top of page

Espaço de Pesquisas

Oi! Este é um espaço do qual você pode pesquisar e encontrar histórias de mulheres que participaram do nosso projeto por todo o Brasil! Legal, né? 

Pra usar, basta digitar no espaço de pesquisa alguma palavra-chave, por exemplo: alguma profissão, alguma cidade, algum tema... 

 

É o nosso verdadeiro banco de dados - o primeiro, da história das mulheres que se relacionam afetivamente

com mulheres - e precisa ser valorizado! ♥

111 resultados encontrados com uma busca vazia

  • Banco de Images | Documentadas

    Aqui documentamos a história de mulheres por todo o Brasil. Ingra e Lara amor de diversidade. Roberta e Laura amor de ser possível amar. Yulli e Nadine amor de profissão em comum. Sandra e Larissa amor de oceanos. Vanessa e Suélen amor de simplicidade. Rhanna e Lais amor de festa popular. Inara e Juliana amor de samba. Juliana e Priscila amor de grande família. Clarissa e Agnis amor de crescimento. Ariadne e Barbara amor de faculdade. Karol e Hémely amor de abrir portas. Nayara e Mayara amor de educação. Vivian e Dani amor de nova visão de si. Olga e Flávia amor de política. Clarissa e Roberta amor de são joão. Tamiris e Ágata amor de tempo. Camila e Rafaela amor de etapas. Joyce e Gabi amor de persistência. Gabi e Raffa amor de ficar à vontade. Laura e Camila amor de presente. Babi e Maria amor de companhia. Vivi e Darlene amor de não viver sem. Jaque e Tainá amor de novo olhar. Thacia e Ju amor de cuidado. Anik e Isabelle amor de desaguar. Raquel e Dandara amor de mudanças. Aline e Isabela amor de novidades. Luiza e Milena amor de paciência. Marcela e Jana amor de liberdade. Mariana e Viviane amor de manhã na praça. Clara e Laura amor de cuidado. Aline e Nathalia amor de paródia. Iana e Amanda amor de salvador. Yaskara e Jade amor de conversas. Daniella e Flávia amor de futuro. Isadora e Isabelle amor de equação. Luanna e Laira amor de cicloativismo. Ellen e Bianca amor de confraternização. Lorrayne e Joyce amor de casa. Mari e Jéssica amor de cura. Elis e Vandréa amor de ancestralidade. Carol e Sofia amor de hobbie. Letícia e Giovanna amor de persistência. Ane e Ari amor de companhia. Lorrayne e Mari amor de bilhete. Sarah e Rosa amor de novidade. Jamile e Raquel amor de leitura. Raquel e Rachel amor de pedidos. Aline e Aya amor de maternidade. Cassia e Kercya amor de marinar. Gabriela e Mariana amor de mãos dadas. Luiza e Maria Pérola amor de nebulosas. Lara e Ana amor de âncora. Sharon e Vivian amor de natureza. Yasmin e Juliana amor de diálogo. Isa e Camila amor de fã. Mari e Rey amor de outros lugares. Manu e Alyce amor de abraço. Cecilia e Jady amor de riso esvoaçante. Clara e Rayanne amor de jeito. Maria Clara e Antônia amor de cinema. Priscilla e Raphaela amor de conexões. Mari e Vivi amor de música. Júlia e Milena amor de reencontro. Talita e Louise amor de história. Juliana e Tercianne amor de teatro. Ju e Nicoli amor de vida toda. Luana e Maiara amor de domingo no parque. Tânia e Clarissa amor de trajetória. Ju e Marci amor de tempo. Rennata e Vanessa amor de impacto. Bruna e Flávia amor de suporte. Bibi e Emily amor de mãos dadas. Clara e Mayara amor de doce. Carol e Joyce amor de propósito. Thaysmara e Leticia amor de pôr do sol Júlia e Ana Carolina amor de cuidado ao detalhe. Natasha e Jéssica amor de ciclos. Rafa e Gizelly amor de acordar juntas. Carla e Yasmin amor de expressão. Yasmin e Ignez amor de encontro. Nathi e Emanu amor de força. Camila e Samantha amor de evento. Lu e Joana amor de flor. Nath e Carla amor de parque. Karol e Beatriz amor de webnamoro. Clara e Mariana amor de sétima arte. Jamyle e Rebeca amor de festa. Dani e Aline amor de oposto complementar. Camilla e Karol amor de calma e maresia. Bia e Marina amor de conversa. Amanda e Thaís amor de lagoa. Ju e Yasmin amor de compaixão. Wan e Lívia amor de lugares. Vanessa e Denise amor de pretitude. Mari e Marie amor de estrada. Marcela e Karina amor de refúgio. Ana e Paula amor de almoço no domingo. Thaty e Lari amor de descrição. Melissa e Sofia amor de sítio. Carol e Marlise amor de construção. Fabi e Dani amor de brilho. Isa e Carina amor de versões. Taynah e Estrella amor de ano novo. Glauci e Alice amor de casa. Maiara e Vitória amor de sol e lua. Joyce e Malu amor de renovar. Gabi e Dani amor de gatos. Marcia e Kamylla amor de faculdade. Luiza e Mariah amor de produção artística. Drika e Jana amor de dia após dia. Thay e Louise amor de samba. Jeniffer e Renata amor de aventura. Ana Clara e Evelyn amor de nascer do sol. Bruna e La Salle amor de confirmação. Mariana e Bárbara amor de interior. Maíra e Kelly amor de estar em casa. Janelle e Gyanny amor de fé. Lia e Thalita amor de lar. Alessandra e Roberta amor de diversão. Iasmin e Natalia amor de tatuagem. Bruna e Mari amor de arte na rua. Carla e Cynthia amor de diferença. Inara e Nina amor de recomeço. Hinde e Renata amor de intercâmbio. Thay e Cami amor de afeto. Luana e Marília amor de corpo. Fernanda e Ana amor de tentativas. Gabi e Gabriela amor de coragem. Jéssica e Priscila amor de diferença. Melina e Karyne amor de frio na barriga. Mariana e Fabiola amor de redescoberta. Luana e Bruna amor de emoção e razão. Ane e Thelassyn amor de persistência. Nayara e Jamyle amor de geek. Tami e Fran amor de casa nova. Gabi e Pamela amor de ajuste. Tay e Beatriz amor de elevação. Alice e Fernanda amor de apoio. Julia e Duda amor de muito. Luciana e Viviane amor de recomeços. Kelly e Amanda amor de tempos. Anne e Lari amor de paz. Júlia e Vitória amor de moda. Paula e Mari amor de cor. Luma e Stefany amor de árvore. Anne e Talita amor de oportunidade. Uine e Denise amor de aliança. Larissa e Claricy amor de ritual. Laiô e Íris amor de horizontalidade. Brenda e Jéssica amor de aventura. Dalila e Andréia amor de "praciar". Carla e Laura amor de porto seguro. Vanessa e Vitória amor de nova perspectiva. Carol e Cris amor de energia. Angélica e Jaque amor de segundo encontro. Kétule e Beatriz amor de cachoeira. Alissa e Rafaela amor de recomeços. Lilian e Marcella amor de padaria. Natália e Bruna amor de ano novo. Rachel e Larissa amor de paciência. Jade e Laura amor de segurança. Barbara e Isadora amor de cativar. Marina e Patrícia amor de pedidos rápidos. Gabi e Aline amor de aposta. Débora e Paula amor de comentário. Bruna e Vanessa amor de transformação. Cintia e Carmen amor de cultura. Dállete e Dyanne amor de redescobrir. Keziah e Patricia amor de compartilhar Cynthia e Leylane amor de esporte. Rafa e Helena amor de dia. Emilly e Thuane amor de maracatu. Sue e Sil amor de teatro. Fernanda e Talita amor de som. Carol e Gabi amor de fotografia Carol e Andressa amor de lugar. Ingrid e Cecília amor de estrada. Vanessa e Dayanne amor de caminho. Emily e Raissa amor de tentativa. Beatriz e Kika amor de são joão. Bruna e Tereza amor de sonho realizado. Juliana e Bianca amor de tempo. Clara e Marina amor de céu aberto. Samara e Rebeca amor de impulso. Raíssa e Lorena amor de experimentar. Laura e Dedê amor de samba. Maria Vitória e Fernanda amor de carro. Manô e Bruna amor de vivência. Denise e Julia amor de cerveja&cinema. Maíra e Duda amor de tatuagem. Marina e Luiza amor de cumplicidade. Juliana e Tayna amor de mil histórias. Bruna e Fran amor de resistência. Marcia e Pethra-13_edited amor de pé na porta. Mari e Nonô amor de escola. Joana e Ana Clara amor à primeira vista. Priscila e Rebecca amor de mar. Bruna e Sophia amor de carnaval. Renata e Marcela amor de arte. Clara e Karine amor de parceria. Bela e Maitê amor de risadas. Victoria e Gabi amor de praia. Brenda e Jhéssica amor de destinos. Carol e Gabi amor de militância. Beatriz e Tamara amor de esporte. Paula e Luiza amor de plantas e pássaros. Luana e Gabrielle amor de família. Mariana e Thalassa amor de plantinhas. Carol e Beanca amor de acompanhamento. Rita e Dede-23_edited amor de 10 reais.

  • Ingra e Lara | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Lara estava com 25 anos no momento da documentação. É natural de Ilhéus, morou lá a vida toda e atualmente trabalha enquanto psicóloga infantil atuando com crianças neurodivergentes. É uma área que ama trabalhar: lidando com crianças portadoras de autismo, acompanha principalmente as que estão na transição para a adolescência. Adora estudar e acolher todas as questões, analisar os comportamentos e estar nos ambientes escolares, no dia-a-dia da criança em si, sair do espaço da clínica num momento de consulta. Além do trabalho, também adora estar em Salvador visitando os amigos (inclusive foi lá que fizemos a documentação acontecer) e também gosta de ir até Itacaré fazer alguns passeios. Ingra estava com 24 anos no momento da documentação. Também é natural de Ilhéus e conta que cresceu com muitas referências femininas - dentro e fora de casa. Morou em São Paulo durante dois anos depois de terminar o ensino médio, enquanto ainda escolhia o que cursaria na faculdade. Quando voltou para Ilhéus, resolveu cursar psicologia. É apaixonada pelas múltiplas formas artísticas e sabe que isso influencia diretamente sua forma de ser: a arte ajuda ela a viver seus melhores momentos. Além disso, sempre soube que gostava de mulheres, mas de alguma forma não insistia nisso porque pensava que iria passar com o tempo. Ingra lembra de uma situação, quando ainda era criança, que sentia algo diferente por mulheres e escreveu num papelzinho, confessando na igreja “que por mais que sentisse que isso fosse errado por pressão social, não deveria pedir desculpas para Deus por isso, porque não era de fato maldoso”. Escondeu o papel atrás de uma santa e anos depois achou o papel novamente. Adora acessar essas partes suas que estão no passado e que complementam quem ela é hoje, de alguma forma acolhe a criança que era e a adulta que se está se tornando. Ingra procura voltar seus estudos em psicologia para gênero e sexualidade, mas também trabalha enquanto assistente terapêutica. Sua irmã mais nova possui uma síndrome rara, chamada de síndrome de rett, precisando 100% de suporte, então isso influencia na sua vontade de fazer diversos cursos e especializações - e também foi o que aproximou a relação dela com Lara. Ingra e Lara se conhecem desde a adolescência, pois estudavam no mesmo colégio, mas eram de turmas diferentes. Não eram próximas, no máximo se cumprimentavam. Lara lembra do processo de Ingra ir para São Paulo porque havia amizades em comum que comentavam. Depois de formada na faculdade, Lara já atendia crianças com deficiência (e já se entendia enquanto uma mulher lésbica também), enquanto a mãe de Ingra procurava uma nova acompanhante para sua irmã (que possui síndrome de rett). Lara conta o quanto a irmã de Ingra é famosa em Ilhéus por conta da síndrome rara que possui e diversos profissionais têm interesse em estudar o caso dela. Quando soube que Ingra estava de volta na cidade, em 2023, nem imaginava que ela se relacionava com mulheres - até lembra do seu estilo meio surfista mais jovem, dos amigos que tinha, não “dava muitos sinais” - mas uma amiga em comum comentou e surgiu um interesse. Logo em seguida, soube que Ingra havia ingressado na faculdade de psicologia e a amiga comentou “o quanto elas eram parecidas e tinham coisas em comum”. Quando Ingra chegou em Ilhéus, se sentia muito insegura sobre a sexualidade. Como se relacionar com outras mulheres na cidade em que nasceu? Conversou com sua mãe sobre, ela foi uma forte aliada, mas ainda existia muito medo das reações das pessoas na rua, principalmente por ela ser vista o tempo todo como uma mulher muito feminina. A amiga em comum que havia com Lara também foi muito importante nesse processo para desmistificar a ideia de que mulheres que se vestem e performam feminilidade não podem amar outras mulheres e viver de forma livre esse amor. Foi a amiga quem falou sobre Lara para Ingra, e assim elas interagiram no Instagram pela primeira vez - mesmo Ingra tendo certeza que provavelmente não iria dar em nada. Foi num restaurante o primeiro encontro de Lara e Ingra, depois de conversarem alguns dias online. Antes de sair, Ingra estava tão nervosa se arrumando que a mãe logo notou e perguntou se ela iria encontrar alguma mulher. Ela havia comprado até uma roupa especial, que conseguiu garimpando em algumas lojinhas do centro. Chegou ansiosa, atrasada e mais arrumada do que Lara esperava - o que, de toda forma, não era ruim. Lara, que não é de ficar nervosa, ficou. Conversaram e foram desenrolando a ansiedade, o que foi muito legal porque sentiram tudo mais leve. Mesmo Ingra sendo tímida e não gostando de se abrir sobre a vida logo de cara, adorou que Lara fez tudo fluir, as conversas seguiram bem. Acabaram se beijando no primeiro encontro, algo que até então não era comum para Ingra, mas ela se mostrou confortável e até saiu de mãos dadas do local. Foi algo marcante porque nos dias seguintes demonstraram o quanto gostaram e queriam continuar se encontrando. Lara apresentou seu primo para Ingra, passaram o ano novo juntas de um jeito simples e calmo, no mês seguinte oficializaram o início do namoro e por mais que fosse um início rápido, sentem que a dinâmica foi tradicional e no tempo que se sentiram bem. Ingra fala sobre o amor que a sua família criou por Lara e como isso foi fundamental para quebrar muitos medos que tinha enquanto uma mulher que ama outra mulher ao se pensar vivendo coisas tão básicas como apresentar a namorada para a família e/ou ter momentos em família. Quando contou para sua mãe que estava indo encontrar Lara, ela ficou feliz por saber quem Lara era, conhecer seu trabalho e admirá-la enquanto profissional, então desde sempre apoiou, mas respeitou/esperou elas começarem a namorar para serem apresentadas oficialmente. Marcaram uma janta na casa da família de Ingra para que Lara fosse apresentada oficialmente enquanto namorada, mas dois dias antes esbarraram com a mãe dela, na pracinha do bairro, comendo acarajé, então se conheceram antes do previsto. O dia era de comemoração:a mãe dela havia acabado de se matricular na faculdade de psicologia - curso que tanto Lara, quanto Ingra, já cursaram. A janta aconteceu de qualquer forma e foi até melhor que o esperado: Lara chegou e a mãe de Ingra já apresentou a filha mais nova sabendo que Lara iria gostar de conhecer. Haviam outras crianças em casa porque ela chamou alguns vizinhos para comemorar um aniversário de bonecas que criou de última hora com os brinquedos da pequena, Ingra estava focada em cozinhar a janta, e Lara se divertiu com a criançada. Ao mesmo tempo que estava nervosa por conhecer uma família grande e muitas crianças, estava num lugar muito confortável por estar com o que mais ama - as crianças. Comenta, também, que mesmo a irmã da Ingra não verbalizando, ela tem um olhar muito marcante e ficou nítido o quanto elas se deram bem naquele primeiro momento, era o que a deixava mais feliz saber que tinha dado certo. E foi apresentada como namorada de Ingra, recebeu um sorriso de todos, sente que foi aceita desde o início. Na família de Lara, elas sentem que sua mãe sabe mas ainda está no processo de aceitação, então vivem isso frequentando a casa e entendendo que o tempo age aos poucos. Desejam cada vez mais construir o relacionamento que possuem enquanto uma família - seja unindo suas famílias, se vendo enquanto uma unidade familiar sendo duas mulheres que se amam e, esperam que daqui um tempo, adotando uma nova vida sendo mães e gerando uma nova família. ↓ rolar para baixo ↓ Ingra Lara

  • Natália e Bruna | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Dalila estava com 28 anos no momento da documentação, nasceu em São Paulo, mas se mudou para uma cidade interiorana próximo à Campinas ainda jovem. É uma pessoa bastante calma, sempre encontrou formas de se adaptar aos diferentes cenários de sua vida - e por isso, gosta de se definir como um camaleão. Formada em contabilidade, começou sua carreira na área administrativa, mas foi aos 24 anos que aproveitou novas oportunidades, indo para hotelaria. Adora yoga e pilates. Andréia, no momento da documentação, estava com 47 anos. Nasceu em São Paulo, saiu de casa aos 17 para desbravar o mundo. Formada em contabilidade, tinha o sonho de trabalhar na Bolsa de Valores e chegou bem perto disso: ingressou em um escritório vinculado à Bolsa, mas o destino tinha outros planos. O departamento de hotelaria no mesmo escritório despertou maior curiosidade, uma das colegas tirou licença-maternidade e ela pegou algumas das suas responsabilidades. Dez meses depois, veio uma promoção e uma proposta: mudar para Recife trabalhando com isso. Era 2003, ela tinha pouco mais de 20 anos e topou na hora, sem nem pensar duas vezes. Passou três meses trabalhando em Angra dos Reis para entender como os hoteis funcionam, depois desembarcou em Recife e ficou por lá alguns anos. Desde então, já possui mais de 20 anos de carreira na área, trabalhando principalmente no nordeste. Juntas, Dalila e Andréia formam uma parceria que se complementa: Dalila é metódica, cuidadosa, calma. Lembra Andréia de levar o casaco, beber água ou ajeitar a postura. Andréia vem com a agitação, o espírito aventureiro, lembra Dalila de viver o momento, a juventude. Depois de passar anos morando no Nordeste, Andréia passou por algumas questões familiares e precisou voltar para São Paulo. Retornou sem emprego, sem contatos e sem um plano claro, considerando até mesmo a possibilidade de um intercâmbio. Enquanto isso, enviou alguns currículos e, em pouco tempo, recebeu uma proposta de emprego em um hotel conhecido em Campinas. Foi lá que conheceu a Dalila. No início, era complicado entender os sentimentos que começavam a surgir entre elas. Dalila tinha 23 anos, estava começando sua carreira. Andréia, além da diferença de idade, ocupava um cargo de liderança. A posição profissional pesava e decidiram manter o relacionamento em segredo. Por mais que a idade fosse um fator, Dalila sempre foi uma pessoa muito madura e isso nunca interferiu na relação, tinham mesmo era receio da questão profissional. Se conheceram um pouco antes da pandemia de Covid-19 e do lockdown acontecer. Quando foi declarado, o hotel ofereceu uma opção de demissão voluntária - os empregados se demitiriam mas teriam todos os direitos garantidos - e elas optaram por fazê-la, e assim, poderiam também assumir a relação sem mais o medo disso interferir no trabalho. Depois disso, passaram por um novo momento: assumir à família. Alguns meses depois, contaram para a mãe da Dalila. Era um momento bem significativo, a primeira vez que falaria da sua sexualidade, somado ao fato de estar com uma mulher mais velha e, ainda, o desejo de sair de casa. Apesar da complexidade, sua mãe, uma mulher incrível, acolheu a notícia com compreensão e amor. Esse período de adaptação levou alguns meses, mas foi essencial para fortalecer a relação entre elas. Ainda nesse processo, tiveram a primeira viagem juntas, o primeiro trabalho pós-demissão e receberam uma nova proposta para trabalhar juntas em Porto Seguro. A primeira mudança que fizeram para Porto Seguro a fim de trabalharem juntas foi um divisor de águas na vida da Andréia e da Dalila. Andréia assumiu a gerência, enquanto Dalila cuidava da parte operacional. Em meio à pandemia, estavam no único hotel aberto em Porto Seguro. Esse período marcou o início de uma vida compartilhada, tanto no trabalho quanto na relação pessoal. Mesmo em tempos desafiadores, encontraram maneiras de aproveitar. Passearam por Arraial d’Ajuda - o local onde fizemos as fotos - beberam água da fonte lendária que promete trazer de volta aqueles que a experimentam e visitaram Trancoso. Essa última viagem ficou ainda mais especial com uma pousada em que se hospedaram e da qual gostaram tanto que, três anos depois, decidiram arrendá-la e trabalhar nela como administradoras. Quando o contrato em Porto Seguro terminou, um novo destino chegou: Porto de Galinhas, em Pernambuco. Em Pernambuco trabalharam em hoteis distintos, exploraram novos hábitos alimentares e descobriram formas diferentes de viver. Foi nesse período que Dalila despertou um amor especial pela cozinha, criando cafés da manhã não só para elas, mas também para vender. Em 2022, surgiu uma oportunidade de retornar à Bahia, entre Porto Seguro e Trancoso, para trabalhar novamente com hoteis e pousadas. Decidiram voltar e, dessa vez, arrendaram a pousada que tanto haviam amado anos antes. Moraram em Arraial d’Ajuda e se deslocavam diariamente para Trancoso, onde gerenciavam a pousada. Dalila voltou a se dedicar à culinária, inclusive fazendo isso na pousada: elaborando cafés da manhã em sua maioria vegetarianos. Ficaram quase um ano nessa rotina. Após o período na pousada, seguiram para outros trabalhos, foi então que Dalila criou o Manhãs e Marés: um serviço especial de cafés da manhã, atendendo tanto pousadas/hoteis quanto clientes individuais. Atualmente, Andréia continua sua carreira na administração de pousadas e beach clubs, enquanto Dalila equilibra sua paixão pelos cafés com o suporte à administração. Hoje, além do trabalho e do tempo de qualidade juntas, Andréia e Dalila dividem o amor por uma gata que adotaram. A vida que construíram reflete a busca constante por leveza, equilíbrio e conexão. Elas se alegram com as pequenas e grandes mudanças que alcançam juntas, aprendendo a ser pés no chão, mas sem se cobrar demais. Dalila conta que Andréia traz a agitação para a vida dela e foi num desses momentos que surgiu o “Praciar” - ato que fizemos na hora da documentação: sentar na praça e observar. Compram uma cerveja, ficam de boa, assistem o movimento. Dalila gosta de dormir cedo, então ficam na praça até ela começar a sentir sono, e vão embora. Adoram a calmaria do relacionamento, acreditam que o amor próprio é a chave para ele dar certo e, ainda mais para a Andréia, que se vê enquanto uma pessoa agitada que sempre fez “muita balbúrdia”, a calma da Dalila a ensina o tempo todo. Entendem esse amor refletido no respeito por ser quem são, no momento de cada uma, nos limites das inseguranças e em enfrentar os momentos difíceis juntas. No momento da documentação, inclusive, haviam acabado de chegar de um encontro de famílias que só aconteceu depois de cinco anos de relacionamento, lá em São Paulo. Pensam na demora e na insegurança que tinham pelo fato da diferença da idade, por terem familiares mais velhos presentes, senhores e senhoras de 80 e 90 anos e que havia receio do que poderiam ouvir, ainda mais por verem Dalila como uma “menininha” e por ela estar namorando uma mulher mais velha. Todavia, foi incrível, acolheram Andréia de uma forma maravilhosa e admiraram a felicidade delas. Nesse ato elas enxergam o amor, entenderam que o importante é serem felizes, estarem em conforto e cuidado. ↓ rolar para baixo ↓ Dalila Andréia

