Tereza estava com 57 anos no momento da documentação, é natural de Aracaju, Sergipe e trabalha enquanto psicóloga, atuando no SUS pela rede de referência à saúde mental e na parte clínica. Enxerga a profissão como uma constante transformação, moldada por sua vida e suas linguagens corporais. Para além do trabalho, ama estar na praia, ler e tem retomado bastante alguns exercícios ao ar livre, como a calistenia (exercício que direciona o peso do próprio corpo).
Bruna estava com 38 anos no momento da documentação e também é natural de Aracaju. Trabalhou por 15 anos como jornalista antes de migrar para a sua área atual, onde é bodypiercing. Começou pela vontade de tatuar, mas nas perfurações se encontrou. Hoje, na sala/estúdio que atende próximo de casa, vive uma rotina mais tranquila, celebrando essa mudança como um marco em sua saúde mental. No tempo livre, ama ficar com os bichos, ir à praia e sair para comer.
A casa que residem hoje em dia - e que fizemos as fotos - é uma casa anexa à casa onde Tereza nasceu e cresceu. Construíram esse anexo para que ficassem próximas da mãe dela, que tinha 92 anos quando Bruna e Tereza se conheceram. Agora, estão em processo de construir um novo lar, num terreno que adquiriram e num estilo de casa simples e praiano, mais distante da região central, do outro lado do Rio Sergipe, em Aracaju.
Foi no ano de 2010 que Bruna e Tereza se conheceram. Na época, Bruna tinha 25 anos e nunca havia se relacionado com mulheres, enquanto Tereza vivia um relacionamento de cinco anos. Apesar de interagirem pouco, notaram uma à outra, ou, como melhor diz Tereza: “Se registraram”. Bruna conhecia Tereza por ela ser professora de uma amiga, mas a vida de Bruna era bem diferente do que é hoje em dia: era marcada por padrões, formas conservadoras, participava de grupos religiosos e mantinha um estilo de vida tradicional.
Com o tempo, Bruna foi mudando. Deixou a comunidade religiosa, passou a se relacionar com mulheres e, ocasionalmente, via Tereza em espaços em comum. Esses encontros a deixavam nervosa, sem saber exatamente o porquê. Em 2018, estava passando pelo término de uma relação, indo morar sozinha, quando passou pela frente da clínica que Tereza trabalhava e viu o imóvel para alugar. Mandou uma mensagem perguntando se estava tudo bem, e esse contato inicial fez com que trocassem algumas mensagens online.
As conversas fluíram de forma natural, com músicas compartilhadas e assuntos diversos. Porém, nenhuma das duas admitia que algum sentimento começava a crescer. Bruna, buscava respostas com as amigas sobre o que as músicas enviadas poderiam significar e insistia que Tereza jamais teria interesse por ela, principalmente pela diferença de idades e suas vidas distintas. Até brincou que precisava passar um ano sozinha se curando e que não tinha vontade de se envolver com ninguém: "a única pessoa que mudaria isso seria Tereza, mas isso é impossível". Do outro lado, Tereza, já há três anos solteira após um longo relacionamento, estava aberta a novas experiências, mas também achava impossível que algo fosse acontecer entre ela e a Bruna, por conta das idades diferentes.
O "impossível", contudo, já estava acontecendo.
As músicas trocadas marcaram o início da relação de Bruna e Tereza. Era a forma sutil que encontraram de comunicarem o afeto que crescia ali. Bruna brinca que pareciam adolescentes, até que, finalmente, decidiram se encontrar para um jantar. Depois desse encontro, não se separaram mais.
A intensidade das duas foi o que deu ritmo a tudo: logo vieram os processos de apresentação às famílias, e em novembro de 2019 decidiram se mudar para a casa onde vivem atualmente. A decisão foi motivada pela necessidade de Tereza estar próxima de sua mãe, que já tinha 92 anos.
Contam como foi desafiador esse momento inicial. Querendo ou não, Tereza havia saído de um relacionamento de 11 anos, passou um tempo sozinha, e começou a viver um novo relacionamento que se dispôs a morar com ela e cuidar da sua mãe. Era outra dinâmica: conviver em família, dividir a casa. Porém, aos poucos, entenderam que precisavam de um espaço só para elas também… e foi nesse momento que construíram o anexo à casa - lugar que vivem até hoje.
Com o tempo, adotaram duas cachorras (que se somaram aos dois gatos) e adquiriram o terreno onde atualmente constroem o lar que planejam compartilhar no futuro.
O amor está na simplicidade em que Bruna e Tereza constroem o dia a dia juntas. A relação é leve e tranquila. Não se veem em outro lugar, querem seguir lado a lado, casadas, com amigos e famílias misturadas, elas se consideram grandes amigas e acreditam no respeito mútuo como base para manter o equilíbrio em casa. Para Bruna, a relação é um exemplo de amor para as crianças próximas, os colegas de trabalho e os amigos que se inspiram na forma como se cuidam.
Bruna também se emociona ao falar sobre a felicidade de estar com alguém que tanto admira. Para ela, viver esse amor com Tereza é um sonho realizado. Ela se sente grata pela relação saudável que têm, pela paixão que compartilham e pela família que já construíram - com seus gatos e cachorras - e pela que ainda vão construir - num possível futuro com filhos.
Tereza, por sua vez, fala com carinho sobre a naturalidade da relação. Conta que elas só se chamam de "amor", em qualquer lugar, seja na rua, em lojas ou em casa. É absolutamente espontâneo. Mas às vezes, percebe que para quem ouve isso soa inusitado, a pessoa fica: “Ei, essa ‘amor’ chamou aquela ali de ‘amor’”. Sempre que se despedem, também se beijam, nem que seja para ver algo em uma loja do shopping… e então percebem que talvez possam ter chocado alguém. Para ela, é uma alegria sentir essa liberdade podendo ser quem ela é. Afinal, é a primeira vez que vive esse nível de autenticidade numa relação, onde pode ser verdadeiramente ela para fora dos espaços seguros (em casa, entre os amigos…). Para ela, é como se seu corpo finalmente estivesse falando, mostrando o amor que sente.
[isso que tereza diz é muito bom pra video 30 min]
























