mas fica muito feliz quando observa o quanto as coisas já caminharam e o quanto sua família hoje em dia é apaixonada pela Agnes - brinca que gostam mais da Agnes do que dela e que adotaram ela como filha. Começa falando sobre isso porque é uma das partes que mais admira na sua história e na história delas enquanto um casal, e ressalta o quanto faz parte do relacionamento tranquilo que possuem esse valor que dão aos seus corpos e às pessoas que amam. Agnes, quando conheceu Clarissa, era uma pessoa que não se permitia viver muito o presente. Ficava sempre presa ao passado ou ao futuro. Se preocupava com o que precisava fazer, com o que tinha que planejar. Clarissa a fez entender que a vida é o momento, na maioria das vezes, nas coisas mais simples - foi durante a relação que ela começou a bordar, que voltou a ler, que passou a amar os passeios na pracinha final de tarde e compartilhar tantas receitas novas juntas. Clarissa completa que elas viraram duas senhorinhas e que adoram isso. Clarissa também adora chegar em casa, ouvir música e apreciar o descanso sem a cobrança do dia-a-dia. Explica que quando uma está muito cansada, a outra faz o almoço ou a janta… ou dividem as tarefas para não ficar pesado para as duas. Entendem que isso é se fortalecer. E que aos poucos vão descobrindo novas coisas que gostam de fazer. Sentem que viviam num limbo, estavam sempre tentando agradar os outros, pouco faziam para si mesmas ou para buscar suas felicidades e que depois de começarem a relação descobriram o que realmente gostam e que as faz feliz na simplicidade do dia. Clarissa e Agnes se conheceram no final de 2021, ambas estavam num processo de autoconhecimento, depois de relacionamentos longos. Se conheceram num aplicativo de relacionamentos. Agnes nunca havia entrado em aplicativos e não achava que isso combinava muito com ela, mas resolveu testar coisas novas, queria alguma amizade ou companhia para sair, conversar. Clarissa também não era dos aplicativos, nunca havia tomado iniciativa com ninguém por lá e Agnes foi uma exceção que deu certo. Se encontraram para tomar um açaí - o açaí em si estava ruim, mas o encontro foi ótimo! E desde então ficaram juntas. Entendem que não estavam procurando um relacionamento, foram se conhecendo e visualizando seu processo de cura, sentiam medo e até demoraram para admitir o quanto estavam apaixonadas, mas o processo fluiu e encararam o medo até estarem dispostas à relação. Logo no início do namoro, Agnes voltou a morar em Santa Maria por conta do trabalho. Foi difícil porque era algo novo, sentiram bastante saudade e isso demandava uma viagem toda semana para se encontrarem. Mas foi nesse movimento que se fortaleceram enquanto casal e entenderam que realmente queriam estar juntas. Vivenciaram momentos que foram decisivos para se conhecerem em versões que ainda não tinham tido oportunidade de ver… E sempre quando pensam na temporalidade das coisas ou “como poderiam ter se conhecido antes”, “tal coisa poderia ter acontecido antes”, refletem que foi no momento certo, precisavam passar pelas vivências para que o amadurecimento acontecesse. Ao total, Agnes morou um ano e oito meses em Santa Maria. Quando Agnes voltou de Santa Maria, ela e Clarissa moraram no mesmo terreno que a família da Clarissa durante quase um ano, até que alugaram o apartamento que moram hoje em dia. Constroem o lar com muito carinho, nas decorações feitas com artesanato aproveitando os momentos juntas, na forma que se alinham para seguirem uma relação de respeito num espaço confortável e seguro… Além disso, fizeram questão de buscar a independência num lar que seja só delas porque entendem a importância de serem consideradas uma unidade familiar, mulheres adultas que trabalham, se amam e constroem um futuro com consciência, não duas amigas ou duas meninas que vivem “uma fase”. Quando nos encontramos para a documentação acontecer, Agnes havia apresentado Clarissa para seus familiares há poucos dias e ainda estava entendendo a situação. Conta que sonham em casar, projetam o futuro juntas e é muito importante que as pessoas que amam e que desejam o bem possam compartilhar a vida com elas de forma natural e feliz por desejo próprio, sem obrigação ou questão social. Querem por perto pessoas que realmente apoiem, celebrem o amor. O que Clarissa e Agnes querem refletir para os outros na relação, é o que mais aprendem juntas vivendo esse amor: o companheirismo. Foi compartilhando o olhar/a forma que se enxergavam que impulsionam o crescimento uma da outra, até mesmo o autoconhecimento, e cresceram de forma que antes nem imaginavam. Hoje se enxergam muito mais felizes, com propósito e se permitindo ser vulnerável, porque sabem com quem contar. Querem que as pessoas que amam também saibam que podem contar com esse apoio e esse amor, porque elas viram que o amor que criaram dentro da relação já expandiu para a forma que são individualmente em vida, virou algo muito maior que uma relação romântica. ↓ rolar para baixo ↓ Clarissa Agnis

