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A Karine e a Marcella são aquelas pessoas que jamais conseguiriam viver sem arte na vida. Arte em todos os aspectos: a cultura no cotidiano, passando pela pintura, pelo teatro, pelo cinema ou pela dança. Dentro do apartamento em que elas moram em São Paulo fazem uma produtora acontecer - e dessa produtora já saiu websérie, ideia para Canal no Youtube, filme, peça… tudo vira vida. 

 

A produtora criada em 2018/2019, com nome La Loba, vindo do livro Mulheres que Correm com Lobos, foi um passo muito importante também para elas colocarem em frente o que acreditam: a liberdade no criar. Roteirizar, filmar, dialogar com novos atores. Criar cenas e redescobrir aspectos de criatividade, ainda mais dentro de casa, é um desafio divertido. 

 

Quando falamos sobre as ferramentas de gravar dentro de casa (por elas terem as ferramentas necessárias, desde equipamento técnico até o suporte para lançar, como o YouTube ou outras plataformas), elas comentam também que não admitem a ideia do artista pobre, essa coisa de que o artista precisa vender o almoço para comprar a janta. Não que precisem viver o luxo, mas que querem suas profissões respeitadas e valorizadas para que tenham uma vida confortável e saudável: “Ter o trabalho reconhecido”. Suas competências artísticas são enormes, estudaram (e estudam!) há anos para construir isso e é um exercício diário relembrar o quanto o teatro, a peça, o filme, a dança, a música, a expressão artística é tão importante para o nosso dia-a-dia quanto tantas outras coisas que fazemos. 



























 

Karine é de Tatuí, cidade intitulada como Capital da Música, interior de São Paulo. No momento da documentação ela estava com 33 anos e contou sobre um projeto do Governo do Estado de São Paulo em que estava fechando diversos cursos universitários lá na cidade natal dela (local que a família reside até hoje), incluindo o curso que ela fez, de Artes Cênicas, que já estava encerrado. Falou sobre a dificuldade de se ver longe e ver uma cidade com tantas potências, com um dos maiores conservatórios de música da América Latina, resistindo, mas sem muitas forças perante um poder tão maior que é o legislativo. Mas que, mesmo com todas essas sensações de cultura sendo levada “embora”, não desistiria, pois da mesma forma que ela esteve lá por tanto tempo ainda há pessoas muito boas fomentando a arte nessas cidades - e não só: a arte, a história, os eventos culturais, os projetos de voluntariado, etc. 

 

A Marcella também tem uma trajetória de busca pela cultura no interior de São Paulo, mas dessa vez em Piracicaba. Ela estava com 32 anos no dia em que nos encontramos e contou que a sua trajetória na arte da cidade foi impulsionada quando começou a fazer um curso no SENAC (e, nesse curso, também conheceu a Karine). O ano era 2016, encenaram uma peça sobre A Paixão de Cristo, aprenderam muito e até ficaram amigas, mas o tempo passou e não se falaram mais. 

 

Como a cidade é pequena e todos acabam se encontrando nos espaços, em 2018 elas fizeram outra peça novamente. Estavam solteiras, interagiram e o interesse surgiu. No fim, (ou melhor, no começo) começaram a namorar. 


























 

A vida em Piracicaba, mesmo que confortável, estava um pouco limitada para a carreira da Karine e da Marcella. Foi então que surgiu a oportunidade de morar em São Paulo (capital). A Karine já tinha morado em São Paulo por um tempo, sabia como a cidade funcionava, a alta opção de cursos, abrangência para novas áreas e também a concorrência muito maior de artistas chegando de todos os lugares, mas lá em Piracicaba não via mais a carreira andar no momento em que estava… e a Marcella topou o desafio. Juntas, com o incentivo de uma amiga, realizaram a mudança.

 

Logo no começo da pandemia encontraram a casa que moram agora, um lar maravilhoso e que foi se completando com o jeito delas em cada cantinho. Foi lá que gravaram a websérie, é lá que possuem as melhores (e piores!) ideias para as próximas produções e brincam que a casa é uma grande geradora de ideias. 

 

Elas se veem como parceiras. São muito amigas e sobretudo essa companhia se torna uma âncora. Sentem amor pela companhia. Além do amor que compartilham pela arte em si e por tudo o que são envolvidas, existe o amor que sentem por estarem juntas. A arte é um refúgio e a relação delas é uma parceria. 































 

Em casa adoram assistir Simpsons, Friends, cozinhar e durante o preparo da comida fazer pausas para dançar… Também trocam momentos de criação pintando telas, criando plaquinhas e decorações para a casa, amando os filhos de quatro patas e cuidando das plantas na varanda. 

 

Não só juntas, elas também falam da importância dos momentos de solidão. De reflexão e estudo - tanto de livros quanto de estudar a si mesmo. Para a Karine, o amor veio num entendimento sobre quem ela é e isso levou muito tempo, porque ser uma mulher lésbica artista já é um processo de autoconhecimento imenso para sair de muitos padrões e “caixinhas” que nos são colocadas. “Estar livre disso e aberta para que alguém possa te olhar e te amar é um dos passos mais importantes”. Então amar a si mesma e amar a Marcella foi um processo que aconteceu de forma natural (não fácil, claro), mas na dor ou na felicidade, foi acontecendo diariamente. 

 

Essa relação de autoconhecimento reflete na Marcella através do respeito a si própria, pois ela conta que antes ela não se via com tanto respeito - hoje ela aceita que adora dançar, por exemplo, e dança! Ela respeita quem é e respeita quem a Karine é. E isso é um dos maiores aprendizados que tira da relação.

 

No fim da nossa conversa tiramos um outro aprendizado, sobre a expressão artística em si no que envolve esse amor além do preço que colocamos nas coisas, pelo puro sentimento de quem somos e do que gostamos/amamos fazer. A Karine dá o exemplo de que uma vendedora pode continuar sendo vendedora e cantar super bem, ou um motorista de ônibus pode ser o melhor motorista e mesmo assim um ótimo pintor… a arte deveria ser vista enquanto uma conscientização social sobre a importância de fazer arte, da expressão artística, do quão essencial para o ser humano ela é - para isso, enfim, gerar coisas boas para o nosso redor enquanto sociedade. E viver essa arte, para fora do capitalismo (ou seja, você não precisar vendê-la para ganhar dinheiro/nem tudo o que você tocar precisa virar ouro) é o que elas gostariam de ver sendo refletido por aí.  

 Marcella 
 Karine 
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