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Espaço de Pesquisas

Oi! Este é um espaço do qual você pode pesquisar e encontrar histórias de mulheres que participaram do nosso projeto por todo o Brasil! Legal, né? 

Pra usar, basta digitar no espaço de pesquisa alguma palavra-chave, por exemplo: alguma profissão, alguma cidade, algum tema... 

 

É o nosso verdadeiro banco de dados - o primeiro, da história das mulheres que se relacionam afetivamente

com mulheres - e precisa ser valorizado! ♥

110 resultados encontrados com uma busca vazia

  • Qual é a desse lambe aí? | Documentadas

    Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Toda mulher merece amar outra mulher. E esse lambe aí? Acreditando na potência do Documentadas para além das redes sociais e do mundo online, decidimos colocar o projeto na rua conversando com os espaços das cidades por onde passamos. Foi através das técnicas arte urbana como lambe-lambe e stickers que começamos a espalhar uma frase famosa por aqui: “Toda mulher merece amar outra mulher”, além de uma tiragem inicial de 300 fotografias de casais que já participaram do projeto, com intervenções gráficas escritas por cima e o @documentadas, identificando nosso Instagram/site. Estar na rua nos abriu a possibilidade de troca com públicos antes inalcançáveis. Passamos entre universidades, boêmias e comunidades. Se as mulheres amam outras mulheres em múltiplos espaços, acreditamos que nossa arte também deva ocupar múltiplos espaços. Tal fato foi - e está - sendo possível pela impressão/colagem por valores acessíveis (afinal, o projeto é independente) e também por permitirmos ouvir a linguagem das ruas. Seguimos monitorando os espaços colados através da localização nas redes sociais, vendo postagens com fotos que as pessoas tiram deles e quais são as reações positivas/negativas ao ver essa manifestação. POR QUE NOSSOS LAMBES NÃO DURAM NAS RUAS? Nossos lambes são arrancados, vandalizados, riscados… Isso fala sobre muitas pessoas ainda serem lesbofóbicas e terem ódio ao saber que duas mulheres podem - e merecem - se amar em público, infelizmente. Porém, em nenhum momento um lambe riscado é arrancado para que outro seja colado em cima, pelo contrário: é importante deixar ali para que o preconceito também fique escancarado perante uma manifestação de afeto les-bi. Não deixaremos de colar nossos cartazes e adesivos. O Documentadas é uma forma de combate ao preconceito, enquanto houver cartaz, cola, pincel e adesivo, estaremos colocando nossa arte na rua e ouvindo o que a rua tem a nos dizer. QUER COLABORAR COM O DOC PARA QUE ELE TENHA MAIS LAMBES POR AÍ OU NOS CHAMAR PARA UMA EXPOSIÇÃO EM ALGUM LOCAL? ENTRA EM CONTATO PELO SITE OU NO E-MAIL: FERNANDA@DOCUMENTADAS.COM

  • Clarissa e Roberta | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Clarissa estava com 31 anos no momento da documentação, é natural de Carpina, cidade interiorana de Pernambuco. Chegou em Recife para fazer faculdade de farmácia, fez um intercâmbio para o estado de Minas Gerais onde passou um ano e meio lá estudando - e conhecendo um pouco mais de si, do mundo, tendo influências positivas diferentes das que possuía na cidade pequena ou em Recife - e quando voltou já se sentia muito diferente. Começou a viajar mais pelo Brasil, se inscreveu em congressos e cursos, aconteceram também suas primeiras experiências com mulheres, seu primeiro relacionamento e, assim, morou em outras cidades… sentiu que passou a conhecer mais quem ela era de verdade. Depois do seu primeiro relacionamento não ter dado certo e não ter sido tão bom quanto esperava, decidiu voltar para Recife, e voltou com um olhar totalmente diferente daquela primeira vez quando chegou. Se reconectou com a cidade, conheceu novas pessoas e se permitiu fazer uma viagem que sempre sonhou: para a Amazônia. Quando voltou: conheceu Roberta. Hoje em dia, moram juntas e parte do seu trabalho é compartilhado em casa com ela, numa sala com máquinas impressoras 3D montando recursos terapêuticos para auxiliar pessoas com dificuldade em mobilidade. Roberta estava com 28 anos no momento da documentação. Ouvindo Clarissa contar sua parte no momento da nossa conversa, ela comenta que seu momento de descoberta não foi assim aos poucos como o da companheira, sempre se viu 100% hétero. Suas amigas comentavam que ela deveria ficar com meninas para experimentar, mas ela nos padrões heteronormativos não concordava, até comentava que achava uma mulher ou outra bonita, mas era admiração, não atração. No íntimo, confessa: tinha curiosidade, mas não pensava em explorar. Pensava que se encontrasse uma mulher que realmente chamasse a atenção ela se permitiria, enquanto isso, não pensaria sobre. Foi um processo de muito autoconhecimento até se relacionar com Clarissa. Roberta é natural de Recife, morou muitos anos em Jaboatão dos Guararapes e fez uma especialização enquanto terapeuta ocupacional em reabilitação física. Hoje em dia, é responsável pela Ocupacional 3D, onde fazem os produtos citados no início do texto e também dá palestras e cursos sobre recursos terapêuticos. Quando Clarissa chegou em Pernambuco após a viagem, era época de São João e decidiu instalar um aplicativo de relacionamentos para encontrar alguém e ir nas festas dançar um forrozinho. Foi assim que conheceu Roberta. Na época, Roberta já havia desconstruído - ou melhor, construído - um pouco a ideia de se relacionar com mulheres, já passara por algumas experiências e entendeu que poderia, sim, estar numa relação com uma mulher. Às vezes deixava seu app voltado para homens, às vezes para mulheres… não tentava se enquadrar em algo. E em 2023 estava num momento de cura, depois de períodos difíceis vividos em 2021 e 2022, queria conhecer pessoas novas. O primeiro encontro foi o bastante para entender que iriam se conectar (o primeiro mesmo que deu certo, ainda bem! Porque o primeiro que a Clarissa havia sugerido era um encontro que nitidamente daria errado, uma ação social de catar lixo no rio…). Mas ufa, o primeiro encontro foi o forrozinho sonhado, conversas com conexão e tudo mais. Até comentaram com os amigos que provavelmente iriam ouvir falar mais o nome uma da outra nas conversas… porque provavelmente não seria algo passageiro. Continuaram se encontrando, descobriram coisas semelhantes, foram sentindo que tudo poderia virar um namoro, mas não falaram sobre isso diretamente, aos poucos introduziram o assunto, até que um mês depois estavam de fato namorando. Depois do início do namoro, passavam muito tempo juntas. Não ficavam mais de três dias sem se encontrar. Foi quando decidiram dividir o lar. Cerca de um ano depois, já estavam noivas. Num pedido de casamento, Clarissa criou um cordel inspirado na história delas e presenteou Roberta. O São João é muito significativo para elas, afinal, é a data que se conheceram e o período preferido do ano. Mas não podemos deixar de citar: entre os presentes, desde o começo do namoro Clarissa se destaca pelas ideias criativas. Tudo foi caminhando com intensidade, afirmam a rapidez quando relembram, mas entendem que o aprofundamento da relação foi feito à vontade. A própria família da Clarissa, que nos outros relacionamentos nunca se aproximou, fez questão de conhecer a Roberta e estar próxima durante a mudança, conhecendo o lar que elas moram. Para elas, isso mostra o quanto esse relacionamento é diferente. Apesar da família ainda ter seus limites, é muito importante ver como tudo já caminhou com disposição, como as pessoas ao redor já mudaram suas percepções e seus preconceitos nesses últimos anos através do amor. Roberta conta que no começo ela sentia bastante medo da rapidez e da proximidade, mas que de alguma forma se sentia à vontade e gostava do que vivia, queria dar uma chance para essa relação. Por mais assustadora que fosse a velocidade, praticamente avassaladora, possuía a sensação de que já se conheciam. E não queria mais estar distante. Foi estranho ver uma pessoa chegando “de mala e cuia” na sua casa aos poucos, encaixando suas coisas, compartilhando sua rotina. Depois seria estranho não ter mais essa pessoa. Hoje explica como foi importante a existência da Clarisse na sua vida para tantas outras coisas, como a questão das impressoras 3D que possuem em casa, que ela sempre sonhou em ter para fazer os produtos com adaptações para pessoas com deficiência. Foi Clarissa quem incentivou a busca pelo sonho e hoje são companheiras de estudos e sócias, criaram a empresa da Roberta, que explica o quanto o trabalho a salva diariamente. Ela é uma pessoa que se move pelo cuidado, seja com a família ou os amigos, está sempre zelando por quem ama. É dedicada e sente que isso está na sua cultura, aprendeu a ser assim desde criança, tanto que escolheu essa profissão. Fizemos questão de documentar esse sonho nas fotos também, nessa parceria num dos quartos de casa é onde mora uma parte muito grande desse amor. ↓ rolar para baixo ↓ Clarissa Roberta

  • Fernanda e Talita

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Fernanda e Talita se conheceram no início de 2014, apresentadas por um amigo em comum - o melhor amigo de ambas. O interesse surgiu aos poucos, mas nenhuma das duas falou nada no começo, achando que poderia ser coisa da própria cabeça. Fernanda já tinha experiência em se relacionar com mulheres, então Tatá achou que, se houvesse algo ali, ela tomaria a iniciativa. Mas foi o contrário: depois de meses nessa dúvida silenciosa, Tatá percebeu que precisava agir. No verão de 2015, finalmente ficaram juntas. Na época, Talita morava em São Paulo, onde fazia residência médica. Fernanda, por outro lado, sonhava em se mudar para lá, mas a vida deu uma reviravolta. Tatá decidiu voltar para Maceió, e Fernanda acabou ficando também. Foi uma escolha que transformou tudo, e de lá para cá, já se passaram quase dez anos de companheirismo, desafios e conquistas. O início do relacionamento foi um processo para Talita. Demorou um tempo para aceitar que estava apaixonada por uma mulher, e até mesmo quando voltou para Maceió não foram de cara morar juntas. Passaram alguns meses morando em lugares diferentes, até que, em 2017, compartilharam o lar. Quando finalmente assumiu esse sentimento, não teve mais dúvidas e encarou tudo sem olhar para trás, de cabeça erguida, principalmente pelos preconceitos familiares. Entendem, também, que morar juntas trouxe a oportunidade de se conhecerem de verdade, lidando com as diferenças e descobrindo o quanto se parecem em visão de mundo, mesmo tendo personalidades diferentes. Fê lembra de uma conversa que aconteceu com Tatá logo no início sobre o machismo e como aí ela percebeu que, ao se relacionar com uma mulher, os desafios e as trocas eram diferentes. Até compôs uma música na época, falando sobre compartilhar tanto as alegrias quanto os momentos difíceis - e o relacionamento trouxe essa conexão profunda, onde não apenas se amam, mas também se apoiam em questões que só elas entendem. Tatá nunca havia morado com alguém antes, enquanto Fernanda já tinha experiência em dividir um lar com outras companheiras. No início, Fernanda fez questão de deixar espaço para que Tatá se adaptasse sem pressão, mas riem lembrando como eram diferentes as vivências. Ela admira o jeito da Tatá que está sempre disposta a crescer e se transformar, sem medo da mudança. “Tem coisas que a gente não consegue mudar, mas a maioria dá para ajustar”, diz Fernanda, reconhecendo que essa abertura para evoluir é um dos traços mais bonitos de Tatá. Fernanda entende que não é fácil mudar: as pessoas são mais resistentes à mudança, mas que Tatá muda porque entende que a mudança a torna uma pessoa melhor (e que sempre está disposta a ser melhor). É um desprendimento muito interessante. E uma das coisas que mais admira nela. Cartola, o cachorro, é parte essencial da família que construíram juntas. Fazem questão de levá-lo para todos os lugares possíveis, sempre respeitando seu bem-estar, reforçando esse vínculo. Ele as acompanha em shows, restaurantes, encontros com amigos e passeios. Para elas, amor está na lealdade e na confiança, no equilíbrio entre o vínculo profundo e a liberdade individual. Não precisam estar juntas o tempo todo, fazer tudo lado a lado, porque o amor não é sobre posse, mas sobre autonomia. “A gente ama quem a pessoa é e dá autonomia para que ela continue sendo, e isso faz com que o amor permaneça.” Essa segurança mútua torna a relação duradoura, sem a necessidade de provar constantemente algo que já está solidificado. Sentem orgulho em inspirar outros casais e reconhecem a amorosidade particular dos relacionamentos entre mulheres. Criadas por mulheres fortes, aprenderam a escutar e acolher. Suas histórias ajudaram a transformar as famílias, quebrando barreiras de preconceito e culpa cristã. Hoje, são admiradas pelos que antes hesitavam em aceitar. Demonstraram que o amor não precisa se restringir a guetos, que podem ocupar qualquer espaço, vivendo uma relação bela e legítima, sem constrangimento ou necessidade de esconder quem são. Fernanda estava com 43 anos no momento da documentação. É natural de Maceió, sempre foi cantora, desde a adolescência, e a música virou sua profissão e sua vida. Mas em determinado momento, sem perceber, passou a ouvir música apenas como estudo ou trabalho, perdendo o prazer diário da escuta que antes sentia. Foi Thalita quem a fez reaprender a ouvir música com emoção, a cantar alto, a abrir os braços para sentir o som. Um resgate que trouxe de volta muitas sensações sobre a música enquanto arte, não apenas trabalho na sua vida. Além disso, ama praia - seria muito difícil mora longe a água - e ama passar o tempo com Cartola, seu cachorro. Talita estava com 40 anos no momento da documentação. É médica cardiologista pediátrica, equilibra sua rotina intensa na medicina com os momentos que compartilha com Fernanda. A música é o que as une: cantam juntas, fazem carnaval, organizam blocos. Se estressam no processo, mas no fim do dia dormem juntas, acordam e encontram no amor um alívio para os desafios. Vivem Maceió, entre consultas e palcos, o amor e a arte se entrelaçam. Fundaram um bloco de carnaval na cidade muito importante para a narrativa da diversidade, fazem questão da população LGBT+ ser ouvida e acreditam que isso reverbera para diversos corpos e para a história da cidade ser cada vez mais reconhecida. ↓ rolar para baixo ↓ Talita Fernanda