  • Ingrid e Cecília

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Ingrid estava com 33 anos no momento da documentação. É natural de Pelotas, mas passou boa parte da vida adulta em Florianópolis, sempre alimentando o desejo de viajar. Sua primeira experiência com a estrada veio aos 21 anos, durante um intercâmbio na Austrália, onde vivenciou um motorhome pela primeira vez. Quando voltou, quis se aproximar da natureza e sonhava em ter uma Kombi, mas focou na carreira e adiou esse plano. Ainda assim, as viagens eram sua prioridade: trabalhava para poder estar sempre viajando. Foi há cerca de quatro anos que a Kombi Luz chegou, tornando-se um verdadeiro projeto de vida. Na época, já tinha o Teddy, um de seus cachorros, e também o Godinez, que faleceu em 2023. Com o tempo, sua vontade de se dedicar integralmente à estrada cresceu, então ela vendeu sua parte na empresa em que trabalhava e hoje em dia trabalha criando conteúdos para o YouTube, registrando o dia a dia com Cecília na moradia delas na Kombi atravessando o Brasil. O projeto trouxe um reencontro com o jornalismo, sua formação, e a sensação de finalmente concretizar o sonho que sempre teve. Cecília, no momento da documentação, estava com 30 anos. Nasceu em Itajubá, Minas Gerais, mas passou parte da vida em Taubaté. Não foi criada com uma referência de vida na estrada, mas passou por um momento divisor de águas que a fez enxergar a vida por outro lado: perdeu o pai aos 15 anos. Amadureceu, viveu um luto precoce e tudo a fez entender que ele era um homem cheio de sonhos, mas que infelizmente não teve a oportunidade de realizá-los, então queria ser uma pessoa diferente, se viu movida pela sede de viver. Sua percepção por viagens começou quando ela foi morar e trabalhar fora do Brasil, conhecendo um mundo bem diferente do que a vida e a cidade morava. Lá, guardou dinheiro, planejou mochilões, mas dias antes de começar suas novas viagens recebeu a notícia do falecimento da sua mãe. Decidiu voltar ao Brasil, fez uma pausa nos planos para se reorganizar e se reconectar com sua família e consigo mesma. Com 25 anos, já não tinha mais os pais e precisava redescobrir seu caminho. Cecília, depois de optar ficar no Brasil, se mudou para Ubatuba e trabalhou por um tempo enquanto representante de vendas, fazendo assim diversas viagens. Depois de um tempo, comprou uma caminhonete e adotou a Brisa, sua companheira de estrada. Junto de uma amiga, decidiu dividir uma vida de viagens por um tempo, e, reunindo outros amigos, compartilhou um desejo de se mudar para Florianópolis. Foi quando decidiram fazer a mudança e irem juntos. Em 2022, apenas dez dias depois de Cecília chegar a Florianópolis, ela e Ingrid se encontraram por meio de um aplicativo de relacionamentos. Desde o início, perceberam que suas vidas se encaixavam: Ingrid já estava no momento de largar tudo para cair na estrada, enquanto Cecília já havia vivido essa experiência. Ingrid brinca que, naquela época, a Kombi Luz era uma kombi de solteira - um espaço que tinha até mini biblioteca, sem a ideia fixa de ser uma casa. Mas o primeiro encontro dela com a Cecília já dizia muito: um pôr do sol na Kombi. A primeira grande viagem foi até Pelotas, cidade natal de Ingrid. Na época, ainda não tinham um status definido para a relação, mas Cecília foi apresentada ao pai de Ingrid. O plano era passar apenas alguns dias, mas ao chegarem, perceberam que algo não estava bem: o pai de Ingrid recebeu um diagnóstico de depressão e o que seria uma visita rápida se tornou um período de um mês dando suporte e cuidado. Elas e os três cachorros começaram a vivenciar a kombi enquanto casa. Cecília precisou retornar a Florianópolis, Ingrid ficou um pouco mais. Esse período trouxe muitas reflexões sobre a brevidade da vida, sobre momentos difíceis