Foi num parque em meio à área florestal do Grajaú, no Rio de Janeiro, que encontrei Pamela, Gabi e Kauan. Ele completamente sorridente, com seus 5 meses de idade.
Começamos a conversa com elas contando o quanto amam viajar. Sempre planejaram viagens e agora, depois de ter feito a primeira viagem breve com o Kauan, anseiam o primeiro andar de avião nas próximas semanas. Pamela explica como esse primeiro momento da maternidade não é fácil, por mais que tenha essa viagem que traga felicidade, a vida real demanda muito, envolve cansaço e esforço das duas, mas que mesmo nessas circunstâncias conseguem sentir as coisas leves porque sempre relembram o quanto sonharam com isso e o verdadeiro motivo de viverem tudo: resgatam o amor para o dia a dia.
Entendem que o amor é muito político, principalmente na criação do Kauan. Citam os olhares, as burocracias que viveram e questões mais ‘invisíveis’, como o quanto pensavam sobre política muito antes de saber se era um menino ou uma menina que iria nascer. Gabi explica que se fosse menina, queriam criar uma menina forte, corajosa, que tivesse consciência do machismo, etc. Sendo menino, mudava de forte para sensível; Queriam a consciência e a coragem, mas ensinando que pode demonstrar sentimentos, chorar, ser gentil. Conta, também, sobre um dia que estavam numa padaria e um desconhecido brincou com ele e comentou: “Esse é macho, tem cara de macho!” e ela disse “Não… Ele é um bebê” e completa que não tem que ter cara alguma, além da cara de um bebê.
Foi em 2015 que elas se esbarraram pela primeira vez, numa festa durante o carnaval. Pamela tinha saído com um amigo, estava recém solteira e perguntou se o amigo tinha alguém para apresentar. Ele apresentou a Gabi e elas se beijaram na noite, mas não conversaram, nem trocaram mensagens depois.
Em 2017, se encontraram novamente no carnaval, de forma aleatória num bloco e com os mesmos amigos em comum. Perguntaram se estavam solteiras e ficaram. Isso já era de madrugada, estavam bêbadas e depois de terem ficado, a Gabi simplesmente comentou com o amigo: “Sabe quem eu queria encontrar?! A Pamela”. Ele ficou sem entender nada: “Ué?? Mas você acabou de ficar com ela!”. E ela não lembrava.
Se esbarraram de novo, beijaram de novo, e o amigo chegou dizendo “E aí, Gabi, agora foi, né?”. Quando ela respondeu: “Não?! Não vi a Pamela”.
Achavam que era alguma brincadeira dela, mas entenderam que ela realmente não estava relacionando/lembrando. Então combinaram: se elas se beijassem de novo, iriam fotografar. E assim foi.
Depois do carnaval, ambas tiveram breves relações e no meio do ano estavam novamente solteiras, então começaram a se falar pelas redes sociais. Decidiram ter um encontro, a Pamela decidiu que não podia envolver álcool, porque queria ser lembrada, então chamou Gabi para ir ao cinema. Acabaram chegando cedo e só tinha o filme dos Minions para assistir, toparam mesmo assim e sentem que aquele dia foi o começo de tudo. Começaram a conversar, ficaram juntas mesmo.
Nos próximos dias que seguiram desde o primeiro encontro, já entendiam que queriam namorar. Fizeram a primeira viagem e lá Gabi comprou uma aliança, na pracinha da cidade, e deu para a Pamela selando o início do namoro.
O primeiro ano não foi fácil, contam que foi um ano de “ajustes”. Tinham muitas conversas para se entender, também não havia muita estrutura, ainda estavam na faculdade… Foi depois de completarem um ano que decidiram morar juntas, em Caxias, por ser mais acessível financeiramente.
Sempre falaram sobre casar e ter filhos, então começaram uma conta poupança juntas, entendendo o quanto isso demandava, e os planos foram se concretizando. Em 2019 casaram, fazendo uma festa para amigos e familiares. Em seguida, se mudaram para um novo apartamento, entre o centro e a zona sul do Rio de Janeiro.
Durante a pandemia o apartamento se tornou pequeno para o que desejavam. Ainda mais passando o dia todo em casa, se sentiam enclausuradas, sem tanta luz solar. Sendo assim, em 2021 conseguiram um novo lar, dessa vez na Tijuca, e lá a vinda do Kauan começou a ser planejada. Começaram com a bateria de exames, depois a primeira tentativa que já deu certo. Pamela gerou, Kauan nasceu em abril de 2023.
Gabriela estava com 31 anos no momento da documentação, é natural do Rio de Janeiro e, mesmo tendo a formação em Engenharia Química, migrou de área e hoje atua enquanto Product Manager.
Pamela, com 33 anos no momento da documentação, é natural de Duque de Caxias, baixada fluminense. Também formada em Engenharia Química, não atua na área, trabalha enquanto analista de negócios.
Gabi conta que desde pequena sempre quis ter um filho com o nome Kauan. Falava isso tanto que, quando a mãe engravidou, perguntou se ela queria dar esse nome ao irmão e ela respondeu que não, Kauan seria o nome do filho dela. Quando deu essa ideia para a Pamela, ela adorou, principalmente pela escrita do nome.
São duas mulheres muito diferentes: Gabi, por exemplo, passou o processo de gravidez todo chorando (seja por felicidade, medo, ansiedade…), enquanto Pam internalizou tudo e segurou a barra, foi muito racional, só chorou quando deu certo. Entendem que no dia a dia o exercício é fazer Pamela lidar com as emoções, se comunicar, falar o que sente. Gabi instiga a comunicação, sempre procura conversar.
Para Gabi, o amor é muito mutável perante os períodos que as pessoas estão vivendo. Quando começaram a namorar, por exemplo, sabiam que se amavam e por mais que em muitos momentos estivesse sendo difícil se entender, o amor estava ali e queriam continuar juntas, por isso seguiam em frente. Hoje em dia é diferente, já passaram por questões difíceis no emprego, na família… e continuam juntas, se sentem fortalecidas. Vê muita parceria na forma que elas constroem a relação e a educação do Kauan.
Atualmente, fazem parte de um grupo de dupla maternidade no Rio de Janeiro e querem muito que o Kauan viva com crianças da mesma configuração familiar que ele. Buscam o tempo todo espaços inclusivos, desde o grupo, até escolas que não tenham o dia das mães-dia dos pais, mas o dia da família. Pamela fala sobre todas as crianças, as tantas que vivem sem pais, por exemplo, e como esses dias podem se tornar algo ruim. Não queria ver o Kauan crescendo com esse sentimento, portanto, querem sempre propor algo melhor - e que elas não tiveram, na sua infância, como escolher.