  • Ingrid e Cecília

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Ingrid estava com 33 anos no momento da documentação. É natural de Pelotas, mas passou boa parte da vida adulta em Florianópolis, sempre alimentando o desejo de viajar. Sua primeira experiência com a estrada veio aos 21 anos, durante um intercâmbio na Austrália, onde vivenciou um motorhome pela primeira vez. Quando voltou, quis se aproximar da natureza e sonhava em ter uma Kombi, mas focou na carreira e adiou esse plano. Ainda assim, as viagens eram sua prioridade: trabalhava para poder estar sempre viajando. Foi há cerca de quatro anos que a Kombi Luz chegou, tornando-se um verdadeiro projeto de vida. Na época, já tinha o Teddy, um de seus cachorros, e também o Godinez, que faleceu em 2023. Com o tempo, sua vontade de se dedicar integralmente à estrada cresceu, então ela vendeu sua parte na empresa em que trabalhava e hoje em dia trabalha criando conteúdos para o YouTube, registrando o dia a dia com Cecília na moradia delas na Kombi atravessando o Brasil. O projeto trouxe um reencontro com o jornalismo, sua formação, e a sensação de finalmente concretizar o sonho que sempre teve. Cecília, no momento da documentação, estava com 30 anos. Nasceu em Itajubá, Minas Gerais, mas passou parte da vida em Taubaté. Não foi criada com uma referência de vida na estrada, mas passou por um momento divisor de águas que a fez enxergar a vida por outro lado: perdeu o pai aos 15 anos. Amadureceu, viveu um luto precoce e tudo a fez entender que ele era um homem cheio de sonhos, mas que infelizmente não teve a oportunidade de realizá-los, então queria ser uma pessoa diferente, se viu movida pela sede de viver. Sua percepção por viagens começou quando ela foi morar e trabalhar fora do Brasil, conhecendo um mundo bem diferente do que a vida e a cidade morava. Lá, guardou dinheiro, planejou mochilões, mas dias antes de começar suas novas viagens recebeu a notícia do falecimento da sua mãe. Decidiu voltar ao Brasil, fez uma pausa nos planos para se reorganizar e se reconectar com sua família e consigo mesma. Com 25 anos, já não tinha mais os pais e precisava redescobrir seu caminho. Cecília, depois de optar ficar no Brasil, se mudou para Ubatuba e trabalhou por um tempo enquanto representante de vendas, fazendo assim diversas viagens. Depois de um tempo, comprou uma caminhonete e adotou a Brisa, sua companheira de estrada. Junto de uma amiga, decidiu dividir uma vida de viagens por um tempo, e, reunindo outros amigos, compartilhou um desejo de se mudar para Florianópolis. Foi quando decidiram fazer a mudança e irem juntos. Em 2022, apenas dez dias depois de Cecília chegar a Florianópolis, ela e Ingrid se encontraram por meio de um aplicativo de relacionamentos. Desde o início, perceberam que suas vidas se encaixavam: Ingrid já estava no momento de largar tudo para cair na estrada, enquanto Cecília já havia vivido essa experiência. Ingrid brinca que, naquela época, a Kombi Luz era uma kombi de solteira - um espaço que tinha até mini biblioteca, sem a ideia fixa de ser uma casa. Mas o primeiro encontro dela com a Cecília já dizia muito: um pôr do sol na Kombi. A primeira grande viagem foi até Pelotas, cidade natal de Ingrid. Na época, ainda não tinham um status definido para a relação, mas Cecília foi apresentada ao pai de Ingrid. O plano era passar apenas alguns dias, mas ao chegarem, perceberam que algo não estava bem: o pai de Ingrid recebeu um diagnóstico de depressão e o que seria uma visita rápida se tornou um período de um mês dando suporte e cuidado. Elas e os três cachorros começaram a vivenciar a kombi enquanto casa. Cecília precisou retornar a Florianópolis, Ingrid ficou um pouco mais. Esse período trouxe muitas reflexões sobre a brevidade da vida, sobre momentos difíceis que já viveram e o desejo de viver intensamente. Mesmo sem uma longa história juntas, já tinham dividido muito - entre se conhecer, passar tantos dias juntas, mudanças e novas perspectivas. E foi justamente nessa intensidade que perceberam que queriam continuar seguindo viagem. Pouco tempo depois de passarem um tempo em Pelotas com o pai de Ingrid, o cachorro mais velho dela, Godinez, faleceu. Depois disso, ela voltou para Santa Catarina, percebeu as melhoras do seu pai e decidiu que oficialmente queria morar na Kombi. Foi então que organizou suas coisas no emprego fixo, tudo foi somada à demissão da Cecília do seu emprego e decidiram seguir o sonho juntas. A primeira grande viagem foi para o Rio de Janeiro, depois voltaram para Florianópolis para passar o ano novo com o pai da Ingrid (que foi até lá também) e no início de 2024 deram inicio, de fato, a morar 100% na kombi, sem mais apartamentos e outras casas. A transição para a vida na estrada aconteceu de forma gradual. No primeiro mês, acabaram morando na Kombi sem planejar, enquanto estavam em Pelotas. Depois, na viagem até o Rio, a experiência foi mais estruturada, mas ainda mantinham o apartamento. Ao voltar para casa, esperavam sentir alívio pelo conforto, mas perceberam que a sensação de pertencimento estava mesmo era na estrada. O lar, de fato, era a Kombi. A vida nômade fazia cada vez mais sentido, mas, talvez se tivessem tomado a decisão de uma hora para outra, não tivessem se sentido tão bem na kombi. Desde então, percorreram o Rio Grande do Sul, exploraram bastante Santa Catarina e subiram até o Nordeste. No caminho, fizeram um desvio para Minas Gerais, onde aprimoraram a Kombi. E foi em Alagoas que finalmente nos encontramos para registrar essa história (depois de várias tentativas de cruzarmos nossos caminhos entre o sul da Bahia e Maceió). A vida na estrada trouxe para Ingrid e Cecília a descoberta de um Brasil interiorano que nem imaginavam - e ainda melhor, o gosto pela vida interiorana. Entre uma viagem e outra, encontram cidades que não estavam nem no mapa, acampam em lugares lindos e tranquilos, e se encantam com a calmaria que só quem viaja sem pressa pode viver. Os cachorros também se adaptaram bem… na verdade, até estranham quando chegam em cidades grandes, sem saber lidar com tanto estímulo de som e movimento ao mesmo tempo. Sem prazos rígidos, vão sentindo cada lugar. Têm um roteiro em mente, mas se um destino as cativa, se permitem ficar mais. Criaram uma rotina própria, independente de onde estão, e isso dá uma sensação de estabilidade mesmo com a estrada. Para elas, o amor está presente em cada detalhe do cotidiano. O romantismo vira só um detalhe, porque a conexão é muito mais profunda. Relacionamentos entre mulheres têm essa intensidade - é o que dizem. E, para além da intensidade, têm a resistência. Em muitos lugares por onde passam o preconceito ainda é muito forte, mas fazem questão de seguir de mãos dadas. E, quando falam em mãos dadas, entendem que seguem de mãos dadas com os amigos também: as redes de apoio que seguem firmes, mesmo à distância. Se elas precisarem ou se os amigos precisarem, basta uma ligação. Fazem de tudo uns pelos outros. Já passaram por situações difíceis na estrada, e a presença dos cachorros não é só companhia, mas também segurança. Acima de tudo, o amor entre elas e a família que estão formando é força. É ele que as impulsiona a continuar vivendo esse sonho. ↓ rolar para baixo ↓ Cecília Ingrid

  • Marina e Patrícia | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Patrícia, no momento da documentação, estava com 35 anos. É natural do Rio de Janeiro e trabalha em uma empresa de máquinas de cartões, enquanto líder de equipe de atendimento ao cliente. Ama praia, música, sair e ir até o bairro boêmio do Rio (a Lapa), assistir desenhos animados e estar com os amigos. Marina estava com 32 anos no momento da documentação. Também é natural do Rio de Janeiro, trabalha em uma empresa de moda, na área de logística, e gosta de passar seu tempo livre assistindo vídeos no YouTube, pesquisando coisas relacionadas à natureza e praticando esportes. Adora caminhar pela rua, ver pessoas e é apaixonada por assuntos holísticos e espirituais. Elas costumam dizer que não estão uma contra a outra, mas sim as duas contra o que for. Mari acredita que é uma pessoa que precisa parar para pensar, enquanto Pati precisa falar primeiro, mas fazem o tempo todo o exercício de caminhar ao contrário: uma para para pensar enquanto a outra tenta verbalizar. Se esforçam ao máximo para ter conversas difíceis, que impactam, porque entendem o quão importante é. E ressaltam que não tinham vivido algo assim até hoje. Aprendem, nessa relação, que amar é estimular o crescimento espiritual uma da outra. É o que mais acontece diariamente, mas não é linear: a vida em si implica altos e baixos. Estão juntas nesses processos e são neles que encontram as confianças que possuem. Neles, também, desenvolveram a liberdade em dizer não. Se permitem vivenciar, dividir tarefas, impor limites, saber seus direitos e suas vozes e, principalmente, amar todas as suas versões, respeitar o que verdadeiramente são. Foi em 2020 que Marina e Patrícia se conheceram, sendo colegas na empresa que Pati segue trabalhando até hoje. Chegaram a compartilhar o cargo de liderança, se tornando amigas, mas nunca muito próximas, até que em 2021 Patrícia tirou férias e quando voltou soube que Marina foi desligada da empresa. Teve uma crise de choro abrupta, ficou muito triste, mas nunca chegou a mandar uma mensagem, viveu aquela tristeza em silêncio. Por mais que não fossem super amigas e tivessem vidas bem diferentes - Marina era bem tímida enquanto Patrícia era muito sociável, vivia saindo com os colegas - rolava uma admiração mútua muito presente entre elas, e por isso se mantiveram nas redes sociais. Passados alguns meses, a vida da Marina seguiu diversos rumos diferentes e num dia ela resolveu mandar uma mensagem para a Patrícia perguntando o seguinte: “Amiga, como mulheres com mais de 30 anos, solteiras, flertam?”. Patrícia respondeu: “Olha, não sei, tô solteira há 10 meses e se eu soubesse eu não tava, né?!... “ Mas resolveu dar umas dicas de aplicativos de relacionamentos, flertes etc. Na versão da Mari, ela estava se curando porque passou por um período bem mal mentalmente e pensou na Pati porque era uma referência de pessoa legal pra ela, bem relacionada, queria voltar a ter pessoas legais por perto e também estava aproveitando sua própria companhia, a solitude… Pati aproveitou a retomada de contato e chamou-a para ir no seu aniversário, pensando que ela jamais toparia, já que não saía nem quando trabalhavam juntas… até que Marina topou, mesmo indo sozinha. Alugou um hotel na Lapa para já passar o final de semana pelo centro, poder beber sem pensar em voltar para o bairro mais distante que morava, foi pra curtir mesmo, sem passar perrengues. Quando ela apareceu no aniversário, Patrícia não acreditou. Estava dando atenção para os convidados, mas focada na Marina (e muito nervosa). Um amigo disse que ela estava dando mole, Pati foi ficando em pânico e o amigo incentivou, depois de muita insistência, elas se beijaram e aconteceu - até demais. Se beijaram a festa toda! Foi no aniversário dela, em 15 de julho de 2023, que tudo começou. E desde então: beijou, noivou, casou. Mari explica que quando entrou lá no aniversário sentiu: “Não sei o que tá acontecendo mas… Tô apaixonada pela Patrícia”. Patrícia fala sobre a insegurança, ela jamais esperava que a Marina estaria querendo ficar com ela. Teve a iniciativa de comprar 10 tequilas para todos beberem e ela e a Marina também, assim isso as aproximaria para o beijo acontecer. E mesmo com as bebidas, com os amigos em volta, Pati ainda estava paralisada, tinha medo de dar tudo errado. No fim, depois de dar certo e ficarem a festa toda, cada uma foi embora (Pati com as amigas e Mari para o hotel). No dia seguinte, sábado, Pati foi para a festa de família… e domingo, para um samba na feira com outros amigos. Queria muito mandar mensagem para a Marina, mas os amigos falaram para ela não mandar em tom de crítica, “porque sapatão já quer ficar junto, namorar etc”. Ela passou o dia esperando um sinal da Marina, um post, qualquer coisa… mas era óbvio que Marina não iria postar nada, estava em casa, geralmente não postava. Em resumo: ficou triste no samba, esperando uma mensagem chegar. Segunda, Marina, que também esperava uma mensagem, sinal de fumaça, ou qualquer coisa semelhante, tomou iniciativa: postou uma música que Patrícia gostava, esperando a interação acontecer. E deu certo. Logo nos primeiros dias, os amigos da Patrícia já estavam totalmente contra qualquer início de relação que poderia ser, pois achavam que ela poderia se machucar. Patrícia havia terminado um relacionamento longo há poucos meses e não havia se relacionado com muitas mulheres depois disso, entrar de cabeça numa relação era arriscado e ela já estava envolvida por uma mulher que tinha beijado apenas uma noite, por mais que conhecesse há anos, então eles eram totalmente contra. Mas de que adiantava falar? Ela continuava envolvida. Elas seguiram conversando e queriam muito se encontrar, mas não sabiam como. Foi numa conversa que Pati contou o quanto amava praias, sonhava morar em Búzios e disse que gostaria de estar com a Marina numa praia em algum momento. Ela respondeu que já estava nessa praia, era só dizer o dia e a hora e elas marcaram para o domingo seguinte. Quando chegou, Pati foi até um quiosque (onde nos encontramos para fazer as fotos), estava muito nervosa e bebeu uma cerveja como se fosse água no deserto. Sentia que Marina não chegava nunca, mandou uma mensagem para a amiga, dizendo: “Por que caralhos mulher atrasa?” E Marina chegou, vestindo a mesma roupa que usava no dia que nos encontramos para documentar essa história, lendo a mensagem por trás dela, dizendo em voz alta: “Não tô atrasada”. Mesmo com o nervosismo e o susto no primeiro momento, elas comeram, beberam, tiveram um encontro ótimo. Ficaram horas no quiosque. Foram na praia. Reservaram um hotel à noite, ficaram muito nervosas o dia todo. E deu tudo certo. Depois do primeiro encontro, seguiram se encontrando com maior frequência, trabalharam juntas no formato híbrido, um mês depois Pati pediu Marina em namoro (em agosto) e em outubro, numa viagem para Búzios, estavam no show do Leoni, cantor que a Pati adora e Marina olhou pra ela de um jeito muito diferente, depois perguntou qual era o lugar favorito dela da cidade e foram até o píer. Lá, ficou muito nervosa e soltou logo de uma vez: “Quer casar comigo?”. Tudo muito rápido, por mais que cheio de detalhes envolvidos, só aconteceu. Em janeiro de 2024 foram morar juntas em Oswaldo Cruz, bairro carioca, próximo à família da Marina. Sentem que a família têm sido um suporte imenso e admiram muito o que constróem juntos, não pensam mais em ir para outro bairro, estar próximos deles é qualidade de vida. Em fevereiro casaram no cartório e afirmam: foi a melhor coisa que já fizeram. No começo, não pensavam em engatar o namoro, mas aconteceu… e conversavam muito sobre isso, sobre o medo que possuíam, sobre como era importante conhecerem as famílias, entenderem seus processos, e aos poucos viram que queriam mesmo estar juntas. Foi muito claro. Sentiam que não tinham mais tempo a perder, o que sentiam estava nítido. ↓ rolar para baixo ↓ Patrícia Marina

  • Angélica e Jaque | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Angélica, no momento da documentação, estava com 34 anos. Ela é natural de São Miguel do Iguaçu, uma cidade no interior do Paraná, mas mora em Criciúma - Santa Catarina há bastante tempo. É apaixonada pela escrita, gosta de escrever poemas, ler e passar tempo com os seus bichinhos em casa. É formada em letras e trabalha na UNESC, universidade pertencente à cidade de Criciúma, no setor de educação e design instrucional. Sua função é receber o material didático que será passado ao aluno na modalidade de educação à distância e preparar este material para que ele fique mais didático, com elementos, esquemas, imagens, deixando-o mais interessante pensando no autoestudo do aluno, visto que ele estará estudando em casa sozinho. Além disso, Angélica também trabalha com a Jaque, sua companheira, enquanto produtora dos eventos que ela canta e toca. Ela monta o equipamento, cuida do som, faz alguns registros para redes sociais e faz os contatos para fecharem os próximos shows. Quer muito fazer da sua produtora um trabalho fixo, e inclusive, quando nos encontramos para a documentação ser feita, iria acontecer nos dias seguintes o primeiro evento oficial criado por elas. Jaqueline, no momento da documentação, estava com 25 anos. É natural de Sangão, interior catarinense, mas atualmente mora em Criciúma com Angélica. Estuda psicologia e trabalha como estagiária no setor de arte e cultura da UNESC, universidade já citada acima. Aos finais de semana se dedica aos eventos em que trabalha fazendo shows em estilo voz e violão ou com a sua banda. Adora cantar e observar as pessoas enquanto canta, além disso, sempre que pode está assistindo algum show e pegando referências para o seu próprio trabalho. Angélica levava uma vida bastante agitada quando conheceu Jaque. Conta que só queria saber de sair, beber, beijar na boca… Inclusive, estava procurando mulheres para beijar quando encontrou no Twitter um link que levava à um grupo e Whatsapp chamado “SAC Sapatão”. Lá havia gente do Brasil todo e logo perguntou: “Tem algum DDD 48 aqui?”. Alguns dias depois a Jaque respondeu ela no privado, falou: “E aí, Criciumense?!” porque já tinha visto o papo se desenrolar lá no grupo. Passaram duas semanas conversando sem parar, até que resolveram marcar um encontro para se conhecer em que Angélica buscaria a Jaque em sua cidade, próxima à Criciúma, elas beberiam em Criciúma e depois ela a levaria de volta. A questão foi: elas só beberam. E Jaque, pobrezinha, estava cheia de fome, pingava de bar em bar com a Angélica contando mil histórias e bebendo… e só via as comidinhas passando para as outras mesas. Jaque era muito tímida, não disse nada, mas também não comeu. Chegou em casa com fome, achou o date ruim. Deram um beijo na despedida e isso foi o bastante para Angélica, que não tinha noção da fome da Jaque, pensar: “Yes! Arrasei!”. Jaque resolveu dar mais uma chance, se encontraram novamente e dessa vez teve até uma bolachinha dentro do carro, caso a fome batesse. Foram até a cidade de Tubarão, próximo onde Jaque morava, para viverem uma festa. Na época, já se sentiam bastante envolvidas. Angélica via a Jaque cantando nos vídeos e sentia a paixão chegando, mas os amigos não colocavam fé, para eles era só mais uma paixão passageira. A partir do segundo encontro em que foram na festa e que depois da festa dormiram juntas, sentem que algo começou a se firmar. Se encontravam com frequência, Jaque na época cursava uma faculdade em Criciúma e isso fazia com que estivessem sempre juntas… Mas Angélica seguia com o seu jeito agitado, querendo sair e curtir a vida, até que foi preciso entender que não dava para continuar com tanta intensidade assim, foi “sossegando” aos poucos. Do momento em que se conheceram até o começo do namoro foi bem rápido, entre janeiro e fevereiro de 2019. Logo no começo, também, já se apresentaram para as famílias, compraram alianças de namoro e foram seguindo a relação, até que depois de alguns meses entenderam que namorar morando em cidades diferentes estava ficando muito difícil. Jaque se mudou para Criciúma e foi morar com Angélica, se estabilizou num emprego e a vida recomeçou… Até começar a pandemia de Covid-19, onde trabalhavam de casa e passavam o dia inteiro juntas. No meio de tudo o que viviam, para garantir direitos e também celebrar o amor que resistia em tempos pandemicos, casaram-se no papel. Queriam fazer uma grande festa, mas não foi possível. Contam, rindo, que saíram do trabalho num dia chuvoso, foram até o cartório assinar um papel e assim que saíram de lá comeram uma coxinha e beberam uma coca-cola, foi a forma de comemorar. Quando nos encontramos para a documentação haviam recém trocado as alianças de namoro para de casadas, mesmo depois de alguns anos, porque queriam ter condições financeiras para comprar alianças legais. Estavam felizes com isso e fizeram questão de registrar nas fotos. Por mais que já passaram por muitas coisas boas juntas, existem também as difíceis, como a própria pandemia. Angélica perdeu a avó, uma das pessoas mais importantes da sua vida, e por conta do trauma desenvolveu alguns medos e fobias. A relação passou a significar apoio para além do romântico, Jaque se tornou um suporte imenso, um cuidado e ajudou no entendimento desses medos, de viver esse processo. Juntas, elas se apoiam em tudo. É nesses momentos que enxergam o amor de forma clara, refletido no cuidado, companheirismo, ajuda diária a enfrentar a vida. Angélica conta que acorda mais tarde, então Jaque tem todo o cuidado de preparar o café, pensar na rotina uma da outra, deixar os lanches prontos… E isso fala muito sobre apoio. O amor não precisa estar sempre no afeto físico. Ele está, também, na forma que elas sonham em viver da música e fazem o sonho virar realidade, investem em equipamento, em editais de cultura, vão atrás de shows para fazer… em toda a vez que dão as mãos e acreditam uma na outra. Falamos sobre trabalharem juntas, morarem juntas, viverem uma rotina muito intensa. Até para a própria documentação acontecer, batalhamos por um horário. E foi aí que citaram a maior dificuldade que passam atualmente: o cansaço que a rotina demanda. Existem alguns meios que recorrem para que isso não pese tanto, como a terapia, as longas conversas - nunca se veem brigando ou discutindo, mas conversando. Confiam muito uma na outra e isso é o que as movimenta, que mantém tudo em segurança. Se a rotina já é pesada, não querem que a relação também vire um peso. Angélica tem muito cuidado com a limpeza e cita que às vezes sente necessidade de limpar, ainda mais com os bichos em casa, não quer deixar o ambiente sujo para a convivência deles. Mesmo chegando exausta, arrasta os móveis, começa a limpeza… E a Jaque “pega junto”, em suas palavras, para limpar. Não era o que gostariam, prefeririam o descanso, mas reconhecem como a ajuda faz a diferença. Isso também fala sobre o amor, sobre poder contar, sobre não deixar de lado. ↓ rolar para baixo ↓ Angélica Jaque

