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Marcia e Kamylla se conheceram na faculdade, ambas cursando Engenharia na UFRJ, quando um amigo em comum perguntou para a Márcia se ela se interessava pela Kamylla (e por qual motivo elas nunca teriam ficado) e ela contou que não sabia quem era/que também nunca tinha pensado na possibilidade, foi aí, então, que se adicionaram nas redes sociais. 

 

Na época, final de 2019, Kamylla começou a se envolver com uma mulher e logo namoraram brevemente - o que descartou qualquer possibilidade para Márcia - mas elas seguiram ali, uma na rede social da outra.  

 

Foi um tempo depois, já na pandemia de Covid-19, que a Kamylla fez um post de madrugada no Facebook, dizendo se sentir uma idiota por conta de um desastre na cozinha e Márcia respondeu, obrigando-a pedir desculpa para si própria, porque ela não era uma idiota, não deveria se tratar assim. Nessa madrugada, elas começaram a conversar. 

Com a abertura da primeira conversa, surgiram outras: falavam principalmente sobre dúvidas que tinham em relação à faculdade. Márcia sentia que não queria falar apenas sobre a faculdade e sim demonstrar algum interesse além, foi quando pediu o Whatsapp da Kamylla, mas ela numa brincadeira/num flerte equivocado, disse que não iria passar. Continuaram conversando pelo Instagram e pelo Facebook, até que descobriram que moravam próximas e tinham coisas em comum. 

 

Como estavam num período de aulas interrompidas pelo início da pandemia, elas conversavam o tempo todo. Era uma conversa que durava o dia todo, tanto que, quando iam dormir, sonhavam que ainda estavam conversando. 

 

Por morarem próximas, depois de um tempo entre conversa e aproximação, decidiram se encontrar ao ar livre, indo até o local caminhando e usando máscaras. Tinham muito medo, pois seus familiares pertenciam aos grupos de risco, então tomaram muitos cuidados e se encontraram em praças do bairro. Aos poucos, com os encontros, foram se apaixonando e se permitindo uma aproximação mais física, mesmo que envergonhadas e tímidas, até que finalmente se envolveram. 

Desde que o namoro começou, já vivenciaram diversos momentos difíceis. Para a Kamylla, foi a partir dessas dificuldades que ela aprendeu a entender o que era o amor - e amar de verdade. Não diz isso com romantizações, pelo contrário, é de uma forma bem direta e real. Tudo o que elas já enfrentaram juntas, entre problemas de saúde física, saúde mental como depressão, ansiedade, vida financeira, ou outros extremos como felicidades e bons detalhes cotidianos - mas principalmente, as dificuldades - a faz entender que não é qualquer pessoa que conseguiria aguentar isso com ela. O sentimento que faz a coisa acontecer, elas continuarem ali e a vida seguir é o amor. E hoje em dia, ela não consegue se imaginar fazendo qualquer coisa sem a Márcia porque as coisas são mais divertidas com ela, uma segue ensinando a outra aos poucos o propósito do que é a vida. 

 

No lugar onde estávamos, o Forte de Copacabana, foi onde elas comemoraram o primeiro ano de namoro. Lá, Márcia deu um colar de concha para a Kamylla, essa concha representa um dia que foram até a praia e a encontraram na areia. O colar foi feito pela própria Márcia e, desde então, a Kamylla por trabalhar na Marinha e ter contato com a Baía de Guanabara encontra algumas conchas e traz para a Márcia de presente. É um símbolo que sempre as une.

A relação que tanto a Kamylla, quanto a Márcia possuem com suas famílias é muito forte, e esse laço também se faz presente no quanto a família de ambas apoiam o relacionamento delas. 

 

Kamylla acredita que por serem pessoas humildes, sempre farão de tudo para ajudar uma à outra. Para ela, amar é também sempre estar disposta a ajudar, é a forma que ela pode demonstrar esse amor presente: se apresentar com disposição quando existir alguma dificuldade. Assim, ela já ajudou diversas formas não só a Márcia, como a família dela, e teve a ajuda da Márcia e de sua família como retorno - é uma grande parceria. 

 

Elas entendem que estarem juntas é o mais importante e, para a Márcia, não há como aceitar pouco no amor. “Quando amamos, amamos de verdade”. Ela explica que amar o próximo também fala muito sobre amor próprio, porque não podemos aceitar menos do que merecemos, e amar a si próprio faz com que você ame o outro melhor - até para evitar traços tóxicos, abusivos, ter mais carinho e melhor comunicação. 

Márcia gostaria de viver em um lugar com menos violência contra mulher. Está cansada de ver tantas situações diárias em que somos violentadas. Cita o caso recente do anestesista que violentou uma mulher grávida durante o parto, os casos de violência contra mulher que acontecem diariamente nas ruas ou dentro de casa, o racismo que não é levado a sério, os homens que não pagam pensão e não são punidos por isso… tudo é passado batido e não é cobrado como deveria ser, tratado com respeito e seriedade. Nos cansa lutar diariamente, mas é o que ela gostaria de ver mudando para que pudéssemos viver em um país mais justo.

 

Já a Kamylla, fala um pouco sobre a sua rotina no trabalho, entre o que ela vivencia na Marinha. Lá, ela não é militar, mas também não vive em espaços de subordinação. Entende que isso é o correto: todos são tratados iguais e, mesmo que ela seja a única mulher e a única lésbica dentre todos os homens do seu setor, segue sendo tratada bem e é assim que precisa ser. Porém, também não há representatividade. Sente muita falta de ver mulheres em posição de liderança, de protagonismo, de voz. Cita Jaqueline Góes, biomédica que ela leva como referência, e o quanto é importante ver trabalhos de mulheres atingindo espaços que antes eram predominantemente masculinos. 

 Márcia 
 Kamylla  
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