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Rhanna viu Lais pela primeira vez numa prova de concurso em Salvador, em 2017. Na época, tinha um relacionamento aberto com a companheira, que morava no Rio, e achou as duas muito parecidas… Um tempo depois, foi visitar a companheira e viu Lais novamente, numa coincidência estranha, num bar na Lapa. Ela nem imaginava, mas Lais morava no Rio também.

 

Lais foi morar em Feira de Santana em 2018, por ter conseguido um trabalho novo. Durante o período de São João conheceu a festa O Bando Anunciador, um cortejo que acontece na cidade - e que era tema da pesquisa de Rhanna, nascida (e criada) em Feira. Nos dias que antecederam a festa, participaram de um evento juntas: uma mesa de debates. Quando Rhanna chegou e viu Lais, contou que a conhecia, já tinha visto ela nessas duas situações aleatórias em lugares tão diferentes. Lais achou bastante estranho, engraçado ao mesmo tempo, mas se deram bem e foram dividir a mesa de convidadas. 

 

Quando se encontraram novamente, na festa do Bando Anunciador, Lais foi roubada. Ficou indignada porque foi roubada por um menino, um “moleque”, que quis sair correndo na rua atrás dele, mas não o encontrou. Viu Rhanna, mas mal a cumprimentou. Quando chegou em casa se sentiu até mal, sabia que ela estava empolgada com a festa, era um dia que queria ter vivido. Foi pesquisar por ela nas redes sociais, pedir desculpas… mas não achava de jeito nenhum, principalmente pela dificuldade de escrever o nome: H, dois Ns… só conseguiu quando achou uma divulgação do evento que participaram juntas. Mandou uma mensagem se desculpando por estar emburrada daquela forma, contou o ocorrido e assim começaram a conversar. 


Desde antes da relação virar uma relação, amizade, ou qualquer outra coisa, o que deu certo e fez acontecer foi o fato delas sempre toparem as coisas. Tanto Rhanna, quanto Lais, são pessoas que falam: “Bora? Bora!”. A primeira vez que saíram foi para um show que geralmente as pessoas não iriam, mas a festa tinha a ver ainda com o cortejo do Bando Anunciador. Se divertiram por lá e começaram uma amizade. Lais sabia da relação de Rhanna e sempre pensava que não queria se meter, achava que poderia resultar em alguma confusão, por mais que sim, se sentisse um pouco envolvida por Rhanna. 

 

Demorou alguns meses para que começassem a se envolver de fato, houve o processo da paixão, de encerrar o outro relacionamento, de se permitirem viver a paixão e de transformar isso em namoro… Sentem que o tempo foi colaborando no processo, o fato de morarem próximas e estarem sempre juntas também foi grande aliado.

 

Durante a pandemia de Covid-19 estiveram juntas em Feira de Santana, se mantiveram isoladas em uma casa com quintal, com um gatinho, cozinhando, com muito tempo para se conhecer… sentem um pouco de falta agora que a dinâmica do trabalho intenso toma conta. 


Em 2020, ainda durante a pandemia, fizeram parte de uma campanha política - que começou de forma online e passou por uma parte nas ruas. Ficaram boa parte do ano em campanha dentro de casa. Depois, quando foi necessário ir às ruas, alugaram uma kitnet em Salvador e chegaram para trabalhar presencialmente. 

 

A candidata para quem elas fizeram campanha foi eleita e no ano seguinte, em 2021, foram convidadas para fazer parte do novo mandato que se construiria na cidade. O apartamento que haviam alugado era temporário, apenas para a campanha, depois voltaram para Feira de Santana, mas como aceitaram a proposta de trabalho voltaram para Salvador no início do ano. Ficaram de 2021 até 2022, quando se mudaram oficialmente para o Rio de Janeiro, nessa nova proposta de trabalho diretamente com cultura e comunicação. 

 

Quando nos encontramos, no fim de 2024, estavam na preparação para a festa de casamento que aconteceria no começo de 2025 em Salvador. Lais sempre quis casar, brinca que tem essa vontade de fazer as coisas como uma família tradicional brasileira, mas a verdade é que quer ter tudo o que tem direito e o casamento é uma dessas coisas, casar é importante porque faz parte de um processo político, um reconhecimento de que essa relação existe.

Lais enxerga o amor que vivem como algo revolucionário, ainda mais no momento em que estavam se preparando para o casamento. É muito importante falar sobre o amor com todas as letras. Explica que sempre falamos sobre o nosso amor “pela metade”, sempre falamos pouco, com medo de julgamento, com cuidado sob quem vai ouvir… e agora é o momento que estão falando abertamente e naturalmente sobre uma relação tão bonita que vivem. O casamento é o momento das famílias, dos amigos, de unir tantos mundos diferentes. Refletiu bastante ao convidar a família toda para a cerimônia. E viu que o dia se tornou uma afirmação, um dia que puderam reafirmar e sentirem celebradas, apoiadas por esse amor.

 

Falamos sobre como o amor entre mulheres pode ser capaz de inverter uma lógica masculina, não precisamos nos guiar por ela - por mais que somos criadas num mundo patriarcal e que desde pequenas somos guiadas por questões masculinas - em relacionamentos com mulheres podemos nos reinventar e fazer diversas coisas como nos sentirmos melhor. Lais e Rhanna, por exemplo, possuem uma comunicação muito aberta sobre suas vivências, seja cotidiana em casa, seja suas relações no trabalho por trabalharem juntas… E tudo isso existe por não se cobrarem nos moldes de um sistema que nos coloca numa posição inferior. Já criaram seus próprios mecanismos internos na relação que para estarem sempre se impulsionando, admirando e principalmente se apaixonando uma pela outra pelas coisas que se “completam”, pelos seus detalhes.

 

Finalizamos a conversa contando a história de Raj, que veio somar na família, cachorrinho que encontraram na estrada, levaram para a casa e tentaram buscar adoção, mas conquistou o coração. Ou seja: ele quem adotou elas. 

Lais estava com 33 anos no momento da documentação. É produtora cultural, trabalha com políticas públicas para a cultura na FUNARTE. É natural de Salvador, mas mora no Rio de Janeiro e fez sua mudança por conta do trabalho. Já havia morado no Rio em 2015, ficou até 2017 e se mudou para Feira de Santana, onde trabalhou no SESC. Adora teatro, fez teatro por alguns anos e acredita que escolheu sua profissão por conta disso. 


 

Rhanna estava com 33 anos no momento da documentação. É natural de Feira de Santana, interior da Bahia. Formou-se em direito, fez mestrado em Antropologia e começou a pesquisar sobre festas. Hoje em dia trabalha com cultura e comunicação na FUNARTE e gosta de transitar entre as festas populares, culturas, histórias… Já trabalhou com fotografia, arte de rua… Como ela e Lais se mudaram ao Rio para trabalhar, a rotina vive em torno do trabalho e da vida profissional, no tempo livre desejam descansar e planejar o momento de estar com suas famílias na Bahia. 


 

Nesse tempo de relação, foram 5 anos e 5 casas, contam que a vida é assim mesmo, corrida. Desde 2016, Lais conta que participou da ocupação do Ministério da Cultura no Rio, foi construindo sua vida e seus caminhos de lá pra cá, e hoje comemoram o fato de estarem completando quase dois anos num só lugar. 

 Rhanna 
 Lais 
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