  • Página de erro 404 | Documentadas

    404 error vish maria. como você veio parar aqui?! nem eu, que sou o site, sabia que essa página existia. acho que isso é um erro. vem cá, vamos lá para o início. o lugar que você queria chegar é outro, né? pesquise aqui o lugar que você deseja

  • livro | Documentadas

    Aline e Aya audio

  • Dalle e Dyanne | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Dállete estava com 26 anos no momento da documentação. É natural de União dos Palmares, interior de Alagoas e, sendo uma mulher descendente de indígenas/quilombolas, carrega isso muito forte em seu corpo. Foi criada por sua mãe e por parte da família materna numa cidade chamada Carpina, localizada na zona da mata norte pernambucana, onde morou até os últimos anos quando decidiu cursar direito no campus do sertão de Pernambuco, sendo a primeira pessoa da família a cursar faculdade. Dálle adora fotografar e durante a faculdade conseguiu se sustentar e realizar diversos trabalhos acadêmicos com a fotografia - criou um projeto fotografando as comunidades indígenas e quilombolas que tinha acesso, viajou para Brasília, Amazonas e Bahia, apresentou os registros em diversos lugares e ganhou prêmios. Até hoje cultiva o hobbie e a veia artística. Dyanne estava com 27 anos no momento da documentação, é natural de Carpina, zona da mata norte de Pernambuco, e conta sobre sua infância ter sido toda na igreja. Não lembra de algum momento antes dos 11 anos de idade não ter sido dentro da Igreja Petencostal do Sétimo Dia, foi só durante a pandemia de Covid-19 (com ela já sendo uma mulher adulta), quando tudo estava fechado, que viu a oportunidade de sair da religião e conhecer outros lugares. Entre as tarefas na religião, gostava de cantar e tocar violão. Foi lá, também, que conheceu Dálle. Dálle foi cristã muitos anos, quando entrou na universidade entendeu a grandiosidade do mundo - e do que era a sua vida em si: as violências que já havia sofrido, a cultura que carregava e o que significava seu corpo. Foi quando entendeu que poderia gostar de mulheres - de pessoas em geral - e que a sexualidade não define caráter. Dyanne sempre achou mulheres muito bonitas, entendia isso desde a adolescência, mas nunca soube como era o mundo para além da sua família e da igreja. Quando apareciam coisas para fora “da sua bolha” na televisão, o pai trocava de canal… Foi uma pessoa muito protegida. Entendeu o que era o contato físico entre as pessoas no ensino médio - e foi também quando pensou sobre a possibilidade de sentir algo por outra mulher. Mas, logo cortou a possibilidade, até porque não era sobre mulheres em geral, era sobre uma mulher especificamente. Mesmo assim, nunca chegou a acontecer nada, o medo que sentia do “pecado” era muito maior. Na época em que tudo isso aconteceu na escola, Dyanne chegou a conversar com uma psicóloga sobre: contou que estava conversando com uma menina e que achava que gostava dela. Coincidentemente, os pais estavam em separação e a psicóloga orientou que ela estava depositando a falta que sentia da mãe na busca por um afeto feminino, dizendo que ela “confundia as coisas”, mas não, que não gostava de mulheres, apenas estava confusa. Ela entendeu isso como um diagnóstico e, toda vez que sentia isso, ainda que anos depois, pensava “Nossa, ainda não passou?!”. Por mais que no decorrer dos anos tivesse admiração por outras mulheres, a primeira mulher que de fato se envolveu foi Dálle. [mais uma vez, fica claro a importância de buscarmos profissionais da saúde que nos enxerguem e nos acolham de verdade] Por mais que Dálle e Dyanne começaram a sua relação amorosa já adultas, são amigas de infância por conta da igreja e da vida no interior pernambucano. Sempre foram amigas confidentes, se tratavam com muito carinho e dividiam uma paixão imensa pela leitura de O Pequeno Príncipe, mas nunca haviam se olhado além da amizade (ou compartilhado a paixão por mulheres em suas conversas, pelo contrário, se entendiam enquanto mulheres héteros… e nem conheciam outras possibilidades). Fizeram uma prova de ENEM juntas - e essa prova para quem é da religião Adventista era totalmente diferente porque os sábados são guardados, então era feita durante um dia inteiro. Elas relembram o quanto se cuidavam durante a prova, nas filas e nos intervalos. Entendem que há 6 anos vivem essa relação amorosa e há 6 anos descobrem diariamente quem são, porque sempre viveram longe das outras culturas. Só em 2024, por exemplo, furaram as orelhas para colocar brincos pela primeira vez. Lembram dos primeiros eventos que foram: junto de um grupo que formaram com outros amigos LGBTs que saíram da igreja por não serem aceitos, foram ao carnaval pela primeira vez e achavam que seria horrível, o caminho todo passando mal com o medo do caos, o pensamento de que era o “Satanás” tomando tudo… e quando chegaram era lindo, muito colorido, com muitas crianças na rua e todos dançando maracatu. Dálle sempre foi uma mulher que performa feminilidade, usando roupas coloridas e maquiagem. Enquanto Dyanne possui um estilo que não gostava de usar batons diariamente, usava mais as cores preto e cinza… e todos falavam muito dela por conta disso, como se “já esperassem” que ela não fosse performar a heterossexualidade desejada. Porém, foi Dálle quem “saiu do armário” primeiro e contou para Dyanne que havia beijado uma menina. Quando estavam juntas, numa situação em casa, se encostaram e sentiram um frio na barriga. Não foi intencional, estranharam e pensaram “O que aconteceu ali?” mas, quando passaram próximas de novo, fizeram questão de encostar novamente para ver se iriam sentir. E deu certo. Naquele mesmo dia, algumas horas depois, Dálle estava na casa de um amigo e mandou um meme brincando para Dyanne, no desenrolar da conversa ela demonstrou o interesse em beijá-la. Acabaram não falando mais sobre isso, só deixaram a vida seguir o rumo, até que surgiu uma viagem para Recife à passeio, junto de outra amiga. Nessa viagem provaram cerveja pela primeira vez, já se sentiram diferentes uma à outra, conversaram a noite toda e finalmente ficaram juntas. A partir desse momento sabiam que queriam seguir juntas, acreditavam muito no que sentiam, mas havia o medo perante tudo o que aprenderam na igreja e de tudo o que precisariam enfrentar com suas famílias. O começo do namoro girou um ano em torno do medo e do preconceito com que a família (e a igreja) olharia o relacionamento e o amor que viviam. Contam o quanto foi doloroso, passaram muito tempo afastadas, depressivas e morando em lugares distantes. Questionavam o tempo todo “Será que é isso mesmo que Deus quer pra gente?!”. Se apegaram muito aos livros, liam no telefone juntas e isso amenizava a distância. Também pensavam em todas essas regras criadas na sociedade, esses julgamentos sobre elas, quem tem o poder sobre isso? Em suas palavras: “A gente entendeu que o amor de Cristo superava esse preconceito, sabe, e que Ele queria ver a gente livre. E tem um versículo da Bíblia que fala, né, de que foi para a liberdade que Ele nos criou. E ser livre é ser quem a gente é. Então, a gente decidiu que iríamos ficar juntas. E depois dessa decisão, estamos aqui, até hoje, assumidas.” Viveram longos processos conversando com suas famílias sobre o relacionamento. Alguns, inclusive, que só foram acontecer aos quatro anos de relação. Mas quando entenderam que o amor supera o medo e permite sonhar novamente, decidiram criar novos sonhos - e assim chegaram até Recife morando juntas, adotaram os bichinhos, criaram um lar… a vida tomou outra forma. Hoje em dia comemoram cada detalhe: desde passar datas comemorativas como um Natal juntas, até postar uma foto nas redes sociais, receber os familiares em casa, pegar nas mãos andando nas ruas… todas as coisas que por tanto tempo não puderam fazer. Dyanne pediu Dálle em casamento no Rio de Janeiro, num pedido que inicialmente deu errado mas depois deu certo, no show do Coldplay. Também fizeram união estável durante a pandemia de Covid-19, inicialmente por questões burocráticas de plano de saúde, mas hoje entendem a importância que isso representa. Sonham em realizar uma cerimônia em algum momento, com seus amigos, familiares, fazendo jus ao amor tão acolhedor que compartilham. Por mais que a história que viveram não foi fácil, tentam não demonizá-la, porque é intrínseca ao que elas são. Cuidam da mente e do coração para seguir sendo boas uma à outra e se permitem viver, experimentar, sentir as coisas… já que passaram tantos anos sem acesso ao mundo de verdade. Entendem que estão sempre em ressignificação: ressignificam a religião, Deus, o lar, a família, o amor… E querem encontrar a liberdade de viver a própria vida, o direito de cada um ser quem é. ↓ rolar para baixo ↓ Dállete Dyanne

  • Nayara e Mayara | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. ↓ rolar para baixo ↓ Nayara Mayara

  • Barbara e Isadora | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. ↓ rolar para baixo ↓ Bárbara, no momento da documentação, estava com 30 anos. Trabalha enquanto comissária de bordo e é apaixonada por viajar. Antes de ser comissária, foi tatuadora e trabalhou bastante tempo com arte, começou pela necessidade de juntar dinheiro, foi seguindo a profissão e fez carreira, até fechar o estúdio durante a pandemia de Covid-19. Hoje em dia, a arte segue nos detalhes da sua casa, na decoração que faz, nos móveis que transformou e quando dança com a Isa pelos cômodos. Mas sua rotina mesmo, é voltada ao sonho de conhecer o mundo viajando - que realiza através do trabalho. Isadora, no momento da documentação, estava com 29 anos. Ela é atriz, narradora de audiolivros e foi bailarina por 11 anos. Sua rotina, atualmente, é trabalhar no Rio de Janeiro com a narração e edição de audiolivros, além de cuidar de diversas plantinhas em casa e querer ter cada vez mais - alimentando um sonho antigo da Bárbara de um dia morarem no campo. Isa explica que nunca desejou morar num lugar como um sítio ou campo, sempre quis o centro, mas é pelo fato de sempre morar longe da escola ou do trabalho e demorar muito tempo para chegar. Hoje em dia, ao analisar e pensar sobre, acha que seria feliz morando num lugar bem arborizado. Atualmente, elas moram juntas há cerca de um ano na Ilha do Governador, local em que Bárbara nasceu. Isa é natural do Rio de Janeiro, mas de bairros distantes da Ilha. Resolveram morar juntas depois que o namoro caminhou e pelo convívio delas/com os gatinhos irem crescendo. Antes da Isa chegar, Bárbara era muito bagunceira, não tinha uma casa com cara de lar e a bagunça era também uma das causas da sua ansiedade. Foi nessa mudança que viu sua casa virar lar, entendeu a ter mais cuidado com prazer, viu uma evolução acontecendo e hoje em dia, quando chega em casa entende a grandiosidade disso tudo. Ambas cuidam muito do seu cantinho, amam a parceria desse cuidado, dançam, fazem churrasco ouvindo pagode, vão à praia próxima, recebem amigos, curtem a casa e organizam com carinho. Foi no final de 2022 que Bárbara e Isa se conheceram. Bárbara tinha um grupo de amigas lésbicas que sempre saiam juntas, mas logo no dia que queria sair a maioria não topou e acabou indo só com uma delas num bar - este voltado ao público feminino que existia no Rio de Janeiro: o Boleia - porque estava com desejo de comer uma batata frita que só tinha lá. Quando chegou ele estava bem cheio, o clima agitado, não tinha mais a famosa batata frita, mas ela insistiu com a amiga: “Vamos ficar por aqui, quem sabe conhecemos alguém legal!”. E conheceram mesmo, o grupo de amigas que a Isadora estava. Bárbara chamou a Isa para dançar um forró e enquanto elas dançavam, no meio do barulho, até perguntou para a Isa se ela estava solteira, mas ela nem ouviu, não respondeu - e foi insistente, que bom, porque meses depois ficou sabendo que Isa não estava nem aí, não tinha muita disposição para conhecer alguém naquele momento. O bar já estava fechando e, em grupo, seguiram para outro lugar, mais calmo. Foi lá que conseguiram conversar, a Isa pensou: “Nossa, que menina interessante!” e as coisas se desenvolveram. Depois de se conhecerem nesse primeiro encontro, passaram 15 dias até conversarem novamente online e surgir o convite para se encontrarem novamente. Saíram, as coisas fluíram e seguiram se encontrando, mas confirmaram: não queriam nada sério. Dois meses depois, não tinham como negar, já estava sério. O pedido de namoro aconteceu no começo de 2023. A verdade é que tanto Bárbara, quanto Isa tinham bastante medo de se relacionar. Mas o que ajudou a enfrentar o medo foi observar o quanto eram pessoas que mereciam viver algo bom, que desejavam coisas boas para os outros e para si. Cativaram uma à outra. Acreditam que a dinâmica de relação que possuem é muito bem sucedida e Isa traz o exemplo da relação dos pais dela - conta que é a mais bonita que conhece, eles estão juntos desde a adolescência e são muito parceiros, são o maior exemplo de vida que possui. Aos poucos, ela enxerga o que deseja na relação com a Bárbara também e se orgulha muito disso. Para Bárbara, o amor sempre vai nos encontrar. É a força mais poderosa do mundo. Vai nos encontrar num animal que nos olha na rua, num café que bebemos, numa pessoa que amamos. O amor é a força criadora. É a proposta por estarmos aqui: para nos desenvolver no caminho do amor. Ela sempre teve a dualidade: ser uma pessoa um pouco solitária, mas também buscar o amor nas pessoas. No começo da relação, a mãe orientou: “Filha, vai com calma. Você se entrega muito.” E ela respondeu: “Mas a Isadora também é assim”. E a Isa também passou por isso com a mãe e com as amigas. Hoje em dia ela enxerga a relação que vive com a Isa como algo muito curativa: curando traumas, cuidando… alguém que abraça mesmo o que não é perfeito (como a questão da bagunça, citada no começo do texto) e te ajuda a melhorar. Para Isa, o amor de alguma forma é clichê. É uma transformação constante, ser a sua melhor versão para si e para o outro, para quem enxerga a melhor versão de você. Ter ternura e respeito, deixar a pessoa digerir no tempo dela, ter cuidado. Acha incrível o quanto as famílias delas se gostam e apoiam a relação delas e isso é muito valioso, acredita que o amor também mora nesses momentos.

