Stefannie e Jaqueline são naturais de Belém do Pará, trabalham como terapeutas ocupacionais - Jaque num hospital cardiológico, sendo especialista em cardiologia, Ste no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), sendo mestre em terapia ocupacional.
Jaque adora uma vida mais caseira, curtindo o lar, assistindo séries e lendo. Está começando a gostar de viajar agora, nunca foi de passar muito tempo fora de casa. A primeira viagem que fizeram juntas foi para Mosqueiro (lugar que fizemos a documentação acontecer) e que no começo da relação foi um grande refúgio para elas - era um lugar que iam e se sentiam bem. Mosqueiro não era só uma viagem, se tornou parte da relação que construíram. Lá passavam o fim de semana com os primos da Jaque, comemoravam os aniversários, encontravam os amigos em comum, ocupavam uma casa da família e sentiam que poderiam ser quem são sem medo ou julgamento. Até hoje Mosqueiro é referência de um lugar feliz - seja nas festas de verão, na praia de água doce ou nas lembranças boas do início da relação.
Foi na faculdade que Jaque e Stefannie se conheceram. Jaque entrou um pouco antes e recepcionou a turma de Ste, em 2011. Não ficaram muito próximas de início, foi aos poucos e principalmente frequentando o Centro Acadêmico que passaram mais tempo juntas. Em 2015 ficavam o dia todo na faculdade e conviviam muito, no mesmo grupo de amigos. Foi aí que a UFPA se tornou uma segunda casa.
Jaque nunca havia se relacionado com mulheres, Ste brinca sobre o quanto precisou se esforçar para que ela desse uma chance para viver esse amor. Jaque complementa: na verdade, desde 2012 ela já notava Ste… mas nunca pareceu uma possibilidade, então ignoraram os sentimentos e seguiram a vida.
Em 2015 começaram de fato o envolvimento e lembram com muita saudade de como era bom passar o dia na universidade. Nessa época, Ste tinha o desejo de sair de Belém quando finalizasse a faculdade, fazia muitos planos… Sua família já sabia sobre o relacionamento, enquanto Jaque ainda não havia contado, mas levava Ste para todos os eventos familiares enquanto amiga - seja aniversários, Natal, ano novo… Era como se já soubessem, só não falavam sobre.
Quando finalizou a faculdade, Ste decidiu cumprir os planos que fazia há tantos anos de sair de Belém e passou para uma residência acadêmica no Maranhão. Como o namoro com Jaque já estava caminhando há mais de um ano, foi um passo importante não só pela distância que se inseriram, mas pela maturidade que foram construindo nessa mudança. Como não era tão longe, se encontravam com certa frequência, Jaque viajava sozinha até o Maranhão, Ste construiu um lar tendo sua independência pela primeira vez… e viveram dois anos a relação dessa forma.
Em 2020, prestes a completar 5 anos de relação (e um pouco antes da pandemia de Covid-19 começar), Ste conversou com Jaque sobre a vontade de voltar à Belém, porém com uma condição: que a vida delas fosse diferente. Já amadureceram com o passar dos anos, era o momento de caminhar com os próprios pés, assumir o que viviam para a família de Jaque, ter seu próprio lar, não viver com tanto receio. O maior medo da Jaque era a reação de seus avós, porque sua irmã já sabia e apoiava, seus pais conviviam com ela e com a Ste então não seria uma grande surpresa… Acabou que seu pai ajudou a contar para os avós, no começo foi delicado, mas como a convivência era muito grande e o namoro já durava cinco anos, tudo foi amenizando com o passar dos dias.
Como a pandemia de Covid-19 aconteceu logo que Stefannie chegou, os planos de ficarem juntas logo de início não deram certo. Foi como se continuassem numa relação à distância, principalmente por Jaque trabalhar no hospital e não poder ter contato com ninguém. Passaram meses sem se encontrar, depois se encontravam e ficavam distantes de novo… e assim discorreu o ano de 2020. No fim do ano, Ste conseguiu um trabalho em São Miguel do Guamá, interior do estado do Pará, e precisou se mudar, dando seguimento ao relacionamento à distância, então mais uma vez os planos de morar juntas foram adiados.
São Miguel do Guamá é relativamente próximo de Belém (há cerca de 3h) e Stefannie já dirigia na época, então sempre que podia voltava para matar as saudades da Jaque e dos seus familiares. Por mais que tenha surgido esse novo trabalho, elas sempre planejavam: “Assim que eu voltar de São Miguel, a gente vai morar junto!”.
Quando terminou o período de trabalho, um ano depois, e ela realmente voltou para Belém e antes mesmo de planejarem se ficariam na cidade ou se mudariam para uma capital maior, Jaque recebeu uma proposta de continuar trabalhando no hospital em um bom cargo e foi então que decidiram seguir na região. Começaram a procurar apartamentos, casas… e em 2022, com 7 anos de relacionamento, compraram uma casa em Ananindeua, cidade vizinha de Belém. Ficam felizes em ver como tudo caminhou, ainda que pareceu demorar muito, refletiu como o relacionamento é: calmo, com muita estabilidade. Elas prezam por isso, não querem uma montanha-russa, respeitam seus espaços, seus jeitos… quando uma quer ficar quieta, ou quando a outra quer viajar… sentem que isso é se dar bem. Desejam a companhia, desejam compartilhar a vida, mas entendem todos os limites da individualidade.
Em 2024 se casaram oficialmente. Contam que foi “do nada”, Jaque estava no hospital e recebeu uma mensagem da Ste falando “E se a gente fizesse um casamento?”... Só soube responder “Me diga valores”. E dou um spoiler pra vocês: ela disse um valor que obviamente deu errado, mas deu certo também, porque Jaque topou e isso que importa. Em seis meses realizaram uma festa incrível - e em seis meses viveram por essa festa. Sentem a certeza de estarem juntas, que esse é o caminho, que estão no lugar certo e usam a palavra: decisão. É a decisão de estarem juntas, Ste até fala para a Jaque durante a documentação: “A gente é muito decisão mesmo, né?!” e conta que o próximo passo é formar uma família, seguir o caminho da fertilização.
Ste comenta como é forte a conexão que possuem e que às vezes uma escuta o que a outra pensa, Jaque ri e completa que pede: “As vezes a gente fala assim: Eu posso ter o meu próprio pensamento? Porque a gente pensa a mesma coisa, fala a mesma coisa. E é muito engraçado, é confortável”. É um amor que tem o desejo, a paixão e o companheirismo, há dez anos construindo e sabendo que ainda há muito a se construir.

























