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Mariana e Bárbara são duas mulheres que nasceram em cidades do interior do Rio Grande do Sul. Bárbara vem de Capivari do Sul, município com cerca de 4 mil habitantes, que vive da produção agrícola. Já a Mari, vem de Osório, cidade um pouco maior e mais próxima da capital, com 40 mil habitantes. 

 

Por mais que vivem visitando seus familiares em suas cidades natais, hoje em dia a Mari mora em Porto Alegre, estudando e trabalhando com moda, enquanto a Bárbara passa um tempo com ela e outro tempo com sua família no interior. 

 

No momento da documentação, Bárbara então com 26 anos conta o quanto enfrentou diversas barreiras ao se entender enquanto uma mulher lésbica vivendo em uma cidade tão pequena e conservadora. Lá, trabalhava com equipamentos agrícolas, mas aprendeu de tudo um pouco: soldar, lixar, operar máquinas de corte, etc. Mas seu sonho mesmo é ser profissional na música: toca diversos instrumentos, se especializando nos sopros desde criança. Hoje em dia, voltar para Capivari de mãos dadas com a Mari, respeitando e valorizando toda a história dela enquanto mulher negra, para elas é lido como um ato de resistência: desejam ser respeitadas. 


 

A Mari, que no momento da documentação estava com 24 anos, se mudou para Porto Alegre pelo sonho de ser modelo. Nas palavras dela: “Tinha 200 reais e um sonho”. Ela chegou a trabalhar no comércio de Osório antes, em uma loja de roupas, mas foi demitida por conta de várias situações (inclusive envolvendo intolerância religiosa). Numa das suas vindas para Porto Alegre por conta de freelancer sendo modelo, conheceu uma menina que comentou que havia vaga no apartamento para dividir, então acionou um contato que trabalhava em um salão de beleza conhecido na cidade, conseguiu uma entrevista um tempo depois e, sem expectativas, foi aprovada. A questão era: não tinha dinheiro para sair de Osório e ir para Porto Alegre começar uma nova vida, então fez um “freela” numa lanchonete, ganhou 200 reais e saiu de casa bem cedinho, para a mãe dela não ver. Assim, chegou na capital.

 

Um tempo depois, com o início da pandemia de Covid-19, acabou ficando sem lugar para morar e, com o salão fechado, voltou para Osório. Mas durou pouco tempo, em setembro já estava novamente em Porto Alegre, na casa em que mora até hoje (com a Bárbara, inclusive). 

 

Por mais que a vida da Mari e da Bárbara tenha se encontrado definitivamente quando a Mari já morava nessa casa, em Porto Alegre, suas histórias estão se cruzando há anos. 

A primeira vez que a Bárbara esteve em Porto Alegre foi quando ela tinha cerca de 17 anos. Conseguiu uma carona, saindo de Capivari do Sul, que a iria deixar em Cachoeirinha (região metropolitana) e ela topou - não fazia ideia de onde ficava Cachoeirinha. Quando chegou lá, fez amizade com umas pessoas na parada de ônibus e disse - quero ir numa festa lá em Porto Alegre. As pessoas deram as indicações para ela chegar no bairro boêmio e ela foi. Conta que sempre foi assim, “desgarrada”, sem muito medo de desbravar as coisas.

 

Um tempo depois, ela começou a ir para Porto Alegre com mais frequência. Também viveu muito tempo em Osório, porque sua mãe mora lá; E foi numa dessas vezes que, em 2016, num Galpão de Artes, ela viu a Mari pela primeira vez. 

 

Na época, a Bárbara tinha um relacionamento aberto e se interessou pela Mari, mas a amiga dela não deixou ela tentar o flerte porque a Mari estava envolvida em uma situação de uma pessoa próxima delas. A Bárbara achou tudo muito engraçado e só disse que ok, não falaria com ela. Nisso, o tempo passou. Em 2019, novamente ambas estavam em Osório, se esbarram em um bar que pertencia às amigas da Bárbara. Lá, juntaram as mesas e os amigos em comum, uma começou a conversar com a outra (e detalhe: elas não lembravam dessa situação de 2016) falaram durante horas, a noite toda, mas não demonstraram nenhum interesse - nessa época, inclusive, a Bárbara estava casada. 

