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Júlia e Vitória são apaixonadas por moda, saúde da mulher, conversas longas, besteiras que fazem rir por horas, gatos e pela vida social com as amigas na cidade que moram, Campinas, interior de São Paulo. 

 

Possuem uma história de vida totalmente diferente: Júlia adora debater política e acredita que os atos políticos estão presentes em tudo o que fazemos. Sempre foi instigada pela família a ser uma pessoa argumentativa, questionadora. Vitória, por sua vez, vem de uma família muito conservadora. Frequentou a igreja até a adolescência, o pouco que sabia sobre política não achava que era tão importante - e era em ano eleitoral. O relacionamento significa uma revolução para as duas. Vitória aprendeu a olhar tudo sob uma nova perspectiva, reconheceu a importância dos debates e do pensamento crítico, enquanto Júlia aprende a compreender sua praticidade: nem tudo é tão direto, tão incisivo. Precisa entender o tempo das pessoas de processar, enfrentar e saber lidar com seus processos.

 

Júlia conta que sempre viu o amor no lugar de incentivo, de afeto, de impulso e entende que amar é sempre algo coletivo, nunca individual. A família sempre incentivou (a ler, escrever, ouvir músicas, ter contato com o mundo). Depois da separação dos pais ficou cada vez mais próxima da mãe e percebe que sempre foi fácil entender as relações de gênero, o cuidado que uma mulher tem por outra. Sendo assim, não consegue separar o amor de algo político, sendo ele o familiar ou o romântico, que possui pela Vitória - e quando cita ela, só consegue dizer o quanto a admira, o quanto é fácil amá-la, se orgulha da força que possui e do quanto estão crescendo juntas. Finaliza com um “que mulher foda!.”


Vitória, no momento da documentação, estava com 25 anos. É natural do Paraná, mas mora em Campinas, São Paulo, desde criança. Trabalha enquanto fisioterapeuta, focada na saúde da mulher, adora falar sobre sexualidade e tudo o que envolve o corpo feminino. Juntas conversam muito sobre os assuntos que envolvem sua profissão, dentre eles o parto. Ressaltam a importância de ter mulheres que estudem sobre mulheres porque até hoje a maioria das coisas que temos foram homens que decidiram. Falando sobre isso, Vitória faz o recorte sobre o quanto poder conversar e enxergar esses debates no relacionamento acrescenta na vida dela: impulsiona e demonstra o quanto querem crescer em conjunto. 

 

Júlia, no momento da documentação, estava com 34 anos. É natural de Campinas, São Paulo e trabalha com comunicação social, unindo o jornalismo e relações públicas, num ateliê. Conta que pela primeira vez pode ser ela mesma num ambiente de trabalho e como isso tem sido gratificante. 

 

Juntas elas adotaram um gato - o Kovu - e dividem vários hobbies em comum, entre eles o amor pela moda. Acreditam que a forma de se vestir também é um ato político. Amam performar feminilidade e o “choque”/a reação que as pessoas demonstram ao saber que são duas mulheres muito femininas se relacionando amorosamente. 


Foi em 2020 que elas se conheceram num bar. Não tinham muitas coisas abertas por conta da pandemia de Covid-19, mas foram num aniversário e se viram. Na época, Vitória estava se envolvendo com uma pessoa, mas lembra de ter visto a Júlia de tranças, dançando. Num segundo encontro, se esbarraram e ficaram, mas tudo foi muito confuso, passaram a conversar, Vitória viu a Júlia ficando com uma pessoa um tempo depois, chorou e entenderam que estavam apaixonadas uma pela outra. Ficaram mais algumas vezes, até que no começo de 2021 começaram o relacionamento.

 

Foi um início difícil por conta da Vitória morar com os pais e eles não saberem da orientação sexual dela, além de não darem muita abertura para a conversa. Porém, estava cada vez mais insustentável ela não se sentir bem dentro de casa. Por mais que o amor entre a família exista, ela tinha medo de como iriam reagir, e também de como iria sair de casa, se sustentar… Vivia sob constante pressão. Aos poucos se estabeleceu financeiramente, procurou uma casa e foi criando coragem. 

 

Contou para a família num sábado, fez a mudança na terça e manteve a relação da melhor forma possível. Hoje, segue no mesmo lar, com o gatinho e com a Júlia visitando o tempo todo.



 

Vitória fala sobre como a religião é difícil, mas sempre fez parte do que ela foi. Nunca se julgou, nunca achou que fosse um erro ou uma aberração ser quem ela é, diferente do que pregam. Em certo momento, entendeu que o que ouvia na igreja não fazia mais sentido pra ela, então decidiu parar de frequentar. A parte mais difícil foi explicar isso para a família, sente que colocavam uma expectativa muito grande nela, então acabou decepcionando os pais, arranjava desculpas para não ir ao invés de falar diretamente o que sentia e o processo demorou muito mais para acontecer. 

 

Quando conheceu a Júlia, vivia um momento diferente, mas complicado. Explica que a Júlia ter enxergado ela e dado uma chance para que vivessem um amor tão bom como vivem só faz admirar e amar cada vez mais tudo o que ela é (e o que são juntas). Além disso, acredita que amar independe de quem as pessoas são. Você deve sempre apoiar quem se ama. 

 

Júlia conta que sua descoberta para ter uma relação com mulheres foi praticamente inesperada, porque aconteceu enquanto uma “zoeira”, numa experiência de trisal. Não entendia e nem pensava muito sobre o que estava acontecendo. Foi entender quando ficou sozinha com a mulher e viu que isso incomodou o homem. Debateu, pensou sobre, entendeu o próprio corpo e então tomou protagonismo na história. Hoje, fala muito sobre as formas que o patriarcado toma conta das relações – ainda que sobre duas mulheres. E na sua relação com a Vitória dividem o máximo que podem, se comunicam e tentam traçar um caminho diferente. 

 Júlia 
 Vitória 
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