  • Laiô e Íris | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. A história da Laiô e da Íris começou de maneira inesperada, conectando caminhos por meio das redes sociais. Íris mantinha uma página onde compartilhava reflexões sobre relacionamentos não-monogâmicos e experiências pessoais. Laiô, que estava em um momento de autodescoberta após o término de uma relação, passou a acompanhar esse conteúdo. Entre os conteúdos postados, chamava muita atenção a forma que a Íris se expressava, não inicialmente por interesse romântico ou flerte, mas por admiração genuína, curiosidade e vontade de aprender sobre esse novo ‘universo’. Mas, por mais que acompanhasse os conteúdos, Laiô nunca interagiu com a página. Algum tempo depois, Íris apareceu no perfil de Laiô, e ambas começaram a se seguir. Trocaram algumas mensagens e, entre essas interações, perceberam que tinham amigas em comum, iam em lugares em comum - e até outros lugares que Laiô nunca tinha conhecido, o que deixou ela muito intrigada, pensando “Como essa menina chegou aqui em tão pouco tempo e tem conhecido mais coisas que eu?”. Quando finalmente se esbarraram, em setembro de 2023, foi num samba em Itacaré, onde fizemos a documentação acontecer. Foi Íris quem reconheceu Laiô (e até checou no Instagram pra ver se era ela mesmo). Se apresentou, dançaram juntas, mas a interação foi breve. Dias depois, se esbarraram novamente num show que Laiô estava fazendo, dessa vez em Serra Grande, município próximo à Itacaré e local onde Íris morava. Foi lá que Íris sentiu algo diferente, pensou: “Que pessoa interessante”. Cerca de 15 ou 20 dias depois se esbarraram novamente, dessa vez em Salvador. Laiô estava na cidade para mais shows e Ísis ia para lá com frequência, mas não esperava encontrá-la. Foi a terceira coincidência e então decidiram: era hora de marcar um encontro intencional. Tomaram café da manhã juntas e ali começou a se desenhar uma história que parecia ter sido escrita pelo acaso – ou pelo destino. Íris estava com 32 anos no momento da documentação. É natural do Rio de Janeiro, mas, com apenas seis meses de idade, mudou-se para Salvador, onde viveu a maior parte da sua vida. Psicóloga de formação, dedica seu trabalho ao atendimento da comunidade LGBTQIAPN+ e às questões relacionadas à não-monogamia. Teve sua trajetória profissional transformada ao longo do tempo, principalmente quando começou a se reconhecer como uma pessoa LGBT. Esses aspectos foram se refletindo em sua prática clínica, até se tornarem o foco integral de seus atendimentos. Durante a pandemia de Covid-19, com a migração para o formato online, surgiu também o desejo de sair da cidade grande e buscar um estilo de vida mais tranquilo e conectado à natureza, decidiu passar um tempo na Chapada Diamantina, voltou à Salvador, viajou mais um pouco e, finalmente, decidiu se estabelecer em Serra Grande, na Bahia. Hoje, ela vive com Laiô em Ilhéus - uma escolha que inicialmente não fazia parte de seus planos, já que considerava Ilhéus grande demais para o estilo de vida que idealizava - mas a vida e o trabalho de Laiô faziam mais sentido na cidade, e assim encontraram um equilíbrio. Laiô, no momento da documentação, estava com 37 anos. Nasceu em Ilhéus e foi criada em Uruçuca, vindo de uma família de produtores rurais das fazendas de cacau. Essa mesma família, acolheu sua identidade artística e acredita plenamente na pessoa que ela se tornou, investindo na sua educação com o desejo de oferecer um futuro diferente. Hoje ela trabalha enquanto cantora e compositora. Entende que é através da arte que define a forma como se expressa no mundo. Foi em Itacaré o local onde ela se descobriu artista, cantando pela primeira vez. O início do romance entre Íris e Laiô aconteceu num ritmo diferente, entre viagens e deslocamento, no que elas apelidaram de “romance viajante”. Íris precisou dividir seu tempo entre Serra Grande, Salvador e a Paraíba, para dar suporte à família em um processo de luto. Tudo aconteceu logo nas primeiras semanas em que estavam juntas e foi nesse vai e vem que viveram um amor viajante, encaixando encontros entre as viagens, sem saber ao certo o quanto aquilo duraria. Seguiram os primeiros meses assim, até o início de 2024, quando perceberam que os sentimentos estavam se enraizando e intensificando. Laiô apresentou Ilhéus para Íris e os encontros começaram a ganhar um significado maior. Uma situação marcou esse momento: em março, a mãe de Laiô fazia aniversário no dia 9, mas Laiô tinha um show importante em Salvador no dia 8. A única forma de voltar em tempo seria de carro e Íris prontamente se ofereceu para dirigir entendendo a importância da relação de Laiô com a mãe. Foi nesse momento que ambas perceberam o quanto a parceria entre elas já tinha se fortalecido, transformando o que antes era um romance casual em algo mais sólido. Laiô pensou: “Essa não é qualquer pessoa”. O encontro das duas aconteceu em um momento de transformações pessoais para ambas, e essa vulnerabilidade criou uma base de acolhimento e parceria. Mesmo com pouco tempo juntas, já havia um grande cuidado uma com a outra. Nos momentos difíceis de Íris, Laiô enviava músicas e poesias, fortalecendo o vínculo por meio dos gestos afetuosos. E esses detalhes fortaleceram o vínculo que era recente e que não estava fisicamente próximo. No dia em que documentaram essa história, inclusive, estavam finalizando a mudança para o apartamento onde passariam a viver juntas. Conversamos sobre como a convivência traz desafios, as mudanças não são fáceis; mas destacaram a importância de respeitar os tempos e ritmos individuais, enfrentando os conflitos com leveza e comunicação. Dividir o lar, para elas, é um aprendizado constante – e uma forma de construir, juntas, um lugar seguro. Foi ajustando suas rotinas para aproveitar os momentos em que Laiô e Íris encontraram a melhor forma de se adequar à semana corrida, já que trabalham em horários opostos – Laiô à noite, Íris durante o dia. Valorizam muito os cafés da manhã, que se tornaram quase um ritual de conexão. Mesmo quando Iris tem atendimentos mais cedo, ela dá um jeito de sentar à mesa, entre um compromisso e outro, para compartilhar esse momento. É ali que conversam, trocam olhares e se equilibram, criando um espaço de calma e proximidade no meio das rotinas agitadas. Elas veem sua relação como um convite constante à reflexão e ao cuidado mútuo. Foi através desse encontro que aprenderam mais sobre a não-monogamia, a horizontalidade dos afetos e a importância do tempo de qualidade com quem amam - sejam familiares, amigos ou seus animais de estimação. Por mais que estejam apaixonadas e vivam a intensidade de uma relação jovem, entendem que é essencial valorizar a liberdade individual e os outros vínculos que cada uma tem. Esse amor, cuidadoso e maduro, desafia o discurso a ser vivido na prática, lembrando-as de nunca abandonar o cuidado e a atenção com as pessoas ao seu redor. No dia anterior à documentação, Laiô viveu uma situação que as fez refletir sobre os desafios ainda presentes na cidade em que vivem. Enquanto caminhavam pelo centro indo comprar coisas da mudança, de mãos dadas, um homem que passava com sua esposa e seu filho disse: “Não pode não, só pode homem com mulher.” Inicialmente, Laiô pensou ser uma brincadeira vindo de alguém que a conhecia, estava distraída conversando algo sério com a Íris e só percebeu uns passos à frente a seriedade do comentário. Apesar da vontade de reagir, sentiu medo e seguiu em frente. Mais tarde, ficou pensando: o que fazia aquele homem se sentir confortável em dizer algo assim? Por que o simples ato de caminhar de mãos dadas era visto como uma afronta? Onde ela está vendo menos amor entre as duas do que ali, na família dela? Elas só estavam andando na rua. Num calçadão cheio de gente. Elas desejam que o futuro traga mais coragem e menos medo - elas caminhando de mãos dadas conseguiram ofender mais que se um casal heterossexual-cis estivesse se beijando de forma vulgar. O desejo que fica é mais coragem para amar e viver livremente, um mundo onde expressar afeto não seja motivo de ofensa, um lugar onde não tenhamos medo. ↓ rolar para baixo ↓ Laiô Íris

  • Carol e Cris | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Carol e Cris possuem um estúdio em Criciúma/Santa Catarina, onde fazem cabelos, unhas, body piercings e, junto com uma amiga, tatuagens. Foi conversando com essa amiga, inclusive, que planejaram o lugar: tiveram várias ideias para sair do padrão e criar um ambiente cada vez mais acolhedor. O estúdio começou quando elas foram para São Paulo, em 2023, viver o Lollapalooza. Descobriram que estava tendo uma feira de produtos de salão e tinham um cartão de crédito com limite disponível, chegaram lá e compraram muitos utensílios, desde potes até acessórios e montaram o estúdio assim. Jogaram ao universo. Quando chegaram no hotel, colocaram as compras em cima da cama e falaram em voz alta: “O que que a gente fez? Onde vamos colocar tudo isso?!” Quando voltaram para Criciúma acharam a sala que alugaram porque ficava na rua onde a Cris morava. O local era bem diferente, elas decoraram do jeito que gostavam, foram reinventando tudo. Agora, um ano depois, entendem o crescimento, o poder do sonho. Fazem questão de refletir isso em tudo: na escuta, acolhimento e cuidado com cada cliente. E entendem que é revolucionário ter um espaço voltado ao público LGBT+ e para as mulheres numa cidade conservadora. Não querem negociar os pontos que as fizeram criar este lugar: ser um espaço seguro para as pessoas se abrirem, conversarem, rirem, chorarem. Ser quem são sem medo de julgamento e sair de lá se sentindo empoderadas. E é isso que desejam para a cidade em si. Mesmo sendo uma salinha pequena, lá existe verdade. Se sentem felizes. E desejam isso para além: não querem mais olhares tortos por onde andam, serem julgadas pelas tatuagens, por andarem de mãos dadas… querem que o espaço seguro ultrapasse as barreiras do estúdio. Cristina, no momento da documentação, estava com 31 anos e é natural de Criciúma. Trabalha como cabeleireira, com foco em cabelos com curvatura. Se formou com o cabeleireiro Rodrigo Vizu, de São Paulo, e alguns outros cabeleireiros que ela tanto admira. Acredita que a questão do cabelo com curvatura veio dela mesmo, tinha o cabelo alisado e pouco depois da pandemia resolveu mudar, não se identificava mais. Estava começando a namorar com a Carol e ela super apoiou a transição. Além de trabalhar, gosta de descansar, assistir séries, ficar no sol, passear, tomar café, provar coisas diferentes. Veio de uma família tradicional evangélica, saiu de casa com 26 anos, morou em Balneário Camboriú e depois voltou para Criciúma, dividiu apartamento com uma amiga, foi bem difícil entender que não havia mais espaço na sua casa pra ela, e então passou a respeitar o seu corpo e quem ela é de verdade. Carol, no momento da documentação, estava com 29 anos e também é natural de Criciúma. Tem sua formação em administração, sempre gostou da área administrativa e financeira, mas aos poucos foi desconstruindo essa visão “executiva” e heteronormativa de vida que ela tinha e entendendo uma nova personalidade que condizia mais com quem ela realmente era. Trazia muitas vivências da igreja também, então aos poucos foi mudando a aparência, entendendo do que realmente gostava… Logo depois conheceu a Cris, foi um processo de descobrimento em conjunto. E hoje em dia ela também trabalha no estúdio, tanto como manicure/pedicure quanto como body piercing. Depois de 4 anos juntas, elas estão morando no mesmo lar, junto com seus três gatos e uma cachorra. Sentem que podem morar em qualquer lugar, desde que levem eles. E, no lar, cada uma continua com seu espaço: como seu guarda-roupa, por exemplo. Acreditam que isso contribui muito para suas individualidades. Foi num aplicativo de relacionamentos que se cruzaram oficialmente em 2020, mas já haviam muitos amigos em comum e os caminhos estavam entrelaçados há muito tempo. Carol já havia trabalhado no local em que Cris trabalhava, já tinham se esbarrado na igreja (e Carol aparecia no fundo de uma foto da Cris dentro da igreja!)... existiam vários ambientes e amigos, mas sempre muito heterossexualizados. Em um período, logo no começo da relação, ficaram desempregadas e buscavam essa rotina CLT, então surgiu um salão de beleza em que Cris foi trabalhar enquanto cabeleireira e Carol foi trabalhar na recepção. Ficaram lá bastante tempo, mas em algum momento sentiram que não era mais o ambiente ideal, estavam exaustas pela rotina, era um lugar muito diferente do que elas queriam estar… Sentiam que precisavam mudar o rumo das coisas. Na época, Carol sempre fazia as unhas da Cris e ela elogiava, dizia que deveria investir nisso. Coincidentemente, mulheres lésbicas que elas conheciam sempre iam fazer as unhas no salão que trabalhavam e acabava rolando alguns comentários complicados, elas não se sentiam bem, pensaram o quanto seria incrível ter um lugar acolhedor. Carol resolveu fazer um curso de manicure e pedicure tradicional para entender se gostava mesmo de trabalhar com aquilo e deu certo. Iniciou e depois chegou a ideia das perfurações corporais: o body piercing. Sair do salão que trabalhavam e abrir o seu próprio negócio não foi nada fácil. Quando escolheram o local e começaram do zero, precisavam atrair novas clientes, e começaram pelo marketing mais antigo (e melhor) que existe: o boca a boca. No prédio havia uma agência e chamaram as trabalhadoras para conhecer o salão, elas adoraram e começaram a frequentar. Logo em seguida foram surgindo novas pessoas, indicações e o negócio foi dando certo. Acreditam que a energia atrai coisas boas e possuem a sorte de ter essa energia boa. Deixam claro a preferência por mulheres e pelo público LGBT+, Cris também adora atender adolescentes, pessoas jovens que trazem a família e vai gerando trocas… Acha muito legal esse momento no salão; e também toma muito o cuidado em agendar pessoas que combinam no mesmo horário, que tenham a mesma ‘vibe’, que vão se dar bem nos papos. Falamos como é difícil apostar nesse sonho, viver essa rotina de trabalho e no meio disso ir morar juntas, captar novos clientes, enfrentar todos os novos desafios que nem imaginavam lidar. E como lidar com isso? Como enfrentar esses desafios? Elas respondem sobre a importância da terapia, de entender que as coisas levam tempo para se consolidar, de que nem tudo vai ser o fim do mundo, que vai fechar o salão na primeira baixa de cliente… E que é muito importante manter o pensamento positivo de que vai dar certo, de que vão dar um jeito, nem que o jeito seja parcelando o cartão, ainda assim é um jeito, estão juntas e as coisas vão acontecer. Sobre o tempo que levaram para morarem juntas e os processos acontecerem em si, entendem que foi o tempo necessário de amadurecimento da relação, ainda mais que convivem muito. Rindo, contam que conversam o dia todo e que quando chegam em casa continuam conversando, “haja assunto!”, mas adoram isso. No começo do namoro não tinham muitas amigas mulheres lésbicas ou bissexuais, as poucas que tinham perfumavam muito machismo, eram referências negativas, então quando viam mulheres respeitando outras mulheres ficavam muito empolgadas e pensavam “Que legal que isso existe!”, eram verdadeiras inspirações. Cris lembra como sexualizaram a sua relação, como recebeu perguntas muito invasivas e depois foi perdendo suas amizades aos poucos. Por isso, acreditam que o relacionamento que possuem está entre muito respeito desde o primeiro momento, foi a coisa pontual que definiram como inegociável. Esse respeito respinga na relação que possuem com os amigos, com os clientes, transparece com todos ao redor. Respeitam os bichinhos em casa, respeitam suas decisões, suas formas de ser, não se anulam ou se atropelam. Foi no relacionamento a primeira vez que viram um amor tranquilo. Possuiam uma ideia de que precisavam brigar para ser amor, ter ciúmes… E a relação mostrou o contrário: sossego, à vontade, ser quem se é sem medo de julgamento, sem modelo de relação heteronormativa para se guiar. Gostam do poder do companheirismo que permite dizer: “Hoje não quero ser forte o tempo todo”. ↓ rolar para baixo ↓ Cris Carol

  • Clarissa e Agnis | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Agnes estava com 33 anos no momento da documentação, é natural de São Gabriel, cidade interiorana do Rio Grande do Sul. Saiu de lá aos 17 anos e se mudou para Santa Maria por conta dos estudos, mas parte da família segue na sua cidade natal até hoje. Em Santa Maria se formou em nutrição, morou em Porto Alegre por um tempo, mas voltou à Santa Maria porque passou num concurso administrativo. Hoje em dia, mora novamente em Porto Alegre dividindo o lar com a Clarissa. Clarissa estava com 30 anos no momento da documentação. É natural de Porto Alegre e conta que sempre foi criada dentro da igreja. Se assumiu aos 18 anos, sendo uma mulher desfeminilizada e passou por muitos processos para entender quem era e se sentir bem com a forma que se vestia e com quem se relacionava. Foi muito difícil enfrentar os preconceitos vindos de fora e de dentro de casa, ouvir a palavra da “cura gay”, lutar pela aceitação… mas fica muito feliz quando observa o quanto as coisas já caminharam e o quanto sua família hoje em dia é apaixonada pela Agnes - brinca que gostam mais da Agnes do que dela e que adotaram ela como filha. Começa falando sobre isso porque é uma das partes que mais admira na sua história e na história delas enquanto um casal, e ressalta o quanto faz parte do relacionamento tranquilo que possuem esse valor que dão aos seus corpos e às pessoas que amam. Agnes, quando conheceu Clarissa, era uma pessoa que não se permitia viver muito o presente. Ficava sempre presa ao passado ou ao futuro. Se preocupava com o que precisava fazer, com o que tinha que planejar. Clarissa a fez entender que a vida é o momento, na maioria das vezes, nas coisas mais simples - foi durante a relação que ela começou a bordar, que voltou a ler, que passou a amar os passeios na pracinha final de tarde e compartilhar tantas receitas novas juntas. Clarissa completa que elas viraram duas senhorinhas e que adoram isso. Clarissa também adora chegar em casa, ouvir música e apreciar o descanso sem a cobrança do dia-a-dia. Explica que quando uma está muito cansada, a outra faz o almoço ou a janta… ou dividem as tarefas para não ficar pesado para as duas. Entendem que isso é se fortalecer. E que aos poucos vão descobrindo novas coisas que gostam de fazer. Sentem que viviam num limbo, estavam sempre tentando agradar os outros, pouco faziam para si mesmas ou para buscar suas felicidades e que depois de começarem a relação descobriram o que realmente gostam e que as faz feliz na simplicidade do dia. Clarissa e Agnes se conheceram no final de 2021, ambas estavam num processo de autoconhecimento, depois de relacionamentos longos. Se conheceram num aplicativo de relacionamentos. Agnes nunca havia entrado em aplicativos e não achava que isso combinava muito com ela, mas resolveu testar coisas novas, queria alguma amizade ou companhia para sair, conversar. Clarissa também não era dos aplicativos, nunca havia tomado iniciativa com ninguém por lá e Agnes foi uma exceção que deu certo. Se encontraram para tomar um açaí - o açaí em si estava ruim, mas o encontro foi ótimo! E desde então ficaram juntas. Entendem que não estavam procurando um relacionamento, foram se conhecendo e visualizando seu processo de cura, sentiam medo e até demoraram para admitir o quanto estavam apaixonadas, mas o processo fluiu e encararam o medo até estarem dispostas à relação. Logo no início do namoro, Agnes voltou a morar em Santa Maria por conta do trabalho. Foi difícil porque era algo novo, sentiram bastante saudade e isso demandava uma viagem toda semana para se encontrarem. Mas foi nesse movimento que se fortaleceram enquanto casal e entenderam que realmente queriam estar juntas. Vivenciaram momentos que foram decisivos para se conhecerem em versões que ainda não tinham tido oportunidade de ver… E sempre quando pensam na temporalidade das coisas ou “como poderiam ter se conhecido antes”, “tal coisa poderia ter acontecido antes”, refletem que foi no momento certo, precisavam passar pelas vivências para que o amadurecimento acontecesse. Ao total, Agnes morou um ano e oito meses em Santa Maria. Quando Agnes voltou de Santa Maria, ela e Clarissa moraram no mesmo terreno que a família da Clarissa durante quase um ano, até que alugaram o apartamento que moram hoje em dia. Constroem o lar com muito carinho, nas decorações feitas com artesanato aproveitando os momentos juntas, na forma que se alinham para seguirem uma relação de respeito num espaço confortável e seguro… Além disso, fizeram questão de buscar a independência num lar que seja só delas porque entendem a importância de serem consideradas uma unidade familiar, mulheres adultas que trabalham, se amam e constroem um futuro com consciência, não duas amigas ou duas meninas que vivem “uma fase”. Quando nos encontramos para a documentação acontecer, Agnes havia apresentado Clarissa para seus familiares há poucos dias e ainda estava entendendo a situação. Conta que sonham em casar, projetam o futuro juntas e é muito importante que as pessoas que amam e que desejam o bem possam compartilhar a vida com elas de forma natural e feliz por desejo próprio, sem obrigação ou questão social. Querem por perto pessoas que realmente apoiem, celebrem o amor. O que Clarissa e Agnes querem refletir para os outros na relação, é o que mais aprendem juntas vivendo esse amor: o companheirismo. Foi compartilhando o olhar/a forma que se enxergavam que impulsionam o crescimento uma da outra, até mesmo o autoconhecimento, e cresceram de forma que antes nem imaginavam. Hoje se enxergam muito mais felizes, com propósito e se permitindo ser vulnerável, porque sabem com quem contar. Querem que as pessoas que amam também saibam que podem contar com esse apoio e esse amor, porque elas viram que o amor que criaram dentro da relação já expandiu para a forma que são individualmente em vida, virou algo muito maior que uma relação romântica. ↓ rolar para baixo ↓ Clarissa Agnis