que já viveram e o desejo de viver intensamente. Mesmo sem uma longa história juntas, já tinham dividido muito - entre se conhecer, passar tantos dias juntas, mudanças e novas perspectivas. E foi justamente nessa intensidade que perceberam que queriam continuar seguindo viagem. Pouco tempo depois de passarem um tempo em Pelotas com o pai de Ingrid, o cachorro mais velho dela, Godinez, faleceu. Depois disso, ela voltou para Santa Catarina, percebeu as melhoras do seu pai e decidiu que oficialmente queria morar na Kombi. Foi então que organizou suas coisas no emprego fixo, tudo foi somada à demissão da Cecília do seu emprego e decidiram seguir o sonho juntas. A primeira grande viagem foi para o Rio de Janeiro, depois voltaram para Florianópolis para passar o ano novo com o pai da Ingrid (que foi até lá também) e no início de 2024 deram inicio, de fato, a morar 100% na kombi, sem mais apartamentos e outras casas. A transição para a vida na estrada aconteceu de forma gradual. No primeiro mês, acabaram morando na Kombi sem planejar, enquanto estavam em Pelotas. Depois, na viagem até o Rio, a experiência foi mais estruturada, mas ainda mantinham o apartamento. Ao voltar para casa, esperavam sentir alívio pelo conforto, mas perceberam que a sensação de pertencimento estava mesmo era na estrada. O lar, de fato, era a Kombi. A vida nômade fazia cada vez mais sentido, mas, talvez se tivessem tomado a decisão de uma hora para outra, não tivessem se sentido tão bem na kombi. Desde então, percorreram o Rio Grande do Sul, exploraram bastante Santa Catarina e subiram até o Nordeste. No caminho, fizeram um desvio para Minas Gerais, onde aprimoraram a Kombi. E foi em Alagoas que finalmente nos encontramos para registrar essa história (depois de várias tentativas de cruzarmos nossos caminhos entre o sul da Bahia e Maceió). A vida na estrada trouxe para Ingrid e Cecília a descoberta de um Brasil interiorano que nem imaginavam - e ainda melhor, o gosto pela vida interiorana. Entre uma viagem e outra, encontram cidades que não estavam nem no mapa, acampam em lugares lindos e tranquilos, e se encantam com a calmaria que só quem viaja sem pressa pode viver. Os cachorros também se adaptaram bem… na verdade, até estranham quando chegam em cidades grandes, sem saber lidar com tanto estímulo de som e movimento ao mesmo tempo. Sem prazos rígidos, vão sentindo cada lugar. Têm um roteiro em mente, mas se um destino as cativa, se permitem ficar mais. Criaram uma rotina própria, independente de onde estão, e isso dá uma sensação de estabilidade mesmo com a estrada. Para elas, o amor está presente em cada detalhe do cotidiano. O romantismo vira só um detalhe, porque a conexão é muito mais profunda. Relacionamentos entre mulheres têm essa intensidade - é o que dizem. E, para além da intensidade, têm a resistência. Em muitos lugares por onde passam o preconceito ainda é muito forte, mas fazem questão de seguir de mãos dadas. E, quando falam em mãos dadas, entendem que seguem de mãos dadas com os amigos também: as redes de apoio que seguem firmes, mesmo à distância. Se elas precisarem ou se os amigos precisarem, basta uma ligação. Fazem de tudo uns pelos outros. Já passaram por situações difíceis na estrada, e a presença dos cachorros não é só companhia, mas também segurança. Acima de tudo, o amor entre elas e a família que estão formando é força. É ele que as impulsiona a continuar vivendo esse sonho. ↓ rolar para baixo ↓ Cecília Ingrid

  • Angélica e Jaque | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Angélica, no momento da documentação, estava com 34 anos. Ela é natural de São Miguel do Iguaçu, uma cidade no interior do Paraná, mas mora em Criciúma - Santa Catarina há bastante tempo. É apaixonada pela escrita, gosta de escrever poemas, ler e passar tempo com os seus bichinhos em casa. É formada em letras e trabalha na UNESC, universidade pertencente à cidade de Criciúma, no setor de educação e design instrucional. Sua função é receber o material didático que será passado ao aluno na modalidade de educação à distância e preparar este material para que ele fique mais didático, com elementos, esquemas, imagens, deixando-o mais interessante pensando no autoestudo do aluno, visto que ele estará estudando em casa sozinho. Além disso, Angélica também trabalha com a Jaque, sua companheira, enquanto produtora dos eventos que ela canta e toca. Ela monta