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Agnes estava com 33 anos no momento da documentação, é natural de São Gabriel, cidade interiorana do Rio Grande do Sul. Saiu de lá aos 17 anos e se mudou para Santa Maria por conta dos estudos, mas parte da família segue na sua cidade natal até hoje. Em Santa Maria se formou em nutrição, morou em Porto Alegre por um tempo, mas voltou à Santa Maria porque passou num concurso administrativo. Hoje em dia, mora novamente em Porto Alegre dividindo o lar com a Clarissa.


 

Clarissa estava com 30 anos no momento da documentação. É natural de Porto Alegre e conta que sempre foi criada dentro da igreja. Se assumiu aos 18 anos, sendo uma mulher desfeminilizada e passou por muitos processos para entender quem era e se sentir bem com a forma que se vestia e com quem se relacionava.  Foi muito difícil enfrentar os preconceitos vindos de fora e de dentro de casa, ouvir a palavra da “cura gay”, lutar pela aceitação… mas fica muito feliz quando observa o quanto as coisas já caminharam e o quanto sua família hoje em dia é apaixonada pela Agnes - brinca que gostam mais da Agnes do que dela e que adotaram ela como filha. Começa falando sobre isso porque é uma das partes que mais admira na sua história e na história delas enquanto um casal, e ressalta o quanto faz parte do relacionamento tranquilo que possuem esse valor que dão aos seus corpos e às pessoas que amam. 

Agnes, quando conheceu Clarissa, era uma pessoa que não se permitia viver muito o presente. Ficava sempre presa ao passado ou ao futuro. Se preocupava com o que precisava fazer, com o que tinha que planejar. Clarissa a fez entender que a vida é o momento, na maioria das vezes, nas coisas mais simples - foi durante a relação que ela começou a bordar, que voltou a ler, que passou a amar os passeios na pracinha final de tarde e compartilhar tantas receitas novas juntas. Clarissa completa que elas viraram duas senhorinhas e que adoram isso. 

 

Clarissa também adora chegar em casa, ouvir música e apreciar o descanso sem a cobrança do dia-a-dia. Explica que quando uma está muito cansada, a outra faz o almoço ou a janta… ou dividem as tarefas para não ficar pesado para as duas. Entendem que isso é se fortalecer. E que aos poucos vão descobrindo novas coisas que gostam de fazer. Sentem que viviam num limbo, estavam sempre tentando agradar os outros, pouco faziam para si mesmas ou para buscar suas felicidades e que depois de começarem a relação descobriram o que realmente gostam e que as faz feliz na simplicidade do dia.

Clarissa e Agnes se conheceram no final de 2021, ambas estavam num processo de autoconhecimento, depois de relacionamentos longos. Se conheceram num aplicativo de relacionamentos. Agnes nunca havia entrado em aplicativos e não achava que isso combinava muito com ela, mas resolveu testar coisas novas, queria alguma amizade ou companhia para sair, conversar. Clarissa também não era dos aplicativos, nunca havia tomado iniciativa com ninguém por lá e Agnes foi uma exceção que deu certo. 


 

Se encontraram para tomar um açaí - o açaí em si estava ruim, mas o encontro foi ótimo! E desde então ficaram juntas. Entendem que não estavam procurando um relacionamento, foram se conhecendo e visualizando seu processo de cura, sentiam medo e até demoraram para admitir o quanto estavam apaixonadas, mas o processo fluiu e encararam o medo até estarem dispostas à relação. 


 

Logo no início do namoro, Agnes voltou a morar em Santa Maria por conta do trabalho. Foi difícil porque era algo novo, sentiram bastante saudade e isso demandava uma viagem toda semana para se encontrarem. Mas foi nesse movimento que se fortaleceram enquanto casal e entenderam que realmente queriam estar juntas. Vivenciaram momentos que foram decisivos para se conhecerem em versões que ainda não tinham tido oportunidade de ver… E sempre quando pensam na temporalidade das coisas ou “como poderiam ter se conhecido antes”, “tal coisa poderia ter acontecido antes”, refletem que foi no momento certo, precisavam passar pelas vivências para que o amadurecimento acontecesse. Ao total, Agnes morou um ano e oito meses em Santa Maria. 

Quando Agnes voltou de Santa Maria, ela e Clarissa moraram no mesmo terreno que a família da Clarissa durante quase um ano, até que alugaram o apartamento que moram hoje em dia. Constroem o lar com muito carinho, nas decorações feitas com artesanato aproveitando os momentos juntas, na forma que se alinham para seguirem uma relação de respeito num espaço confortável e seguro… Além disso, fizeram questão de buscar a independência num lar que seja só delas porque entendem a importância de serem consideradas uma unidade familiar, mulheres adultas que trabalham, se amam e constroem um futuro com consciência, não duas amigas ou duas meninas que vivem “uma fase”.


 

Quando nos encontramos para a documentação acontecer, Agnes havia apresentado Clarissa para seus familiares há poucos dias e ainda estava entendendo a situação. Conta que sonham em casar, projetam o futuro juntas e é muito importante que as pessoas que amam e que desejam o bem possam compartilhar a vida com elas de forma natural e feliz por desejo próprio, sem obrigação ou questão social. Querem por perto pessoas que realmente apoiem, celebrem o amor. 


 

O que Clarissa e Agnes querem refletir para os outros na relação, é o que mais aprendem juntas vivendo esse amor: o companheirismo. Foi compartilhando o olhar/a forma que se enxergavam que impulsionam o crescimento uma da outra, até mesmo o autoconhecimento, e cresceram de forma que antes nem imaginavam. Hoje se enxergam muito mais felizes, com propósito e se permitindo ser vulnerável, porque sabem com quem contar. Querem que as pessoas que amam também saibam que podem contar com esse apoio e esse amor, porque elas viram que o amor que criaram dentro da relação já expandiu para a forma que são individualmente em vida, virou algo muito maior que uma relação romântica. 

 Clarissa 
 Agnis 
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