Foi só em 2020, quando a Bárbara já tinha se separado, que ela estava num momento de sofrência deitada no colo da cunhada dela, assistindo os stories que a cunhada estava assistindo, quando apareceu um storie da Mari. Ela perguntou quem era e pediu para voltar, pegou o Instagram da Mari e começou a segui-la.

 

A Mari seguiu de volta, elas também se seguiram no Twitter, começaram uma interação e num dia, quando viu que a Mari estava em Osório, arranjou uma desculpa com a amiga dela para irem encontrá-la - mas não deu certo, ela já tinha voltado para Porto Alegre.

 

Interagiram pelas redes sociais de forma lenta, pela timidez da Bárbara, até que resolveram se encontrar no dia das mães, quando a Mari iria para Osório. Mas surgiu um empecilho: no dia das mães era o aniversário do pai da Bárbara, então seria meio estranho elas se encontrarem numa festa de família, né?!

 

Foi quando a Bárbara decidiu pegar o carro e ir até Porto Alegre. Chegou na casa da Mari toda elegante, com banho de perfume, nervosíssima porque só usava bombacha e iria encontrar alguém que fazia moda. Até que foi surpreendida com a Mari abrindo a porta de pijama e meia. 

O primeiro encontro entre elas deu certo. Por mais que estivessem com roupas totalmente diferentes, absolutamente sóbrias e envergonhadas, a Bárbara falou por três horas ininterruptas, mas elas se deram muito bem. No fim, ficaram até 5h da manhã em Porto Alegre, depois pegaram o carro e foram até Osório, a Mari almoçou na casa da mãe da Bárbara e já conheceu a família no dia seguinte. 

 

(E sim, foi no aniversário do pai da Bárbara!)

 

Por mais que todo esse início tenha sido rápido na interação familiar, o relacionamento mesmo foi sendo assumido aos poucos: enquanto se sentiam preparadas.

 

Foi numa viagem em família para Itapema, em Santa Catarina, que a Bárbara pediu a Mari em namoro, no fim de junho (num nascer do sol com chuva). E em outubro surgiu o pedido de noivado.

 

No começo, sentiam muito medo e tinham certeza que logo o relacionamento iria acabar, porque tudo era muito bom e acontecia de forma muito certa. A família da Bárbara ama a Mari e a acolheu muito bem, elas foram estabelecendo comunicação… tudo isso era muito novo, vinham de relacionamentos que não funcionavam assim, até que tudo foi firmando e elas entenderam que poderia ser real. 

Hoje em dia, a Mari e a Bárbara acreditam numa relação que transborde, que acrescente. A Mari investe diariamente no seu sonho de ser modelo, enquanto a Bárbara traz todo o apoio, e vice-versa nos momentos em que ela precisa de apoio para estudar para os concursos de musicista e se concentrar no seu objetivo de trabalhar com música. 

 

Entendem que não é nenhum pouco fácil estabelecer a comunicação na relação. São pessoas muito diferentes, a Mari é muito mais fechada, veio de uma criação que a fez independente no mundo, sempre se viu muito só e agora aprende diariamente a se abrir, a aceitar uma nova família, a ter amizades verdadeiras em Porto Alegre e a falar como se sente.

 

Para ela, esses também são atos de amor diários: quando ela entende o quanto está se abrindo aos poucos. Quando recebe o carinho imenso dos familiares da Bárbara (que agora também são dela) e quando pode contar com os novos amigos. 

 

Bárbara, por fim, conta que ama muito. Não sabe definir como, mas entende que o amor que elas constróem consegue deixar todo o perrengue e toda a dificuldade leve. Ela ama o que vivem diariamente, mesmo sendo metódica dentro de casa. Ama o porquinho da índia (Caetano ♥) que cuidam juntas. Ama esse amor que faz sentido e que quer oficializar enquanto um casamento e uma família. 

 Mariana 
 Bárbara 
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