  • Inara e Juliana | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Inara estava com 25 anos no momento da documentação. É natural do Rio de Janeiro, mais especificamente do Morro da Providência, onde fizemos as fotos. Lugares como a Gamboa, a Pedra do Sal e a região boêmia do centro fazem parte do seu lar. Hoje em dia está terminando a faculdade de direito, é uma mulher que ama samba, ama estar com a sua família e principalmente com o seu pai, que já tem 73 anos. Juliana também estava com 25 anos no momento da documentação. É natural do Rio de Janeiro, da zona norte, cursa faculdade de fisioterapia e trabalha com agendamento de exames e outros processos clínicos. Tem gostos muito semelhantes com Inara: adora samba, sua família está sempre em primeiro lugar e é muito ligada ao pai - mesmo ele morando na mesma rua que a mãe, então ainda que separados, tudo é muito próximo. Passou por um processo de aceitação um pouco mais delicado dentro de casa, mas fica muito feliz em entender o quanto está evoluindo, ainda mais por levar Inara e ver ela sendo acolhida, a família perguntando por ela, desejando a presença dela em casa… Isso a faz muito feliz. Foi numa festa de natal durante a pandemia de Covid-19 que Inara contou para a família que se relacionava com mulheres, se assumindo enquanto uma mulher bissexual. Dois anos depois, em 2022, começou o relacionamento com a Ju. Até então, a família achava que talvez fosse uma fase, que ela beijaria mulheres longe de casa, que não seriam relacionamentos sérios… mas ao assumir a relação, algo mudou na forma que lidavam, era um posicionamento, um namoro que desejavam levar à sério e serem respeitadas por isso. Através de um aplicativo de relacionamentos Inara e Ju se conheceram. Inara lembra de ter visto a foto da Juliana no aplicativo, mas passou, não tinha como voltar, e resolveu procurar ela nas redes sociais. Não seria assim fácil encontrar, obviamente. Mas o que ajudou foi o fato de terem amigos em comum. O melhor ainda, é que suas famílias se conhecem há muito tempo, então não são “qualquer” amigos em comum, são pessoas muito próximas… Então, de alguma forma, elas sempre estiveram nos eventos de família uma da outra, mas não se conheciam. Eram 6h da manhã, de sábado para domingo, quando Inara resolveu mandar uma mensagem para Ju dizendo que sentia que tinha que chamar, explicou que havia encontrado o perfil dela no app, mas não conseguiu dar “like” lá, então foi procurar ela nas redes. Poderia ser uma mensagem super estranha, até deixou claro que se fosse estranho ela nem precisaria responder, e nem esperava que Ju estivesse online neste momento. Mas ela estava… Saindo de uma festa. Estranhou a mensagem, claro, mas respondeu. No dia seguinte, quando começaram de fato a conversar, descobriram todas as ligações em comum. Para além das pessoas em comum, Ju e Inara possuem muitos gostos e estilos de vida semelhantes. Desde o primeiro encontro foram vendo suas vidas combinarem, sentiam que se conheciam há muito tempo. No segundo encontro já estavam falando sobre o nome da filha que queriam ter, Ana Lua, por conta de uma música - igual o de Inara, que também é por conta da música - e que elas adoram. E cerca de dois meses seguintes teria o show do artista que canta Ana Lua, Armandinho, então elas já combinaram de ir. Explicam que foi tudo junto: mesmo estando no momento inicial da conversa, saíram fazendo planos a curto, médio e longo prazo. O primeiro mês foi um mês de entendimento e de deixar a paixão acontecer. Queriam namorar oficialmente depois do show, em dezembro, e ambas estavam com a mesma ideia de pedir. Acabaram fazendo surpresas, alugaram um espaço para viver o dia do show, fazer churrasco, curtir um samba - lá fazer um pedido de namoro - e durante o show fazer outro pedido também, na música Analua. Assim, as duas fizeram o pedido, cada uma em um momento, tornando mais especial. Entendem que nesses dois anos de relação muita coisa já está diferente, amadureceram muito pela forma que aprenderam a lidar com a família, as pressões sociais e a própria correria que a vida demanda. Reconhecem as evoluções - o pai da Inara que, com 73 anos, as acolhe nessa adaptação… a mãe da Ju que mudou muito nos últimos anos… Contam que no último dia dos pais reuniram as famílias e que foi um momento muito representativo, não só pelo valor que dão aos seus pais, mas principalmente por ter sido uma iniciativa deles. Foi um momento que ambas choraram muito e que viram ali uma quebra de preconceitos grandiosa acontecer pela vontade maior de estarem todos juntos. Tentam deixar o tempo fluir, não forçam a aceitação o tempo todo, assim as coisas vão acontecendo no tempo que as pessoas conseguem processar. Ju explica que o amor que elas vivem fica refletido no quanto estão felizes e no quando se impulsionam a crescer. A família entende esse amor porque é nítido no carinho, no tratamento diário. Resultado disso é esse esforço genuíno de estarem próximos, assim como acontece nas datas comemorativas que as famílias se juntam, ou nos momentos que percebem o esforço de cada um quebrando aos pouquinhos o preconceito em nome de demonstrar o amor, o orgulho, o respeito que existe amando a pessoa como ela é. Não é algo que surge ‘do dia pra noite’, mas uma linha do tempo que o relacionamento está criando ao longo desses dois anos. ↓ rolar para baixo ↓ Inara Juliana

  • Emilly e Thuane | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Tabata Thuane no momento da documentação estava com 33 anos, é natural de Paulista, na região metropolitana de Recife. É formada em design de interiores, mas acabou seguindo os passos da família de músicos e se dedicou à música e à cultura. Estudou violão no conservatório, além de canto e percussão, e hoje se apresenta em restaurantes e hoteis do Recife, além de construir uma forte atuação na cena cultural das cidades de Olinda e Recife entre dança, percussão e carnaval. Uma de suas maiores conexões com a tradição vem do pastoril, dança natalina de origem portuguesa que aprendeu com a avó e transformou em um bloco que percorre as ruas no Natal. Lá, também ensina percussão, e foi nesse caminho que se aprofundou no frevo, na ciranda e no maracatu. Hoje, divide o palco e a dança com Emelly, tocando juntas no pastoril e em diversos blocos desde ciranda, maracatu, coco e xaxado, onde Thuane cuida da harmonia e Emelly assume a percussão. Emelly estava com 22 anos no momento da documentação. Nasceu em Olinda, mas hoje mora em Paulista com Thuane e Otto, o filho delas. Estudante de pedagogia, trabalha na área e tem uma paixão especial por atuar com crianças neurotípicas. Paralelamente, dedica-se à cultura popular, tocando percussão nos blocos e eventos onde se apresentam. Além disso, adora maquiar, pintar o rosto, ler e escrever, mas reconhece que, no momento, toda a atenção e energia estão voltadas para Otto e para a construção de uma maternidade cuidadosa e afetuosa ao lado de Thuane. A música e a cultura popular são o elo que fortalece a relação das duas, mas entendem que o que vivem hoje vai além dos palcos e blocos. Enxergam a família que construíram como um reflexo da tradição e do amor que carregam, tanto na dança e no som, quanto na dedicação diária à criação de Otto. Encontraram na música um ponto de encontro, mas é no dia a dia que constroem, com cumplicidade, os laços mais importantes. Em 2019, Thuane entrou para o grupo percussivo Tambores de Saia, em Olinda, um coletivo de samba reggae formado apenas por mulheres. Incentivada pela namorada do pai, mergulhou na experiência e logo se encantou com a força do grupo. No fim daquele ano, conheceu Emelly tocando lá. Fizeram amizade rapidamente, descobriram amigos em comum e começaram a se aproximar. No início de 2020, ficaram pela primeira vez. Durante o carnaval, ainda estavam se conhecendo, mas então veio a pandemia de Covid-19. Emelly, recém-completados 18 anos, e Thuane, morando em lugares diferentes, decidiram se isolar juntas. Emelly ainda vivia com a família, enquanto Thuane morava com o pai, que sempre foi muito tranquilo e a recebeu em casa. Desde então, a relação seguiu crescendo e hoje as duas moram juntas num lar só delas - agora com Otto, que chegou transformando tudo. Elas contam que foi desafiador iniciar um relacionamento no meio do caos, com a sensação de que o mundo estava acabando. Entre elas, não houve grandes conflitos - sempre conversaram muito e se entendem bem. Mas o período trouxe desafios familiares: a irmã de Thuane também se mudou para a casa com os filhos pequenos, tornando a rotina intensa. A pandemia trouxe dificuldades, eram desafios novos para todas as pessoas e elas, enquanto trabalhadoras da cultura, estavam totalmente sem renda, precisaram inventar outras formas de conseguir financeiramente se estruturar. A prefeitura até fez algumas apresentações online na época festiva do São João e assim elas conseguiram algum retorno, mas nada se comparava à vida presencialmente, o que ajudou mesmo a segurar as pontas foi a família. Hoje, comentam ao olhar para trás, que a sensação é como se já possuíssem uma relação de muitos e muitos anos, pela maturidade que precisaram construir tão rápido para passar por todos aqueles momentos (e pelos que viriam em seguida). Com a chegada das vacinas e uma leve estabilização da pandemia, Emelly e Thuane começaram a reorganizar a vida. Para garantir uma renda, passaram a personalizar kits de festa e entregá-los para quem comemorava em casa. O trabalho deu certo e, pouco depois, conseguiram finalmente conquistar o próprio lar, mudando-se para um espaço só delas. Aos poucos passaram a refletir sobre a maternidade, um sonho antigo que haviam deixado de lado por conta de frustrações por relacionamentos anteriores. A adoção sempre foi a primeira opção, pois nenhuma das duas pensava em gerar. No entanto, quando entenderam que seriam boas mães, começaram a pensar de fato na adoção e em todas as outras alternativas. Além do pensamento, partiram para a ação: foram estudar qual o processo e, tão importante quanto, o custo de cada processo. Foi assim que chegaram à opção da inseminação caseira. Queriam ser mães ainda jovens, mas também precisavam conciliar os estudos e outras responsabilidades. Pesquisando no YouTube sobre inseminação e o processo via SUS, entenderam o valor e o quanto isso demorava, assim como o processo de adoção. Diferente da inseminação, entre as pesquisas, encontraram grupos de doadores. Estudaram os critérios com cuidado, até que localizaram um doador e tiveram o primeiro contato. Para encontrar o doador, contaram com o apoio de uma rede de amigas e marcaram o encontro na casa de uma delas. Não queriam passar por esse momento sozinhas, então se cercaram de mulheres que as acolheram e tornaram tudo mais leve. O doador foi até lá, elas até prepararam alguns doces para ele como presente, e depois passaram a noite na casa da amiga, garantindo que tudo acontecesse de forma segura e tranquila. Ainda incrédulas com a situação, deram risada juntas, sem imaginar que daria certo de primeira. Mas, para a surpresa e felicidade delas, a gravidez vingou e Otto chegou ao mundo. Queriam um nome simples, mas composto, e escolheram Otto José. Embora já estivessem juntas há um tempo, fizeram questão de celebrar o casamento com uma festa como mereciam. Cada detalhe foi feito com as próprias mãos e com a ajuda da família: serraram troncos da rua para a decoração, a irmã preparou o buffet, a prima fez o bolo… tudo foi construído em conjunto. No mesmo dia, fizeram o chá revelação. A família inteira estava certa de que seria uma menina (ou até gêmeos!). Quando descobriram que era um menino, se olharam sem entender e até brincaram: "Emelly, sorri, senão vão achar que não gostamos!". Hoje, Otto é uma criança curiosa e esperta, sempre explorando o mundo ao seu redor. Como não tem contato com telas, elas percebem que ele está sempre em busca de algo novo, o que torna cada descoberta mais especial. Desde experimentar comidas diferentes até interagir com as pessoas… ele se mostra um bebê livre e sociável. E, com duas mães ligadas à música e à cultura, não poderia ser diferente: Otto já ama tambores, batucadas e tudo o que envolve ritmo e som. Emelly e Thuane enxergam o amor na forma como Otto expressa carinho no dia a dia. Apesar de ser agitado, é um menino extremamente afetuoso, que as enche de beijos, pega no rosto e faz carinho nelas. Vivem uma relação de parceria genuína, na qual tudo é dividido de maneira natural e equilibrada. Observam que, em muitas relações heterossexuais, a carga recai quase toda sobre a mulher, e quando o marido participa, muitas vezes é por obrigação. Com elas, tudo acontece por escolha e desejo. Brincam que estão sempre fofocando, rindo e se entendendo, sem precisar dizer muito. Para elas, nunca é apenas Emelly ou apenas Thuane - são sempre três: Emelly, Thuane e Otto. Por onde passam, são reconhecidas assim, como uma família. Sentem que, após o nascimento do Otto, algumas amizades se afastaram e a rotina mudou, pois não frequentam mais os mesmos espaços de antes. Ainda assim, quando são convidadas para algo, a inclusão é sempre dos três, e isso reafirma o significado de família para elas. Gostam de ser vistas como essa unidade, onde o amor e a presença são inquestionáveis. Desejam que Otto cresça como uma criança livre, que possa viver com autenticidade e alegria. Embora saibam que ele enfrentará muitos desafios por ter duas mães, esperam que a base de amor e segurança que constroem todos os dias seja mais forte do que qualquer preconceito. Querem que ele enxergue a própria história com naturalidade, carregando consigo a certeza de que foi muito desejado. ↓ rolar para baixo ↓ Thuane Emilly