  • Dalle e Dyanne | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Dállete estava com 26 anos no momento da documentação. É natural de União dos Palmares, interior de Alagoas e, sendo uma mulher descendente de indígenas/quilombolas, carrega isso muito forte em seu corpo. Foi criada por sua mãe e por parte da família materna numa cidade chamada Carpina, localizada na zona da mata norte pernambucana, onde morou até os últimos anos quando decidiu cursar direito no campus do sertão de Pernambuco, sendo a primeira pessoa da família a cursar faculdade. Dálle adora fotografar e durante a faculdade conseguiu se sustentar e realizar diversos trabalhos acadêmicos com a fotografia - criou um projeto fotografando as comunidades indígenas e quilombolas que tinha acesso, viajou para Brasília, Amazonas e Bahia, apresentou os registros em diversos lugares e ganhou prêmios. Até hoje cultiva o hobbie e a veia artística. Dyanne estava com 27 anos no momento da documentação, é natural de Carpina, zona da mata norte de Pernambuco, e conta sobre sua infância ter sido toda na igreja. Não lembra de algum momento antes dos 11 anos de idade não ter sido dentro da Igreja Petencostal do Sétimo Dia, foi só durante a pandemia de Covid-19 (com ela já sendo uma mulher adulta), quando tudo estava fechado, que viu a oportunidade de sair da religião e conhecer outros lugares. Entre as tarefas na religião, gostava de cantar e tocar violão. Foi lá, também, que conheceu Dálle. Dálle foi cristã muitos anos, quando entrou na universidade entendeu a grandiosidade do mundo - e do que era a sua vida em si: as violências que já havia sofrido, a cultura que carregava e o que significava seu corpo. Foi quando entendeu que poderia gostar de mulheres - de pessoas em geral - e que a sexualidade não define caráter. Dyanne sempre achou mulheres muito bonitas, entendia isso desde a adolescência, mas nunca soube como era o mundo para além da sua família e da igreja. Quando apareciam coisas para fora “da sua bolha” na televisão, o pai trocava de canal… Foi uma pessoa muito protegida. Entendeu o que era o contato físico entre as pessoas no ensino médio - e foi também quando pensou sobre a possibilidade de sentir algo por outra mulher. Mas, logo cortou a possibilidade, até porque não era sobre mulheres em geral, era sobre uma mulher especificamente. Mesmo assim, nunca chegou a acontecer nada, o medo que sentia do “pecado” era muito maior. Na época em que tudo isso aconteceu na escola, Dyanne chegou a conversar com uma psicóloga sobre: contou que estava conversando com uma menina e que achava que gostava dela. Coincidentemente, os pais estavam em separação e a psicóloga orientou que ela estava depositando a falta que sentia da mãe na busca por um afeto feminino, dizendo que ela “confundia as coisas”, mas não, que não gostava de mulheres, apenas estava confusa. Ela entendeu isso como um diagnóstico e, toda vez que sentia isso, ainda que anos depois, pensava “Nossa, ainda não passou?!”. Por mais que no decorrer dos anos tivesse admiração por outras mulheres, a primeira mulher que de fato se envolveu foi Dálle. [mais uma vez, fica claro a importância de buscarmos profissionais da saúde que nos enxerguem e nos acolham de verdade] Por mais que Dálle e Dyanne começaram a sua relação amorosa já adultas, são amigas de infância por conta da igreja e da vida no interior pernambucano. Sempre foram amigas confidentes, se tratavam com muito carinho e dividiam uma paixão imensa pela leitura de O Pequeno Príncipe, mas nunca haviam se olhado além da amizade (ou compartilhado a paixão por mulheres em suas conversas, pelo contrário, se entendiam enquanto mulheres héteros… e nem conheciam outras possibilidades). Fizeram uma prova de ENEM juntas - e essa prova para quem é da religião Adventista era totalmente diferente porque os sábados são guardados, então era feita durante um dia inteiro. Elas relembram o quanto se cuidavam durante a prova, nas filas e nos intervalos. Entendem que há 6 anos vivem essa relação amorosa e há 6 anos descobrem diariamente quem são, porque sempre viveram longe das outras culturas. Só em 2024, por exemplo, furaram as orelhas para colocar brincos pela primeira vez. Lembram dos primeiros eventos que foram: junto de um grupo que formaram com outros amigos LGBTs que saíram da igreja por não serem aceitos, foram ao carnaval pela primeira vez e achavam que seria horrível, o caminho todo passando mal com o medo do caos, o pensamento de que era o “Satanás” tomando tudo… e quando chegaram era lindo, muito colorido, com muitas crianças na rua e todos dançando maracatu. Dálle sempre foi uma mulher que performa feminilidade, usando roupas coloridas e maquiagem. Enquanto Dyanne possui um estilo que não gostava de usar batons diariamente, usava mais as cores preto e cinza… e todos falavam muito dela por conta disso, como se “já esperassem” que ela não fosse performar a heterossexualidade desejada. Porém, foi Dálle quem “saiu do armário” primeiro e contou para Dyanne que havia beijado uma menina. Quando estavam juntas, numa situação em casa, se encostaram e sentiram um frio na barriga. Não foi intencional, estranharam e pensaram “O que aconteceu ali?” mas, quando passaram próximas de novo, fizeram questão de encostar novamente para ver se iriam sentir. E deu certo. Naquele mesmo dia, algumas horas depois, Dálle estava na casa de um amigo e mandou um meme brincando para Dyanne, no desenrolar da conversa ela demonstrou o interesse em beijá-la. Acabaram não falando mais sobre isso, só deixaram a vida seguir o rumo, até que surgiu uma viagem para Recife à passeio, junto de outra amiga. Nessa viagem provaram cerveja pela primeira vez, já se sentiram diferentes uma à outra, conversaram a noite toda e finalmente ficaram juntas. A partir desse momento sabiam que queriam seguir juntas, acreditavam muito no que sentiam, mas havia o medo perante tudo o que aprenderam na igreja e de tudo o que precisariam enfrentar com suas famílias. O começo do namoro girou um ano em torno do medo e do preconceito com que a família (e a igreja) olharia o relacionamento e o amor que viviam. Contam o quanto foi doloroso, passaram muito tempo afastadas, depressivas e morando em lugares distantes. Questionavam o tempo todo “Será que é isso mesmo que Deus quer pra gente?!”. Se apegaram muito aos livros, liam no telefone juntas e isso amenizava a distância. Também pensavam em todas essas regras criadas na sociedade, esses julgamentos sobre elas, quem tem o poder sobre isso? Em suas palavras: “A gente entendeu que o amor de Cristo superava esse preconceito, sabe, e que Ele queria ver a gente livre. E tem um versículo da Bíblia que fala, né, de que foi para a liberdade que Ele nos criou. E ser livre é ser quem a gente é. Então, a gente decidiu que iríamos ficar juntas. E depois dessa decisão, estamos aqui, até hoje, assumidas.” Viveram longos processos conversando com suas famílias sobre o relacionamento. Alguns, inclusive, que só foram acontecer aos quatro anos de relação. Mas quando entenderam que o amor supera o medo e permite sonhar novamente, decidiram criar novos sonhos - e assim chegaram até Recife morando juntas, adotaram os bichinhos, criaram um lar… a vida tomou outra forma. Hoje em dia comemoram cada detalhe: desde passar datas comemorativas como um Natal juntas, até postar uma foto nas redes sociais, receber os familiares em casa, pegar nas mãos andando nas ruas… todas as coisas que por tanto tempo não puderam fazer. Dyanne pediu Dálle em casamento no Rio de Janeiro, num pedido que inicialmente deu errado mas depois deu certo, no show do Coldplay. Também fizeram união estável durante a pandemia de Covid-19, inicialmente por questões burocráticas de plano de saúde, mas hoje entendem a importância que isso representa. Sonham em realizar uma cerimônia em algum momento, com seus amigos, familiares, fazendo jus ao amor tão acolhedor que compartilham. Por mais que a história que viveram não foi fácil, tentam não demonizá-la, porque é intrínseca ao que elas são. Cuidam da mente e do coração para seguir sendo boas uma à outra e se permitem viver, experimentar, sentir as coisas… já que passaram tantos anos sem acesso ao mundo de verdade. Entendem que estão sempre em ressignificação: ressignificam a religião, Deus, o lar, a família, o amor… E querem encontrar a liberdade de viver a própria vida, o direito de cada um ser quem é. ↓ rolar para baixo ↓ Dállete Dyanne

  • Raíssa e Lorena | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Raíssa e Lorena foram conectadas por uma amiga em comum, mas o início dessa história foi cheio de idas e vindas. Tudo começou no carnaval de 2015, quando Raíssa, curtindo a festa com sua amiga, perguntou se havia alguém interessante para apresentar a ela. A amiga sugeriu Lorena, mas logo avisou que ela estava "muito enrolada". Raíssa logo deixou claro: "Ah, não quero gente enrolada, não!" Meses depois, durante uma conversa na casa dessa mesma amiga, Lorena ouviu o quanto ela e Raíssa combinavam. Decidiu: pegou o celular e enviou uma mensagem - "Oi, queria muito te conhecer”. Raíssa aceitou, conversaram alguns dias e o primeiro encontro foi marcado, que acabou coincidindo com o aniversário de Salvador, e as duas se encontraram no show da Maria Bethânia, na praia da Barra. Cada uma levou um amigo, transformando o encontro inicial em um grupo. Em meio a tanta gente na praia, foi difícil se encontrar, mas depois de algum tempo finalmente se encontraram em um muro específico próximo ao show – lugar que inclusive fizemos algumas das fotos da documentação. Assistiram ao final do show e seguiram com os amigos para uma boate. Antes de saírem, passaram em casa para deixar o carro (que inclusive tinha dado problema no caminho, foi uma história à parte) e nesse momento, em casa, deram o primeiro beijo. Raíssa estava com 31 anos no momento da documentação, é soteropolitana de alma e coração. Atua na clínica, enquanto psicóloga, trabalhando com adolescentes e também em escolas, dedicando-se para um trabalho que ela acredita ter o poder de transformar o mundo. Foi ainda na faculdade, por meio da sua profissão, que ela começou a se enxergar como uma mulher negra e a se descobrir enquanto mulher que ama outra mulher. Além da psicologia, Raíssa adora estar em movimento: ama o mar da Bahia, os encontros de amigos em casa e, como dizem os baianos: é muito rueira - ama estar na rua. Lorena estava com 36 anos no momento da documentação. Nasceu em Remanso, no interior da Bahia, mas sua trajetória a levou para Feira de Santana e depois para Salvador. Embora formada em assistência social, Lorena encontrou sua verdadeira paixão na culinária, construindo um empreendimento de espetinhos, no condomínio do prédio onde elas moram. Brinca que foi cozinhando que conquistou Raíssa. Além da culinária, é apaixonada pela praia e pela energia do carnaval. Mesmo longe da carreira de formação, Lorena nunca abandonou seu interesse por política e adora mergulhar nos estudos sobre a cidade e seu funcionamento. Acredita que os seus propósitos e de Raíssa são muito ligados por conta das suas visões e entendimentos sobre a sociedade. Depois do primeiro encontro, tudo fluiu de forma leve e natural. Raíssa e Lorena descobriram rapidamente o quanto suas energias, pensamentos e perspectivas de vida estavam alinhadas. Compartilhavam opiniões políticas e sociais semelhantes, e isso reforçou a conexão. Na época, Raíssa estava cursando duas graduações (psicologia e serviço social) e uma das faculdades era próxima ao trabalho de Lorena, então logo no começo, quando ainda estavam se conhecendo, ela resolveu fazer uma surpresa e aparecer por lá. Esse gesto marcava o início de uma rotina com encontros em meio à correria diária que ambas viviam. Por mais que estivessem vivendo o frisson inicial, o primeiro ano de relação não foi fácil. Além das demandas da rotina intensa, Lorena ainda lidava com relacionamentos do passado que precisavam ser encerrados e precisava cuidar da sua saúde mental. Viveram diversos altos e baixos. Aos poucos, sendo honestas sobre quem realmente eram, conseguiram construir a relação e entender que realmente queriam seguir juntas. Ambas acreditam que a relação deu certo porque estavam dispostas a fazer acontecer. Os obstáculos eram muitos: questões familiares, saúde mental, responsabilidades acadêmicas e profissionais e o preconceito. Enfrentaram tudo juntas, fazendo verdadeiros malabarismos para equilibrar o amor com as outras prioridades. Hoje, conseguem dimensionar que essa dedicação mútua tornou possível a construção da base forte da relação. Antes da pandemia de Covid-19, Raíssa já atendia como psicóloga, mas, com o início da quarentena, precisou migrar para o formato online. O desafio era enorme: dividia o quarto com as irmãs e não tinha privacidade para realizar as consultas, enquanto a demanda por atendimento psicológico crescia de forma expressiva. Lorena, por outro lado, viu sua rotina de trabalho ser completamente interrompida no início da pandemia. Para passar o tempo, começou a cozinhar como nunca, principalmente fazendo bolos. Ir ao mercado se tornou a maior das felicidades. Com o tempo, decidiram que o melhor seria Raíssa se mudar para a casa de Lorena e sua família, assim teria mais espaço e privacidade para seus atendimentos - por mais que também não fosse fácil administrar uma mudança e morar em um novo lar, com novas pessoas. O próximo passo aconteceu meses depois, em novembro, quando decidiram morar em um novo apartamento, dessa vez só delas. Seria a primeira vez que teriam um novo lar. Com o apoio de amigos e da mãe de Lorena, organizaram a mudança em tempo recorde: um único dia. Foram montando a casa aos poucos, com muito carinho e cuidado, até que se sentissem representadas. Esse período de transição foi marcado por muitos aprendizados. Juntas, revisitaram os desafios dos primeiros anos da relação - bastante intensos - e reconheceram como o tempo e o diálogo trouxeram maturidade. A construção do lar também significou um novo capítulo, onde ambas começaram a se abrir mais para novas experiências e aprender a dizer mais “sim” do que “não”. Agora, com o lar e o trabalho próximo de casa (os espetinhos no condomínio) estão com um novo modelo de vida. Adotaram uma gata (e desejam em breve adotar outros), sonham com viagens, novos desafios e, acima de tudo, experimentar e conhecer coisas juntas. Para Lorena, o amor está profundamente ligado às mulheres que fazem parte da sua vida. Ela se dedica a ser uma presença que reverbera coisas boas ao seu redor, e nada deixa mais feliz do que perceber como sua relação com Raíssa inspira e desperta sentimentos positivos nas pessoas próximas. Muitos chegam e verbalizam a admiração pelo respeito que elas possuem uma pela outra, as procuram para pedir conselhos e enxergam nelas um exemplo de cuidado e carinho… Então sente: Estão trilhando o caminho certo. Raíssa, por sua vez, reflete sobre como os processos de transformação que viveram juntas foram cruciais. O amor entre mulheres sempre esteve presente em sua vida, graças às referências que cultivou. Porém, ela reconhece que esse amor, por muito tempo, foi carregado pelas imposições da sociedade - controle, dominação, opiniões alheias sobre corpos e uma carga de expectativas. Isso ofuscava a visão que ela tinha sobre os relacionamentos amorosos. Hoje, ao lado de Lorena, celebra ter mudado as ações e alinhado os compromissos, entende que respeitam quem são, e que aprendeu a amar Lorena exatamente como ela é - sendo amada desta maneira também. Esse entendimento do amor transbordou: tornou-se uma nova forma de enxergar as mulheres ao seu redor. ↓ rolar para baixo ↓ Raíssa Lorena