o equipamento, cuida do som, faz alguns registros para redes sociais e faz os contatos para fecharem os próximos shows. Quer muito fazer da sua produtora um trabalho fixo, e inclusive, quando nos encontramos para a documentação ser feita, iria acontecer nos dias seguintes o primeiro evento oficial criado por elas. Jaqueline, no momento da documentação, estava com 25 anos. É natural de Sangão, interior catarinense, mas atualmente mora em Criciúma com Angélica. Estuda psicologia e trabalha como estagiária no setor de arte e cultura da UNESC, universidade já citada acima. Aos finais de semana se dedica aos eventos em que trabalha fazendo shows em estilo voz e violão ou com a sua banda. Adora cantar e observar as pessoas enquanto canta, além disso, sempre que pode está assistindo algum show e pegando referências para o seu próprio trabalho. Angélica levava uma vida bastante agitada quando conheceu Jaque. Conta que só queria saber de sair, beber, beijar na boca… Inclusive, estava procurando mulheres para beijar quando encontrou no Twitter um link que levava à um grupo e Whatsapp chamado “SAC Sapatão”. Lá havia gente do Brasil todo e logo perguntou: “Tem algum DDD 48 aqui?”. Alguns dias depois a Jaque respondeu ela no privado, falou: “E aí, Criciumense?!” porque já tinha visto o papo se desenrolar lá no grupo. Passaram duas semanas conversando sem parar, até que resolveram marcar um encontro para se conhecer em que Angélica buscaria a Jaque em sua cidade, próxima à Criciúma, elas beberiam em Criciúma e depois ela a levaria de volta. A questão foi: elas só beberam. E Jaque, pobrezinha, estava cheia de fome, pingava de bar em bar com a Angélica contando mil histórias e bebendo… e só via as comidinhas passando para as outras mesas. Jaque era muito tímida, não disse nada, mas também não comeu. Chegou em casa com fome, achou o date ruim. Deram um beijo na despedida e isso foi o bastante para Angélica, que não tinha noção da fome da Jaque, pensar: “Yes! Arrasei!”. Jaque resolveu dar mais uma chance, se encontraram novamente e dessa vez teve até uma bolachinha dentro do carro, caso a fome batesse. Foram até a cidade de Tubarão, próximo onde Jaque morava, para viverem uma festa. Na época, já se sentiam bastante envolvidas. Angélica via a Jaque cantando nos vídeos e sentia a paixão chegando, mas os amigos não colocavam fé, para eles era só mais uma paixão passageira. A partir do segundo encontro em que foram na festa e que depois da festa dormiram juntas, sentem que algo começou a se firmar. Se encontravam com frequência, Jaque na época cursava uma faculdade em Criciúma e isso fazia com que estivessem sempre juntas… Mas Angélica seguia com o seu jeito agitado, querendo sair e curtir a vida, até que foi preciso entender que não dava para continuar com tanta intensidade assim, foi “sossegando” aos poucos. Do momento em que se conheceram até o começo do namoro foi bem rápido, entre janeiro e fevereiro de 2019. Logo no começo, também, já se apresentaram para as famílias, compraram alianças de namoro e foram seguindo a relação, até que depois de alguns meses entenderam que namorar morando em cidades diferentes estava ficando muito difícil. Jaque se mudou para Criciúma e foi morar com Angélica, se estabilizou num emprego e a vida recomeçou… Até começar a pandemia de Covid-19, onde trabalhavam de casa e passavam o dia inteiro juntas. No meio de tudo o que viviam, para garantir direitos e também celebrar o amor que resistia em tempos pandemicos, casaram-se no papel. Queriam fazer uma grande festa, mas não foi possível. Contam, rindo, que saíram do trabalho num dia chuvoso, foram até o cartório assinar um papel e assim que saíram de lá comeram uma coxinha e beberam uma coca-cola, foi a forma de comemorar. Quando nos encontramos para a documentação haviam recém trocado as alianças de namoro para de casadas, mesmo depois de alguns anos, porque queriam ter condições financeiras para comprar alianças legais. Estavam felizes com isso e fizeram questão de registrar nas fotos. Por mais que já passaram por muitas coisas boas juntas, existem também as difíceis, como a própria pandemia. Angélica perdeu a avó, uma das pessoas mais importantes da sua vida, e por conta do trauma desenvolveu alguns medos e fobias. A relação passou a significar apoio para além do romântico, Jaque se tornou um suporte imenso, um cuidado e ajudou no entendimento desses medos, de