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Fernanda e Talita se conheceram no início de 2014, apresentadas por um amigo em comum - o melhor amigo de ambas. O interesse surgiu aos poucos, mas nenhuma das duas falou nada no começo, achando que poderia ser coisa da própria cabeça. Fernanda já tinha experiência em se relacionar com mulheres, então Tatá achou que, se houvesse algo ali, ela tomaria a iniciativa. Mas foi o contrário: depois de meses nessa dúvida silenciosa, Tatá percebeu que precisava agir. No verão de 2015, finalmente ficaram juntas.

 

Na época, Talita morava em São Paulo, onde fazia residência médica. Fernanda, por outro lado, sonhava em se mudar para lá, mas a vida deu uma reviravolta. Tatá decidiu voltar para Maceió, e Fernanda acabou ficando também. Foi uma escolha que transformou tudo, e de lá para cá, já se passaram quase dez anos de companheirismo, desafios e conquistas.

 

O início do relacionamento foi um processo para Talita. Demorou um tempo para aceitar que estava apaixonada por uma mulher, e até mesmo quando voltou para Maceió não foram de cara morar juntas. Passaram alguns meses morando em lugares diferentes, até que, em 2017, compartilharam o lar. Quando finalmente assumiu esse sentimento, não teve mais dúvidas e encarou tudo sem olhar para trás, de cabeça erguida, principalmente pelos preconceitos familiares. Entendem, também, que morar juntas trouxe a oportunidade de se conhecerem de verdade, lidando com as diferenças e descobrindo o quanto se parecem em visão de mundo, mesmo tendo personalidades diferentes. Fê lembra de uma conversa que aconteceu com Tatá logo no início sobre o machismo e como aí ela percebeu que, ao se relacionar com uma mulher, os desafios e as trocas eram diferentes. Até compôs uma música na época, falando sobre compartilhar tanto as alegrias quanto os momentos difíceis -  e o relacionamento trouxe essa conexão profunda, onde não apenas se amam, mas também se apoiam em questões que só elas entendem.



 

Tatá nunca havia morado com alguém antes, enquanto Fernanda já tinha experiência em dividir um lar com outras companheiras. No início, Fernanda fez questão de deixar espaço para que Tatá se adaptasse sem pressão, mas riem lembrando como eram diferentes as vivências. Ela admira o jeito da Tatá que está sempre disposta a crescer e se transformar, sem medo da mudança. “Tem coisas que a gente não consegue mudar, mas a maioria dá para ajustar”, diz Fernanda, reconhecendo que essa abertura para evoluir é um dos traços mais bonitos de Tatá.


 

Fernanda entende que não é fácil mudar: as pessoas são mais resistentes à mudança, mas que Tatá muda porque entende que a mudança a torna uma pessoa melhor (e que sempre está disposta a ser melhor). É um desprendimento muito interessante. E uma das coisas que mais admira nela. 



 

Cartola, o cachorro, é parte essencial da família que construíram juntas. Fazem questão de levá-lo para todos os lugares possíveis, sempre respeitando seu bem-estar, reforçando esse vínculo. Ele as acompanha em shows, restaurantes, encontros com amigos e passeios.

 

Para elas, amor está na lealdade e na confiança, no equilíbrio entre o vínculo profundo e a liberdade individual. Não precisam estar juntas o tempo todo, fazer tudo lado a lado, porque o amor não é sobre posse, mas sobre autonomia. “A gente ama quem a pessoa é e dá autonomia para que ela continue sendo, e isso faz com que o amor permaneça.” Essa segurança mútua torna a relação duradoura, sem a necessidade de provar constantemente algo que já está solidificado.

 

Sentem orgulho em inspirar outros casais e reconhecem a amorosidade particular dos relacionamentos entre mulheres. Criadas por mulheres fortes, aprenderam a escutar e acolher. Suas histórias ajudaram a transformar as famílias, quebrando barreiras de preconceito e culpa cristã. Hoje, são admiradas pelos que antes hesitavam em aceitar. Demonstraram que o amor não precisa se restringir a guetos, que podem ocupar qualquer espaço, vivendo uma relação bela e legítima, sem constrangimento ou necessidade de esconder quem são.


Fernanda estava com 43 anos no momento da documentação. É natural de Maceió, sempre foi cantora, desde a adolescência, e a música virou sua profissão e sua vida. Mas em determinado momento, sem perceber, passou a ouvir música apenas como estudo ou trabalho, perdendo o prazer diário da escuta que antes sentia. Foi Thalita quem a fez reaprender a ouvir música com emoção, a cantar alto, a abrir os braços para sentir o som. Um resgate que trouxe de volta muitas sensações sobre a música enquanto arte, não apenas trabalho na sua vida. Além disso, ama praia - seria muito difícil mora longe a água - e ama passar o tempo com Cartola, seu cachorro.

 

Talita estava com 40 anos no momento da documentação. É médica cardiologista pediátrica, equilibra sua rotina intensa na medicina com os momentos que compartilha com Fernanda. A música é o que as une: cantam juntas, fazem carnaval, organizam blocos. Se estressam no processo, mas no fim do dia dormem juntas, acordam e encontram no amor um alívio para os desafios. 

 

Vivem Maceió, entre consultas e palcos, o amor e a arte se entrelaçam. Fundaram um bloco de carnaval na cidade muito importante para a narrativa da diversidade, fazem questão da população LGBT+ ser ouvida e acreditam que isso reverbera para diversos corpos e para a história da cidade ser cada vez mais reconhecida. 

 Talita 
 Fernanda 
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