  • Melina e Karyne | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Melina e Karyne se conheceram há cerca de dois anos, mas só começaram a se relacionar de fato no ano passado. Foi num famoso bar com karaokê em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, que elas se esbarraram. Sem amigos ou conhecidos em comum, Melina viu Karyne cantando e falou para os amigos dela o quanto “era bonita e poderia ser a mulher da minha vida”. Depois que ela saiu do palco, Melina ficou procurando ela pelo bar mas não encontrou, até que na hora de ir embora viu ela numa mesa, com alguns amigos… criou coragem, foi falar com ela e pediu um beijo. O beijo aconteceu e ficaram juntas um tempo, depois trocaram perfis no Instagram (e Karyne estava com seu perfil desativado, acabou passando um que usa para publicar seus desenhos), trocaram algumas conversas e começaram a se encontrar aos poucos. Como havia uma boa comunicação quando saiam juntas, falavam sobre não estarem em um momento que desejavam um relacionamento, não era prioridade para as duas. Se encontrar da maneira que estava rolando, uma vez por mês, quando a Karyne respondia as mensagens que Melina enviada, acabava sendo confortável - e quando saiam se divertiam juntas, iam à cinemas de rua (como o lugar em que fizemos as fotos), espaços culturais e bares. Assim seguiram durante um ano. Hoje em dia, estabelecer essa comunicação franca ainda está nos seus principais objetivos enquanto casal. Entendem que são pessoas culturalmente diferentes, que uma é mais fechada que a outra e que só vão se abrindo aos poucos. É por isso, também, que tratam com muito cuidado os momentos difíceis porque sabem que possuem formas diferentes de lidar. Melina estava com 26 anos no momento da documentação, é natural de Niterói - RJ e é atriz. Atualmente está se formando numa escola de teatro (como curso técnico) e este ano vai iniciar os estudos em teatro na universidade. Independente do estudo acadêmico, faz teatro desde os 8 anos de idade e já deu aulas tanto de teatro, quanto de violão (e adora trabalhar com o que envolve educação e arte) explica que foi educada envolta de muita arte e não se vê longe disso. Quanto aos hobbies, adora jogar vôlei e desenhar. Karyne estava com 24 anos no momento da documentação, é natural de São Gonçalo - RJ e se formou em Publicidade. Hoje em dia, faz uma pós-graduação em comunicação e linguagem visual em semiótica, e por mais que não esteja trabalhando no momento, possui experiência como social media, professora de inglês e comunicadora em agências. Seus hobbies permeiam a arte, o desenho, a pintura e a moda. Adora criar coisas. Inclusive, junto com a Melina, trocam diversos presentes cheios de detalhes e coisas que elas mesmo fizeram. Quando começaram a sair, em março de 2022, o primeiro encontro foi num evento circense no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) no Rio de Janeiro. Por mais que já haviam se beijado no bar, estavam muito nervosas e mal conseguiram chegar perto uma da outra. Karyne explica que Melina foi a primeira menina que ela beijou depois de se assumir, pois passou muito tempo na igreja e foi na pandemia que ela entendeu e se abriu com a família sobre quem era, então ficava bastante nervosa, era tudo bem novo. Todos os primeiros encontros eram marcados pelo nervosismo de ambas e ficavam se cobrando que “não precisava desse nervosismo todo, era só viver o encontro”, mas quando chegava a hora ele falava mais alto. Por conta disso, demoraram um tempo para se beijarem novamente, mas todos os encontros eram muito divertidos e sempre sentiam vontade de se ver mais. No início de 2023 foram ao cinema e tiraram a primeira foto juntas. Karyne, depois desse dia, passou um tempo em São Paulo e elas começaram a interagir mais de forma online, conversar bastante e sentem que foi aí que tudo mudou. Quando ela voltou, saíram novamente, foram em espaços culturais e não pararam de se encontrar por conta da conversa que mantinham o tempo todo online. Entendem que precisavam desse tempo até a relação começar porque realmente não estavam preparadas/e nem queriam se relacionar antes. Depois que começaram a se aproximar mais, fizeram piquenique juntas e já se viam completamente apaixonadas. Num dia foram ao show da cantora Liniker, que aconteceu de forma gratuita na praia e por mais que tenham passado muito perrengue para conseguir voltar para casa, se divertiram e entendem que nesse dia já queriam começar o namoro. Foi no evento, também, que Karyne conheceu a irmã da Melina e muitos dos amigos delas. Além dos amigos, Karyne conheceu toda a família da Melina logo no começo do relacionamento, esteve presente em aniversários e todos adoram ela. Nessa mesma época em que estava introduzindo Karyne na sua vida, Melina fazia provas e apresentação de teatro no curso e Karyne ia assistir. Foi num dia desses, quando chegaram em casa que Karyne pediu Melina em namoro e Melina cantou uma música que fez pra ela. Falaram “eu te amo” juntas. Tanto a Melina, quanto a Karyne, desejam seguir caminhos na relação que não refletem coisas que já viram ou vivenciaram, por exemplo: briga dos pais. Por isso, fazem muita questão de sentar, conversar, escutar, compreender… Karyne não tem a aceitação da família - e já até perdeu as esperanças quanto à isso - porque possuem um pensamento muito conservador e seguem os padrões da igreja, mas entende que isso leva tempo. Para Melina a realidade é outra, por mais que tenha sido muito difícil ter se assumido, os pais possuem uma cabeça mais aberta e, por mais que também frequentem a igreja, acreditam que elas precisam se sentir seguras em casa antes de qualquer outro lugar. Independente da não-aceitação da família da Karyne, ela se assumir e conversar com a família fez também com que se aproximasse de outros familiares que a aceitaram (como a prima que também é casada com uma mulher e a tia que já reivindicou o amor delas como algo natural, sem problema algum) e nesse sentido é muito bom ter apoio. Ela entende que existem coisas que precisou ceder para ser ela mesma, principalmente se as pessoas não respeitam, e está disposta a ser o que ela é, se aproximando de quem a respeita e quer ela bem. ↓ rolar para baixo ↓ Karyne Melina

  • Vanessa e Vitória | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Vitória, no momento da documentação, estava com 25 anos. Nasceu em Fortaleza, mas passou a maior parte da vida em Salvador. É estudante de administração e está procurando emprego atualmente, pois deixou seu último trabalho para fazer a mudança para Trancoso, acompanhando a Vanessa. No tempo livre, se dedica a estudar inglês, buscar freelas, e também adora ir à praia, uma de suas atividades favoritas. Vanessa, no momento da documentação, estava com 24 anos. Nasceu em Mutuípe, no interior da Bahia, mas viveu grande parte da vida em Brasília. Há dois anos, se mudou para Salvador à trabalho, e depois disso para Trancoso. Vanessa é engenheira civil e trabalha na área de obras. Assim como Vitória, ela ama estar na praia, e também gosta de acampar, embora ainda não tenha explorado essa parte em Trancoso. Vanessa compartilha o objetivo de melhorar seu inglês, algo que considera essencial para os planos que tem em mente: viajar pelo mundo. Foi em Trancoso que elas encontraram uma nova fase da vida, unindo os desafios profissionais e pessoais. Além disso, ambas têm em comum a paixão por viagens, então constantemente poupam dinheiro com o propósito de realizar seus sonhos pelo mundo, planejando novas experiências juntas. Vanessa conta que ainda na época em que vivia em Brasília, recebeu a notícia de que a empresa que trabalhava abriria uma filial em Salvador, fazendo obras. Em fevereiro de 2022, mudou-se para a capital baiana por conta do trabalho, deixando a família em Brasília. Apesar de ter parentes na Bahia, eram mais distantes, o que levou a buscar novas conexões, então baixou um aplicativo de relacionamentos para conhecer pessoas e foi ali que encontrou Vitória - ou Vick, mais carinhoso, né? O primeiro encontro aconteceu em março, e desde então as duas não se desgrudaram mais. Inicialmente, os encontros aconteciam apenas nos finais de semana. Vitória, que morava com a mãe, o padrasto e o irmão, costumava passar boa parte do tempo no apartamento de Vanessa, fornecido pela empresa. Lá, o ambiente era tranquilo, juntas compartilhavam momentos em casa, festas, passeios… e durante a semana a rotina voltava ao normal. Até que com o tempo a frequência dos encontros aumentou. O que antes era apenas nos finais de semana passou a incluir as sextas-feiras, segundas e, depois, quintas… quartas… Até que as roupas da Vick já estavam lá, já tinham uma escova de dente de casal… Apesar dessa convivência intensa, o relacionamento ainda não era chamado de namoro. Vanessa, que no começo queria curtir, se viu surpresa com a rapidez de tudo. Era uma experiência muito nova - ela nunca tinha se relacionado com outra mulher - e também já era muito independente, morava sozinha há um tempo. Do nada era chapinha para um lado, escova para o outro… ficou pensando: “O que está acontecendo aqui?!”. Tudo mudou em junho, quando decidiram oficializar o namoro. Nesse ponto, Vitória praticamente já dividia o apartamento com Vanessa, pegando suas coisas da casa da mãe e voltando para lá. Elas já sabiam o quanto se gostavam, por mais que o começo ainda fosse um desafio. Aos poucos, o carinho pela Vick tornou o processo mais leve. Apesar do susto inicial, Vanessa percebeu que gostava muito da companhia, e juntas, encontraram uma forma de transformar aquele início despretensioso em uma relação sólida. No começo da relação, Vitória e Vanessa enfrentaram algumas discussões enquanto ajustavam suas rotinas e expectativas. Quando brigavam, Vitória costumava voltar para a casa da mãe. Essa dinâmica deu a elas a impressão de que ainda não moravam juntas de fato. No entanto, tudo mudou no final do ano, quando decidiram passar o natal em Fortaleza com a família da Vick. O padrasto dela estava enfrentando um câncer e havia se mudado para a cidade para fazer o tratamento, levando parte da família junto. Durante esse período, Vick permaneceu com a Vanessa em Salvador e, então, ambas entenderam: estavam oficialmente morando juntas - e por consequência, quando brigavam, não havia mais para onde voltar. A virada do ano foi o marco de uma nova fase. Viveram intensamente o verão e o carnaval, celebrando estarem juntas. Em 2023 completaram um ano de namoro, mudaram de casa, ajustaram suas rotinas de trabalho, compraram uma moto no nome das duas… Entenderam que estavam fortalecidas, ali havia um compromisso mútuo. No final de 2023, decidiram comemorar os dois anos de namoro com uma viagem ao Chile, a primeira vez que sairiam do Brasil. Ralaram muito para pagar cada detalhe: passagens, hospedagem e passeios. Enquanto isso, a vida profissional da Vanessa passava por transformações. No mesmo período em que se formou em Engenharia Civil, ela enfrentava desânimo com o trabalho e a distância da família. Escolheu não realizar cerimônias de formatura, optando por uma colação de grau online, sem grandes celebrações. Se sentia esgotada, então começou a buscar novas oportunidades, enviando currículos para outras empresas. Em março de 2024, Vanessa foi surpreendida por duas notícias simultâneas: recebeu uma proposta de trabalho em Trancoso no mesmo dia em que foi desligada da empresa em que trabalhava. Para ela, aquilo foi um sinal. Vick deu o total apoio. Em duas semanas, Vanessa reorganizou sua vida e estava morando em Trancoso. A mudança para Trancoso foi (mais) um grande fortalecimento entre a Vanessa e a Vick, principalmente pelos desafios que enfrentaram. Como o apartamento onde Vanessa morava em Salvador pertencia à empresa, precisou ser devolvido logo após a demissão. Em Trancoso, encontrou inicialmente uma kitnet, já que o custo de vida na região é alto. Durante esse período de transição, Vitória permaneceu em Salvador para resolver pendências relacionadas ao trabalho e à viagem para o Chile, planejada há meses. A viagem ao Chile foi mágica. Ambas decidiram que seria o momento perfeito para um pedido de casamento, e, coincidentemente, planejaram o mesmo cenário: um ponto turístico em Santiago. Contaram para uma amiga, que tentou ajudar evitando gastos - sugeriu que comprassem alianças mais acessíveis, deixando para comprar algo mais sofisticado na cerimônia de casamento. O plano funcionou, mas a experiência acabou sendo ainda mais inesperada por conta de uma nevasca. O passeio ao local planejado foi cancelado e o pedido aconteceu na neve. Vanessa colocou o celular para filmar e pediu que Vitória olhasse para o horizonte para registrar a cena. Enquanto Vitória se virava, Vanessa se ajoelhou, mas foi surpreendida quando Vitória também tirou uma aliança do bolso. No total ficaram com quatro alianças, três solitárias e hoje elas usam tudo de forma misturada. Ao voltar de viagem, Vick pediu demissão do trabalho que tanto gostava em Salvador para se mudar definitivamente para Trancoso. Os três meses em que ficaram separadas, vivendo em cidades diferentes, foram desafiadores para a relação. E agora estavam noivas, né?! No dia 11 de julho, aniversário da Vick, ela finalmente chegou em Trancoso. A Vanessa e a Vick refletem um amor construído diariamente, superando barreiras da convivência e das diferenças na criação. Para Vanessa, o que elas têm vai muito além de um amor idealizado ou de momentos bons. "Não é só o amor bonito - por mais que seja também - é um amor que está presente todos os dias, nos bons e nos ruins.” Ela acredita que o verdadeiro amor está na escolha de estar ao lado de alguém em qualquer circunstância, sem fugir nos momentos difíceis, como era no início. Fala do sentimento de amor como uma mãe possui por um filho: "A mãe ama o filho na pior fase dele, e isso é o que define o amor para mim. Não é algo que apaga e acende. É duradouro, e é isso que torna os dias especiais." Para Vitória, o relacionamento foi uma jornada de amadurecimento e coragem. Ela admite que, no início, era mais fácil evitar os problemas e se distanciar. Porém, a construção dessa parceria a ensinou a enfrentar os desafios e a valorizar a força que elas têm juntas. "É isso que é casamento, essa parceria de segurar a mão e enfrentar o que vier. Com o tempo, você percebe que agora não é mais só você. Existe um 'nós' que se torna a prioridade". Vitória vê esse compromisso como algo natural e poderoso: "No começo, é abstrato pensar se a pessoa vai estar ao seu lado ou não. Mas com o tempo, você entende que agora é Vanessa e Vitória juntas, sempre." Elas reconhecem que suas origens familiares são muito diferentes. Enquanto uma cresceu em um ambiente de compreensão, afeto e diálogo, a outra viveu em um contexto mais rígido, onde decisões eram tomadas com base em punição. Apesar disso, encontram na relação um equilíbrio. Brincam sobre como será a criação de um futuro filho e especulam sobre qual traço de personalidade a criança puxaria de cada uma. ! ↓ rolar para baixo ↓ Vanessa Vitória

  • Sue e Sil

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Sue estava com 64 no momento da documentação e nasceu em Salvador. Quando seus pais se separaram, mudou-se para Maceió com a mãe, que trabalhava na Petrobras. Em seguida, viveu no Rio de Janeiro sua maior infância até os 25 anos, formando-se com forte influência carioca. Em 1998, retornou à Maceió para atuar no Teatro Deodoro, onde conheceu Silvana. Hoje, compartilham a vida e o trabalho, dirigindo juntas uma produtora cultural. Silvana estava com 58 anos no momento da documentação, nasceu em Maruim, Sergipe, e chegou em Maceió no ano de 1982. Jornalista, radialista e produtora cultural, sempre esteve ligada ao meio artístico. Criou o primeiro caderno de cultura do principal jornal da cidade e, posteriormente, trabalhou no Teatro Deodoro. Como frequentadora assídua das artes cênicas, encontrou lá uma verdadeira realização profissional. A relação entre elas começou pela admiração no trabalho. Durante as trocas na rotina do Teatro Deodoro, Sue já nutria sentimentos por Silvana. Juntas, fizeram uma verdadeira revolução artística na cidade, reabrindo um teatro centenário que ficou 11 anos fechado e que nem era mais considerado. Sem a facilidade da internet, num mundo de comunicações por fax, enfrentaram desafios para recolocar o espaço no circuito cultural nacional. Entre projetos, parcerias e grandes aprendizados, construíram um vínculo que ultrapassou o trabalho, tornando-se um amor sólido, baseado no respeito, na arte e na construção de um legado cultural alagoano. Sue conta que a relação sempre esteve entrelaçada ao trabalho, especialmente no início, quando chegou de Salvador após uma outra relação turbulenta que havia acabado. Trouxe consigo uma bagagem cultural fresca da Bahia e do Rio de Janeiro, que se refletiu no que estavam construindo no Teatro Deodoro. Juntas, ela e Sil levantaram diversos espetáculos e recolocaram o teatro no mapa cultural do Brasil, elevando o profissionalismo artístico em Alagoas - tudo isso sob a liderança de duas mulheres lésbicas, importante ressaltar. Ambas sempre se entenderam como lésbicas e viveram essa identidade de forma natural dentro dos meios culturais que frequentavam. Nos anos 70, 80 e 90, Sue no Rio e Sil em Sergipe encontraram espaços onde a sexualidade não era um tabu. No entanto, conversam muito e sentem que hoje as coisas estão dentro de muitas “gavetas” Estas “gavetas” estão aí para realmente trazer liberdade, identidade, autonomia e auto afirmação do que cada um é, mas muitas vezes acabam dividindo mais, se tornando uma separação. “E eu não gosto de separação. Eu gosto de tudo misturado. Não gosto de ambientes que são só isso ou só aquilo. Gosto de gente.” Por conta do trabalho, Sue e Sil abriram mão de viver uma rotina mais romântica. Como passam a maior parte do tempo juntas, lidando com demandas intensas e muitas pessoas (ainda mais agora, com o escritório dentro de casa), aprenderam a valorizar os momentos de tranquilidade a sós. Para elas, esses instantes de calma são essenciais para manter o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Elas reconhecem o impacto do que fizeram: duas mulheres liderando espetáculos em Alagoas era algo inédito. Foi assim que se encontraram, criando projetos culturais transformadores, como o “Teatro é o Maior Barato”, que democratizou o acesso ao teatro com ingressos a R$ 1,99, e espetáculos que circulavam pelo estado. Além de movimentar a cena artística, construíram uma relação de pertencimento com o público, que passou a ver o teatro como um espaço acessível e vibrante. Sil sempre teve paixão pelo jornalismo e adorava sair pelo estado imaginando matérias, transformando a busca por pautas em uma brincadeira. Como o mercado era novo, havia muito a explorar: tudo era cultura. Até os anos 90, Alagoas sequer tinha uma coluna dedicada ao tema nos jornais, sendo reduzido a notas esporádicas indicando filmes ou menções na coluna social. Criar um espaço fixo para a cultura se tornou um vício, um compromisso de dar voz e visibilidade à produção artística local. A relação começou de forma intensa, marcada por um gesto simbólico: Sue morava em um lugar muito quente, sem estrutura porque havia recém se mudado, e Sil apareceu com um ar-condicionado de presente. “A gente já tinha começado a namorar, ela chegou lá em casa, um forno! No outro dia, chega com o ar-condicionado… e depois ela.” Foram se envolvendo e percebendo que compartilhavam o mesmo ritmo e gostos. Hoje, olham para trás e se surpreendem: “25 anos de relação! É muito tempo! Mas, ao mesmo tempo, a gente vai se descobrindo e redescobrindo.” Atualmente, moram ao lado da família de Sil, para estarem próximas da mãe idosa, em uma vila acolhedora e repleta de gatos. Recentemente passaram por uma grande reforma em casa, o que exigiu ainda mais energia e paciência. Refletem sobre as inúmeras crises que enfrentaram - principalmente financeiras, pela instabilidade do trabalho em um país que não valoriza a cultura - e reconhecem que nem todo casal suportaria esses desafios. Mas atravessar tudo isso juntas fortaleceu ainda mais o amor. Entre noites que se olham antes de dormir e percebem o cansaço e momentos de conexão, sabem exatamente como lidar uma com a outra, guiadas por maturidade e intimidade construídas ao longo desses 25 anos. Sue sente que Sil trouxe um chão para sua vida, mesmo quando ela mesma diz se sentir insegura. “A Sil trouxe para mim, apesar dela dizer que não lida, que enlouquece, que fica insegura, mas ela trouxe para mim, para a minha vida, uma segurança em um lastro, um chão, que é tão importante. Eu nem sei se estaria nesse plano ainda. Porque eu era muito desligada, muito apaixonada por tudo, entrava de cabeça em tudo, de tudo, de trabalho. E a Sil, sem impor nada. Ela veio, foi amor mesmo, com o amor dela. E ela me acolheu de uma forma que eu cresci. Me tornei uma pessoa muito melhor. Para mim mesma.” ↓ rolar para baixo ↓ Sil Sue