viver esse processo. Juntas, elas se apoiam em tudo. É nesses momentos que enxergam o amor de forma clara, refletido no cuidado, companheirismo, ajuda diária a enfrentar a vida. Angélica conta que acorda mais tarde, então Jaque tem todo o cuidado de preparar o café, pensar na rotina uma da outra, deixar os lanches prontos… E isso fala muito sobre apoio. O amor não precisa estar sempre no afeto físico. Ele está, também, na forma que elas sonham em viver da música e fazem o sonho virar realidade, investem em equipamento, em editais de cultura, vão atrás de shows para fazer… em toda a vez que dão as mãos e acreditam uma na outra. Falamos sobre trabalharem juntas, morarem juntas, viverem uma rotina muito intensa. Até para a própria documentação acontecer, batalhamos por um horário. E foi aí que citaram a maior dificuldade que passam atualmente: o cansaço que a rotina demanda. Existem alguns meios que recorrem para que isso não pese tanto, como a terapia, as longas conversas - nunca se veem brigando ou discutindo, mas conversando. Confiam muito uma na outra e isso é o que as movimenta, que mantém tudo em segurança. Se a rotina já é pesada, não querem que a relação também vire um peso. Angélica tem muito cuidado com a limpeza e cita que às vezes sente necessidade de limpar, ainda mais com os bichos em casa, não quer deixar o ambiente sujo para a convivência deles. Mesmo chegando exausta, arrasta os móveis, começa a limpeza… E a Jaque “pega junto”, em suas palavras, para limpar. Não era o que gostariam, prefeririam o descanso, mas reconhecem como a ajuda faz a diferença. Isso também fala sobre o amor, sobre poder contar, sobre não deixar de lado. ↓ rolar para baixo ↓ Angélica Jaque

  • Bruna e Tereza | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Tereza estava com 57 anos no momento da documentação, é natural de Aracaju, Sergipe e trabalha enquanto psicóloga, atuando no SUS pela rede de referência à saúde mental e na parte clínica. Enxerga a profissão como uma constante transformação, moldada por sua vida e suas linguagens corporais. Para além do trabalho, ama estar na praia, ler e tem retomado bastante alguns exercícios ao ar livre, como a calistenia (exercício que direciona o peso do próprio corpo). Bruna estava com 38 anos no momento da documentação e também é natural de Aracaju. Trabalhou por 15 anos como jornalista antes de migrar para a sua área atual, onde é bodypiercing. Começou pela vontade de tatuar, mas nas perfurações se encontrou. Hoje, na sala/estúdio que atende próximo de casa, vive uma rotina mais tranquila, celebrando essa mudança como um marco em sua saúde mental. No tempo livre, ama ficar com os bichos, ir à praia e sair para comer. A casa que residem hoje em dia - e que fizemos as fotos - é uma casa anexa à casa onde Tereza nasceu e cresceu. Construíram esse anexo para que ficassem próximas da mãe dela, que tinha 92 anos quando Bruna e Tereza se conheceram. Agora, estão em processo de construir um novo lar, num terreno que adquiriram e num estilo de casa simples e praiano, mais distante da região central, do outro lado do Rio Sergipe, em Aracaju. Foi no ano de 2010 que Bruna e Tereza se conheceram. Na época, Bruna tinha 25 anos e nunca havia se relacionado com mulheres, enquanto Tereza vivia um relacionamento de cinco anos. Apesar de interagirem pouco, notaram uma à outra, ou, como melhor diz Tereza: “Se registraram”. Bruna conhecia Tereza por ela ser professora de uma amiga, mas a vida de Bruna era bem diferente do que é hoje em dia: era marcada por padrões, formas conservadoras, participava de grupos religiosos e mantinha um estilo de vida tradicional. Com o tempo, Bruna foi mudando. Deixou a comunidade religiosa, passou a se relacionar com mulheres e, ocasionalmente, via Tereza em espaços em comum. Esses encontros a deixavam nervosa, sem saber exatamente o porquê. Em 2018, estava passando pelo término de uma relação, indo morar sozinha, quando passou pela frente da clínica que Tereza trabalhava e viu o imóvel para alugar. Mandou uma mensagem perguntando se estava tudo bem, e esse contato inicial fez com que trocassem algumas mensagens online. As conversas fluíram de forma natural, com músicas compartilhadas e assuntos diversos. Porém, nenhuma das duas admitia que algum sentimento começava a crescer. Bruna, buscava respostas com as amigas sobre o que as músicas enviadas poderiam significar e insistia