  • Laura e Dede | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Laura, no momento da documentação, estava com 23 anos. É natural de Salvador. Artista multifacetada, ela canta, compõe, escreve poesias e também é empreendedora com sua própria marca de roupas e acessórios. Como mulher de axé, conectada ao Candomblé, sua arte e espiritualidade se entrelaçam. Além disso, Laura é autora do e-book “Fôlegos” e taróloga. Deise - Dede - estava com 42 anos no momento da documentação e também é de Salvador. Percussionista, toca com diversos artistas como Larissa Luz e a banda onde Laura também atua cantando. É artista e escritora do livro “Lesbiandade”, publicado pela coleção Feminismos Plurais. Foi através da arte que começou a compreender as estruturas de gênero, raça, classe e sexualidade, desenvolvendo uma visão crítica sobre como o machismo atravessa a vida das mulheres, especialmente as negras e as que desafiam normas ao assumirem sua sexualidade. A música não só transformou seu olhar, mas também fortaleceu sua luta contra as opressões. Além de seu trabalho artístico, Dede é assistente social e dedica-se ao apoio à população em situação de rua. Mestra em Estudos sobre Mulheres, Gênero e Feminismo pela Universidade Federal da Bahia, ela combina sua experiência acadêmica com sua vivência artística para construir espaços de resistência e transformação Em novembro de 2021, Laura foi a um show onde Dede se apresentava. Nunca tinha visto ela antes, mas assim que a viu tocando, algo a prendeu. Conhecia a banda, mas Dede era uma novidade, e Laura se sentiu vidrada. Naquela época, Laura ainda namorava, mas a presença de Dede deixou uma marca. Foram apresentadas rapidamente após o show, mas Laura sentiu que havia passado despercebida. Nos dias seguintes, tentou encontrar Dede nas redes sociais, mas acabou “deixando quieto”. No entanto, não conseguiu evitar voltar ao perfil dela de tempos em tempos, atraída por algo que ainda não conseguia explicar. Quase um ano depois, Laura já estava solteira, mas como Dede não havia mostrado interesse antes, decidiu não ir atrás. Enquanto isso, em outubro de 2022, Dede estava na praia quando uma amiga a chamou para um samba de mulheres pretas. Quando chegou, Dede viu uma mulher linda cantando e ficou hipnotizada. Sem hesitar, virou para a amiga e disse: "Vou casar com essa mulher!" A amiga achou graça e respondeu: "Tá doida?", mas Dede reafirmou, convicta. Aquela mulher no palco era Laura. Dede conta que o que a encantou foi algo subjetivo - talvez o swing, os gestos, ou a presença marcante de Laura no palco. Como já trabalhava com música, era mais fácil ela perceber essas coisas. Sentiu algo diferente naquele momento. Não sendo uma pessoa que paquera, ganhou coragem de ir falar com ela depois do show graças às cervejas que já tinha tomado. Quando chegou para conversar, elogiando a atuação de Laura no palco, ela respondeu dizendo que também conhecia o trabalho de Dede. Quando Laura disse que conhecia o trabalho de Dede, ela ficou surpresa e perguntou: “Que trabalho?”. Foi então que Laura relembrou o momento em que haviam se conhecido, um ano antes, naquele show em que Dede parecia não “dado muita bola”. Durante essa conversa inicial, Laura ficou confusa: “Será que ela está me paquerando ou só veio me elogiar?”. Dede, pouco depois, voltou a procurar Laura e foi direta: “Olha, eu não sei paquerar, mas te achei linda, então vim aqui falar com você”. Laura explicou que estava solteira, mas que naquele momento estava acompanhada. Mesmo assim, garantiu: “Te procuro no Instagram depois”. Melhor ser honesta que mentir, né? No início, a comunicação online foi complicada. Dede demorava para responder, enquanto Laura tentava chamar sua atenção de forma sutil. Aos poucos, começaram a conversar com mais frequência. Em novembro, se esbarraram por acaso em um show. Dede viu Laura, mas não foi notada e acabou mandando uma mensagem. Depois desse dia, combinaram um encontro no mesmo lugar onde a documentação aconteceu. O primeiro encontro foi intenso e muito especial. Passaram os primeiros dias juntas, conversando e criando uma conexão forte. Logo falaram sobre como estavam lidando com outras relações, mas depois de uns dias tiveram um desentendimento que as afastou por cerca de três meses. Em abril do ano seguinte, reabriram o diálogo, viajaram juntas e perceberam: estavam apaixonadas. Decidiram que só fazia sentido ficar juntas se fosse para namorar. Na viagem, criaram diversas músicas e, a partir delas, sonham em lançar um EP. Além das canções, adoram produzir poesias e outras formas artísticas uma para a outra, construindo não apenas uma relação, mas também um universo criativo compartilhado. Hoje, Laura e Dede dividem a vida entre Abrantes e Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador. No novo apartamento, chegaram praticamente sem móveis, começando do zero: primeiro um colchão, depois os móveis e, por fim, as mesas e decorações. No primeiro final de semana, dormiram em um tapete de yoga, com o sol da manhã iluminando a casa vazia. Agora, com cada canto ganhando forma e se transformando em lar, sentem uma alegria imensa ao verem o espaço refletir a história que estão construindo juntas. Durante a conversa, conversamos como o amor delas ecoa na família quebrando barreiras. Laura menciona o exemplo de seu pai, pastor, que apesar dos preceitos religiosos e do julgamento externo, abre a casa para as duas com o coração cheio de acolhimento. Para ela, isso demonstra que o amor pode ser maior do que as convenções. Dede também destaca como esse apoio é um reflexo da conexão que construíram, que respeita a individualidade de Laura, sua religião e sua jornada pessoal. Dede complementa que o amor delas está nos detalhes do cotidiano. Desde o cuidado em lembrar a toalha esquecida no banheiro até os gestos que fortalecem a parceria diária, o carinho está sempre presente. Apesar da diferença de idade, Dede sente que isso não interfere na relação. Ela conta que Laura, com sua coragem e enfrentamento à vida, a inspirou a apresentar, pela primeira vez, uma namorada oficialmente à família, não apenas como “amiga”. Para Dede, esse passo foi poderoso, pois reconhece que dar nome ao amor é uma forma de enfrentamento ao patriarcado e ao preconceito. Mais do que isso, a forma como elas expressam seu afeto na música e na arte se torna uma inspiração para outras mulheres, especialmente mulheres negras, a se permitirem viver plenamente e lutarem por seus amores e suas existências. Dede completa sobre o amor nos detalhes do dia a dia, desde a toalha que uma esquece e a outra sempre faz questão de lembrar e deixar no box, detalhes de cuidados cotidianos. fala que mesmo com as diferenças de idade não sente isso latente no convívio, que tomou coragem de apresentar laura para sua família como namorada porque laura representa essa coragem no enfrentamento à vida. por mais que sua família sempre soube da lesbianidade, apresentava suas companheiras enquanto amigas, e agora apresenta enquanto namorada, esposa, companheira. entende o significado disso. a importância de chamar de amor ao invés de amiga. entende que estar falando do amor que elas sentem na música, na arte, é algo muito além que a relação que vivem, é algo que inspira outras mulheres - principalmente mulheres negras - a se permitirem viver o amor e combaterem o patriarcado. ↓ rolar para baixo ↓ Laura Dedê

  • Carol e Gabi

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. A conexão entre Carol e Gabi foi acontecendo aos poucos, quase por acaso. Frequentavam os mesmos espaços, Carol era amiga da irmã da Gabi e isso fez com que Gabi até fotografasse a Carol em um evento, mas nunca prestaram real atenção uma na outra. O primeiro contato mais direto aconteceu em um evento de fotografia, em 2017. Quando Gabi chegou e reconheceu Carol pela voz, se apresentou de forma animada dizendo que ela era a Gabi, que tinham amigas em comum. Ao contrário do que Gabi na hora esperou, Carol não demonstrou o menor interesse na informação. Ela ficou até um pouco sem jeito, desconcertada, pensou ter sido expansiva demais. Depois do evento e da situação, Carol decidiu seguir Gabi nas redes sociais. No evento em si, não trocaram mais nenhuma palavra. Mas, aos poucos, começaram a interagir online. Em 2018, sem ainda serem exatamente amigas, viajaram juntas para um congresso de fotografia. O motivo foi objetivo: dividir os custos (arrumar um hotel ou apartamento para ficar, dividir os transportes…). Mas essa convivência inesperada mudou a dinâmica entre elas. Gabi, que até então era casada, viveu seu relacionamento até 2019. Conversava muito com seu ex-marido e parceiro de tantos anos, até o momento que entendeu que não cabia mais estar em um relacionamento com um homem. Depois que se separou, viveu um ano de mudanças muito intensas em si. Em 2020, ela e Carol começaram a se relacionar. Aos poucos, foram compartilhando a novidade com os familiares - o maior medo de Gabi sempre foi a reação do filho - e, no dia da conversa, tomada pela emoção, chorava muito enquanto contava… mas ele agiu da melhor forma possível, dizendo: “Você tá chorando por quê, menina? Ah, deita aqui. Que besteira. É importante você ser feliz”. E descreve a sensação de alívio e de acolhimento. Desde então, ela e Carol seguem juntas, mas só em 2021 que de fato Carol começou a frequentar mais a casa de sua família e, em 2022, decidiram morar juntas. Gabi já vivia uma série de mudanças desde 2019, que foi um ano de transformação. Porém, em 2020 com a pandemia de Covid-19 sente que as mudanças deixaram de ser internas para serem externas, todos estavam em mudança (e ainda mais drásticas). Nos primeiros meses da quarentena, ficaram sem se encontrar. Em 2021, Gabi pegou Covid e sentiu muito medo. Ao mesmo tempo, havia os receios do relacionamento: como contar para a mãe, para a irmã? Tudo estava acontecendo ao mesmo tempo e foi necessário se reorganizar em meio às inseguranças. A relação de Carol e Gabi trouxe transformações profundas para ambas. Gabi observa o quanto Carol mudou - antes, ela jamais aceitaria aparecer em frente a uma câmera, e agora, não só topou a documentação da história delas, como se empolgou com a ideia. Isso as fez refletir sobre como, apesar de fotografarem tantas famílias diariamente, pouco documentavam suas próprias vidas assim, contando a história. Dessa vez, entenderam a importância de registrar essa trajetória. O início não foi fácil. A mãe de Gabi se opôs à relação, mas, em 2020, tudo mudou. Com o diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica do pai, Gabi já havia vendido o carro após a separação, e Carol esteve presente em todos os momentos, ajudando Gabi e a mãe a levá-lo onde fosse necessário. Esse cuidado foi essencial para transformar a relação entre elas, e hoje, são muito próximas. Para Gabi, isso reflete a essência de Carol: alguém que se doa, cativa e constroi laços verdadeiros. Essas vivências só reforçaram que o amor entre elas é uma escolha diária. A maturidade trouxe essa certeza. Não é apenas o desejo de estar juntas, mas a decisão de construir algo sólido. Gabi sempre foi vista como uma pessoa alegre, mas, por muito tempo, sentia que não tinha sonhos, que não se via no futuro. Até perceber que essa falta de perspectiva vinha de sua própria história e que era possível mudar isso. Hoje, ao lado de Carol, ela se permite sonhar. Planeja. Visualiza o futuro. E percebe o impacto disso em todas as áreas das suas vidas (pessoal e profissional): uma impulsiona a outra a enxergar mais longe. Gabrielle estava com 37 anos no momento da documentação. É natural de Maceió, mãe de um adolescente de 15 anos. Sempre se reconheceu como bissexual, mas entende que parte dessa vivência foi moldada pela heterossexualidade compulsória e pelas expectativas da família tradicional brasileira. Quando seu filho completou 10 anos, tomou a decisão de se assumir e iniciar um novo capítulo ao lado de Carol. Atualmente, trabalha enquanto fotógrafa e artista visual, se destacando por seus trabalhos com retratos; Além disso, é funcionária pública há 17 anos, trabalhando como secretária em uma escola. Seu tempo livre é preenchido com literatura, música e artes, suas grandes paixões. Carolina estava com 37 anos no momento da documentação. Também fotógrafa, nasceu em Maceió, mas passou boa parte da vida no Rio de Janeiro, além de outras cidades antes de retornar à sua terra natal. Seu trabalho transita por diferentes universos (ensaios, shows, casamentos) e sua paixão por música a acompanha dentro e fora da fotografia. Adora assistir a shows ao vivo, sair para beber uma cerveja e explorar a cidade. O relacionamento entre elas trouxe transformações significativas, especialmente para Carol, que sempre teve hábitos muito fixos e gostos bem definidos. Com Gabi, passou a se permitir experimentar mais, explorar novos caminhos e redescobrir o prazer da novidade. Juntas, construíram uma relação baseada na troca, no respeito e no amadurecimento. Se impulsionam a sonhar, a expandir horizontes e a se reinventar todos os dias. ↓ rolar para baixo ↓ Gabi Carol

  • Larissa e Claricy | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Larissa estava com 33 anos no momento da documentação. É natural de Salvador, viveu a maior parte de sua vida na cidade grande, mas durante a pandemia de Covid-19 deixou para trás a agitação e se mudou para um lugar menor e mais tranquilo, o Vale do Capão, na Chapada Diamantina. Antes, havia sido dona de uma floricultura em Salvador e, embora sua formação fosse em arquitetura, sua atuação profissional se voltava para uma área um pouco distinta, mas sempre conectada à forma como os espaços se comunicam. Em Capão e nas viagens seguintes, Lari retomou sua carreira, direcionando seu olhar para a integração entre arquitetura e natureza. Inicialmente, morando com amigas, dedicou-se profundamente ao estudo da bioconstrução. Foi isso que a levou até Serra Grande, município próximo à Itacaré (onde nos encontramos): um amigo engenheiro desempenhou um papel importante na sua rede de apoio, chamou ela para trabalhar com bioconstrução por lá. Claricy no momento da documentação estava com 37 anos. Nasceu em Niteroi, no Rio de Janeiro, e se formou em economia. Após anos trabalhando no setor corporativo, começou a refletir sobre como poderia equilibrar sua vida profissional com seus valores pessoais em uma sociedade hipercapitalista. Decidiu, então, fazer uma mudança significativa: se mudar para Itacaré, em busca de uma vida mais simples, saudável e reconectada com o que realmente importava. Chegou à cidade sozinha, sem influências externas de amigos ou familiares, em uma tentativa de ‘resetar’ e se reconectar consigo mesma. O que inicialmente era para ser uma estadia de apenas um ou dois meses acabou se transformando em uma permanência de dois anos. No começo, Clari se encantou pela variedade de eventos e atividades que a cidade oferecia, mas logo sua paixão se voltaria para a natureza ao redor e para o estilo de vida mais tranquilo e genuíno que passou a adotar. Assim que Claricy chegou em Itacaré, cruzou com a Lari num aplicativo de relacionamentos e começaram a conversar. Trocaram seus perfis nas redes sociais, mas não marcaram um encontro de fato. Entenderam que Itacaré é um local muito pequeno e que provavelmente iriam se esbarrar em breve. Foi o que aconteceu, acabavam se esbarrando com certa frequência e sempre aos finais dos eventos - naqueles momentos meio que de bar em bar, fim de noite. Acontece que, por mais que interagissem online, pessoalmente mal se cumprimentavam, Lari nunca trocava olhares com a Clari e isso deixava ela num misto de chocada, intrigada… Não entendia o motivo. O tempo passou e num dia Lari interagiu com ela pelo Instagram e ela respondeu falando a verdade: “Você conversa comigo a beça aqui mas pessoalmente finge que nem me vê”. E então a ficha da Lari caiu: ela não fingia, ela realmente não via. Não estava percebendo as pessoas ao redor com a atenção que deveria. O tempo seguiu passando e Clari foi ficando mais difícil. Segundo ela, é porque Lari estava sempre se envolvendo com algum ‘carinha’ por aí. Lari confessa que era verdade: ela nunca tinha namorado e vivido de verdade uma relação com alguma mulher… e isso era um empecilho para Clari. Até que chegou um dia específico que um samba estava no fim, naquela mesma linha de encontros “de bar em bar” que viviam, caiu uma chuva muito intensa e Lari estava indo embora, quando ouviu um samba e avistou Clari dançando - mesmo que na chuva torrencial altas horas da manhã. O samba estava bom, embaixo da marquise, ela resolveu ficar. Chegou logo do lado da Clari. Já tinham se passado meses desde a última conversa, estavam diferentes e foi naquela noite que ficaram (e se conheceram, de fato). Amanheceram na rua, depois do samba. Clari conta que ela até poderia ter ido embora porque morava próximo, mas não queria, de tão legal que estava sendo aquele dia. Foi um dia muito bom para todos, muito divertido. Quando começaram a se envolver, foi tudo diferente do que imaginavam e Lari conta como isso foi importante - a forma em si como aconteceu foi sendo um guia para fazer com que ela entendesse os abusos que sofria nas relações de uma heterossexualidade compulsória; “Porque mesmo amando me relacionar com mulheres, mesmo vivenciando isso desde cedo, aquilo nunca era credibilizado”. Desde que começaram a ficar juntas, caminharam um longo trajeto até o momento da nossa documentação. Lari, por exemplo, é uma mulher não-monogâmica que acredita nessa política, enquanto Clari tem algumas dificuldades com a prática da não-monogamia, ainda possui muitas amarras, reproduções. Então o começo foi caminhando de uma forma muito delicada e comunicativa, entendem que não poderia estar apertado nem para a Claricy, nem para a Larissa, ao mesmo tempo que deveria caber e estar gostoso, confortável. Aos poucos tudo foi caminhando e tomaram a decisão de morarem juntas. Lari já morava mais distante de Itacaré, na região onde hoje em dia possui um terreno - em que fizemos as fotos e que estão planejando construir - e foi morando juntas que se aproximaram definitivamente, ficaram no que chamaram de “grude sapatônico”. Aos poucos foram amadurecendo a ideia de construir a casa no terreno, uma bioconstrução nos moldes que Lari estuda e trabalha. E, depois do primeiro ano de relacionamento, também optaram por uma nova casa, em Serra Grande, enquanto a construção toma forma no terreno. Antes de irem para Serra Grande, passaram um tempo entre o Rio de Janeiro e Salvador, ficando com suas famílias e fechando o primeiro ano de relação. Depois do primeiro ano de relação e das viagens, moraram em uma casa em Serra Grande, mas foi uma vivência muito difícil. Não havia cômodos, por mais que elas tentassem se comunicar da melhor forma, tudo era muito misturado, apertado, sentiam que eram pessoas muito diferentes tentando viver num espaço. Por isso, optaram pela separação por um tempo. Seguiram se relacionando, mas morando em cidades diferentes - Lari voltou para Salvador, Claricy ficou na região de Serra/Itacaré. No final, as rotinas estando tão diferentes ajudavam as coisas a ficarem descompensadas. Aos poucos, tudo foi se normalizando e reconheceram o momento. Foi difícil ter a maturidade de entender o que era preciso, mas nesse processo Clari entendeu muito sobre a solidão, sobre os amigos que vivem na cidade grande e teve novas percepções sobre o que desejava para a relação. Entenderam também novas importâncias de comunicações - é preciso saber comunicar e resolver, demonstrar a emoção, terem que lidar (e que bom lidar), resolverem, melhorarem e evoluírem. Desde o começo do relacionamento, Clari ouvia muito a Larissa falar sobre sua vontade de fazer uma comunidade unindo vários terrenos no lugar em que tinha comprado o seu, no quilômetro, próximo à itacaré. Ela sempre pensava: “Eu vou ser uma visitante? Eu vou morar lá? O que eu serei nesse terreno?”. Até que Lari fez a proposta delas morarem juntas e dela ajudar em toda a construção: arquitetar e construir a própria casa. O projeto, que já está em andamento, está sendo muito bem feito e frequentemente elas vão até o local, que tem nome - “Casa Jussara” - por conta da palmeira-juçara, nativa da mata atlântica, que possui em abundância no terreno. O terreno em si ainda está em mata fechada e a ideia é preservar o máximo que der. Abriram a parte da frente para entender os pontos de construção e desejam em pouco menos de um ano ter tudo pronto. Por fim, elas acreditam que o amor está nessa forma de viver que estão construindo juntas, desde a rotina, os rituais, o saber lidar com um monte de coisa e mesmo assim conseguir desacelerar. Não se torna algo utópico, uma ideia de que tudo é perfeito, mas algo que vem se construindo mesmo em tantos desafios. É no ritual que se tem ao acordar, no ritual que se tem cuidando dos bichos, no ritual de pensar como será a casa, no ritual de colher os alimentos que plantaram por tanto tempo. Ficam muito felizes quando percebem que finalmente vivem uma relação que desejaram por tanto tempo e que merecem viver. Clari conta que já tinha lido muito sobre filosofia, muitos livros, muita coisa, pensava que entendia um pouquinho sobre amor, mas agora percebe que vive um amor muito diferente, onde precisa se amar também, e vê o quanto está sendo bom para si e para os outros. ↓ rolar para baixo ↓ Larissa Claricy