  • Kétule e Beatriz | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Kétule, no momento da documentação, estava com 23 anos. Ela é natural de Turvo, uma cidade interiorana catarinense, e atualmente mora em Criciúma enquanto estuda medicina. Conta que já trabalhou em vários lugares, de atendente de loja à garçonete, mas hoje está se dedicando à sua loja de bordados e vive em um apartamento com sua gata Luna, visitando a família aos finais de semana na sua cidade natal. Beatriz estava com 22 anos no momento da documentação. É natural de Criciúma e trabalha enquanto fisioterapeuta. Sempre quis um trabalho na área da saúde e é apaixonada por isso, mas também já foi atleta de natação. Para além, no tempo livre, gosta de ser uma pessoa tranquila, caseira, adora sair para comer, ver o mar e fazer trilhas. Entendem que são pessoas com vários pontos em comum, mas ao mesmo tempo vivências e jeitos muito diferentes, temperamentos que refletem suas criações. Kétule tem uma relação muito aberta com sua família, principalmente porque já saiu de casa. Antes de assumir o relacionamento, pensou que se isso não fosse algo aceito para eles, iria acabar se afastando mais por já não morarem próximos, então tinha um grande receio, mas ainda maior uma vontade de falar sobre esse amor vivido e resolveu contar. Para Bia, Kétule adentrou como uma amiga, para depois ser namorada, então ficou um pouco mais difícil lidar. Sempre existiu a dúvida: “Será que a gente vai assumir? Será que um dia vai poder realmente falar: somos namoradas?” Faz pouco tempo que elas estão fazendo essa movimentação de se assumirem dentro de casa enquanto um casal, que começaram a ter uma relação com mais afeto na frente dos familiares. Acreditam que tudo faz parte de um crescimento. Foi através da internet que tiveram a primeira interação, tinham amigas em comum no Twitter e apareceu um tweet da Beatriz falando sobre a área da saúde, um estágio que iria abrir na UTI. Ela se interessou (pelo tweet e pela Bia) e começou a seguir ela, depois procurou o Instagram, ela seguiu de volta e começaram a conversar. Era dia 1 de abril de 2023, dia da UTI. Desde o primeiro papo as coisas fluíram, viram que estudavam na mesma faculdade e marcaram um café. O café aconteceu, se deram bem e marcaram um novo encontro, na casa da Kétule - um apartamento muito pequeno, onde criaram vários apelidos sobre ser um cantinho escuro depois de um longo corredor (caverna, corredor da morte, e por aí vai). Lá, beberam um vinho que só bebem em ocasiões especiais, comeram comidas gostosas e foi a primeira vez que se beijaram. Depois disso, se viam com frequência até que viveram os jogos da faculdade de medicina, um evento onde vem delegações de outros estados para competir em Criciúma. Kétule tocava na banda dos jogos e elas conversaram sobre esse evento, Beatriz disse que já estava perto do final do curso, que viveu tudo o que tinha para viver, mas que Kétule merecia se permitir experimentar o que a faculdade tem para oferecer, porque poderia se arrepender de entrar em uma relação. Ela fez a escolha, viveu os jogos (ainda assim sem deixar a Beatriz de lado) e depois que os jogos passaram decidiram entender aquela nova relação enquanto um namoro. Todos os amigos já adoravam elas juntas e elas sabiam que queriam namorar, mas precisavam daquele tempo para decidir e processar isso. Foi então que, ao comemorar o aniversário de uma amiga viajando para Garopaba/SC, depois de 3 meses juntas, elas selaram o pedido de namoro. Tanto Beatriz quanto Kétule namoravam homens antes de se relacionarem e já tinham apresentado esses namorados à família. Quando começaram a relação, pensaram muito sobre como iriam contar e abrir essa conversa sobre a bissexualidade. Aos poucos, Kétule contou para a mãe dela, e sentiu que toda a família foi compreensível, precisavam de tempo para entender mas nada na relação entre eles iria mudar. Para Beatriz foi mais complexo, o pai soube aos poucos e aceitou, mas a mãe tinha muitos preconceitos relacionados à elas. Foi só quando a relação estava quase completando um ano que elas conversaram sobre, quando a mãe perguntou se era um relacionamento e ela afirmou que sim. Mesmo tendo esse tempo, as coisas ainda não são fáceis, e só dia após dia elas se permitem tratar com algum afeto perto da família e permitir que a situação seja digerida. Todos os finais de semana dedicam um tempo para estar com os familiares, seja na casa da Beatriz ou na casa dos pais da Kétule, e acreditam que mostrando estar por perto esses preconceitos serão quebrados. Hoje em dia a rotina durante de semana entre estudos e trabalho é bem intensa, então o final de semana é o momento de aproveitar a relação, seja cozinhando, visitando a família, recebendo amigos e planejando o que ainda desejam viver juntas. Entendem que são pessoas bem diferentes: Kétule é mais agitada, a cabeça não para, comunicativa… Enquanto Beatriz é calma, sempre pensa muito antes de agir e não vê maldade nas pessoas. Kétule explica que na relação ela aprende o tempo todo a desacelerar, enquanto Beatriz também aprende a se abrir mais, se permitir viver mais coisas. Adoram planejar a vida juntas: desejam investir na carreira, casar, ter filhos. Criar uma família investindo em quem são e respeitando suas dificuldades, mas não fazendo com que isso se torne uma barreira. Adoram a perspectiva de vida que criaram juntas, explicaram durante a documentação que o pedido de casamento foi dividido em 4x, já que para poder casar vai levar uns 5 anos e porque numa vida heterossexual o homem pede em casamento e tudo se encaminha, para elas o melhor é fazer do jeito delas. A primeira parte do 1/4 do pedido já foi feita, Kétule presenteou Beatriz comprando uma aliança, em São Paulo. Riem dizendo que já estão 25% noivas. Kétule sempre foi uma pessoa clichê no amor, que gosta de surpresas, de ser romântica, das demonstrações… Beatriz já não é assim, acredita no amor nas ações pequenas, nos atos diários, então tiveram que adequar para entender suas linguagens. Hoje o amor delas é uma junção das duas coisas - das formas que entendem o amar. Se enxergam enquanto muito amigas, companheiras acima de tudo. Brincam que Kétule futuramente vai ganhar mais que a Bia, por ser médica, mas hoje é ela quem está mais estruturada, então o que elas plantam agora vai ser colhido no futuro. Entendem que o relacionamento foi uma grande adaptação e que seguem se adaptando, se descobrindo… e vão se descobrir o tempo todo, é constante. ↓ rolar para baixo ↓ Kétule Beatriz

  • Roberta e Laura | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Laura estava com 26 anos no momento da documentação. É natural de Sapiranga, uma cidade interiorana do Rio Grande do Sul, mas mora em Porto Alegre há cerca de 8 anos. Chegou na cidade para estudar dança e hoje em dia trabalha com dança dando aula em alguns projetos para pessoas com deficiências intelectuais e para crianças. Paralelamente, também é professora de inglês, trabalha em uma instituição que promove imersões na língua inglesa. Nessas imersões, ela mistura a dança, outros professores entram com esporte, culinária e a ideia é fazer o inglês ser praticado em um ambiente de “vida real”. Fora do meio profissional, Laura entende que é uma pessoa bastante ligada à família. Foi sua família quem a colocou na dança, alguns familiares são músicos e sempre agradece o ambiente cultural que cresceu e que vive até hoje, percebe o quanto isso fez com que ela se tornasse alguém que adora estar entre as pessoas, gosta de se aventurar e de conhecer o mundo. Roberta estava com 26 anos no momento da documentação. É natural de Canoas, região metropolitana de Porto Alegre. Durante a adolescência se mudou para a capital para estudar na faculdade e começou a trabalhar como educadora social num clube para pessoas com deficiência. Esse trabalho durou seis anos (e é um dos lugares que a Laura trabalha hoje em dia). Conta que foi trabalhando lá onde mudou sua forma de pensar sobre a vida, ainda mais no mundo que vivemos hoje em dia com redes sociais onde tudo tem filtro e é tão perfeito - pensado o tempo todo, medido e tendo que estar sempre lindo. Lidar com pessoas com deficiência é entender a sinceridade e a realidade da vida: elas falam o que querem falar, de uma forma simples e muito mais fácil, então aos poucos Roberta sentiu que era melhor ser assim do que viver nesse “filtro” que não era real. Falar o que sentia, ir onde quer ir, não ir onde não quer, ser mais real consigo mesmo. No meio desses aprendizados, criou um curso chamado “Ação Caminhos Para a Diversidade” sobre anti capacitismo, abordando temas como sexualidade da pessoa com deficiência, oportunidades de trabalho e privação da maternidade. Todo esse processo de estudo fez Roberta entender muito sobre si, sobre quem ela é e estudar sobre seus comportamentos sociais. Hoje em dia, observa que existe outra Roberta, principalmente depois da pandemia de Covid-19. Uma Roberta muito mais caseira, que adora arrumar a casa, fazer decorações, pintar e criar coisas manuais. Quando Laura chegou na faculdade, em 2017, entrou para um projeto de extensão chamado Diversos Corpos Dançantes, uma proposta de dança com habilidades mistas envolvendo pessoas com e sem deficiência. Laura era bolsista e foi a primeira vez que trabalhou com práticas de danças acessíveis, lá conheceu uma amiga e passaram a estudar bastante sobre acessibilidade juntas. Em 2019, Laura fez uma mobilidade acadêmica e foi estudar em Salvador, nos meses que ficou fora sua amiga começou a trabalhar num lugar novo - e conheceu Roberta. Na versão de Roberta, quando ela conheceu a amiga de Laura, só ouvia falar sobre Laura: “Tu me lembra muito a Laura”, “Nossa você e a Laura iriam se dar muito bem!”... Era tanto que passava um pouco dos limites. Quando Laura voltou de Salvador, soube da existência da Roberta e, durante uma Mostra de Dança Inclusiva, em novembro, elas se conheceram. Roberta ia se apresentar com os alunos, estava com uma roupa azul, toda pintada, brinca que parecia um grande pavão. Quando viu Laura entendeu o motivo de todos aqueles elogios que ouviu por meses. Mas, naquela época, Roberta vivia um relacionamento, estava noiva e só entendeu o nervosismo porque achou Laura admirável, mas não aconteceu nada além. Naquele contexto começaram a se seguir nas redes, mas não interagiram. Nos meses seguintes a pandemia de Covid-19 chegou, Laura voltou para a casa dos pais no interior, Roberta terminou o relacionamento e suas vidas passaram por grandes mudanças. Um tempo depois, no meio da pandemia, Roberta estava respondendo uma brincadeira no Instagram e postou sobre estar solteira. Laura respondeu a brincadeira, iniciando um flerte… Roberta jamais esperava essa resposta e ficou bastante nervosa, ignorou ela por alguns meses, não se sentia preparada para flertar, enfrentava momentos delicados na pandemia e quando se sentiu pronta começou a interagir melhor. Durante uma parte da pandemia, Laura trabalhou com algumas ações de dança na internação psiquiátrica do hospital, então acabava tendo um grande contato com a área da saúde e precisava fazer testes a cada 3 dias. Isso influenciou na demora para se encontrarem, até que marcaram um almoço num feriado. Depois do almoço, Laura queria logo comer as outras coisas que seriam para comer mais tarde (pão, bolo…) e pediu se Roberta se importaria. Ela achou positivamente engraçado, mas disse que não, que adoraria, e na hora que Laura se levantou do sofá disse que gostaria de fazer algo antes de buscar o bolo, assim beijou Roberta pela primeira vez. Hoje em dia, virou um bordão: quando levantam do sofá, soltam o “mas antes, quero fazer uma coisa” e se beijam. O começo do namoro foi bem rápido e aconteceu depois de alguns encontros e conversas onde alinharam o que sentiam sobre o que estavam tendo e o que pensavam sobre as relações humanas e amorosas. Num dia, Roberta saiu da casa da Laura e deixou ela no apartamento ‘trancada’ pois só tinham uma chave, precisou comprar uns remédios, entregar um objeto e no caminho encontrou um amigo que chamou para sentar num bar e atualizar as novidades. Ela contou: “Conheci a mulher da minha vida, tô apaixonada!”. Demorou mais que o previsto para voltar, quando chegou encontrou Laura fazendo yoga na sala com um olhar sério, chamando-a para conversar. Pensou: “Meu Deus, ela vai terminar tudo, acabei de falar que tô apaixonada e que é a mulher da minha vida e agora vou voltar lá no bar e dizer: acabou!”. Laura disse que não queria mais ser uma “futura namorada” para Roberta, que cansou desse termo, e que estava disposta a namorar agora. Roberta lembra da sensação de pavor que sentiu, falou “Nossa, guria, que cagaço tu me deu!”. Começaram o namoro e meses depois foram morar juntas por questões financeiras, num apartamento que viveram durante pouco mais de um ano. Sentem que tudo fluiu muito bem, mesmo sendo no começo da relação, morarem juntas foi a escolha mais racional. A única coisa que se arrependeram foi o fato de Laura ter virado a síndica do prédio, isso causava mais stress que qualquer outra coisa, e não compensou o desconto nas contas. Mas hoje, é uma parte até cômica da história, virou “história boa pra contar - a síndica sapatão do prédio”. Roberta e Laura contam como o período das enchentes em Porto Alegre foi impactante e marcante para elas, como é importante documentar esse momento vivido, além da importância histórica e política, mas também pela forma que se cuidaram e seguem apoiando até hoje por contas das marcas e atravessamentos que causou. Já estavam morando no apartamento que residem atualmente - e consideram isso fato importante porque no local que moravam meses antes da enchente certamente teriam perdido muitos itens pessoais e móveis, por ser no térreo e numa região que foi bastante atingida. Porém, mesmo nesse novo lar em andares superiores, ainda estavam sem água e luz, com a rua alagada. Foram para a casa de amigas em um bairro vizinho. Três dias depois, o bairro também foi afetado e as águas subiram rapidamente. Ficaram sem saber para onde ir, até conseguirem um apartamento vazio e irem juntas para lá. Foram dias dormindo no chão, comendo coisas prontas porque não havia como cozinhar, ficando sem tomar banho… Chegaram no limite, até Laura pedir para a mãe dela vir de Sapiranga buscá-las. Era um caminho delicado porque as estradas estavam difíceis, ela tinha bastante medo. Um caminho que leva até menos de 1h em dias comuns, levou 6h naquele dia. Quando chegaram na casa da família de Laura e tomaram um banho, comeram arroz, se olharam entre todas as mulheres e refletiram tudo aquilo que estavam vivendo, viram o significado de união e de família. Entendem que a experiência das enchentes foi muito sensorial: ouviam os helicópteros, as ambulâncias, sentiam a falta d’água, a falta das coisas nos mercados… Todas as dores de ver quem amam perdendo suas coisas, o medo, a insegurança. Foram momentos muito difíceis. Era muito importante reconhecer estar vivendo esse momento com mais duas mulheres, se ver enquanto amigas se apoiando, LGBTs, nossas famílias. Foram duas semanas vivendo em Sapiranga até voltarem para Porto Alegre e participarem da reconstrução da cidade - e entendem que tudo o que acontece até hoje é parte dessa reconstrução. Até hoje pagam as contas de luz daquela época (porque passaram meses sem conseguirem medir), Laura passou a trabalhar muito mais depois do acontecimento, entendem que existem várias consequências que silenciosamente estão presentes no cotidiano e na saúde mental, por isso o acolhimento e o lar enquanto lugar seguro são prioridades dentro da relação. Laura sente o amor presente na rotina, na construção da relação. Quando lembraram sobre a vivência das enchentes em Porto Alegre, reforçaram quanto apoio existiu. Brincam que tinha um dia para cada uma ficar mal “Hoje estou mais triste, então você me apoia, amanhã você fica mais triste que aí já vou estar fortalecida e te apoio…”. Era a forma que encontravam de segurarem a barra no momento extremo, mas entendiam que era uma forma de proteção também. Agora, após alguns anos juntas, visualizam que passaram pelas suas finalizações na universidade, pela pandemia, pelas enchentes, por duas casas, montaram um novo lar juntas… Então, foram encontrando o balanço, a rede de apoio, formaram a família que gostariam de ter. Laura comenta que quando começaram a namorar, fazia apenas dois meses que seu pai faleceu por conta da Covid-19, e Roberta acompanhou seu luto recente. Eram dois sentimentos conflitantes: a dor grande por perder um amor e uma paixão chegando com um novo amor. Foi um processo novo para Laura e, ao mesmo tempo, um processo que Roberta acompanhou de perto a família de Laura vivendo, visto que são muito unidos. O amor também esteve nesse lugar de acolher desde o início. Roberta conta que aprendeu uma nova forma de amar, com uma nova comunicação, com maior liberdade e saindo de lugares traumáticos. Aprendeu a sair de lugares em que precisava fazer tudo sozinha, aprendeu que pode confiar, aprendeu a dividir algumas tarefas que parecem tão básicas mas que sobrecarregam… Nas palavras dela: descobriu que o amor é possível. E, junto da relação, ganhou a nova família - a família da Laura e a família que deseja construir com a Laura, agora que estão com os planos de entrar na fila de adoção em breve. ↓ rolar para baixo ↓ Laura Roberta

  • Vanessa e Bruna | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. O primeiro beijo que a Vanessa deu em uma mulher foi com a Bruna, quando ainda eram pré-adolescentes, descobrindo seu corpo e todos esses novos sentimentos. Eram vizinhas num bairro afastado do centro, em Criciúma - Santa Catarina. Com o tempo, Vanessa sabia que estava se apaixonando por Bruna, sempre admirou ela e eram bastante amigas, participavam muito da vida da outra, mas não chegaram a viver um romance. Hoje em dia, completando oito anos juntas, contam que são mais de vinte anos de amizade. Entendem que Vanessa tinha uma vida na igreja, enquanto Bruna era muito mais independente, os cenários eram outros, não estavam preparadas para ter um relacionamento amoroso, mas adoravam ser amigas e existia uma mútua admiração muito grande. Contam, rindo, que todos os relacionamentos da Bruna duravam dois anos. Quando começaram, a mãe da Bruna olhou para a Vanessa e falou: “Ih, dois anos, hein?! Dois anos!”. Depois desse tempo, a mãe retornou: “Tu me quebrou, hein?! Durou mais de dois anos!”. Sempre mantiveram a conversa e acreditam que isso é o que faz a relação ser tão forte. Vanessa entende que Bruna é a pessoa que acredita nela. Pegou pela mão e atravessou tudo o que foi preciso ao seu lado. No começo terminaram dez vezes (como é citado no decorrer desse texto) e ela poderia ter desistido em alguma dessas vezes, ou poderia ter desistido nos tantos preconceitos que enfrentaram. Considera, inclusive, que ela já tinha passado por isso, já vivia sua vida, era independente, mas voltou atrás, deu as mãos e começou novamente o caminho. Admiram, juntas, essa construção, a relação e tudo o que foi vivido (com momentos difíceis mas também com muitas risadas e coisas boas misturadas). Vanessa repete inúmeras vezes a admiração pela Bruna, o quanto ela é uma pessoa disposta a ajudar e finaliza com o quanto essa ajuda fez ela evoluir sendo um ser humano melhor. Juntas, elas não chegam nem perto de enxergar a relação enquanto algo descartável, se doam o máximo que podem, criaram algo fortalecido, sólido, unido. Vanessa, no momento da documentação, estava com 32 anos. É arquiteta e trabalha com reformas residenciais/prediais de forma autônoma (tá procurando uma arquiteta?! chama ela!). É natural de Criciúma, Santa Catarina. Adora praticar esportes, se movimentar, conhecer pessoas, viajar e tocar bateria. Bruna, no momento da documentação, estava com 31 anos. Trabalha enquanto personal organizer e como consultora/organizadora financeira. É natural de Porto Alegre, mas mora em Criciúma desde a infância. Comenta que não é tão sociável quanto a Vanessa, gosta mesmo de ficar em casa com o Potter, o golden, filho-pet delas, curtindo o lar e cuidando da casa. A história delas começou aproximadamente em 2003, eram vizinhas de bairro. Por incrível que pareça, era o contrário: Vanessa não era sociável, gostava de ficar no quarto assistindo clipes da MTV, com uma vassoura fingindo ser a guitarra, se imaginando numa banda de rock, enquanto as crianças brincavam na rua. Foi um dia depois da festa de aniversário de um ano do seu irmão que ela conheceu a Bruna, que adorava bebês/crianças e frequentava sua casa para vê-lo. Mesmo sendo muito jovens, Vanessa conta que já sabia que a Bruna era lésbica, rolava uma identificação, enquanto a irmã da Bruna comentava com ela em casa: “Aquela nossa vizinha ali é ‘também’”. Bruna conta que quando beijou a primeira menina, foi para a mãe da Vanessa que ela contou, já que vivia lá. Ela reagiu dizendo que a amava muito, mas que não queria mais ela frequentando sua casa. Vanessa também sofreu um pouco quando assumiu sua sexualidade, mas tudo foi mudando com conversas e hoje em dia elas têm uma relação familiar muito legal. O mesmo com a Bruna, que voltou a frequentar a casa, até mesmo naquela época - quando a Vanessa começou a namorar uma menina escondida, foi para a Bruna que a mãe foi tirar dúvidas, inclusive. Hoje, a relação da mãe com as duas é muito boa. Depois do primeiro beijo e de seguirem amigas, a amizade continuou pela adolescência e a vida adulta. Em vários momentos elas conversavam e entendiam que tinham sentimento uma pela outra. Foram vários desencontros. Houveram outros namoros, nos términos conversavam. Em 2016, Vanessa passou por um término e estava muito desesperançosa sobre as relações, conversou com a Bruna e nesse momento Bruna resolveu colocar um ponto final (ou, o contrário): Você decide > ou ficamos juntas agora ou não ficamos mais. Mesmo com tantos anos de amizade, o primeiro ano de relacionamento foi o mais difícil. A Bruna vivia de forma independente, assumida, era organizada com suas demandas e finanças, enquanto Vanessa vivia o contrário. Em um ano passaram por dez términos, praticamente todos os meses terminaram. Explicam que não havia medo ou arrependimento de terem estragado a amizade, de qualquer forma entendiam que queriam estar juntas, mas era uma realidade nova cheia de desafios, não queriam mentir para a família. Depois de passar por isso, conseguiram engatar, enfrentar o preconceito familiar - foram quatro anos “amolecendo” - nas palavras delas - o preconceito. Agora, verbalizando a história, é muito mais fácil olhar tudo o que já passou. Antes de morarem juntas no lar onde estão, Bruna passou por dois assaltos em suas casas, um deles no começo da pandemia, e acreditam que os bandidos focaram em assaltar a casa por serem duas mulheres vivendo nela. Foram experiências traumatizantes e a Vanessa foi essencial em fazer companhia e ajudar nesse processo, foi quando elas decidiram morar juntas em um apartamento. Nesse processo, chegaram a morar com a mãe da Bruna, na casa da adolescência onde tudo começou, no bairro que se conheceram, até encontrarem o apartamento onde estão hoje. Todo o processo, mesmo que ainda caótico no contexto de pandemia, foi essencial para enfrentarem a família da Vanessa e serem reconhecidas também enquanto família, dividirem seu próprio lar. Faz apenas dois anos que estão no apartamento. É muito interessante entender o trajeto, pensar o quanto foi uma saga chegar até aqui e talvez por isso gostem tanto dessa casa, valorizam ela. É, literalmente, o lar. É o lugar. Brincam que o interfone toca e demoram para atender porque querem ficar igual um bichinho na toca. Potter, o cachorro simpático que nos acompanhou o tempo todo durante a conversa - a não ser uns breves segundos de pausa para fofocar na janela - surgiu através do sonho da Bruna, que era ter um golden. Ela falava muito sobre isso, por mais que não pensasse em nada para além disso, sobre todo o trabalho e o espaço que precisaria administrar, queria ter. Um dia estavam no mercado (ela, Vanessa e um amigo), ela recebeu o salário, passou numa vitrine e viu um golden. Vanessa falou: “Compra”. Assim, chegou o Potter. Ela e Vanessa estavam completando um ano juntas. No momento da documentação, Potter estava enfrentando um câncer, então elas estão em um momento de muita luta, cuidado e amor. Conversamos muito sobre como eles (os animais em geral, o Potter e elas enquanto família) merecem o melhor até o último segundo, porque no fim, este é o verdadeiro sentido. Por mais que o câncer nos traga o sentimento do luto previamente e não paramos para pensar sobre isso em vida, antes de sabermos sobre uma doença que pode ser terminal, a vida (e a morte) nos servem o tempo todo para lembrar que temos uns aos outros e a oportunidade de compartilhar coisas boas, amor e afeto. [O .doc deseja que o Potter tenha muito carinho, petiscos e brincadeiras e que elas tenham todo o amor. ♥] Bruna explica que sente algumas dificuldades nas demonstrações de amor e/ou no entendimento do amor em si. Ela sente que ama a Vanessa, que ama o sobrinho dela… mas sente muito medo da perda e que isso se entrelaça com o medo de amar: se eu te amo, em algum momento irei te perder, então prefiro não amar para não perder. Está em processo de entendimento sobre tudo isso. Parte desse entendimento, é perceber que ela demonstra seu amor nos atos de serviço, se doa para quem ama. Vanessa sente o amor na confiança. Para ela, é fácil confiar, fazer amizades. Nasceu em um lar com muito amor, que demonstrou muito e entende que essas relações refletem na cultura dela hoje. Demonstra amor na presença, na escuta… e também no quanto se doa. Quando conversamos sobre a cidade em que elas vivem e sobre a cultura de Criciúma, elas comentam sobre a falta de inclusão que existe. Não se sentem representadas na grande maioria dos espaços. Vanessa explica que na arquitetura (sua profissão) se fala muito sobre a ocupação dos espaços - e deseja isso para a cidade. Ocupar os espaços com corpos como os nossos, corpos que demonstram diversidade e vida. Hoje em dia, elas sentem medo de andar de mãos dadas, medo das reações que as pessoas podem ter. Tentam frequentar as capitais quando querem opções de divertimento e lazer “alternativos”. Entendem que Criciúma não é uma cidade pequena, que ali tem muita coisa acontecendo, mas que a mentalidade ainda está muito pequena e que o pensamento em maioria é: “Incomodados que se mudem” - e isso não está certo. Por fim, Bruna sempre quis ser mãe. Foi por conta do irmão, ainda neném, que elas se conheceram, Bruna ama crianças e querem investir na fertilização. Hoje em dia criaram um grupo de amigas, onde um casal tem um bebê, e há uma rede de apoio muito legal. Ficam felizes em acompanhar essa evolução, ver o crescimento de todas, observar os processos e as vivências. E desejam crescer juntas. ↓ rolar para baixo ↓ Bruna Vanessa

