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Jéssica e Mariana nunca tinham parado para refletir sobre a sua história com tanta precisão… e também nunca se viram compartilhando sobre quem são, como se sentem juntas e suas visões de mundo, como aconteceu quando se encontraram com o Documentadas, em São Paulo. 

 

Ao se dar conta de estarem fazendo isso pela primeira vez, Jéssica logo verbaliza como está se sentindo sortuda. Não só em poder compartilhar as vivências, mas principalmente por viver com a Mari. Diz que sente muita potência em viver juntas, são companhias e companheiras. 

 

Como são pessoas que passam muito tempo trabalhando, entendem que todo o tempo livre deve ser desvinculado do dinheiro. Por isso, adoram desfrutar de um banho compartilhado, de uma boa música, um chá, os jogos de videogame, passeios, horas montando quebra-cabeças, assistindo filmes, séries, passeando no carrinho (que é o xodó da vida delas) e indo numa doceria que fica próximo de casa e que valorizam muito. São extremamente apegadas ao que é artesanal, familiar, simples e cuidadoso. 

A semana que nos encontramos não estava sendo nada fácil para elas. Além de perdas familiares, viveram uma situação de assalto em que quebraram o vidro do carro no semáforo e roubaram os pertences. Para além do prejuízo financeiro, ficou o trauma e a tristeza por lidar com uma situação de invasão, de injustiça com algo que é tão valioso para elas e que foi tão batalhado para ser conquistado. 

 

Mari explica que vivenciando essa situação percebeu o quanto amadureceram - enquanto um casal e enquanto indivíduos - durante o período que estão juntas. No momento de dor, se reaproximam, precisam da outra. O relacionamento é um espaço de cura. Desejam rir e querem fazer uma à outra sorrir. Por serem muito semelhantes, chega a ser difícil achar algo que não concordam, então raramente brigam (quando brigam, não dura quase nada). Nisso, até nos momentos mais violentos recentemente vividos, se fortaleceram. 

Mariana, no momento da documentação, estava com 29 anos. Trabalha enquanto analista de dados e é natural de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo.

 

Jéssica, no momento da documentação, estava com 31 anos. Trabalha enquanto analista de dados e é natural de Juiz de Fora, interior de Minas Gerais. 

 

A história da Mari começa quando ela se formou em saúde pública, no fim de 2019, e começou a estudar sobre o Coronavírus que estava surgindo na China. Na época ela transitava entre procurar emprego e tentar iniciar o mestrado. Sonhava em estudar na Fiocruz, já que era uma referência, mas a família achava o Rio de Janeiro muito perigoso. Até que, já em 2020, a mãe soube que a Fiocruz estava abrindo mestrado e avisou ela, que tentou e passou… Como a pandemia já estava acontecendo, suas aulas seriam online e a mudança não foi necessária.

 

A Jéssica, por sua vez, morava no Rio e já cursava o mestrado de Estatística na Fiocruz. Sentia falta da área da saúde no seu currículo e foi cursar, teve as aulas paradas durante a pandemia… Quando voltou, em formato online, acabou caindo na mesma turma que a Mari. 

Foram pelas aulas de mestrado que acabaram se conhecendo e em janeiro de 2021 começaram a conversar. Jéssica resolveu perguntar para uma amiga em comum se ela sabia se a Mari ficava com mulheres e se estava solteira… Não esperava que a amiga iria contar para a Mari. Então, num dia que Jéssica postou uma música da Lana Del Rey nos stories, Mari interagiu, começaram a conversar e nunca mais pararam. Contam que passavam tanto tempo conversando que iam dormir tarde da madrugada e acordavam cedo ansiosas para continuar a conversa. Antes mesmo de se conhecer pessoalmente, já namoravam. 

 

Em março, a Fiocruz solicitou alguns documentos e a Mari precisou vir ao Rio de Janeiro. Então, aproveitaram a oportunidade para se conhecerem e passarem uns dias juntas na casa da Jéssica. 

 

Naquela época, não estavam saindo de casa por conta da pandemia de Covid-19. Mesmo que as coisas já estivessem caminhando para a flexibilização, ainda não tínhamos vacina e, ainda mais elas, que trabalhavam estudando isso, faziam de tudo para ficar em casa. Falam como foi horrível a despedida, a ideia de se distanciar novamente. No dia, Mari até perdeu o voo - e nem por um erro delas, mas porque a torcida do Flamengo estava no aeroporto esperando os jogadores chegarem, o que é uma discrepância… enquanto elas estavam fazendo de tudo para não sair, ter uma torcida aglomerada num aeroporto… - então acabou tendo que voltar de ônibus, foi uma confusão. Depois disso, se viram novamente alguns meses depois, em maio. Em julho, Jé conheceu a família da Mari em São Paulo. E pouco tempo depois saiu do emprego no Rio, devolveu o apartamento e voltou a morar com os pais em Juiz de Fora. Foi quando surgiu o convite para morar com a Mari e os pais dela em Guarulhos, já que São Paulo tem muito mais oferta de emprego e elas poderiam ficar juntas. 

 

Ela topou, a mudança foi em outubro de 2021. Desde então, já conquistaram o emprego fixo, o carro e um apartamento, do qual estão esperando ansiosamente para ficar pronto. Os olhos brilham quando falam das coisas conquistadas em dupla. 




 

Essa história foi documentada em 17 de junho de 2023.

 Jéssica 
 Mariana 
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