  • Vanessa e Suelen | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Suélen estava com 27 anos no momento da documentação. É natural de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e cursa pedagogia, trabalhando enquanto monitora de inclusão. Mora com os pais e com duas gatas e uma cachorrinha, o que a faz ser apaixonada por animais (além de gateira de carteirinha). Também gosta muito de assistir séries no tempo livre - principalmente quando assiste em conjunto com a Vanessa. Vanessa estava com 24 anos no momento da documentação, também é natural de Porto Alegre e estuda psicologia, já prestes a completar a graduação. Adora falar sobre signos, sobre séries, filmes… e sobre seus dois animais, os cachorros Jake e a Malu. Além disso, seu hobby principal é o que envolve cozinha - não só cozinhar, mas assistir vídeos de pessoas cozinhando, realities etc. Os pais de Suélen se divertem vendo as tentativas de cozinhar, são sempre experiências. Vanessa e Suélen se encontraram em um aplicativo de relacionamentos, mas já se conheciam por conta de uma amiga em comum e se tinham nas redes sociais desde o Facebook, mas nunca haviam conversado. Durante a pandemia, participaram de um grupo e essa foi a primeira interação de fato, mas era algo muito superficial. Foi o aplicativo que fez elas entenderem o interesse para além da amizade. Desde a primeira conversa já se divertiram trocando figurinhas e contam que a paixão chegou bem rápido. Os assuntos foram fluindo entre signos, sobre a vida naquele período pandêmico… Por mais que demorassem um pouco para responder, gostavam de conversar com calma, atenção, e isso era algo que chamava atenção positivamente. Suélen conta que num dos dias durante as conversas, faltou luz na casa da Vanessa e ela mandou um SMS dizendo que não sumiu do nada, só estava meio incomunicável sem internet… e Suélen achou muito legal da parte dela, entendeu que ela estava se importando. A partir desse dia as conversas seguiram cada vez mais longas, até o momento que decidiram se encontrar pessoalmente - com cuidado e calma, por conta de ainda ser um momento de pandemia. O lugar escolhido para o encontro foi onde, anos depois, fizemos as fotos da documentação - mas ele era completamente diferente. Hoje em dia existe um shopping, na época era literalmente mato e a beira do rio, um lugar aberto, com árvores, gramado e a vista. Foi escolhido porque era perfeito para assistir ao pôr do sol. O dia do primeiro encontro foi o dia das namoradas, tomaram um café juntas e Suélen levou uma cartinha para Vanessa. Ela conta que, de alguma forma, sabia que iriam namorar. Antes de completar um mês do dia que tiveram o primeiro encontro, já assumiram o namoro. Estavam num shopping e entraram numa loja para olhar algumas alianças, quando comentaram com a atendente que nem estavam namorando ainda, só estavam de olho nos modelos e valores… Segundos depois, Suélen resolveu o problema: “Quer namorar comigo?” “Quero!”. Então pronto, agora podem ver os modelos já estando namorando. Para a família, Suélen já havia contado para a mãe e para as irmãs, que já estavam empolgadas para conhecer. O pai ainda estava na dele, ele via ela se arrumando para sair e comentava que ela iria encontrar um namorado, e ela afirmava que não era namorado, mas sabia que era um processo para ele entender e aceitar. Um tempo depois, Vanessa e a mãe de Suélen se conheceram numa ida ao shopping, tomando um café juntas, e a mãe deu a ideia de Vanessa ir à casa delas primeiro enquanto amiga, para o pai conhecer quem ela era primeiro, gostar dela, e depois processar que estavam juntas. Naquele dia, elas iriam dormir na casa da irmã da Suélen, até que quando saíram, o pai perguntou à mãe “ah, mas por quê elas vão dormir lá?” e a mãe respondeu “bom… tu sabes porquê”. Foi quando ele entendeu quem era a Vanessa. Como ele gostou dela logo de cara, mudou a postura e disse que não precisava dormir na casa da irmã, poderiam voltar e dormir ali, na casa deles. Foi um dia em que todos eles estavam aprendendo a se dar bem, medindo cada reação para tudo dar certo, todos meio sem jeito, mas entendem que foi legal da parte dele ter enfrentado o preconceito vendo como a filha estava feliz namorando alguém legal. E hoje em dia tudo já é muito mais tranquilo, tanto que eles se divertem e adoram a presença da Vanessa em casa. Para Vanessa, a aceitação em casa é mais difícil e caminha em passos diferentes. Sua família é bastante cristã, seu pai não sabe e sua mãe sabe, mas não acolhe. Passou muitos anos tentando tirar esse “demônio” que acredita existir na pessoa homossexual - e até Vanessa passou muito tempo não aceitando quem era. Hoje em dia, ela conhece Suélen, sabe que elas namoram e trata Suélen bem, inclusive é nítido que gosta de Suélen, o que ela não gosta é do fato delas namorarem. Mas entendem que isso também faz parte do processo de aceitação. Elas sabem que ela enxerga o quanto Vanessa é feliz no relacionamento. Tanto para Vanessa, quanto para Suélen, o que elas podem fazer é continuar mantendo esse amor existindo. O problema do preconceito é de quem tem o preconceito, elas sabem que isso vai amenizar com o tempo e com o afeto delas sendo demonstrado gerando coisas boas. Ainda que seja um processo difícil. Como tanto Vanessa, quanto Suélen ainda moram com os pais, ficam muito emocionadas quando percebem a família juntando algumas coisas e tratando elas enquanto um casal, pensando no momento de montarem o próprio lar. São duas mulheres que performam feminilidade então o tempo todo são tratadas como amigas. Os momentos que as pessoas e, principalmente, seus familiares, as entendem enquanto uma unidade familiar, significa muito. Contam que o pai de Suélen chama Vanessa de nora e já separou alguns kits de cozinha e decoração que ganha em promoções ou assinaturas de jornal e as presenteou dizendo ser para o lar quando morarem juntas. E, por mais que elas saibam que isso pode demorar um pouco porque querem estar formadas e com uma certa estabilidade, ficam muito felizes pela consideração e pelo apoio. Sentem que a relação dá certo pelo tanto que conversam. Quando não estão se encaixando, conversam com calma e decidem o que vão fazer sobre o problema em questão. No começo tinham muito receio das discussões, mas hoje entendem o fortalecimento disso. É como se uma “discussão”, ou melhor, uma “conversa séria” se torna um degrau a mais no relacionamento. Além disso, sempre buscam formas de manter a conexão, seja mantendo “dates” diferentes, presentes, palavras de afirmação… entendem suas linguagens de amor e querem que a relação seja leve com coisas boas, brincadeiras diárias, momentos felizes… mas principalmente com a segurança: não ter medo de que vá acabar o tempo todo, de poder confiar e poder contar uma com a outra para as coisas difíceis. Suélen explica que no começo, elas não sabiam viver uma relação que não fosse pisando em ovos, com medo da pessoa largar no primeiro deslize. Aprenderam juntas a ter uma relação realmente segura. E, para ela, um exemplo de amor seguro é o amor que sente pela família, que tá contigo independente das suas escolhas, porque te ama. Hoje em dia, enxerga Vanessa como sua família, um amor que se constroi ao longo do tempo e se projeta pra vida, sem medo de julgamento. ↓ rolar para baixo ↓ Vanessa Suélen

  • Quero participar! | Documentadas

    Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Vem participar você também! QUERO PARTICIPAR! COMO FAÇO PARA ME INSCREVER? É muito mais fácil que você imagina ♥ Você e sua companheira gostariam de ser fotografadas e participar do projeto? Preencha os campos a seguir e em breve entraremos em contato com você! É importante ressaltar três coisas: 1. Só documentamos e registramos casais. Entendemos a importância de cada mulher enquanto um ser único nesse mundão! Mas nosso objetivo é registrar o amor entre mulheres.* 2. Nossa residência oficial fica no Rio de Janeiro, mas com a demanda de pedidos em outros estados, há várias possibilidades de viagens voltadas à fotografar casais, então: não desanima! Pelo contrário: você têm casais de amigas que topariam participar também? Chama elas e se inscrevam juntas! Assim, quanto mais pedidos, mais chance de irmos até você. 3. Fazer o Documentadas dá trabalho! Somos um projeto artístico e social. E por isso, cobramos um valor simbólico. Explicamos aqui: - R$ 150 - Valor mínimo de participação que inclui os gastos com o transporte até o local escolhido + as fotos editadas em baixa qualidade com a logo do doc. - R$ 300 - Valor que cobre os gastos da sua participação no projeto (transporte até o local + nossa pós produção, transcrição de áudio, edição) + você ajuda um casal que não possui condições de participar do projeto a participar também + as fotos editadas em baixa qualidade com a logo do doc. - R$ 400 - Valor que inclui a participação no projeto e as fotos editadas em alta qualidade. - R$ 500 - Valor de ensaio fotográfico, além da documentação! Essa é para quem quer as fotos para toda a vida, além da documentação que o projeto propõe. Por isso, entregaremos as fotos em alta resolução, editadas e sua participação no projeto segue garantida, além de garantir o projeto vivo, dando impulso financeiro para ele atingir mais casais. Caso você e sua companheira não possuam o valor mínimo para participar do projeto, nos mande uma mensagem na hora da inscrição, ok? Temos vagas gratuitas abertas mensalmente para que todas possam participar do projeto! Sua participação é muuuuito importante para nós. * caso você queira muuuuuito ser fotografada de forma individual, pode adquirir nossos serviços pedindo um orçamento de ensaio fotográfico. manda mensagem pra gente através da aba 'contato', ok? até logo! Preencha seus dados aqui: Confirma que você e sua companheira são maiores de 18 anos? Sim, somos maiores de 18 anos de idade. Você leu o texto ali em cima, sobre a sua importância no projeto e os valores das participações? Sim, li tudinho! Enviar Prontinho!! Obrigada pelo envio. Você receberá uma confirmação por e-mail, tá? lembra de olhar no lixo eletrônico :p Logo logo te mando um oi pelo Instagram ou Whatsapp! <3

  • Jéssica e Priscila | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. No começo de 2023, Jessica era promoter de uma festa lésbica no Rio de Janeiro e criou um grupo no WhatsApp para informar sobre os descontos e ingressos especiais. Um amigo da Priscila soube do grupo e indicou para ela, que entrou e pouco interagiu, mas sempre visualizava as mensagens da Jessica desejando bom dia, interagindo com as pessoas e, mesmo não sabendo que era o trabalho dela, achou ela muito interessante. Numa interação no grupo, as pessoas mandaram seus perfis no Instagram e a Priscila viu o perfil da Jessica, mas não seguiu. Como nunca tinham interagido, achou que seria estranho seguir, mas vez ou outra entrava lá e via se ela postava alguma coisa com alguém (para entender se estava namorando ou solteira). O final de semana de uma das festas chegou e Priscila foi com os amigos. Viu a Jessica lá, achou ela interessante, mas não relacionou a pessoa que estava vendo com a pessoa que tinha visualizado o Instagram. Comentou com os amigos sobre ter interesse nela e eles incentivaram que ela puxasse um papo, mas mais uma vez ela achou estranho e não foi. Depois disso, viu que Jéssica estava acompanhada. A pessoa que acompanhava Jessica não era sua namorada, mas alguém que ela ficou um dia antes e que não deu certo, não estava legal, ela não estava se sentindo bem e sabia que não continuariam. Entre a Priscila ter interesse, comentar com os amigos e desistir de puxar papo, uma das amigas tomou iniciativa por ela e chamou a Jessica, apontando para Priscila e dizendo “Ela quer falar com você!”. Mas na hora que Jessica chegou, não entendeu nada, ficou uma situação estranha, ela achava que tinha sido chamada por conta do trabalho (afinal, estava trabalhando no evento) e acabou saindo sem entender. Priscila seguiu olhando ela pela festa e percebeu que o clima não estava legal com a acompanhante, achou até que esse desconforto era por causa da situação que havia acabado de acontecer. A amiga decidiu conversar com a Jessica e pedir desculpas pela situação, foi quando comentou que Priscila estava interessada, Jessica notou a Priscila e disse que também estava, mas que no momento estava acompanhada e por mais que não estivesse legal, não queria deixar as coisas piores. Passou o Instagram para a amiga entregar à Priscila. Priscila, quando viu o perfil, percebeu que era a mesma pessoa que ela “stalkeava” e não seguiu novamente. Após a festa, Jessica encontrou o perfil dela, seguiu e começaram a interagir. No começo, elas achavam que não iria acontecer nada para além do primeiro encontro de forma casual. Se veem enquanto mulheres muito diferentes, de culturas muito diferentes… e achavam que não iriam render. Aos poucos, foram gostando uma da outra, passando os finais de semana juntas e estabelecendo uma comunicação diferente. Se apaixonaram. Priscila estava com 29 anos no momento da documentação, é natural de São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. Estuda para ser comissária de voo e também cursa relações internacionais. É uma mulher muito livre, foi criada numa família muito solta, sem preconceitos e gosta muito disso. Preenche seu tempo livre com seus amigos, bebendo, passeando e deseja ao máximo viajar e conhecer novas culturas. Mesmo sendo brincalhona e risonha, acredita ter uma personalidade muito forte. Jessica estava com 26 anos no momento da documentação, é natural de Belford Roxo, baixada fluminense. É técnica em enfermagem e está terminando a faculdade de biomedicina, então optou por não trabalhar na área de enfermagem e seguir com os estágios e foco na faculdade até a finalização. É uma mulher que gosta muito de estar em família, demonstra seu amor no toque físico e nas palavras o tempo todo. Também adora sair de casa, ir para a praia, cinema, ver os amigos… E sonha em fazer um mochilão, deseja conhecer melhor o estado do Rio de Janeiro e o Brasil. Por mais que suas casas sejam bem distantes fisicamente (São Gonçalo e Belford Roxo), elas passam muito tempo na casa da Priscila, por Jessica fazer estágio em Niterói e ser um caminho próximo. Estar nessa relação significa a primeira vez que elas se sentem tratadas da forma que sempre desejaram - e por mais que considerem isso o mínimo, raramente identificavam tamanho carinho nas outras relações. Fazem questão de trabalhar a comunicação. Priscila explica que é difícil conseguir falar o que sente, compartilhar as coisas, principalmente pela independência da qual ela foi criada. Enquanto Jessica faz questão de demonstrar e compartilhar, desperta justamente o contrário: que podem criar novas linhas de conversa. Jessica sempre instiga Priscila a falar, compartilha o que sente e o que acha. Brincam que às vezes se sentem muito intensas e emocionadas, mas logo a razão vem e colocam o pé no chão entendendo o momento que vivem, entre desempregos e fim da faculdade. Parte desses momentos é refletir também que as coisas levam tempo para se estabelecer, que logo estarão conquistando seus sonhos, suas vontades de dividirem um lar e terem uma melhor vida financeiramente. Estabeleceram quase-que um código para demonstrar que algo não está bem, falam que “tá calor”, e nisso entendem que precisam de espaço, que estão se sentindo um pouco sufocadas. Respeitam esse tempo e desejam a presença uma da outra para passar pelos momentos difíceis, entendem o quanto isso é importante, mas sempre com suas individualidades preservadas. Nesse tempo de relação (pouco menos de um ano) já enfrentaram diversas situações difíceis e perceberam o quanto se fortaleceram juntas. É através das atitudes diárias que elas identificam o amor. Comentam que por mais que palavras sejam importantes, é muito mais fácil você dizer algo e não cumprir. Por isso, se apegam nas demonstrações diárias. Priscila não é tanto do toque quanto Jessica, mas demonstra o amor no cuidado e na presença, tratando bem. O amor que sente existe de uma forma muito natural, não é obrigação, é sobre o que gostaria de viver e como gostaria também de ser tratada, sempre pensa de maneira recíproca. Quando pergunto sobre a realidade delas em suas regiões (São Gonçalo, Belford Roxo) e sobre os locais que estão juntas, como se sentem e o que gostariam de ver mudar, elas respondem explicando a importância de ter mais respeito, educação e consideração nos espaços de convívio. Por serem mulheres (ou no caso da Priscila, mulher negra de religião de matriz africana) o medo do preconceito anda ao lado delas o tempo todo. E nesses momentos entre o medo entra também a coragem, a necessidade de falarmos sobre os nossos amores para que nos olhem com mais respeito, de nos impormos, de não deixarmos o preconceito ser mais alto. ↓ rolar para baixo ↓ Jessica Priscila