  • Oi, eu sou o doc! | Documentadas

    Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Vem participar você também! chega pra cá, vai ser um prazer te conhecer! O Documentadas é um banco de documentação sobre mulheres que amam outras mulheres, com o intuito de registrar historicamente o amor entre lésbicas, bissexuais e pansexuais (cis e/ou transsexuais), construindo uma literatura que até então era inexistente sobre essa população. Completando três anos em março de 2024, o projeto já documentou mais de 400 mulheres em 13 estados brasileiros. Para além de contar as histórias de casais brasileiros, o .doc acredita em 4 vias para atingir mudanças reais na nossa sociedade brasileira: Gerar empregabilidade, divulgando as profissões e trabalhados exercidos pelas mulheres que participam do projeto; Gerar conexão com encontros presenciais e online; Espalhar artes pelas ruas falando sobre o amor entre mulheres combatendo o preconceito em espaços públicos; Gerar atendimento psicológico através da plataforma, contando com 17 profissionais oferecendo serviços de apoio psicológico e psicanalítico online por valores populares (atualmente, mais de 200 mulheres já passaram pelos nossos atendimentos). > para além da documentação > Acreditamos que a igualdade de gênero pode ser alcançada por meio do combate ao machismo e através da equidade de oportunidades de fala/escuta. Além disso, entendemos que criar um banco de dados de fácil acesso, para a divulgação de ofícios exercidos por mulheres que amam outras mulheres possibilita, assim, oportunidades de contratação dos serviços prestados pelas mesmas, uma vez que os ambientes de trabalho tendem a ser espaços de conflito e preconceito quando não oferecem diálogos e reeducação social. Visibilizar as histórias de mulheres de diferentes corpos, raças e classes sociais exerce um papel fundamental para o reconhecimento dessas populações vivas. o .doc já passou por 13 estados brasileiros, contando histórias de mais de 400 mulheres. QUER COLABORAR COM O DOC PARA QUE ELE TENHA MAIS LAMBES POR AÍ OU NOS CHAMAR PARA UMA EXPOSIÇÃO EM ALGUM LOCAL? ENTRA EM CONTATO PELO SITE OU NO E-MAIL: FERNANDA@DOCUMENTADAS.COM o .doc para além do .doc Entendemos também que a representatividade é algo extremamente importante para construção da subjetividade, tendo como intuito divulgar histórias que inspirem e motivem outras mulheres a se reconhecerem e valorizarem suas próprias histórias e histórias de amor, quando a coerção social, imposta pela heteronormatividade, diz o contrário. ainda podemos ser podcast cursos ou palestras exposições produtos curtas referência em saúde mental LGBT+ cartilhas inclusivas e muito mais! empregabilidade, psicologia, conexão, arte urbana viu a gente pela cidade? Estar na rua nos abriu a possibilidade de troca com públicos antes inalcançáveis. Passamos entre universidades, boêmias e comunidades. Se as mulheres amam outras mulheres em múltiplos espaços, acreditamos que nossa arte também deva ocupar múltiplos espaços Foi através das técnicas arte urbana como lambe-lambe e stickers que começamos a espalhar uma frase famosa por aqui: “Toda mulher merece amar outra mulher”, além de uma tiragem de 800 fotografias de casais que já participaram do projeto, com intervenções gráficas escritas por cima e o @documentadas, identificando nosso Instagram/site. quer contratar o documentadas para uma palestra na sua empresa, propor parcerias, fazer alguma reportagem ou conhecer mais sobre o nosso trabalho? entre em contato aqui pelo site ou mande um e-mail para fernanda@documentadas.com

  • Quero participar! | Documentadas

    Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Vem participar você também! QUERO PARTICIPAR! COMO FAÇO PARA ME INSCREVER? É muito mais fácil que você imagina ♥ Você e sua companheira gostariam de ser fotografadas e participar do projeto? Preencha os campos a seguir e em breve entraremos em contato com você! É importante ressaltar três coisas: 1. Só documentamos e registramos casais. Entendemos a importância de cada mulher enquanto um ser único nesse mundão! Mas nosso objetivo é registrar o amor entre mulheres.* 2. Nossa residência oficial fica no Rio de Janeiro, mas com a demanda de pedidos em outros estados, há várias possibilidades de viagens voltadas à fotografar casais, então: não desanima! Pelo contrário: você têm casais de amigas que topariam participar também? Chama elas e se inscrevam juntas! Assim, quanto mais pedidos, mais chance de irmos até você. 3. Fazer o Documentadas dá trabalho! Somos um projeto artístico e social. E por isso, cobramos um valor simbólico. Explicamos aqui: - R$ 150 - Valor mínimo de participação que inclui os gastos com o transporte até o local escolhido + as fotos editadas em baixa qualidade com a logo do doc. - R$ 300 - Valor que cobre os gastos da sua participação no projeto (transporte até o local + nossa pós produção, transcrição de áudio, edição) + você ajuda um casal que não possui condições de participar do projeto a participar também + as fotos editadas em baixa qualidade com a logo do doc. - R$ 400 - Valor que inclui a participação no projeto e as fotos editadas em alta qualidade. - R$ 500 - Valor de ensaio fotográfico, além da documentação! Essa é para quem quer as fotos para toda a vida, além da documentação que o projeto propõe. Por isso, entregaremos as fotos em alta resolução, editadas e sua participação no projeto segue garantida, além de garantir o projeto vivo, dando impulso financeiro para ele atingir mais casais. Caso você e sua companheira não possuam o valor mínimo para participar do projeto, nos mande uma mensagem na hora da inscrição, ok? Temos vagas gratuitas abertas mensalmente para que todas possam participar do projeto! Sua participação é muuuuito importante para nós. * caso você queira muuuuuito ser fotografada de forma individual, pode adquirir nossos serviços pedindo um orçamento de ensaio fotográfico. manda mensagem pra gente através da aba 'contato', ok? até logo! Preencha seus dados aqui: Confirma que você e sua companheira são maiores de 18 anos? Sim, somos maiores de 18 anos de idade. Você leu o texto ali em cima, sobre a sua importância no projeto e os valores das participações? Sim, li tudinho! Enviar Prontinho!! Obrigada pelo envio. Você receberá uma confirmação por e-mail, tá? lembra de olhar no lixo eletrônico :p Logo logo te mando um oi pelo Instagram ou Whatsapp! <3

  • Yulli e Nadine | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Yulli foi mãe muito nova então por muitos anos pensou que se ela era mãe, ela era hétero. Passou por um processo diferente onde foi entendendo sua liberdade, individualidade e possibilidade de amar outras mulheres… Conheceu Nadine num momento muito bom, onde já conseguia falar abertamente sobre aceitação - de amar outras mulheres e de amar a si mesma. Foi um momento em que estava aberta a viver um amor tranquilo. Estavam em um bloco carnavalesco bastante conhecido em Porto Alegre, o Bloco da Laje, em 2024. O evento estava no fim, foi na fila do banheiro químico. Nadine sempre amou o Bloco, enquanto Yulli ia pela primeira vez, com um grupo de amigas professoras. Antes de ir embora, Nadine foi ao banheiro e ouviu o grupo de amigas da Yulli falando que eram professoras e interagiu, por ser professora também. Entre aquela fila, o clima de carnaval e toda festa ao redor, elas se olharam e arrumaram uma forma de conversar. Foi quando Nadine perguntou a profissão da Yulli, ela disse que era professora também, lançou uma cantada e elas se beijaram. Trocaram Instagram, seguiram a festa. Aos poucos, interagiram com algumas curtidas no Instagram, puxaram alguns assuntos sobre política e marcaram de sair na semana seguinte. Não sabiam muito o que esperar desse encontro, poderiam se dar bem… mas também poderia ser algo completamente aleatório. Não se conheciam, não tinham amigos em comum ou sabiam os gostos. Só sabiam a opinião política, que trabalhavam na área da educação e que gostavam de músicas semelhantes - pelo o que viram nas redes sociais. Quando conversaram sentiram que tinham muitos pensamentos semelhantes, Yulli resume: “Eu pensei assim... Meu Deus, você conhece isso? Como assim? E aí... Nosso encontro... Foi muito bom”. Seguiram se encontrando. No segundo encontro, dias depois do primeiro, conversaram até às cinco da manhã num bar. Continuaram se vendo com frequência, mas Nadine garante que desde o segundo dia já estava apaixonada. Até verbalizou isso um dia para Yulli. Cerca de duas semanas depois, marcaram um encontro na Casa de Cultura Mario Quintana (local em que fizemos a documentação acontecer) para assistirem um filme no cinema, mas o filme foi péssimo, não entenderam nada, então decidiram sair e beber alguma coisa. Naquele dia foram ao mercado depois de beber, compraram coisas, montaram um jantar, dormiram juntas e pela primeira vez tiveram a experiência de ter um contato enquanto um casal. Acordarem, Nadine foi trabalhar, viveram o dia… Depois disso algo despertou sobre a vontade de viverem a relação, se conhecerem e estabelecerem essa intimidade maior. Num final de semana pouco tempo depois desse dia, estavam num bar com uma amiga da Yulli e enquanto Nadine foi ao banheiro, Yulli comentou: “Se der tudo certo em mais um mês, eu vou pedir ela em namoro”. Mal sabia ela que, ao voltar do banheiro, Nadine faria o pedido. Ela decidiu que estava sendo tão legal, tranquilo, que poderiam começar a namorar. Com pouco tempo desde o início do relacionamento, aconteceram as enchentes em Porto Alegre e a família da Yulli morava em um ponto muito vulnerável que foi tomado pelas águas. Nadine foi muito importante indo até a casa da irmã de Yulli, ajudando a limpar e estando presente. Nadine morava em Canoas, cidade que também foi muito afetada pelas enchentes, mas sempre fez questão de ajudar a família da Yulli. Em alguns momentos o trajeto que faziam em 15 minutos de carro chegou a demorar três horas. Reforçam como foi importante todo o tempo que passaram juntas, porque estavam muito vulneráveis não só pelo momento em si que era um momento doloroso, inseguro, mas pela falta d’água, por ver a família e os amigos em situações delicadas, por ter que ficar dentro de casa muitas vezes isoladas… No momento mais difícil a saída que arranjaram foi ir para o litoral, como boa parte da população, principalmente pela falta de água e luz. No meio de toda a dor, Yulli passou por um luto, Nadine foi grande suporte para que ela tivesse acolhimento e ajuda nos cuidados com os filhos. Nesse momento da documentação, inclusive, perguntei sobre a adaptação com os meninos. Como era o início da relação, como foi a apresentação de Nadine para os filhos de Yulli e como é a convivência hoje, visto que moram juntos. Nadine contou que nunca havia se relacionado com alguém que tivesse filhos, mas nunca foi um empecilho, sempre quis vivenciar isso. Eles demoraram dois meses para conhecê-la, mas ela usou uma tática que foi: levar seu cachorrinho, o Joaquim, já que criança adora bichos, assim já conquistaria eles de cara, e marcaram de passear no parque. Deu certo. O mais velho, Pedro, é mais observador, mas o Fernando é conversador e foi tranquilo. Foram construindo a relação e aos poucos surgiram as falas “O Fernando perguntou de ti…” “O Pedro perguntou de ti…”. Agora brincam muito juntos e Nadine adora a forma que foi recebida. Eles nunca nem cogitaram questionar o fato da mãe estar se relacionando com outra mulher. Yulli estava com 31 anos no momento da documentação, é professora e trabalha com alfabetização, ama sua profissão e é muito feliz nela. Também é mãe de dois meninos, o Pedro (com 9 anos) e o Fernando (com 5 anos). É natural de Porto Alegre, adora correr, praticar yoga e divide seu tempo de qualidade com os filhos e com o entendimento de não se esquecer enquanto mulher, indivíduo, que possui suas necessidades e que quer estar sempre em crescimento - ser uma profissional melhor, uma mãe melhor, uma companheira melhor. Nadine estava com 24 anos no momento da documentação, é formada em história e estudante de letras. Sempre esteve muito ligada à educação, política, ao movimento social e acredita que a educação é capaz de mudar qualquer pessoa. Adora estar com os amigos, na rua, conhecendo pessoas. Se entende desde muito nova enquanto mulher lésbica e sempre foi muito aberta quanto à isso, com seus pais e as pessoas com quem convive. É uma mulher neurodivergente, uma pessoa com TDAH e conta que aprendeu a viver com isso, e também está aprendendo a ser madrasta, construindo essa troca de amor com os meninos. Hoje em dia, Yulli e Nadine já adotaram outra cachorrinha, a Laika, e indo morar juntas uniram o Joaquim (que era cachorrinho da Nadine) com o Sombra, gato da Yulli e os meninos, Fê e Pedro, viraram uma grande família. Yulli enxerga o amor que vivem dentro dessa família no poder da escuta, da conversa e do cuidado - é onde conseguem se olhar e conviver sem apontamentos, julgamentos, sendo acolhedor estando confortável na liberdade de poder ser quem você é. Explica que surgem questões e que conseguem separar o que é da relação e o que não é, por exemplo: isso aqui vem de antes, preciso trabalhar na minha individualidade. E entende que isso também é cuidado e responsabilidade afetiva. Nadine explica que vê política em tudo e às vezes fica até mal com isso, Yulli acaba tendo que consolar ela sobre o quanto a política afeta sua vida. Mas não consegue não vincular o amor que vivem com um impacto extremamente político. Não saberia viver esse amor hoje se não tivesse construído várias etapas na sua vida, sendo a adolescente que se entendeu lésbica, se não tivesse tido todas as conversas que já viveu com sua família, se não passasse por sua militância que a construíu como mulher… Hoje em dia vê o amor que constroem chegando nos seus pais e na família de Yulli, eles brincando com os meninos, os meninos tomando banho de mangueira, é uma experiência única porque é o amor reverberando para outros lugares - virando a educação deles e virando um espaço seguro para todos eles viverem enquanto uma família. ↓ rolar para baixo ↓ Yulli Nadine