que Tereza jamais teria interesse por ela, principalmente pela diferença de idades e suas vidas distintas. Até brincou que precisava passar um ano sozinha se curando e que não tinha vontade de se envolver com ninguém: "a única pessoa que mudaria isso seria Tereza, mas isso é impossível". Do outro lado, Tereza, já há três anos solteira após um longo relacionamento, estava aberta a novas experiências, mas também achava impossível que algo fosse acontecer entre ela e a Bruna, por conta das idades diferentes. O "impossível", contudo, já estava acontecendo. As músicas trocadas marcaram o início da relação de Bruna e Tereza. Era a forma sutil que encontraram de comunicarem o afeto que crescia ali. Bruna brinca que pareciam adolescentes, até que, finalmente, decidiram se encontrar para um jantar. Depois desse encontro, não se separaram mais. A intensidade das duas foi o que deu ritmo a tudo: logo vieram os processos de apresentação às famílias, e em novembro de 2019 decidiram se mudar para a casa onde vivem atualmente. A decisão foi motivada pela necessidade de Tereza estar próxima de sua mãe, que já tinha 92 anos. Contam como foi desafiador esse momento inicial. Querendo ou não, Tereza havia saído de um relacionamento de 11 anos, passou um tempo sozinha, e começou a viver um novo relacionamento que se dispôs a morar com ela e cuidar da sua mãe. Era outra dinâmica: conviver em família, dividir a casa. Porém, aos poucos, entenderam que precisavam de um espaço só para elas também… e foi nesse momento que construíram o anexo à casa - lugar que vivem até hoje. Com o tempo, adotaram duas cachorras (que se somaram aos dois gatos) e adquiriram o terreno onde atualmente constroem o lar que planejam compartilhar no futuro. O amor está na simplicidade em que Bruna e Tereza constroem o dia a dia juntas. A relação é leve e tranquila. Não se veem em outro lugar, querem seguir lado a lado, casadas, com amigos e famílias misturadas, elas se consideram grandes amigas e acreditam no respeito mútuo como base para manter o equilíbrio em casa. Para Bruna, a relação é um exemplo de amor para as crianças próximas, os colegas de trabalho e os amigos que se inspiram na forma como se cuidam. Bruna também se emociona ao falar sobre a felicidade de estar com alguém que tanto admira. Para ela, viver esse amor com Tereza é um sonho realizado. Ela se sente grata pela relação saudável que têm, pela paixão que compartilham e pela família que já construíram - com seus gatos e cachorras - e pela que ainda vão construir - num possível futuro com filhos. Tereza, por sua vez, fala com carinho sobre a naturalidade da relação. Conta que elas só se chamam de "amor", em qualquer lugar, seja na rua, em lojas ou em casa. É absolutamente espontâneo. Mas às vezes, percebe que para quem ouve isso soa inusitado, a pessoa fica: “Ei, essa ‘amor’ chamou aquela ali de ‘amor’”. Sempre que se despedem, também se beijam, nem que seja para ver algo em uma loja do shopping… e então percebem que talvez possam ter chocado alguém. Para ela, é uma alegria sentir essa liberdade podendo ser quem ela é. Afinal, é a primeira vez que vive esse nível de autenticidade numa relação, onde pode ser verdadeiramente ela para fora dos espaços seguros (em casa, entre os amigos…). Para ela, é como se seu corpo finalmente estivesse falando, mostrando o amor que sente. [isso que tereza diz é muito bom pra video 30 min] ↓ rolar para baixo ↓ Bruna Tereza

  • Barbara e Isadora | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. ↓ rolar para baixo ↓ Bárbara, no momento da documentação, estava com 30 anos. Trabalha enquanto comissária de bordo e é apaixonada por viajar. Antes de ser comissária, foi tatuadora e trabalhou bastante tempo com arte, começou pela necessidade de juntar dinheiro, foi seguindo a profissão e fez carreira, até fechar o estúdio durante a pandemia de Covid-19. Hoje em dia, a arte segue nos detalhes da sua casa, na decoração que faz, nos móveis que transformou e quando dança com a Isa pelos cômodos. Mas sua rotina mesmo, é voltada ao sonho de conhecer o mundo viajando - que realiza através do trabalho. Isadora, no momento da documentação, estava com 29 anos. Ela é atriz, narradora de audiolivros e foi bailarina por 11 anos. Sua rotina, atualmente, é trabalhar no Rio de Janeiro com a narração e edição de audiolivros, além de cuidar de diversas plantinhas em casa e querer ter cada vez mais - alimentando um sonho antigo da Bárbara de um dia morarem no campo. Isa explica que nunca desejou morar num lugar como um sítio ou campo, sempre quis o centro, mas é pelo fato de sempre morar longe da escola ou do trabalho e demorar muito tempo para chegar. Hoje em dia, ao analisar e pensar sobre, acha que seria feliz morando num lugar bem arborizado. Atualmente, elas moram juntas há cerca de um ano na Ilha do Governador, local em que Bárbara nasceu. Isa é natural do Rio de Janeiro, mas de bairros distantes da Ilha. Resolveram morar juntas depois que o namoro caminhou e pelo convívio delas/com os gatinhos irem crescendo. Antes da Isa chegar, Bárbara era muito bagunceira, não tinha uma casa com cara de lar e a bagunça era também uma das causas da sua ansiedade. Foi nessa mudança que viu sua casa virar lar, entendeu a ter mais cuidado com prazer, viu uma evolução acontecendo e hoje em dia, quando chega em casa entende a grandiosidade disso tudo. Ambas cuidam muito do seu cantinho, amam a parceria desse cuidado, dançam, fazem churrasco ouvindo pagode, vão à praia próxima, recebem amigos, curtem a casa e organizam com carinho. Foi no final de 2022 que Bárbara e Isa se conheceram. Bárbara tinha um grupo de amigas lésbicas que sempre saiam juntas, mas logo no dia que queria sair a maioria não topou e acabou indo só com uma delas num bar - este voltado ao público feminino que existia no Rio de Janeiro: o Boleia - porque estava com desejo de comer uma batata frita que só tinha lá. Quando chegou ele estava bem cheio, o clima agitado, não tinha mais a famosa batata frita, mas ela insistiu com a amiga: “Vamos ficar por aqui, quem sabe conhecemos alguém legal!”. E conheceram mesmo, o grupo de amigas que a Isadora estava. Bárbara chamou a Isa para dançar um forró e enquanto elas dançavam, no meio do barulho, até perguntou para a Isa se ela estava solteira, mas ela nem ouviu, não respondeu - e foi insistente, que bom, porque meses depois ficou sabendo que Isa não estava nem aí, não tinha muita disposição para conhecer alguém naquele momento. O bar já estava fechando e, em grupo, seguiram para outro lugar, mais calmo. Foi lá que conseguiram conversar, a Isa pensou: “Nossa, que menina interessante!” e as coisas se desenvolveram. Depois de se conhecerem nesse primeiro encontro, passaram 15 dias até conversarem novamente online e surgir o convite para se encontrarem novamente. Saíram, as coisas fluíram e seguiram se encontrando, mas confirmaram: não queriam nada sério. Dois meses depois, não tinham como negar, já estava sério. O pedido de namoro aconteceu no começo de 2023. A verdade é que tanto Bárbara, quanto Isa tinham bastante medo de se relacionar. Mas o que ajudou a enfrentar o medo foi observar o quanto eram pessoas que mereciam viver algo bom, que desejavam coisas boas para os outros e para si. Cativaram uma à outra. Acreditam que a dinâmica de relação que possuem é muito bem sucedida e Isa traz o exemplo da relação dos pais dela - conta que é a mais bonita que conhece, eles estão juntos desde a adolescência e são muito parceiros, são o maior exemplo de vida que possui. Aos poucos, ela enxerga o que deseja na relação com a Bárbara também e se orgulha muito disso. Para Bárbara, o amor sempre vai nos encontrar. É a força mais poderosa do mundo. Vai nos encontrar num animal que nos olha na rua, num café que bebemos, numa pessoa que amamos. O amor é a força criadora. É a proposta por estarmos aqui: para nos desenvolver no caminho do amor. Ela sempre teve a dualidade: ser uma pessoa um pouco solitária, mas também buscar o amor nas pessoas. No começo da relação, a mãe orientou: “Filha, vai com calma. Você se entrega muito.” E ela respondeu: “Mas a Isadora também é assim”. E a Isa também passou por isso com a mãe e com as amigas. Hoje em dia ela enxerga a relação que vive com a Isa como algo muito curativa: curando traumas, cuidando… alguém que abraça mesmo o que não é perfeito (como a questão da bagunça, citada no começo do texto) e te ajuda a melhorar. Para Isa, o amor de alguma forma é clichê. É uma transformação constante, ser a sua melhor versão para si e para o outro, para quem enxerga a melhor versão de você. Ter ternura e respeito, deixar a pessoa digerir no tempo dela, ter cuidado. Acha incrível o quanto as famílias delas se gostam e apoiam a relação delas e isso é muito valioso, acredita que o amor também mora nesses momentos.

