Mariana e Viviane são de Salvador, mas se conheceram em viagens à trabalho para a Chapada Diamantina. Num encontro bastante aleatório, Vivi estava sozinha em um bar bebendo uma cerveja no fim do dia, enquanto Mari passeava com o pai e acabou no mesmo lugar.
Lá, em meio à música ao vivo, todos que estavam presentes interagiram, inclusive elas. Passaram horas conversando, além das trocas de olhares, beberam cerveja e riram de bobeiras. Decidiram trocar telefones e, quando a Mari chegou em casa, mandou uma mensagem pensando “Que mina massa! Vou agradecer pela nossa conversa que foi realmente muito boa!”.
Depois de conversarem por mensagens, nos dias que se passaram a Vivi chamou Mari para ir na pousada em que ela estava beber uma cerveja. Mari avisou que tinha algumas garrafas em casa, então colocou na sacola e foi até a pousada. Naquela época, ambas tinham acabado de sair de casamentos héterossexuais, então em meio ao processo que viviam foram ficando cada vez mais próximas. Desde então, não se desgrudaram mais.
Mariana, natural de Salvador, estava com 39 anos no momento da documentação. Ela trabalha enquanto advogada.
Viviane, também natural de Salvador, estava com 43 anos no momento da documentação. Ela conta que “é um monte de coisa”: instrutora de yoga, doula, empresária, mãe, turismóloga…
Seus filhos (o mais velho com 11 anos e a mais nova com 8 anos) adoram a Mari. Desde o começo eles saíam muito juntos, iam para o parque, o shopping, a praia… mas as crianças ainda não sabiam que elas namoravam. Até que um dia, num restaurante, a mais nova disse que o irmão estava falando que a mãe e a Mari estavam namorando, e ela respondeu: “Mas a gente tá!”. E pronto. Foi uma festona. Um misto de ficarem incrédulos com muito felizes. E aí surgiram as questões: “Mari, você vai ser nosso segundo pai?!” “Papai também vai namorar um menino?!”
Os questionamentos naturais dialogam com a naturalidade que as crianças veem a relação. Hoje em dia, contam que a mãe namora e acham isso incrível.
No começo da relação, brincam que se enrolaram um pouco. Estavam processando suas novas vidas e acreditam o quanto isso influenciou. Mas foi depois de uma viagem que a Mari fez para o Rio de Janeiro que a Vivi resolveu se abrir sobre seus sentimentos e falar o quanto gostaria de começar uma nova vida com ela.
Mari nunca tinha se relacionado com mulheres, então passaram por momentos de se assumir para a família, o que gerou bastante medo para ela. A família não aceitou inicialmente, achava que a Mari nunca se relacionaria com uma mulher, porém as duas foram dando tempo para que eles processassem e tentando não gerar nenhum stress, hoje em dia todos já se dão bem em casa.
Pelo lado da Vivi, o desafio foi contar ao pai. Na época ele estava com 82 anos, tem seus lados conservadores, mas depois de contar ele respondeu “Só isso?! Ah, então tá bom!” e ela ficou positivamente surpresa.
Hoje em dia, mesmo morando em casas diferentes, elas amam se encontrar em praças e ir à praia (na praça que fizemos as fotos, inclusive. Por ser um lugar seguro e bom de ficar à toa). Elas brincam que não possuem hobbies específicos, porque no tempo livre se dividem entre dormir e ser mãe, recuperar o sono perdido nos últimos 11 anos.
Vivi acredita que o amor precisa ser leve, pois quando há tensão/densidade/peso ela quer repelir. Entendem que no amor que vivem possuem muita liberdade e confiança uma na outra, então enxergam o momento atual enquanto tranquilo e confortável.
Entendem que precisam de tempo para digerir processos internos, mas que a parceria faz parte da relação como um todo. Hoje em dia, vivem enquanto um casal tal qual viveriam enquanto heterossexuais, e não evitam de ser quem são.