  • Samara e Rebeca | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Rebeca e Samara se conheceram em outubro de 2023, durante uma live de uma página voltada ao público lésbico e bissexual. A proposta da live era conectar mulheres, seja para amizades ou relacionamentos. Samara tinha saído de um relacionamento - que não havia sido fácil - há cerca de seis meses, tomou coragem e decidiu participar para conhecer pessoas novas. Foi então que Rebeca a notou e começou a seguir no Instagram. Começaram a conversar imediatamente e se deram super bem, as conversas se tornaram diária e vieram chamadas de vídeo e ligações. Construíram um vínculo à distância - uma morando na Bahia, a outra no Piaui - que durou seis meses, e decidiram se relacionar de forma virtual. Em abril de 2024, Rebeca disse para Samara que faria uma viagem para visitar o pai no interior. No entanto, dias depois, veio a surpresa: Rebeca não estava no interior, mas sim a caminho de Salvador. Com a ajuda de familiares, ela arquitetou uma mudança e aproveitou a ocasião para surpreender Samara em seu aniversário, deixando claro que já tinha os planos de conseguir um emprego por lá e ficar de vez. A falta de aceitação de sua sexualidade pela família, somada aos seis meses de conexão intensa com Samara, desencadeou o impulso de recomeçar. Tinha o medo de não dar certo por não se conhecerem pessoalmente? Claro. Mas arriscar era preciso. Após algumas entrevistas, conseguiu um emprego e começou a se estruturar. Como ela mesma diz: "Já vim com os planos de ficar perto da Sam, não queria mais voltar para o Piauí." Desde então, elas têm vivido juntas, transformando aquela conexão inicial em uma história de amor real e corajosa, e Rebeca não se arrepende e nem deseja voltar. Quando chegou em Salvador, Rebeca ficou na casa dos seus familiares que moravam na cidade, mas também foi recebida com carinho pela família da Sam. Após uns meses, decidiram começar uma vida juntas, em um lar só delas. Os primeiros móveis foram adquiridos com pressa, mas com a ajuda preciosa da família para facilitar o início dessa nova etapa, ainda que pagando em várias prestações. Com alegria, contam como frequentemente refletem sobre essa decisão e afirmam, sem hesitar, que não se arrependem - principalmente a Rebeca, de ter deixado o Piauí para construir essa história ao lado de Samara. O amor, que começou de forma tão inesperada, revelou uma força que surpreende até elas mesmas. O que torna a relação única, segundo Sam, é a forma como se sentem ouvidas e reconhecidas uma pela outra. "Não vale só assinar embaixo. Ela deixa eu falar," diz Samara, expressando a dinâmica de respeito mútuo que construíram. E isso que é muito interessante, no dia-a-dia, além de desafiador, mostra o quanto representa crescimento para elas e para a família. E nesse crescimento também aprendem a lidar com questões que nem sabiam que era possível: como os ciúmes, a vida financeira, a ter paciência e entender que conquistam as coisas aos poucos, de acolher nos momentos difíceis, não procrastinar a luta dos estudos… uma puxa a outra nos sonhos. O amor delas também se revela nos pequenos impulsos do cotidiano. Desde Sam que gasta todos os caracteres na hora de se declarar, até a forma mais tímida de Rebeca, que prefere ações a palavras. É o mesmo impulso que levou Rebeca a mudar de estado e que ainda as guia em decisões, como comprar coisas sem tanto planejamento ou dizer “sim, vamos” antes de pensar duas vezes. Esses gestos espontâneos mostram que, mesmo com os desafios, o que importa é fazer dar certo. Samara, no momento da documentação, estava com 26 anos. É formada em História pela UBA e vive em Salvador, onde trabalha como professora em uma escola particular. Apesar de amar sua formação, sonha em cursar Direito, algo que pretendia fazer desde o início, antes de se apaixonar por História. Determinada e cheia de sonhos, Samara ainda planeja voltar à faculdade e realizar esse desejo. No tempo livre, ela adora ir ao cinema, shows, ouvir música, ler e assistir séries. Rebeca estava com 21 anos no momento da documentação. Nasceu em Salvador, mas passou a maior parte da vida no Piaui. Recentemente, em abril de 2024, decidiu voltar para Salvador motivada pelo amor que construiu com Samara. Atualmente, trabalha como operadora de telemarketing e cursa Ciências Biológicas, mas seu grande sonho é estudar Medicina. Rebeca é apaixonada por música e se destaca ao tocar violão, guitarra e bateria. Embora não seja fã de leitura como Samara, ela ama ir ao estádio de futebol – um hábito que aprendeu com Samara, e agora ambas torcem juntas pelo Vitória. A praia é um dos cenários mais especiais para as duas. Apaixonadas pelo mar, elas encontram nesse ambiente o refúgio para criar memórias juntas. Assim como o futebol no estádio, os passeios à beira-mar se tornaram um dos momentos mais significativos do relacionamento, por isso escolheram o lugar para fazermos as fotos na documentação. ↓ rolar para baixo ↓ Samara Rebeca

  • Opa, tão nos copiando por aí? | Documentadas

    Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Vem participar você também! • como copiar o doc • que esse projeto é lindo a gente já sabe que todo mundo deseja ter um doczinho pra chamar de seu? é óbvio! mas tem gente ultrapassando os limites para chegar nesse objetivo papo reto: o doc é estudado projetado desenhado... não vamos aceitar cópia barata & cafona por aí. então, decidimos: opa, mas calma. caiu aqui de paraquedas e não tá entendendo nadinha? vem conhecer o doc antes! ♥ agora sim, parte 1: a nossa fonte > os nossos lambes a frase "toda mulher merece amar outra mulher" foi adotada pelo .doc a partir de uma documentação que fizemos na casa de um casal [e fotografamos ela em um objeto] em 2021. na época, postamos algumas vezes e recebemos alguns comentários dizendo que deveríamos fazer um adesivo com ela estampada. e não é que deu certo? foi crescendo, crescendo, e virou a cara do documentadas, sendo usada principalmente nos nossos lambes. até então, não disponibilizávamos esses lambes para colarem por aí, acreditamos que ele é a forma que o doc ocupa as ruas enquanto arte. mas agora você pode obter ele clicando aqui: baixar moldes dos lambes aqui #olha a dica! para colar os lambes direitinho, se liga nisso aqui: - pincel ou rolinho na mão; - superfícies lisas >> e não inventa de colar lambe em local privado sem autorização! por favor! dê preferência à postes e converse com o dono do local antes de sair colando por aí; - cola tipo PVA + água, misturadas em um recipiente, não deixando nem muito denso, nem muito líquido; - chama alguém para te acompanhar, não indicamos fazer a colagem sozinha; - deixa o lambe liso com a cola bem espalhada, assim garante a durabilidade :D espalhar a frase por aí com a nossa fonte e a nossa logo é importante para garantir a identidade e a representatividade do projeto, fazendo com que ele seja reconhecido facilmente e amplamente divulgado - afinal, é assim que chegamos em mais mulheres , né? não edite esse material nem recorte a nossa logo dele. colabore com a arte. parte 3: outros produtos do .doc temos outros produtos de alta qualidade que só a gente faz: quadros, camisetas e postais. esses, você encontra na nossa loja. ó a loja do doc, que linda • para entender melhor • por que a pirataria é mais barata? - material de baixa qualidade; - produção em escala absurdamente maior; - possuem fabricação própria; - não estudam e desenvolvem o material, apenas pegam o que já existe de artistas que produzem; - não possui serviço online de retorno (atendimento) - não enviam para todo o Brasil por que os produtos do .doc custam esse valor? - temos um material de melhor qualidade - não possuímos fabricação própria, inclusive temos gasto de frete buscando na cidade de fabricação; - pagamos uma plataforma de venda; - pagamos taxas bancárias a cada venda; - não temos equipe, tudo é feito por uma pessoa (humana & artista); - pagamos pelos materiais que acompanham a ecobag (panfleto pôster + adesivos brindes) + embalagem + etiquetas; - a ecobag é um produto que garante o projeto a se manter em funcionamento, ainda com margem de lucro pequena; - enviamos para todo o Brasil; - qualquer problema que você tiver com o produto (rasgou, não serviu, foi cobrado errado) estaremos aqui para te atender; vamos ensinar a copiar o doc. //como diria nossa mãe: "quer fazer? faz direito". parte 2: nossas ecobags são elas, as queridinhas da pirataria. para a nossa tristeza: porque a ecobag é o nosso principal produto. que vacilo, né? ainda por cima piratearam ela em comic sans. pô, não dá. pega aqui o molde pra fazer a tua. faz bonito, tá? baixar moldes das ecobags aqui [quer vender com a nossa autorização em alguma feirinha? manda um e-mail para nós através do nosso site ou diretamente para fernanda@documentadas.com ] ah, mas que trabalhão fazer, né? também acho. por isso, nossa ecobag está com 60% de desconto no site depois desse furacão que vivemos. sim, é para zerar o estoque. bora com a gente? vamos encarar a pirataria de frente e fazer a nossa ecobag estar pelo Brasil todo. o que faz do doc uma marca incomparável com a pirataria? somos um projeto artístico, estudado e executado com respeito. além disso, em cada produto adquirido você contribui para que mais mulheres tenham suas histórias registradas por todo o Brasil, num documento inédito e que, até o início do projeto, era inexistente. adquirindo um produto pirata, você só contribui para a desvalorização da arte.

  • Flavia e Olga | Documentadas

    Somos um projeto que conta a história de mulheres que se relacionam com mulheres. Documentadas caminha ao lado do empoderamento da comunidade LGBT. Olga estava com 34 anos no momento da documentação, é natural de Recife e mora em Paulista, Pernambuco. Formada em Engenharia Química, possui mestrado e doutorado em Engenharia Mecânica e atualmente trabalha com Engenharia de Software. Entende que não é só das engenharias e das exatas, mas também das artes: adora desenhar, cantar e escrever. Recentemente recebeu o diagnóstico tardio de autismo e TDAH, o que a fez entender diversas coisas e melhorar sua qualidade de vida, podendo visualizar e respeitar seus limites. No tempo livre, adora ler, praticar esportes, ter conversas longas e consumir arte. Flávia estava com 31 anos no momento da documentação, é natural de Recife, mas ainda adolescente se mudou para Paulista e cresceu na cidade. É professora de história por formação e estava ocupando o cargo enquanto vereadora na cidade de Paulista quando nos encontramos. Flávia começou sua militancia no movimento estudantil, participou de alguns movimentos que buscam assistência estudantil para estudantes de origem popular, fez parte de movimentos sociais e se tornou a primeira vereadora negra e lésbica da cidade. É apaixonada pela rua, por estar com as pessoas conversando, no barulho, ouvindo música, falando sobre política… Gosta de fazer política de verdade, até nas folgas está lendo, vendo vídeos e debatendo com alguém. Depois da pandemia de Covid-19, Flávia fez questão de ter sua militância mais voltada para a cidade de Paulista. Sempre saía de casa e se deslocava à capital para participar das atividades, até que começou a pensar em atividades para sua própria cidade, desde ações do Dia da Consciência Negra, até debates pensando mudanças que queriam para a cidade em si. Foi então que, aos poucos, começou a se desenvolver em Paulista, conhecer mais lideranças - e até mesmo se tornar uma - entender que essa era a prioridade. Hoje em dia, a vida em Paulista é muito mais que o trabalho e a casa: é o terreiro, a avó, a irmã, a família, a política que constroem e acreditam, o filho, o relacionamento, o lar. Olga sempre gostou de fazer poesias, em sua maioria tratando sobre temas políticos, e foi quando descobriu o Slam das Minas que começou a se aproximar do movimento de rua e da militância. Em 2018, ano de eleição, Flávia foi para a reunião de candidaturas do partido e percebeu que todas as pessoas eram brancas, metade era composta por homens. Tomou iniciativa porque não se sentiu representada, decidiu colocar seu nome, se tornar candidata à Deputada Federal. Não tinha ideia de como seria fazer uma campanha, mas começaram a se organizar. Nessa organização, criaram um evento de lançamento e chamaram algumas mulheres para participar, inclusive o Slam das Minas, fazendo o convite para Olga recitar um poema. Olga pesquisou um pouco sobre quem era Flávia, para não chegar lá, num evento de política, sem saber onde estava se metendo. Queria estar alinhada, ouvir as propostas. Decidiu conhecer Flávia pessoalmente antes do evento acontecer. Na época, a campanha foi feita como dava: Flávia foi morar no comitê, que era um apartamento bem pequeno no centro de Recife. Estava num dia tentando descansar nessa casa/comitê/escritório e Olga apareceu para conhecê-la. Como esperava ver uma pessoa com pose de Deputada, ficou logo na dúvida se era mesmo Flávia ou não… Achou melhor perguntar logo: “Tu é Flávia, é?!”. E ela respondeu que sim, que talvez conhecesse Olga de algum lugar. Claro, ela sabia que conhecia do Slam das Minas. Sentaram para conversar, falou dos projetos, mostrou panfletos… Pensaram juntas: “Finalmente uma pessoa que pensa como eu!”. Olga conta que o discurso vago na política era algo que a incomodava muito, sempre falavam o quanto a diversidade é importante, o quanto era importante fazer algo, mas nunca era feito, nunca havia proposta efetiva. E ali, independente de um mandato ou não, era o movimento que estava sendo proposto: nós somos o povo, nós quem precisamos fazer algo. O lançamento da Flávia foi um sucesso, coisa que nem o próprio partido esperava, muita gente da cultura estava presente, pessoas representando a militância negra… e quando terminou foram todos para um bar comemorar. Flávia estava muito feliz, estava abraçando as pessoas e abraçou muito Olga. Conta que não é uma pessoa afetuosa fisicamente, mas naquele dia estava muito contente, ficava demonstrando muito para Olga essa felicidade. A vida seguiu depois do lançamento, seguiram os compromissos e começaram a interagir pelas redes sociais. Entre curtidas, comentários e conversas, surgiu um novo evento que seria a inauguração do comitê de campanha. Se beijaram pela primeira vez neste dia, depois de tentarem entender se iria rolar ou não, porque queriam mas estavam tímidas (e as coisas estavam acontecendo todas ao mesmo tempo). Flávia deixou Olga em casa e, no dia seguinte partiu para o Sertão, para trabalhar com a campanha eleitoral por alguns dias. O tempo que a campanha durou, Flávia morou no centro de Recife, próximo de Olga, e elas ficaram juntas. Quando a campanha acabou e ela não foi eleita, voltou para Paulista e pensaram que era muito mais longe, não se veriam mais todos os dias, a rotina mudaria muito… O Miguel, filho de Flávia, estaria muito mais presente - e no começo, por receios, ele não tinha sido apresentado enquanto filho, estava longe dela por conta da campanha, então foi outra questão na relação… Precisaram de um tempo para se entender, entender suas comunicações, suas realidades que ficariam bem diferentes de uma hora para a outra. Flávia começou a mostrar quem ela era de fato: moradora da comunidade, com diversas questões familiares, sem emprego depois de uma campanha… não tinha o conforto de morar no centro da capital como estava tendo por alguns meses. Precisariam repensar a relação. Flávia acreditava que só ia conseguir se relacionar com alguém quando o Miguel tivesse uns cinco anos… assim ele já seria um pouco mais independente e a pessoa que estaria com ela entenderia um pouco melhor também. Na sua visão, quem iria se relacionar com alguém que tem um filho de dois/três anos? Quando Olga chegou com uma comunicação clara, as coisas foram mudando rápido. Ela gostou muito da força, da independência, das coisas que Olga fazia e de como era estar junto com ela. Mas não queria que ela “assumisse um B.O” que não era dela tendo que lidar com seus problemas. Porém, aos poucos, Olga deixou claro que eles, Flávia e Miguel, eram um só. E não eram um problema. Quando conheceu Miguel se deram bem logo de cara e tiveram uma conexão. Aos poucos, Olga seguiu sua vida nos estudos e Flávia conseguiu um emprego depois da campanha eleitoral, foi quando decidiram de fato seguirem juntas e Olga se mudou para Paulista, morando no bairro em que a família de Flávia morava. A mudança para Paulista foi para ajudarem a mãe da Flávia por conta dela estar doente, mesmo ela não aceitando o relacionamento, Flávia pedia para que morassem juntas lá porque não aguentaria ficar longe de sua família. Olga cedeu e refez sua vida e sua rotina em Paulista, entraram num acordo, seu pedido em troca seria que Flávia começasse a fazer terapia e que mantivessem uma comunicação saudável, uma troca pensando em construir um relacionamento confortável juntas. Brincam que demorou um pouco, mas que deu certo. Durante a pandemia de Covid-19 decidiram morar numa casa para reformular mais uma vez a rotina, pois tudo estava sendo feito sob o mesmo teto: os estudos, o trabalho e a vida do Miguel. Começaram a terapia de fato, estavam reaprendendo a se comunicar, foi um divisor de águas. A qualidade de vida mudou muito morando numa casa. Começaram a curtir o espaço, fazer churrascos, exercícios, brincar mais com o Miguel… Não se sentiam presas dentro de um apartamento. Com a pandemia, veio também a segunda eleição, em 2021. Dessa vez já tinham a experiência de uma campanha que Flávia teve uma votação expressiva. Porém, uma campanha eleitoral que exige contato com a população em meio à pandemia era um desafio imenso. Olga conta o quanto foi difícil para ela lidar com as questões do vírus, ver as pessoas sem máscara ou os momentos em que usavam a máscara errado, todos os contatos com as pessoas na rua… tudo mexia demais com ela e causava muito medo. Além de todo o estresse que uma campanha eleitoral já produz, isso era um dos pontos mais difíceis, lidar um um “inimigo invisível” sendo tão direto para a saúde. Mas, a campanha foi feita com sucesso e Flávia foi eleita. No começo, Flávia estava muito destinada a não ser como os outros políticos que só aparecem de quatro em quatro anos. Então seguiu aquele ritmo frenético, trabalhando sem parar todos os dias. Olga entendeu que em algum momento ela adoeceria, estava impossível acompanhar - e entristecendo ver a companheira trabalhar tanto em seu primeiro ano de mandato, mesmo sabendo o quão importante isso é. Foi com muita conversa (e muita terapia) que Flávia entendeu o ritmo, os processos e as propostas. Hoje em dia, Flávia e Olga estão morando num novo lar, apartamento que financiaram juntas pensando na segurança de vida e em parar de pagar aluguel, depois de problemas que tiveram nos lugares que alugaram. Se aproximaram de um terreiro - e a aproximação começou por conta de uma luta contra intolerância religiosa no mandato de Flávia - e sentem que tudo melhorou depois disso. Hoje frequentam as festas, as cerimônias e os ritos, se sentem muito bem cuidando do seu ori. Foi através da religião, também, que chegaram até um terreno onde estão construindo - e reformando com suas próprias mãos - uma casa em Abreu e Lima, local que serve de refúgio, no meio de uma mata frutífera. Fomos até esse local e fizemos parte dessa documentação, pois é lá que se sentem realmente felizes. Flávia conta que pretende continuar trabalhando nas lutas que acredita, pois esse é o seu propósito. Olga deseja seguir seus trabalhos e suas escritas, inclusive, lançou seu novo livro de poesias. E Miguel, agora com nove anos, conta o quanto adora jogar videogame, brincar com Lula, o cachorrinho, e brincar de futebol - com Flávia, ele destaca que gosta de jogar no celular, com Olga, ele gosta de seguir a rotina fazendo as tarefas de casa. Quando perguntamos sobre a casa do sítio, ele responde: gosta de ir lá pra ser feliz, inclusive, é onde quer ir agora. ↓ rolar para baixo ↓ Flávia Olga

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