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Sandra é natural da Espanha, de uma cidade chamada Algeciras, localizada no sul do país. Se mudou para o México depois de morar em alguns lugares e foi lá que conheceu Larissa, começaram o relacionamento e fizeram seu primeiro lar. Hoje em dia, decidiram passar uma temporada no Brasil por conta de Lari ser brasileira, sua família morar no Rio Grande do Sul e, como formam uma família junto ao Otto, filho de Lari que Sandra adotou desde pequeno, entenderam também que seria bom para a educação dele estudar em uma escola brasileira por um tempo.

 

Sandra estava com 32 anos no momento da documentação. É professora de espanhol, dá aulas online para estrangeiros e possui um foco em ter alunas mulheres, pessoas queers e não-binárias. Larissa, com 40 anos, trabalha com comunicação corporativa, de forma remota, e adora essa liberdade de poder viajar e não precisar estar em um lugar fixo por conta do trabalho. 

 

Lari sempre foi apaixonada pela América Latina e se dedicou à viajar por um bom tempo, pegando caronas, conseguindo trabalhos… Não tinha pretensão de ficar no México durante muito tempo, acabou ficando onze anos por conta das mudanças que aconteceram na sua vida. Engravidou, seu relacionamento de 15 anos chegou ao fim depois de se entender enquanto uma mulher que ama outra mulher, mudou as formas de ver o seu corpo e se enxergar na sociedade. Foi quando começou a conhecer novas pessoas e frequentar novos espaços no México - e, assim, conheceu Sandra.


  

Logo que Sandra se mudou para o México, no fim de 2018, fez algumas amizades na cidade em que estava morando - Mérida - e foi num festival (que contava inclusive com algumas atrações brasileiras). Lá, lembra de ter conhecido Larissa, mas não chegaram a interagir muito. Um tempo depois, as duas entraram em um projeto de ativismo muito forte, por conta da onda de feminismo que estava acontecendo no México. Aconteciam muitos atos políticos, atividades e debates, então decidiram formar um grupo para pintar fachadas de casas e lugares com frases feministas. 

 

Começaram a ter amigas em comum e se encontrar com frequência, até que em 2019, no dia da Marcha do Orgulho, elas se envolveram pela primeira vez. Se reuniram com as amigas depois da Marcha e, mesmo Lari dizendo que não percebia que Sandra tinha interesse por ela, viu Sandra dançando uma dança espanhola e achou muito bonita, sentiu algo diferente. Depois, na festa, as pessoas estavam se beijando e ela não sentia que queria participar, mas queria beijar Sandra, foi quando ficaram juntas. Na hora nem imaginavam, mas ali começaria uma longa relação. 

 

Lari explica que hoje em dia entende o “clichê sapatônico”, mas na época nunca havia vivido algo assim e foi muito simbólico, principalmente pelo fato de ela ter um filho e isso soar como delicado para muitas mulheres. Para ela era muito importante entender a maternidade, o quanto isso faz parte de quem ela é, sendo protagonista da sua própria vida. E ver que Sandra abraçou quem era por completo e continuaram se encontrando com intensidade foi muito importante.
 

No começo, Sandra não pensava em ficar no México por tanto tempo. Queria viver lá apenas um ano. Enquanto elas foram passando mais tempo juntas e se apaixonando, de alguma forma, isso foi virando um conflito, porque não levavam a relação tão a sério visto que havia um certo “prazo de validade”. Sandra, por mais que acolhia Lari em totalidade (ela sendo uma mulher, mãe, com um filho ainda pequeno), não entendia que estava entrando de fato em uma família. Demorou um bom tempo para que conversassem e pontuassem: ‘não podemos alimentar e gerar essa insegurança no que vai acontecer, desgasta, desperdiça energia. Ficaremos juntas ou não?’.