  • Quem faz o doc? | Documentadas

    Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Vem participar você também! QUEM FAZ O DOCUMENTADAS ACONTECER? O Documentadas é o primeiro banco de registros sobre o amor entre mulheres. Suas histórias são acolhidas através da escuta e da fotografia - essas, feitas por mim, a Fernanda. Idealizei o projeto em 2020 e desenvolvo ele desde então. Sou fotógrafa, fotojornalista, artista e entusiasta a mudar as visões das pessoas sobre o mundo. O .doc, hoje, representa um banco de dados online, disponível para todas e quaisquer pessoas interessadas na proposta de conhecer mulheres que amam ou amaram outras mulheres na historiografia. Acredito que o Documentadas não é feito apenas por mim, mas por diversas pessoas que, ao longo dos meses, se dedicaram a doar um valor simbólico para que ele seguisse acontecendo e chegando em cada vez mais casais. Sem essas doações, o projeto jamais seguiria existindo. Portanto, reafirmo: o Documentadas é nosso. Um projeto vivo que segue em transformação. Com essas doações o projeto já chegou em mais de 310 mulheres e 10 estados brasileiros. São as colaboradoras e os colaboradores: Adriana Bueno Valente Alana Laiz Alana Palma Pereira Alessandra Orgando Alessandro dos Santos Alice Cordeiro Alice Sbeghen Tavares Aline Vargas Escobar Allana Fraga Gonçalves Botelho Alyce Carolyne Porto Leal Amanda Fleming Batista Amanda Garcez Amanda Moura Ana Carolina Araujo Soares Ana Carolina Costa da Silva Pinheiro Ana Carolina Cotta Ana Carolina de Lima Ana Carolina de Souza Santos Ana Cecília Resemini Esteves Ana Clara Bento Ruas Ana Clara Piccolo Ana Clara Tavares Ana Flávia Pereira Ana Júlia Cardoso Daer Ana Milene Ana Parreiras Ana Paula Boso Ana Paula Costa Roncálio Ândria Seelig Ane Salazar de Aguiar Anelise Seren Angela Lacerda Anne de Araújo Baliza Anne Mathias Antônia Magno Aria Maria Mendes de Carvalho Augusto Pellizzaro Barbara Fadini Bárbara Fernandes Vieira Dias Beatriz Costa Nogueira Bianca de Souza Rodrigues Francisco Bianca dos Santos Zrycki Bianca Hamad Choma Bibiana Nodari Borges Brenda Eduarda Bruna Dantas Bruna Lourenco Reis Bruna Miranda do Amaral Camila Fernanda da Silva Camila Lobo Camila Monteiro de Oliveira Camila Nishimoto Camila Pereira Silva Camila Petro Camila Santiago Camilla Borges da Costa e Mello Caren Laurindo Carla Correa Carla Murielli Vieira Crispim Carolina Pasin Carolina Peres Caroline Barbosa Rodrigues Caroline Brum Caroline Corrêa Cecilia Couto Cecília Vieira de Paiva Cindy Lima Clara Campos Martins Clara Silva Claudio Daniel Tenório de Barros Cleiciane da Silva Figueiredo Cleiciane Figueiredo Cleicy Guião Cristiane Becker Damares Mendes Rosa Dandara Gonçalves Daniela Maldonado Daniele Silva Caitano Débora Queiroz Denize Dagostim Denyse Filgueiras de Alencar Diego Tomasi Dom Bittencourt Edilene Maria da Silva Elins Daiane Valenca Elis Lua Elisa Tenchini Elisabete Pereira Lopes Ellen Melo Santos Emanuelly Alves dos Santos Emily Blanco Fagundes Estela Caroline Freitas Evelyn Pereira Fabi de Aragão Fabiana Aparecida Peres Felicia Miranda Fernanda B Cardoso Fernanda Carrard Belome Fernanda Cristina Fiore Lessa Fernanda Frota Correia Fernanda Gomes Bergami Fernanda Lopes Fernanda Marques dos Santos Fernanda Uchida Francini Rodrigues da Silva Fredy Alencar Peres Colombini Gabriel Py Gabriela Biazini Talamonte Gabriela Fleck Gabriela Mancini Mainardes Gabriela Montenegro Gabrielle Schmidt Barbosa Gabrielle Secco Sampaio Geovana Maria de Lima Gomes Gilian Rodrigues Ventura Gisele Basquiroto Giulia Baptista Gizelle Cruz Glauciene Nunes Gloria La Falce Glória Lafalce Graciliene Nunes Guacira Fraga dos Santos Hailla Sianny Krulicoski Souza Sena Heloisa Silva Neves Henrique Standt Iana Aguiar Iana Oliveira da Silva Iasmim de Oliveira Isabela Arantes Costa Isabela Cananéa Isabela Damasceno Isabela Pereira Silveira Isabella Acerbi Isabella Bueno Isabella Milena Nascimento da Cunha Isabelle Rocha Nobre Isabelle Rosa Furtado Pereira Izadora Emanuelle Maizonetti Jady Marques Jamyle Rocha Silva Janaina Calu Janaina Dutra Janaina Monteiro Jéssica Bett Jéssica Brandelero Jéssica de Almeida Fernandes Jéssica Dornellas Jéssica Gladzik Jessica Rosa Trindade Jessica Soares Garcia Jéssica Spricigo Joana Cardoso Jose Schwengber Joyce Marinho Jucineia Beatriz Julia Alves Pinheiro Julia Barros Julia Caetano Julia Câmara Julia de Castro Barbosa Julia Marques Tomaz Julia Oliveira Silveira Júlia Rodrigues Júlia Silveira Barbosa Juliana Figueiredo Juliana Poncioni Juliana Scotti Juliane Gomes Kamilla Siciliano Vargas Kamylla Cristina Santos Karine Veras Karoline Camargo Rocha Karoline Camargo Rodrigues Katia Alves de Melo Laira Rocha Tenca Laís Tiburcio Lara Beatriz Nascimento Larissa Sayuri Laura Luiza Rodrigues Nogueira Laura Serpa Palomero Layssa Belfort Letícia Alves Morais Santos Letícia Moreira das Neves Letícia Ribeiro Caetano Letícia Rocha Lia Tostes Liane Mendes Lilian Dina Linnesh Rossy Lorena Vidal Louise dos Santos Martins Louise Valiengo Luana Corrêa Tourino Luana de Lima Marques Luana Moreira Luana Ramalho Martins Luana Riboura Luciana de Sousa Santos Luciana Isabelle Luciana Patrício Luisa Rabelo Cruz Luiza Chaim Luiza Eduarda dos Santos Luíza Vieira Luiza Vieira Moura Maiara Scheila Freitas Santos Maíra de Oliveira Sampaio Maíra Godoy de Carvalho Manuela Almeida Seidel Manuela Teteo Natal Maria Clara Pimentel ATÉ AGORA, 317 PESSOAS JÁ COLABORARAM Maria de Fátima Piccolo Maria Gabriela Medina Maria Gabriela Schwengber Maria Geyze Andrade Barbosa Monteiro Maria Vitoria Candiotto Mariah de Faria Barbosa Mariana Coutinho Mariana Ferreira Dias Mariana Gomes Mariana Gomes dos Santos Mariana Matias de Sousa Mariana Souza Pão Mariane Mendes Lima Marianna Novaes Martins Marília Alves Marina da Silva Maristela Valdivino dos Santos Maurício Oliveira Mayara de Souza Santos da Silva Melissa de Miranda Mérope Messias Miguel Angel Milena Abdala Milena dos Santos Ferreira Milena Pitombo Monique Barbosa Costa Monique Silva de Figueiredo Moreira Natali Alves Lima Natalia Correa Montagner Natalia da Silva Brunelli Natalia Kleinsorgen Natasha Torres G Morgado Nathalia Nascimento Nathalia Silva Nascimento Neuza Ferreira Rodrigues Paloma Gomes da Silva Paula C Vital Mattos Paula Silveira Petra Herdy Pollyana Carvalhaes Ribeiro Priscila Ribeiro Priscilla Bitinia de Araujo Amorim Rafael da Silva Pereira Rafaela de Carvalho Marques Raquel Dantas Rayanne Cristina Nunes Moraes Rayssa Padilha Rebeca Fortunato Santos Ferreira Rebecca Pedroso Monteiro Rebecca S Morgado Bianchini Rejane Rodrigues Renata Canini Renata Del Vecchio Gessullo Renata Martho Renata Santos Lima Maiato Renata Silveira Vidal Reybilis Ismaryen Blanco Espin Roberta Teodoro de Oliveira Barbosa Sabrina Alves de Santana Samantha Moretti Sâmela Amorim Aquino Santiago Figueroa Sarah Nadyne de Codes Oliveira Sharon Werblowsky Simone Ambrósio Sofia Amarante Sofia Conchester Sophia Chueke Stephanie Estrella Taciane Duarte Dias Taina Fernanda Moraes Taina Oliveira Talita Marques Talyta Mendonça Tamiris Ciríaco Társila Elbert Tayami Fonseca Franca Tayana Costa Tercianne de Melo Ferreira Thabatta Alexandra Possamai Thais Agda Rodrigues da Cruz Primo Thais Cristine V Souza Thaissa Mezzari Thatiely Laisse de Queiroz Silva Thayanne Ernesto Thaysmara de S. Araújo Triscya Tamara Lima de Souza Ramos Ursula Inara Mayca Vanessa Pirineti Vania da Silva Victoria Bandeira Moreira Victoria Catharina Dedavid Ferreira Victoria Maciel Farias Victoria Mendonça Vitória Maria de Oliveira Vivian Franco Viviane Lafene Viviane Lima Viviane Otelinger Viviane Rangel Wanessa Gomes Wanessa Oliveira Weila Oliveira Noronha Yasmin da Cunha Martins Yasmin de Freitas Dias FAÇA PARTE DESSA HISTÓRIA. DOE ATRAVÉS DO NOSSO PIX: FERNANDA@DOCUMENTADAS.COM Fernanda Piccolo Huggentobler - Idealizadora

  • Uine e Denise | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Uine estava com 31 anos no momento da documentação, é psicóloga e atua na área clínica. Natural de Salvador, mas boa parte da família reside em Minas Gerais, o que faz frequentar muito o estado e estar sempre nesses caminhos. Uine conta que uma coisa importante sobre sua vida é o processo de compreensão de sua negritude, que começou há cerca de seis anos, impulsionado por lacunas na sua vivência familiar – parte de sua família é branca – e pela autonomia adquirida ao morar sozinha e trilhar um caminho independente. Na época, Uine já estava em um relacionamento de 10 anos com um homem, que sempre foi de muita amizade e companheirismo. Porém, em dado momento sentiram a necessidade de abrir a relação, percebendo que ela não seria sustentável a longo prazo. Esse momento foi um divisor de águas: começaram a fazer terapia de casal e a explorar novos formatos de relação, incluindo a possibilidade de Uine se envolver com outras pessoas – e pela primeira vez, com mulheres. Essa fase de descobertas marcou os últimos três anos da relação. Denise estava com 37 anos no momento da documentação, nasceu em Salvador, mas vive em Lauro de Freitas, na região metropolitana. Formada em arquitetura, trabalhou por anos na construção civil, o que a levou a se mudar para Recife em determinado momento da carreira. Foi lá que vivenciou grandes transformações de vida, incluindo a descoberta de sua homossexualidade, de novas rotinas e de um novo modo de ser. Determinada a começar um novo ciclo, matriculou-se em diversos esportes, mas foi o crossfit que realmente despertou sua paixão. Ao retornar para Salvador, percebeu que o mercado da construção civil já não fazia mais sentido para ela e que estava em baixa no geral. Notando a ausência de boxes de crossfit em sua cidade, decidiu seguir um sonho e fundou a Crossfit Agreste, o primeiro box de Lauro de Freitas. Uine conta que os últimos três anos do relacionamento aberto trouxeram desafios intensos que refletiram diretamente em sua saúde. Sentia que tudo o que havia aprendido na faculdade era apenas a ponta do iceberg diante da complexidade que vivia. Esse período foi marcado por adoecimentos e pela necessidade de um cuidado maior consigo mesma, tanto na saúde mental quanto física. Em 2021, ainda em meio à pandemia, ela descobriu o crossfit, uma atividade que não só ajudou a manter o corpo em movimento, mas também proporcionou uma válvula de escape para conhecer pessoas e criar novas conexões. Mesmo após o término do relacionamento, Uine e seu ex-companheiro prezaram pela amizade construída ao longo de uma década. A honestidade continuou sendo um pilar importante em sua vida, especialmente com sua mãe. Quando ainda estava no relacionamento aberto, teve longas conversas para contar sobre seu envolvimento com mulheres, o que já foi um impacto para a família. Mais recentemente, seu relacionamento com Denise trouxe novamente essa necessidade de diálogo e enfrentamento de preconceitos, mas também marcou um novo tipo de aceitação. Denise, por sua vez, estava em um momento de recomeço. Após o término de um casamento de 8 anos, que havia começado junto com o sonho da Crossfit Agreste, Denise decidiu que o carnaval de 2023 seria o momento para se redescobrir. Era seu primeiro carnaval solteira e assumidamente lésbica, e estava pronta para aproveitar. Mas antes do carnaval, no dia 2 de fevereiro, foi até a praia e pediu para Iemanjá um amor tranquilo e outras coisas que são de importância para sua vida. Hoje em dia, brinca que foi quase delivery: no dia 3 de fevereiro, no bairro do Carmo, enquanto estava em um bloco com uma amiga, avistou Uine. Entre uma fila de banheiro e alguns passos de dança ao som de uma música, elas tiveram a primeira interação. Depois, já no mesmo grupo de amigos, dançaram e se beijaram. Foram ficando, o tempo passou, até que Uine comentou sobre os amigos dela que estavam ali e o marido. Denise disse: “O que? Tá maluca?” e se desesperou. Uine riu e explicou que estava tudo bem. Naquele dia, mesmo com Denise um pouco desconcertada depois de saber da relação, elas seguiram ficando, se adicionaram nas redes sociais e começaram a conversar. Ainda no bloco, a amiga em comum de Uine e Denise, disse para Uine: “Você não tava querendo uma dupla pra treinar no crossfit? E agora, a dona do crossfit?”, então foi assim que Uine descobriu sobre o trabalho de Denise e sobre a Crossfit Agreste. Nos dias seguintes, enquanto conversavam, viram que tinham coisas em comum e queriam logo se reencontrar. Porém, ambas iriam viajar no carnaval e Uine precisava preparar suas fantasias e de seus amigos. Deram um jeito, reorganizaram suas agendas e conseguiram se encontrar, num jantar em casa. Passaram a noite juntas e, antes da viagem, Denise ainda foi fazer uma surpresa para Uine no aeroporto. O carnaval passou com ambas ansiosas por um novo reencontro. Denise nunca havia experimentado uma relação não-monogâmica e, no início, lidou com inseguranças e crises sobre como seria vivenciar isso. A ideia de algo tão aberto e com tantas possibilidades parecia difícil de assimilar. No entanto, com tempo e diálogo, elas foram construindo uma base sólida de entendimento e respeito mútuo, ajustando os ritmos conforme as necessidades de cada uma. A confirmação de que queriam algo mais duradouro veio apenas dois meses depois. Denise presenteou Uine com a aliança que havia ganho de sua mãe, o anel mais importante que tinha - era a aliança que a própria mãe havia usado. O gesto simbólico marcou um compromisso emocional e o desejo de construir algo que fosse além de uma simples relação passageira, era o significado de: “Eu quero você na minha vida, me imagino casando com você”. Esse momento foi um divisor de águas, despertando nelas a vontade de ficarem juntas de forma mais definitiva, com planos e sonhos compartilhados. Atualmente, Uine mora em Salvador e Denise em Lauro de Freitas, mas passam a maior parte do tempo juntas. Essa proximidade tem levado Uine a considerar uma mudança definitiva para morar com Denise. Encerrar a relação anterior foi uma escolha consciente de Uine, ao perceber que já não cabiam mais as relações anteriores em sua vida. Ainda assim, os aprendizados desse período seguem presentes, ajudando a moldar a relação atual. Individualidade, comunicação e a desconstrução de expectativas sociais são pilares que fortalecem a conexão das duas. Para Uine, esse processo de transição trouxe mais liberdade, tanto no mundo quanto na relação afetivo-sexual. Ela percebe a importância de cultivar relações que vão além do romantismo, como aquelas com amigas, família e outras pessoas queridas. Para ela, o amor deve transbordar em todas as conexões às quais nos dedicamos, especialmente nos momentos difíceis. Esse entendimento reforça que o cuidado e o afeto não são exclusivos das relações românticas, mas algo que permeia toda a nossa rede de apoio. Uine também reflete sobre a relevância de ser uma mulher bissexual assumida e de estar à frente de um negócio. Para ela, é uma oportunidade de inspirar e quebrar estereótipos, mostrando que mulheres LGBTs são igualmente capazes, responsáveis e bem-sucedidas. No box de crossfit de Denise, essa visibilidade se torna ainda mais significativa, pois as famílias, incluindo crianças, reconhecem e respeitam o amor delas como parte de quem são. Demonstrar afeto abertamente e sem reservas não só fortalece o vínculo entre elas, mas também quebra preconceitos de forma concreta e faz com que todos admirem. ↓ rolar para baixo ↓ Uine Denise

  • Sandra e Larissa | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Sandra é natural da Espanha, de uma cidade chamada Algeciras, localizada no sul do país. Se mudou para o México depois de morar em alguns lugares e foi lá que conheceu Larissa, começaram o relacionamento e fizeram seu primeiro lar. Hoje em dia, decidiram passar uma temporada no Brasil por conta de Lari ser brasileira, sua família morar no Rio Grande do Sul e, como formam uma família junto ao Otto, filho de Lari que Sandra adotou desde pequeno, entenderam também que seria bom para a educação dele estudar em uma escola brasileira por um tempo. Sandra estava com 32 anos no momento da documentação. É professora de espanhol, dá aulas online para estrangeiros e possui um foco em ter alunas mulheres, pessoas queers e não-binárias. Larissa, com 40 anos, trabalha com comunicação corporativa, de forma remota, e adora essa liberdade de poder viajar e não precisar estar em um lugar fixo por conta do trabalho. Lari sempre foi apaixonada pela América Latina e se dedicou à viajar por um bom tempo, pegando caronas, conseguindo trabalhos… Não tinha pretensão de ficar no México durante muito tempo, acabou ficando onze anos por conta das mudanças que aconteceram na sua vida. Engravidou, seu relacionamento de 15 anos chegou ao fim depois de se entender enquanto uma mulher que ama outra mulher, mudou as formas de ver o seu corpo e se enxergar na sociedade. Foi quando começou a conhecer novas pessoas e frequentar novos espaços no México - e, assim, conheceu Sandra. Logo que Sandra se mudou para o México, no fim de 2018, fez algumas amizades na cidade em que estava morando - Mérida - e foi num festival (que contava inclusive com algumas atrações brasileiras). Lá, lembra de ter conhecido Larissa, mas não chegaram a interagir muito. Um tempo depois, as duas entraram em um projeto de ativismo muito forte, por conta da onda de feminismo que estava acontecendo no México. Aconteciam muitos atos políticos, atividades e debates, então decidiram formar um grupo para pintar fachadas de casas e lugares com frases feministas. Começaram a ter amigas em comum e se encontrar com frequência, até que em 2019, no dia da Marcha do Orgulho, elas se envolveram pela primeira vez. Se reuniram com as amigas depois da Marcha e, mesmo Lari dizendo que não percebia que Sandra tinha interesse por ela, viu Sandra dançando uma dança espanhola e achou muito bonita, sentiu algo diferente. Depois, na festa, as pessoas estavam se beijando e ela não sentia que queria participar, mas queria beijar Sandra, foi quando ficaram juntas. Na hora nem imaginavam, mas ali começaria uma longa relação. Lari explica que hoje em dia entende o “clichê sapatônico”, mas na época nunca havia vivido algo assim e foi muito simbólico, principalmente pelo fato de ela ter um filho e isso soar como delicado para muitas mulheres. Para ela era muito importante entender a maternidade, o quanto isso faz parte de quem ela é, sendo protagonista da sua própria vida. E ver que Sandra abraçou quem era por completo e continuaram se encontrando com intensidade foi muito importante. No começo, Sandra não pensava em ficar no México por tanto tempo. Queria viver lá apenas um ano. Enquanto elas foram passando mais tempo juntas e se apaixonando, de alguma forma, isso foi virando um conflito, porque não levavam a relação tão a sério visto que havia um certo “prazo de validade”. Sandra, por mais que acolhia Lari em totalidade (ela sendo uma mulher, mãe, com um filho ainda pequeno), não entendia que estava entrando de fato em uma família. Demorou um bom tempo para que conversassem e pontuassem: ‘não podemos alimentar e gerar essa insegurança no que vai acontecer, desgasta, desperdiça energia. Ficaremos juntas ou não?’. Sandra teve o tempo que foi preciso para decidir se ficaria no México ou não, nesses meses que se passaram alugou uma casa. Lari também já tinha sua casa - que era uma casa mais antiga, meio colonial. Até que em setembro, no meio da pandemia de Covid-19, tiveram fortes chuvas e a casa estava velha, não havia preparo para aguentar aquele tempo e tanto volume de água, tudo alagou. Foram para o apartamento de Sandra e, por conta desse acidente, começaram a morar juntas, pelo menos até arranjarem um novo lar. Quando encontraram uma nova casa, num processo devidamente rápido, viram que ela era espaçosa o bastante para que Sandra morasse junto - com a condição de que cada uma tivesse um quarto. Com o passar dos anos, Otto cresceu e mudaram as ordens: Sandra e Lari ficaram juntas num quarto, Otto ganhou o próprio quarto só para ele. Entenderam que já estavam prontas para dividir o mesmo espaço. As vindas para o Brasil aconteciam de vez em quando para visitar a família da Lari. Sempre tentavam ficar alguns meses para Otto ter bastante contato com a cultura, conhecer pessoas novas e para Sandra também conhecer novos lugares - principalmente porque antes de namorar Lari ela nunca havia vindo para cá. Acontece que Otto passou por alguns problemas na escola, ele é bastante tímido e tem um jeito muito seu, que obviamente elas apoiam e incentivam que ele seja quem ele quiser ser, mas durante a pandemia era difícil ele ser alfabetizado através das telas. Ele não queria ligar a câmera, não era uma metodologia de fato acolhedora para as crianças e ele se sentia desconfortável. Acharam melhor tirar ele da escola por um tempo, fazer a alfabetização em casa e, quando ele voltou, também foi difícil a readaptação por conta de diversos preconceitos nas escolas mexicanas. Desde a primeira vez que visitaram o Brasil juntas, percebem o quanto ele se sente feliz aqui e muito adaptado com a liberdade que a cultura brasileira oferece. Foi crescendo a ideia de que ele poderia ser feliz estudando em uma escola brasileira, por isso, decidiram morar um tempo no Brasil e entender como seria a adaptação. Inicialmente a ideia era passar um ano, agora estenderam e será um ano e meio, visto que está dando certo: todos estão felizes. E, por mais que ainda existam julgamentos sobre o modelo de família que são, ele está cercado de pessoas que o apoiam, e isso que importa. Sandra conta que tem adorado o Brasil, fica muito feliz em conhecer cada vez mais um pouquinho da diversidade brasileira e que a própria rotina em casa tem sido muito mais leve com a mãe da Lari morando próximo e ajudando na educação do Otto. No entanto, ainda sente muita falta de terem amigas por aqui, sejam compartilhando a maternidade, a lesbianidade ou companhias para sambas e eventos pela cidade. Quando conversamos sobre o amor que constroem e também sobre as referências de amizade - suas amigas que ficaram no México - Lari conta que por ter vivido muitos anos uma relação heterossexual que estava num molde (que era feliz, tinha seus momentos ótimos, mas ainda sim estava num lugar confortável), então passou a descobrir muitas coisas quando amou outra mulher pela primeira vez. Foi num lugar de carinho imenso que a relação com Sandra aconteceu, e também de autoconhecimento. Nunca pensaram que se casariam, por exemplo, mas fizeram questão ao entender o significado disso, por questões políticas, sociais, burocráticas… pelo nosso merecimento ao amor. Brincam que existe um oceano que as separa e foi uma forma de irem deixando essas águas mais curtas. Hoje em dia, entendem que vem de realidades e culturas muito diferentes, mas instigam o melhor uma da outra. Sandra, por exemplo, sempre colabora para que Lari descubra um novo hobbie, possa sair um pouco da ideia de que só é mãe… Acreditam que o amor mora nesse lugar de incentivo, de parceria, família e crescimento. ↓ rolar para baixo ↓ Larissa Sandra