  • Oi, eu sou o doc! | Documentadas

    Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Vem participar você também! chega pra cá, vai ser um prazer te conhecer! O Documentadas é um banco de documentação sobre mulheres que amam outras mulheres, com o intuito de registrar historicamente o amor entre lésbicas, bissexuais e pansexuais (cis e/ou transsexuais), construindo uma literatura que até então era inexistente sobre essa população. Completando três anos em março de 2024, o projeto já documentou mais de 400 mulheres em 13 estados brasileiros. Para além de contar as histórias de casais brasileiros, o .doc acredita em 4 vias para atingir mudanças reais na nossa sociedade brasileira: Gerar empregabilidade, divulgando as profissões e trabalhados exercidos pelas mulheres que participam do projeto; Gerar conexão com encontros presenciais e online; Espalhar artes pelas ruas falando sobre o amor entre mulheres combatendo o preconceito em espaços públicos; Gerar atendimento psicológico através da plataforma, contando com 17 profissionais oferecendo serviços de apoio psicológico e psicanalítico online por valores populares (atualmente, mais de 200 mulheres já passaram pelos nossos atendimentos). > para além da documentação > Acreditamos que a igualdade de gênero pode ser alcançada por meio do combate ao machismo e através da equidade de oportunidades de fala/escuta. Além disso, entendemos que criar um banco de dados de fácil acesso, para a divulgação de ofícios exercidos por mulheres que amam outras mulheres possibilita, assim, oportunidades de contratação dos serviços prestados pelas mesmas, uma vez que os ambientes de trabalho tendem a ser espaços de conflito e preconceito quando não oferecem diálogos e reeducação social. Visibilizar as histórias de mulheres de diferentes corpos, raças e classes sociais exerce um papel fundamental para o reconhecimento dessas populações vivas. o .doc já passou por 13 estados brasileiros, contando histórias de mais de 400 mulheres. QUER COLABORAR COM O DOC PARA QUE ELE TENHA MAIS LAMBES POR AÍ OU NOS CHAMAR PARA UMA EXPOSIÇÃO EM ALGUM LOCAL? ENTRA EM CONTATO PELO SITE OU NO E-MAIL: FERNANDA@DOCUMENTADAS.COM o .doc para além do .doc Entendemos também que a representatividade é algo extremamente importante para construção da subjetividade, tendo como intuito divulgar histórias que inspirem e motivem outras mulheres a se reconhecerem e valorizarem suas próprias histórias e histórias de amor, quando a coerção social, imposta pela heteronormatividade, diz o contrário. ainda podemos ser podcast cursos ou palestras exposições produtos curtas referência em saúde mental LGBT+ cartilhas inclusivas e muito mais! empregabilidade, psicologia, conexão, arte urbana viu a gente pela cidade? Estar na rua nos abriu a possibilidade de troca com públicos antes inalcançáveis. Passamos entre universidades, boêmias e comunidades. Se as mulheres amam outras mulheres em múltiplos espaços, acreditamos que nossa arte também deva ocupar múltiplos espaços Foi através das técnicas arte urbana como lambe-lambe e stickers que começamos a espalhar uma frase famosa por aqui: “Toda mulher merece amar outra mulher”, além de uma tiragem de 800 fotografias de casais que já participaram do projeto, com intervenções gráficas escritas por cima e o @documentadas, identificando nosso Instagram/site. quer contratar o documentadas para uma palestra na sua empresa, propor parcerias, fazer alguma reportagem ou conhecer mais sobre o nosso trabalho? entre em contato aqui pelo site ou mande um e-mail para fernanda@documentadas.com

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