 

Sandra teve o tempo que foi preciso para decidir se ficaria no México ou não, nesses meses que se passaram alugou uma casa. Lari também já tinha sua casa - que era uma casa mais antiga, meio colonial. Até que em setembro, no meio da pandemia de Covid-19, tiveram fortes chuvas e a casa estava velha, não havia preparo para aguentar aquele tempo e tanto volume de água, tudo alagou. Foram para o apartamento de Sandra e, por conta desse acidente, começaram a morar juntas, pelo menos até arranjarem um novo lar. 

 

Quando encontraram uma nova casa, num processo devidamente rápido, viram que ela era espaçosa o bastante para que Sandra morasse junto - com a condição de que cada uma tivesse um quarto. Com o passar dos anos, Otto cresceu e mudaram as ordens: Sandra e Lari ficaram juntas num quarto, Otto ganhou o próprio quarto só para ele. Entenderam que já estavam prontas para dividir o mesmo espaço.



 

As vindas para o Brasil aconteciam de vez em quando para visitar a família da Lari. Sempre tentavam ficar alguns meses para Otto ter bastante contato com a cultura, conhecer pessoas novas e para Sandra também conhecer novos lugares - principalmente porque antes de namorar Lari ela nunca havia vindo para cá.  

 

Acontece que Otto passou por alguns problemas na escola, ele é bastante tímido e tem um jeito muito seu, que obviamente elas apoiam e incentivam que ele seja quem ele quiser ser, mas durante a pandemia era difícil ele ser alfabetizado através das telas. Ele não queria ligar a câmera, não era uma metodologia de fato acolhedora para as crianças e ele se sentia desconfortável. Acharam melhor tirar ele da escola por um tempo, fazer a alfabetização em casa e, quando ele voltou, também foi difícil a readaptação por conta de diversos preconceitos nas escolas mexicanas. 

 

Desde a primeira vez que visitaram o Brasil juntas, percebem o quanto ele se sente feliz aqui e muito adaptado com a liberdade que a cultura brasileira oferece. Foi crescendo a ideia de que ele poderia ser feliz estudando em uma escola brasileira, por isso, decidiram morar um tempo no Brasil e entender como seria a adaptação. Inicialmente a ideia era passar um ano, agora estenderam e será um ano e meio, visto que está dando certo: todos estão felizes. E, por mais que ainda existam julgamentos sobre o modelo de família que são, ele está cercado de pessoas que o apoiam, e isso que importa.


Sandra conta que tem adorado o Brasil, fica muito feliz em conhecer cada vez mais um pouquinho da diversidade brasileira e que a própria rotina em casa tem sido muito mais leve com a mãe da Lari morando próximo e ajudando na educação do Otto. No entanto, ainda sente muita falta de terem amigas por aqui, sejam compartilhando a maternidade, a lesbianidade ou companhias para sambas e eventos pela cidade. 

 

Quando conversamos sobre o amor que constroem e também sobre as referências de amizade - suas amigas que ficaram no México - Lari conta que por ter vivido muitos anos uma relação heterossexual que estava num molde (que era feliz, tinha seus momentos ótimos, mas ainda sim estava num lugar confortável), então passou a descobrir muitas coisas quando amou outra mulher pela primeira vez. Foi num lugar de carinho imenso que a relação com Sandra aconteceu, e também de autoconhecimento. Nunca pensaram que se casariam, por exemplo, mas fizeram questão ao entender o significado disso, por questões políticas, sociais, burocráticas… pelo nosso merecimento ao amor. Brincam que existe um oceano que as separa e foi uma forma de irem deixando essas águas mais curtas. 

 

Hoje em dia, entendem que vem de realidades e culturas muito diferentes, mas instigam o melhor uma da outra. Sandra, por exemplo, sempre colabora para que Lari descubra um novo hobbie, possa sair um pouco da ideia de que só é mãe… Acreditam que o amor mora nesse lugar de incentivo, de parceria, família e crescimento.

 Larissa 
 Sandra 
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