  • Natália e Bruna | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Bruna diz que ficou até surpresa quando a Natália contou o desejo de inscrever elas no Documentadas, brincou dizendo “Quem te viu, quem te vê, hein?!” porque no começo da relação, principalmente na primeira viagem que fizeram juntas, Natália tinha bastante receio até de pegar nas mãos em público… E agora quer mostrar ao mundo que o amor que vivem é lindo. Entendemos que esse medo é legítimo, assim como essa vontade de afirmação. Bruna completa: a história de amor delas também é a história de descoberta da Natália. Para Nat, o amor precisa ser por completo, ou seja, as pessoas merecem ser amadas como são. Se uma pessoa só te ama se você for heterossexual, ela não está te amando. Existe uma busca na perfeição do que criamos em cima dos outros, mas a verdade é que precisamos aceitar quem eles se tornam, quais profissões escolhem, a forma que entendem o amor, com quem se sentem bem ao relacionar, como vão compartilhar a vida… Isso tudo também é amar. Ela explica que a Bruna traz liberdade, foi um combo: a Bruna + a gatinha dela + o lar é o jeito que elas são felizes. Tudo fica nítido, é estampado a forma que se sentem confortáveis juntas. Não existe um julgamento dentro de casa. Quando uma relação existe e se fortifica é porque ali está o amor, assim enxerga Bruna. O amor a gente encontra na rotina, na construção das pequenas coisas, crescendo, cuidando, estando ali diariamente para se ajudar. Com a Natália foi a primeira vez que ela sentiu de forma plena o equilíbrio: ela pode se doar e vai receber de volta, é acolhedor. Natália, no momento da documentação, estava com 34 anos. Nasceu em Barra do Piraí, interior do Rio de Janeiro, mas foi ainda criança para Niterói e seguiu sua vida na cidade. É formada em jornalismo e fez transição de carreira recentemente, está estudando nutrição. Adora ver filmes, séries, ler e estudar o vegetarianismo e o veganismo. Atualmente, mora no Rio de Janeiro, junto à Bruna, e estão desbravando a cidade, conhecendo novos teatros, parques e outros lugares. No dia seguinte à nossa documentação elas iriam participar da primeira corrida juntas, pois estão focando em atividades físicas no momento. Bruna, no momento da documentação, estava com 36 anos. É natural do Rio de Janeiro, da zona oeste da cidade. Trabalha enquanto enfermeira e atua no ambiente corporativo, cuidando da saúde no trabalho. Além disso, faz trabalhos de marketing digital, adora a área do design e também está estudando tarot, que sempre foi um hobbie. No dia a dia, gosta de praticar exercícios dinâmicos (esportes em geral) e também curte dirigir, se sente calma quando dirige. Entre o réveillon de 2022 para 2023, durante a festa da virada de ano, Bruna e Natália se conheceram. Inicialmente não era nessa festa que Natália iria, ela e a amiga haviam comprado ingresso para outra, mas foi cancelada, então deram a opção de reembolso ou de transferência para uma festa que aconteceria na Barra da Tijuca. Elas, saindo de Niterói, acharam bem ruim a opção de ir para a Barra, mas com o valor do reembolso não conseguiriam comprar outra festa então toparam. Bruna, diferente delas, tinha macado com os amigos para ir na festa da Barra mesmo, sabia que era uma festa com um público muito hétero, que só iria ela e um amigo gay, mas topou ir porque queria se divertir. Logo que chegou, Bruna olhou para Natália. Elas não possuíam amigos em comum, estavam apenas próximas e trocaram olhares. Natália estava apenas com a amiga e percebeu os olhares, mas até então se entendia enquanto uma mulher héterossexual e achou estranho, até engraçado isso acontecendo… A festa seguiu e os olhares também. Bruna então comentou com o amigo sobre elas trocarem olhares e quando ele percebeu, disse que estava sim e a incentivou a ir falar com ela. Quando ela ia tomar iniciativa, um homem chegou até à Nat, e quando ela se livrou dele, Bruna não estava mais lá. Depois da meia noite se reencontraram porque o amigo da Bruna fez amizade com um grupo de meninos gays que a amiga da Natália também havia feito amizade, e assim elas se percebem neste grupo. Dançaram juntas, Bruna chegou rápido na Natália e ela indagou: “Que isso, não vai nem perguntar meu nome?” - então elas falaram os nomes e se beijaram. Natália já tinha ficado com uma menina antes, quando era adolescente, mas seus relacionamentos sempre haviam sido com homens. A festa foi acontecendo e elas não tiveram muitas interações, se encontraram novamente 6h da manhã quando tomaram café e a Bruna foi solicita ajudando a Nat a levar café da manhã para a amiga. Foi quando Nat perguntou como a Bruna se identificava e ela respondeu “Enquanto mulher lésbica, e você?” e ela disse que era bissexual. Ela não pensou muito, isso chegou muito naturalmente e pontual. No dia seguinte conversaram bastante e assistiram à posse do Lula juntas, de forma online. Na semana seguinte ao réveillon tiveram um encontro, se divertiram bastante e passaram a se encontrar com frequência. Ainda em janeiro viajaram juntas e na semana seguinte, dia 4 de fevereiro, começaram a namorar. Quando Bruna soube que Natália não havia ficado com mulheres antes, resolveu ir com mais calma, mas não adiantou, o namoro já estava encaminhado. Foram muitos meses no início da relação indo da zona oeste até Niterói, um caminho bastante longo, para se encontrar - ou melhor, a Bruna indo e voltando buscando a Natália para passar o final de semana na casa dela. Existia um receio muito grande de contar para a família da Nat, então tudo foi acontecendo aos poucos. Somente no começo de 2024, mais de um ano depois de se conhecerem, Nat se abriu para seus familiares. Desde então, não possui mais contato com a sua mãe. Por mais que os outros familiares ainda conversem e acompanhem (ainda que não queiram saber sobre o relacionamento) ela sente muito sobre, é muito triste ficar longe de uma das pessoas que mais ama. Entendem que eles terão seu próprio tempo para processar, assimilar e superar o preconceito, mas que nesse tempo elas não podem deixar de viver o amor mais bonito que já sentiram. Para Natália, o amor que vive com a Bruna é o sentimento mais bonito que já presenciou, que já viu acontecer… é respeitoso, é companheiro e não existe opinião que vá tirá-lo do caminho. Entende também que isso não apaga o que tanto ela, quanto a Bruna, já viveram em outros momentos da vida, em outras relações (que também já foram boas) ou em outras formas de viver, que isso tudo faz parte da construção de serem quem são, e que se esforçam muito para serem as melhores pessoas possíveis, mas que em nenhum momento sucumbirão à um pensamento preconceituoso. Então respeitam o tempo, por mais que doa muito, mas se permitem viver. Pela parte da família da Bruna, recebem muito suporte da mãe, que as trata com muito carinho e afeto. ↓ rolar para baixo ↓ Natália Bruna

  • Juliana e Priscila | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Juliana estava com 40 anos no momento da documentação e é natural de Olinda, cidade pernambucana em que fizemos as fotos. Formada em administração, trabalhou por alguns anos em um banco privado e hoje em dia trabalha numa empresa familiar que é responsável por recicláveis. Juntam os materiais (plástico, papel, papelão, vidro…) em outras empresas e encaminham para o destino correto. Além do trabalho, adora assistir filmes, viajar, ficar com os bichos em casa… Comenta que são tantos anos de relação, praticamente a metade da vida juntas, que faz com que se veem fazendo tudo juntas. Adoram viver a rotina. Priscila é natural de Paulista, cidade vizinha de Olinda. Quando conheceu Ju, Priscila trabalhava na área de merchandising, mas acabou prestando serviços para a família da Ju na empresa de recicláveis e descobrindo o ramo, se encontrou e trabalha com isso até hoje. Também adora gastronomia, sua verdadeira paixão que começou como um hobbie e vêm se desenvolvendo - de vez em quando criam alguns jantares e recebe até encomendas de comidas italianas para produzir. Pergunto para Ju e Pri como funciona uma empresa de reciclados, acho muito incrível esse ser o trabalho delas e poder compartilhar sobre um assunto tão necessário por aqui. Elas explicam que trabalham com empresas como supermercados que reciclam papelão - e papelão vira papelão novamente - ou editoras que reciclam livros didáticos por conta deles precisarem ser renovados por novas normas ortográficas ou atualizações de conteúdos - então fazem separação de papel… E assim encaminham cada material para as indústrias. Por exemplo: um papel branco pode virar papel higiênico, papel toalha, guardanapo… É um trabalho útil, rentável e necessário para o mundo. Em 2008, Priscila havia acabado de se mudar para Olinda e estava dividindo casa com um grupo de amigas. Logo na primeira semana da mudança, junto com essas amigas, decidiram sair para se divertir em Recife, ir beber uma cerveja, curtir e comemorar. Porém, era no meio da semana, os bares fechavam cedo… Sempre foram ‘inimigas do fim’, decidiram parar em Olinda num barzinho que ficava aberto até mais tarde chamado “Estação Maxambomba”. Ju, por sua vez, saía do trabalho em Olinda e ia encontrar suas amigas que tinham uma banda tocando coco e maracatu, gêneros musicais tradicionais de Pernambuco. Do ensaio, iam direto para o bar, algo que virou tradição semanal. Lá, as amigas de Ju e Pri se interessaram umas nas outras, Priscila ficou um pouco chateada porque preferia algo mais reservado, a amiga dela já bêbada brincava de fazer um sotaque carioca, acabaram juntando as mesas e foi assim que Ju e Priscila se conheceram. Foram comprar cigarros juntas, voltaram de braços dados mas sentaram longe quando chegaram na mesa… No final da noite, trocaram o número de telefone. Quando estavam indo embora, Priscila pegou a moto e as amigas começaram a zoar a Ju porque ela estava “flertando” com uma motoqueira… Depois começaram a conversar, na época ainda por SMS, contaram onde trabalhavam (Ju ainda estava trabalhando no banco e pouco conseguia tempo para mexer no telefone), mas marcaram de se encontrar novamente. Não se encontraram no primeiro momento combinado, mas marcaram um almoço no apartamento em que Priscila dividia com as amigas. O almoço durou o dia todo no domingo. Brincam que não seriam elas a mudar a história das lésbicas, então desde que ficaram juntas já não se separaram mais, Ju foi voltando nos dias que seguiram e assim não se desgrudaram. Ju foi morar sozinha quando trabalhava no banco porque sentia que já era a hora de ter sua independência e porque tinha uma cachorra que destruía tudo na casa dos seus pais. Acabou que não conseguiu ficar com a cachorra por conta dela precisar de mais espaço, mas cuidou dela através de uma amiga até ela ficar velhinha. Mesmo Ju tendo sua própria casa, vivia na casa da Priscila e das suas amigas, mas o apartamento estava ficando cada vez mais caótico com o tempo pelo fato de todas serem bastante jovens, faziam várias festas e a casa sempre estava cheia de gente. Até o momento que decidiram que precisavam de um novo lar, era bagunça demais até para elas - que eram inimigas do fim. Em 2009 conseguiram uma casa em Maracaípe, um lugar tranquilo que iam passar os finais de semana. Levaram algumas coisas no caminhão da empresa da família da Ju, já estavam morando juntas em um apartamento e os outros móveis encaminharam para essa casinha “de praia”. Em 2009, também, adotaram o Marvin, primeiro cachorrinho de muitos animais que vieram depois - e fiel companheiro que acompanhou quase toda a relação, faleceu no último ano. Depois de Marvin, chegou Frida, para lhe fazer companhia. Em seguida, num dia saindo para almoçar, ouviram alguns miados e encontraram um gatinho embaixo de uma árvore… Até tentaram não pegar na ida para o almoço, mas na volta não teve jeito, seria Diego. E, um tempo depois, surgiu Magali, uma gatinha que fizeram um resgate e deram uma nova vida. E assim, a família só foi aumentando… Foi chegando o Hulk, a Fiona, Rutinha, Ratinha, Olga, Mingau, o Snoop… Hoje em dia ainda possuem alguns animais em casa, entre gatos e cachorros, mas todos com o mesmo destaque: o direito a boa e a longa vida. Em 2012 chegaram à casa que moram hoje em dia, com os bichos e uma vida relação já construída. Depois que estavam com uma mentalidade mais madura sobre essa construção, começaram a pensar na unidade familiar que estavam construindo e resolveram cogitar a maternidade e a adoção. No começo do processo de adoção, estavam pensando que gostariam de adotar um bebê. Foram atrás, frequentaram as reuniões, começaram a pensar um pouco em outras possibilidades. Mas aconteceu uma situação da qual as deixou muito chateada e as fez voltar atrás, não quiseram seguir com o processo. Depois que cuidaram de uma cachorrinha, a Ratinha, durante alguns anos com cuidados diários desde todas as alimentações com mamadeira, até problemas respiratórios, nos olhos, vitaminas… Viram que estavam dispostas a serem mães e pensarem novamente sobre a disposição de terem alguém para cuidar e amar todos os dias. Foi quando, em 2020, anos depois da primeira tentativa, cogitaram entrar para a adoção novamente. Porém, diferente das ideias iniciais de ter um bebê, já haviam amadurecido outras possibilidades e decidiram adotar um adolescente. Aurelino, que hoje em dia já está com 18 anos, chegou com 13 anos na família. Tudo começou com a ideia de um apadrinhamento, já que quando os meninos completam 18 anos e saem dos orfanatos existe uma mobilização para que eles tenham condições de viverem sozinhos por um tempo. Elas foram até o local onde ele estava, conheceram todos os meninos junto da assistente social, mas havia uma condição: você não pode demonstrar interesse em adotar a criança que quer apadrinhar. Então decidiram mergulhar de vez na adoção. Conversaram com ele para saber se ele teria interesse em fazer parte da família, foi bem legal por conta de serem duas mães e ele já ter uma bagagem de vida, opinião, cultura formada, diferente de uma criança muito pequena… e ele ficou bastante animado. Queria fazer parte da família. Sempre foi carinhoso e atencioso. Ju e Priscila fizeram questão de manter as origens familiares de Aurelino antes de sua adoção também. Entendem que a bagagem que ele trás é única e é sobre quem ele é, sobre a vida dele. Assim como, os momentos que constroem juntos, são muito importantes para essa nova pessoa que ele está se tornando. Hoje em dia, a documentação dele já consta o nome das duas mães, inclusive recentemente quando ele foi se alistar ao exército houve um questionamento sobre e ele tratou de forma completamente natural e elas se orgulharam disso. Da mesma forma que ele enfrenta suas novas questões na fase da adolescência e adultez e elas tentam acompanhar isso da melhor forma, porque também é uma novidade para a primeira vivência na maternidade. São novos diálogos, desafios, vivências escolares, conversas sobre a profissão e o trabalho que deve seguir, relacionamentos… Também foi muito difícil pela primeira vez conviver com um homem dentro de casa, os recortes são outros, aprenderam, viveram muitas mudanças sendo mães, e se deram conta de coisas que ninguém havia ensinado durante o processo de adoção também: a saúde dele era muito mais frágil por conta da sua vivência e da sua alimentação na infância e levou alguns anos para ser fortificada, a educação precisou ser reforçada, a saúde mental, o vocabulário… Fazem muita questão de conversar tudo o tempo todo, entendem que não há tempo a ser desperdiçado em deixar uma conversa para depois. Ju entende que depois de tantos anos de relação, essa família tão forte que formaram reflete o quanto podem contar uma com a outra sem competição, sem disputarem quem é melhor dentro da relação. Vivem um companheirismo que quer o crescimento de todos. Enxergam a amizade, o incentivo, os projetos que dividem, o quanto a família é importante. Hoje em dia a mãe da Priscila mora com elas e foi para todas se fortalecerem, Priscila já ficou fora do Brasil para trabalhar por alguns meses em 2023 e Pri, Aurelino toda a família super apoiaram para que ela fosse porque sabiam que seria importante… Tudo é lutado em conjunto porque entendem que estão caminhando juntos. E o amor que vivem é o que mantém essa luta fazendo sentido. ↓ rolar para baixo ↓ Priscila Juliana

  • Carla e Laura | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Carla, no momento da documentação, estava com 34 anos. Nasceu em Itiúba, um pedacinho do bioma da Caatinga, no semiárido baiano, onde a chuva é um evento tão esperado que se torna motivo de festa. Aos 14 anos se mudou para São Paulo, foi morar com as tias. Dois anos depois, aos 16, já vivia sozinha, trabalhando com telemarketing. Desde criança é uma pessoa comunicativa: se aventurou em diferentes áreas, foi dançarina, atriz, trabalhou com noivas, em salões de beleza e se entende enquanto multifuncional no trabalho. Aos 29, entendeu que era a hora de voltar para a Bahia e, com a Laura, se mudou para Porto Seguro. Laura, no momento da documentação, estava com 39 anos. Nasceu no interior de São Paulo, em Embu-Guaçu, mas construiu a maior parte da vida na capital paulista. Ao contrário da Carla, fez sua carreira no regime CLT, trabalhou de forma sólida em uma universidade, onde liderava equipes e alcançou conquistas profissionais como graduação, pós-graduação e especializações. No entanto, viveu anos de rotina exaustiva, chegou ao limite, com stress, burnout e depressão. Decidiu se mudar para Porto Seguro para ter outra forma de vida. Quando chegou, até trabalhou em outras empresas, mas se viu começando a seguir os mesmos caminhos de muito trabalho e entendeu que só tinha mudado o local, o método estava seguindo o mesmo, até que recomeçou e foi quando surgiu a ideia de fazerem o Instagram/YouTube de turismo: Duas em Porto. Entendem que a vida em São Paulo trouxe muitas oportunidades para ambas, mas também uma rotina caótica. Carla saía de casa às 7h da manhã e voltava à meia-noite, vivendo para trabalhar e consumindo em excesso. Laura, por outro lado, enfrentava longas jornadas que, apesar de gratificantes em alguns momentos, a desconectava de si. Ambas sentiam que algo precisava mudar. Foi em 2017 que decidiram recomeçar em Porto Seguro. A ideia de trabalhar com turismo surgiu naturalmente - recebendo amigos e familiares que vinham visitá-las, perceberam o quanto adoravam mostrar a cidade e contar histórias da região. Decidiram investir nessa paixão e criaram o perfil no Instagram para divulgar o trabalho. Hoje, guiam pessoas que chegam buscando o destino e vivem com um ritmo de vida com propósito. A Carla e a Laura se conhecem há mais de 15 anos, pois frequentavam a mesma comunidade, uma igreja inclusiva em São Paulo chamada ‘Cidade de Refúgio’. Chegaram a se beijar algumas vezes, mas sem envolvimento e cada uma seguiu seu caminho. Os anos se passaram, tiveram outros relacionamentos longos, não mantinham contato. Depois de alguns anos se reencontraram, através de uma amiga em comum, e conversaram. Sentiam que existia um sentimento que estava ali mesmo não sabendo uma da vida da outra durante todo esse período. Quando Carla mandou mensagem, Laura estranhou tanto que pediu até uma chamada de vídeo para ver se era verdade, não acreditou. Por mais que elas nunca tivessem desenvolvido um sentimento, havia aquela sensação/desejo em querer conhecer mais. Laura sempre foi muito tímida, fechada, então as conversas eram limitadas, mas queriam conversar e saber mais sobre a vida uma da outra. Os primeiros encontros, depois de voltarem a conversar, eram estranhos - ou silenciosos demais, ou Carla sentia que falava demais. Mas continuavam insistindo porque sentiam que iria valer a pena. Quando começaram a se envolver, Laura foi visitar Porto Seguro porque sua irmã morava na cidade, então fez o convite para Carla fazer a viagem também. Ela topou e foi em Porto Seguro que Carla fez o pedido de namoro. Um ano depois, o pedido de casamento aconteceu, dessa vez em São Paulo, mas contrariando o atual modelo de vida, o planejamento nem passava próximo da Bahia… Elas sonhavam em morar na Irlanda. Estavam guardando dinheiro para o intercâmbio - e na festa de casamento o presente, inclusive, era dinheiro para a viagem acontecer. No ano seguinte do casamento acabaram indo algumas vezes para Porto Seguro em viagens de família. Além das viagens, Laura entrou num processo difícil por conta do burnout, começou o processo de adoecimento que durou cerca de dois anos. Viveu esse tempo tentando camuflar o que sentia e seguir trabalhando. Carla, em todos os momentos, tentou ajudar (com o auxílio da médica que acompanhava o caso), mas era uma questão psicológica muito delicada fazer Laura entender que era uma questão de saúde para além da responsabilidade com o compromisso dela de trabalho. Só conseguiram no final de 2019, quando o corpo dela já estava no limite, muito adoecido, e não aguentou mais. Foi numa viagem para Porto Seguro, também em 2019, que elas olharam para a cidade de um mirante e conversaram sobre uma possível mudança para lá. Decidiram intencionar isso, planejar, e assim foram fazendo aos poucos. Alguns dias antes da pandemia começar Laura foi desligada da empresa que trabalhava - e foi a maior felicidade que poderiam sentir. Na mesma hora, sem pensar duas vezes, decidiram realizar a mudança para Porto Seguro. Mandaram mensagem para os familiares da Laura que moravam na cidade, eles por sorte (ou destino) falaram de uma casa que havia na rua para alugar, já conseguiram o contato e em cerca de três dias elas já estavam com a mudança pronta. Avisaram os amigos próximos e foram. A pandemia de Covid-19 estava anunciada, se despediram dos amigos que conseguiram e pegaram o penúltimo voo antes do aeroporto fechar por conta do lockdown. Quando chegaram em Porto Seguro, passaram uma semana sem ver os familiares, não entendiam muito bem o que estava acontecendo, mas as informações sobre o Covid-19 foram chegando e as coisas foram se assentando. A cidade estava vazia. Se acalmaram e pensaram: “Tudo bem, vai passar. E quando passar isso aqui será o paraíso”. Pensando agora, que tudo já passou, entendem o quanto o universo foi generoso: jamais conseguiriam viver a pandemia em São Paulo, trabalhando. Deu tudo certo em Porto Seguro, Laura ficou muito mais saudável. Foram se encaixando com seus trabalhos de marketing digital online e, depois da pandemia, abriram o canal no YouTube e o Instagram sobre turismo em Porto Seguro: o Duas em Porto. Por mais que seja muito legal estudar turismo, trabalhar com isso e que realmente se encontraram nessa profissão, explicam que ainda assim é muito difícil ter esse canal, contando que são duas mulheres que se amam chegando numa cidade como Porto Seguro, porque a cidade vive de turismo mas ainda é muito conservadora. Para se proteger, vivem de forma bastante discreta. Já enfrentaram diversos preconceitos, são apoio uma da outra para limpar as lágrimas antes de chegar em casa e não carregar as dores. E acreditam que a forma de lidar com o preconceito é se fortalecer na própria comunidade, se fortificar nos amigos LGBTs que possuem na cidade. Carla explica como os espaços que acolhem mulheres na cidade são importantes: desde um bar que reunia o público LGBT+, até ter outras mulheres que também trabalham com turismo e são lésbicas e bissexuais. Por mais que trabalhem com o mesmo público, não se veem enquanto concorrentes, mas companheiras, uma indicando o trabalho da outra - se fortalecem, se representam, formam uma rede de apoio na cidade. Explica, também, que sentia uma certa sede de ver pessoas LGBTs quando chegou. Sentia falta de falar gírias que os LGBTs entendem, de fazer brincadeiras que nós fazemos, de ser quem ela é sem medo de julgamento. Sempre andou com muitos homens gays, drags e pessoas transsexuais, gosta de “bater leque”, ir para o fervo. Sentiu falta, o primeiro ano foi muito difícil, foi se fechando. Aos poucos, encontrando pessoas com quem se identifica, foi se reencontrando. Por isso, agora faz questão de ser um elo para as pessoas LGBTs que ela conhece. Carla acredita que o amor que vivem está na coragem que enfrentam o mundo. Com muita amizade, muita parceria. Já passaram por muitas coisas sozinhas, boas e ruins, e independente estão juntas, enfrentando tudo. Colocam o amor no que acreditam e veem isso expandindo, conseguem visualizar o propósito de vida no que fazem com amor. Laura conta que o amor delas está todo dia no café da manhã que tomam juntas. É nessa atividade que alinham as expectativas, recalculam rotas, conversam sobre o que está dando certo, trocam ideias… Todos os cafés da manhã são importantes. É no café que está o afeto, o carinho. E mesmo se não estão num dia bom, sentam na mesa com um “bom dia” mais seco, mas fazem o ritual acontecer. Esse momento do dia é muito importante para que tudo comece e para que as coisas sigam seus fluxos. É nele que ela enxerga esse fluxo de encarar o mundo. Por mais que Laura seja uma pessoa fechada, ela está aprendendo a expor seus sentimentos aos poucos, principalmente durante esse ritual - se sente feliz por enxergar isso. Elas enxergam persistência na relação entre mulheres. ↓ rolar para baixo ↓ Carla Laura

  • Ane e Thelassyn | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Foi na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro onde Ane e Thelassyn se conheceram (e onde fizemos as fotos para o Documentadas), no polo de Nova Iguaçu, na baixada fluminense. Em 2018, quando Ane cursava história e Thethe cursava pedagogia, frequentavam muito os centros acadêmicos dos seus cursos e possuíam diversos amigos em comum. Contam o quanto gostavam de se envolver em tudo o que podiam na faculdade, inclusive na causa animal: no campus há diversos cachorros e gatos abandonados e então participavam dos coletivos que cuidavam dos bichinhos. Ane morava numa república e estava hospedando uma cachorrinha que tinha sido atropelada e precisava de cuidados, até que Thelassyn foi doar um remédio que estava faltando e se encontraram pela primeira vez. Ane achou Thethe linda demais, ficou encantada. Por mais que Thethe brinca que não tenha acontecido nada demais, só entregou o remédio e foi embora, depois disso se encontravam de vez em quando e Ane sempre ficava nervosa. Até que um dia, durante uma manifestação política por conta do Museu Nacional ter pego fogo, se encontraram e interagiram no centro do Rio de Janeiro, conversaram e foram juntas até o ponto de ônibus, onde deram um selinho. Uns dias depois aconteceria uma festa na faculdade e Ane convidou a Thethe, elas se arrumaram juntas, lá na república em que ela morava. Depois, na festa, quando Ane finalmente achou que elas iriam se beijar, Thethe chegou até ela e disse: “Minha amiga quer ficar com você!”. Ela não entendeu nada, respondeu que na verdade queria era ficar com a Thethe, não com a amiga. E enfim o beijo aconteceu. Depois da festa e do primeiro beijo, passaram o fim de semana conversando. Até que a semana começou e decidiram se encontrar na faculdade e, depois da aula, assistir um filme na casa da Ane. Na faculdade ficaram novamente - no local em que fizemos as fotos, inclusive - e depois foram para a república, na casa da Ane. No dia seguinte, quando acordaram, a Ane convidou Thelassyn para almoçar e assim tudo foi acontecendo… passou o dia, a noite, o dia seguinte… e foi ficando. Ela ia para a casa, pegava roupas, visitava e voltava para dormir com a Ane. Depois de 15 dias, já tinha ganho até uma gaveta no guarda-roupa. Num dia, na faculdade, estava acontecendo um evento no hall de entrada, então Ane pegou o microfone e pediu Thethe em namoro - mesmo que elas já estivessem com a gaveta compartilhada no guarda-roupa. Naquela época, contam que quando não estavam juntas na república, os amigos que dividiam casa até estranhavam. Foi então que, depois de dois meses, decidiram se mudar para uma “casa de verdade”. Querendo ou não, era muito ruim na república: muita gente, uma cama de solteiro, sem ventilador.. passavam muito perrengue. Conseguiram um apartamento próximo da faculdade, dividindo com uma amiga. A mudança aconteceu sem rede de apoio, começo de namoro, sem móveis, sem programação. Ganharam alguns eletrodomésticos, mas lembram que no primeiro dia não tinham nem vassoura, prato, copos… A vida no bandejão da faculdade salvou tudo. Passaram um ano morando neste apartamento. Foram comprando móveis usados, trabalhando muito… Até que conseguiram se mudar para uma casa só delas. Neste novo lar, adotaram duas cachorrinhas, fizeram suas primeiras viagens… Ao total, até hoje, já se mudaram mais de 6 vezes. Entendem que por mais que tenha existido muito perrengue, hoje em dia estão no lar que mais amam e que mais desejaram viver. No momento da documentação, Thelassyn estava com 28 anos, terminando as faculdades de pedagogia e enfermagem. Por mais que sejam áreas bastante diferentes, conta que deseja trabalhar com o que tiver mais demanda de trabalho primeiro, mas que se for com educação, sua prioridade é escolas públicas. Infelizmente na rede particular sofreu um caso de lesbofobia, sendo demitida depois de descobrirem o relacionamento. Ane, no momento da documentação, estava com 25 anos. Ela é natural de Campo Grande, no Rio de Janeiro e se mudou para Nova Iguaçu para fazer faculdade em 2016. Hoje em dia, cursa mestrado, também na UFFRJ, no campus de Seropédica. Lidar com as adversidades no cotidiano não é fácil, principalmente por serem pessoas bastante diferentes - Ane, por exemplo, sente que precisa de mais tempo para processar as coisas, enquanto Thethe é mais ansiosa e deseja resolver os problemas logo. É preciso cuidado para não desequilibrar ou se atropelar. Explicam que o que faz elas continuarem juntas é a vontade de continuar juntas. Parece simples, mas é o que define a grande determinação de passar por cima de todos os perrengues que já passaram em nome do amor que sentem. Explicam que o mais difícil é não ter uma rede de apoio presente, acabam sendo o apoio uma da outra e, como resultado, o impulso também para o amor que acreditam. No começo, foram muito criticadas. As pessoas falavam que o relacionamento não iria durar, tiveram que se afastar da família por não terem apoio (com exceção da avó e da irmã da The, que são boas aliadas)... foi muito difícil enfrentar tudo. Hoje, ficam felizes em relembrar o que viveram desde o início e ver como superaram e passaram por cima desses comentários mostrando o amor que vivem e o que estão disposta a viver, principalmente agora, que estão noivas. Sonham com o casamento, que pretendem realizar em breve, e se permitem planejar uma vida juntas. No Instagram, é através do perfil @morandocomela que relatam o dia a dia que vivem. Foi da vontade natural de registrar os detalhes do cotidiano, quase como uma documentação, que surgiu. Não numa linha influencer, mas de mostrar as conquistas, as fotos, gravar o que acontece, as cenas com as cachorras... No começo, Ane pouco aparecia, ficava envergonhada… hoje em dia adora. Thelassyn acredita que amar uma mulher é resistir sempre. Entende que o mundo ao nosso redor ainda é muito hetero, feito por pessoas héteros e para pessoas héteros. Quando se ama outra mulher e se mostra isso, se demonstra muita coragem. Ane faz o recorte racial quando fala sobre o amor que vivem, afinal, são um casal interracial e estudam sobre o amor também enquanto política - escolher quem você ama fala sobre quem você é e sobre o próprio racismo. Conversam muito sobre práticas, falas e sobre a Ane não ser uma “wikipédia preta”. Thethe está sempre disposta a quebrar os preconceitos que são culturalmente colocados em nós e assim encontram diversas formas de viverem um amor honesto. Entendem que a homofobia está em vários cantos, desde quando saem de casa de mãos dadas e os vizinhos olham diferente, até não serem convidadas para as festas de família - “As pessoas tentam fingir que não é, mas sabemos que é”. Tentam ressignificar todo dia, trazer amor para a relação delas a fim de lidar com as coisas ruins do mundo: não gritar, brigar o mínimo possível, buscar se entender e se respeitar ao máximo. Ressignificar com amor em vários espaços. Thethe fala sobre ver muito o amor no dia a dia, com as cachorras, em casa, na varanda com a chuva caindo. Ressaltam que sempre que chovia, nas outras casas que moravam, era um tormento porque alagava tudo e hoje em dia ter a casa com varanda fez a chuva virar uma alegria… Quando chove correm para observar juntas, é um momento só delas. ↓ rolar para baixo ↓ Thelassyn Ane

  • Bruna e Tereza | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Tereza estava com 57 anos no momento da documentação, é natural de Aracaju, Sergipe e trabalha enquanto psicóloga, atuando no SUS pela rede de referência à saúde mental e na parte clínica. Enxerga a profissão como uma constante transformação, moldada por sua vida e suas linguagens corporais. Para além do trabalho, ama estar na praia, ler e tem retomado bastante alguns exercícios ao ar livre, como a calistenia (exercício que direciona o peso do próprio corpo). Bruna estava com 38 anos no momento da documentação e também é natural de Aracaju. Trabalhou por 15 anos como jornalista antes de migrar para a sua área atual, onde é bodypiercing. Começou pela vontade de tatuar, mas nas perfurações se encontrou. Hoje, na sala/estúdio que atende próximo de casa, vive uma rotina mais tranquila, celebrando essa mudança como um marco em sua saúde mental. No tempo livre, ama ficar com os bichos, ir à praia e sair para comer. A casa que residem hoje em dia - e que fizemos as fotos - é uma casa anexa à casa onde Tereza nasceu e cresceu. Construíram esse anexo para que ficassem próximas da mãe dela, que tinha 92 anos quando Bruna e Tereza se conheceram. Agora, estão em processo de construir um novo lar, num terreno que adquiriram e num estilo de casa simples e praiano, mais distante da região central, do outro lado do Rio Sergipe, em Aracaju. Foi no ano de 2010 que Bruna e Tereza se conheceram. Na época, Bruna tinha 25 anos e nunca havia se relacionado com mulheres, enquanto Tereza vivia um relacionamento de cinco anos. Apesar de interagirem pouco, notaram uma à outra, ou, como melhor diz Tereza: “Se registraram”. Bruna conhecia Tereza por ela ser professora de uma amiga, mas a vida de Bruna era bem diferente do que é hoje em dia: era marcada por padrões, formas conservadoras, participava de grupos religiosos e mantinha um estilo de vida tradicional. Com o tempo, Bruna foi mudando. Deixou a comunidade religiosa, passou a se relacionar com mulheres e, ocasionalmente, via Tereza em espaços em comum. Esses encontros a deixavam nervosa, sem saber exatamente o porquê. Em 2018, estava passando pelo término de uma relação, indo morar sozinha, quando passou pela frente da clínica que Tereza trabalhava e viu o imóvel para alugar. Mandou uma mensagem perguntando se estava tudo bem, e esse contato inicial fez com que trocassem algumas mensagens online. As conversas fluíram de forma natural, com músicas compartilhadas e assuntos diversos. Porém, nenhuma das duas admitia que algum sentimento começava a crescer. Bruna, buscava respostas com as amigas sobre o que as músicas enviadas poderiam significar e insistia que Tereza jamais teria interesse por ela, principalmente pela diferença de idades e suas vidas distintas. Até brincou que precisava passar um ano sozinha se curando e que não tinha vontade de se envolver com ninguém: "a única pessoa que mudaria isso seria Tereza, mas isso é impossível". Do outro lado, Tereza, já há três anos solteira após um longo relacionamento, estava aberta a novas experiências, mas também achava impossível que algo fosse acontecer entre ela e a Bruna, por conta das idades diferentes. O "impossível", contudo, já estava acontecendo. As músicas trocadas marcaram o início da relação de Bruna e Tereza. Era a forma sutil que encontraram de comunicarem o afeto que crescia ali. Bruna brinca que pareciam adolescentes, até que, finalmente, decidiram se encontrar para um jantar. Depois desse encontro, não se separaram mais. A intensidade das duas foi o que deu ritmo a tudo: logo vieram os processos de apresentação às famílias, e em novembro de 2019 decidiram se mudar para a casa onde vivem atualmente. A decisão foi motivada pela necessidade de Tereza estar próxima de sua mãe, que já tinha 92 anos. Contam como foi desafiador esse momento inicial. Querendo ou não, Tereza havia saído de um relacionamento de 11 anos, passou um tempo sozinha, e começou a viver um novo relacionamento que se dispôs a morar com ela e cuidar da sua mãe. Era outra dinâmica: conviver em família, dividir a casa. Porém, aos poucos, entenderam que precisavam de um espaço só para elas também… e foi nesse momento que construíram o anexo à casa - lugar que vivem até hoje. Com o tempo, adotaram duas cachorras (que se somaram aos dois gatos) e adquiriram o terreno onde atualmente constroem o lar que planejam compartilhar no futuro. O amor está na simplicidade em que Bruna e Tereza constroem o dia a dia juntas. A relação é leve e tranquila. Não se veem em outro lugar, querem seguir lado a lado, casadas, com amigos e famílias misturadas, elas se consideram grandes amigas e acreditam no respeito mútuo como base para manter o equilíbrio em casa. Para Bruna, a relação é um exemplo de amor para as crianças próximas, os colegas de trabalho e os amigos que se inspiram na forma como se cuidam. Bruna também se emociona ao falar sobre a felicidade de estar com alguém que tanto admira. Para ela, viver esse amor com Tereza é um sonho realizado. Ela se sente grata pela relação saudável que têm, pela paixão que compartilham e pela família que já construíram - com seus gatos e cachorras - e pela que ainda vão construir - num possível futuro com filhos. Tereza, por sua vez, fala com carinho sobre a naturalidade da relação. Conta que elas só se chamam de "amor", em qualquer lugar, seja na rua, em lojas ou em casa. É absolutamente espontâneo. Mas às vezes, percebe que para quem ouve isso soa inusitado, a pessoa fica: “Ei, essa ‘amor’ chamou aquela ali de ‘amor’”. Sempre que se despedem, também se beijam, nem que seja para ver algo em uma loja do shopping… e então percebem que talvez possam ter chocado alguém. Para ela, é uma alegria sentir essa liberdade podendo ser quem ela é. Afinal, é a primeira vez que vive esse nível de autenticidade numa relação, onde pode ser verdadeiramente ela para fora dos espaços seguros (em casa, entre os amigos…). Para ela, é como se seu corpo finalmente estivesse falando, mostrando o amor que sente. [isso que tereza diz é muito bom pra video 30 min] ↓ rolar para baixo ↓ Bruna Tereza

  • Qual é a desse lambe aí? | Documentadas

    Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Toda mulher merece amar outra mulher. E esse lambe aí? Acreditando na potência do Documentadas para além das redes sociais e do mundo online, decidimos colocar o projeto na rua conversando com os espaços das cidades por onde passamos. Foi através das técnicas arte urbana como lambe-lambe e stickers que começamos a espalhar uma frase famosa por aqui: “Toda mulher merece amar outra mulher”, além de uma tiragem inicial de 300 fotografias de casais que já participaram do projeto, com intervenções gráficas escritas por cima e o @documentadas, identificando nosso Instagram/site. Estar na rua nos abriu a possibilidade de troca com públicos antes inalcançáveis. Passamos entre universidades, boêmias e comunidades. Se as mulheres amam outras mulheres em múltiplos espaços, acreditamos que nossa arte também deva ocupar múltiplos espaços. Tal fato foi - e está - sendo possível pela impressão/colagem por valores acessíveis (afinal, o projeto é independente) e também por permitirmos ouvir a linguagem das ruas. Seguimos monitorando os espaços colados através da localização nas redes sociais, vendo postagens com fotos que as pessoas tiram deles e quais são as reações positivas/negativas ao ver essa manifestação. POR QUE NOSSOS LAMBES NÃO DURAM NAS RUAS? Nossos lambes são arrancados, vandalizados, riscados… Isso fala sobre muitas pessoas ainda serem lesbofóbicas e terem ódio ao saber que duas mulheres podem - e merecem - se amar em público, infelizmente. Porém, em nenhum momento um lambe riscado é arrancado para que outro seja colado em cima, pelo contrário: é importante deixar ali para que o preconceito também fique escancarado perante uma manifestação de afeto les-bi. Não deixaremos de colar nossos cartazes e adesivos. O Documentadas é uma forma de combate ao preconceito, enquanto houver cartaz, cola, pincel e adesivo, estaremos colocando nossa arte na rua e ouvindo o que a rua tem a nos dizer. QUER COLABORAR COM O DOC PARA QUE ELE TENHA MAIS LAMBES POR AÍ OU NOS CHAMAR PARA UMA EXPOSIÇÃO EM ALGUM LOCAL? ENTRA EM CONTATO PELO SITE OU NO E-MAIL: FERNANDA@DOCUMENTADAS.COM

  • Cintia e Carmen | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. ↓ rolar para baixo ↓ Cintia Carmen

bottom of page