
























Foi através de um post (de uma pessoa que a Débora nem seguia, mas apareceu no Instagram), em que uma menina explicava a origem do termo “sapatão”, que ela viu o comentário da Paula dizendo que era “sapatão com orgulho” e respondeu. Se interessou pelo perfil da Paula, viu que moravam em cidades próximas, no Rio Grande do Sul, e seguiu puxando um assunto. A conversa fluiu por alguns dias. Na época, Débora trabalhava em um café e tinha folga aos domingos, então resolveram marcar um chopp. Paula, por sua vez, estava muito atarefada, cansada, não tinha dormido à noite e decidiu descansar 40 minutos antes do encontro acontecer. Resultado: pegou no sono. Quando acordou, achou que Débora teria bloqueado, nunca mais olharia na sua cara por conta do bolo, mas Débora entendeu. Na terça seguinte decidiram sair e como é mais difícil arranjar um local durante a semana resolveram encontrar na Casa de Cultura Mario Quintana, local que fizemos as fotos, no dia em que as chuvas históricas começaram no Rio Grande do Sul (nem imaginávamos).
No começo, antes mesmo de namorar, já deixaram claro o que queriam: Débora disse que buscava alguém para casar, para construir algo sólido. Enquanto Paula disse que não pensava em casar novamente. Débora viveu um relacionamento onde a pessoa não era assumida e sentia muita falta de não poder viver uma “vida de verdade”, não poder passar datas importantes com a pessoa, não poder conviver em família… e depois lembra que comentou com a psicóloga o quanto tinha medo da Paula pensar que ela era louca por dizer algo assim, mas que no fundo era simples: se ela sabe o que ela quer, precisa comunicar, não tem porque não dizer para a pessoa e ficar numa relação “perdendo tempo”. Paula entendeu. E nosso dia foi tão marcante, mesmo com tanta chuva, justamente por isso: o pedido de casamento chegou. Elas decidiram firmar essa união em meio à nossa documentação.
Para Débora, a parte mais importante do amor é se sentir amada, falar sobre o amor, demonstrar. Conta que quando era criança aconteceu um acidente de carro na sua família e algumas pessoas morreram, um dia antes ela tinha dito para um dos tios, que faleceu, o quanto ela amava ele e ele respondeu “eu sei”, então ela questionou “como você sabe, se eu nunca havia te dito?” e ele explicou “porque eu sinto, você demonstra isso”. Desde então, faz muita questão de demonstrar o amor para todos que ama, entende a importância das pessoas se sentirem amadas sempre. Brinca que a primeira vez que disse para a Paula que achava que a amava, ela disse: “Sim, eu sou muito amável!” e que essa quebra de expectativas que ela provoca faz tudo ser ainda melhor, faz rir, faz a parceria e o diálogo aumentar, faz com que ela se sinta muito mais amada também.
Paula conta que por diversos traumas de infância/adolescência via muitas barreiras na hora de sentir e demonstrar afeto. Para ela, Débora pegou esse muro de concreto e derrubou num empurrão só. Então, um relacionamento com comunicação, expressão, sem julgamentos é algo muito novo, mas também importante e difícil. Ela ama as convivências com as famílias (rituais muito específicos com merengue na cara e tudo mais), a forma que estão dispostas e como podem contar uma com a outra.
Contam também sobre a Paula estar trabalhando em uma imobiliária (que já trabalhou há anos atrás, voltou agora) e que decidiram assinar a união estável num dia, sem combinar muito ou planejar. Acabaram chamando os colegas dela para serem testemunhas, eles ficaram bem empolgados e emocionados, toparam na hora. E isso fala muito sobre as formas que elas levam a relação. É o espírito: Bora? Bora!
Débora, no momento da documentação, estava com 33 anos. É natural de Porto Alegre, mas morou nas cidades metropolitanas de Cachoeirinha e, agora com a Paula, em Sapucaia do Sul. Formou-se em relações públicas, atua na área de vendas. Ama bichos, tem um coelho e uma cachorra. Adora dedicar o tempo livre para ler, visitar museus, comer, dormir, passear pelo centro histórico de Porto Alegre e também participa de um projeto que caminha por pontos em que aconteceram situações da ditadura na cidade, fazendo esse resgate histórico.
Paula, no momento da documentação, estava com 43 anos. Nasceu em Esteio, região metropolitana de Porto Alegre e hoje mora em Sapucaia do Sul. Trabalhou na indústria e fez uma migração para o setor imobiliário. Como hobbie, é árbitra de atletismo, fazendo também cronometragem de corrida de rua. Além disso, adora passear por Porto Alegre e sente que está redescobrindo a cidade junto com a Débora.
Depois do início do relacionamento, Débora trocou de trabalho e conseguiu um que ficava “no caminho” da casa da Paula (considerando que as distâncias eram bem mais longas antes) e foi então que decidiram morar juntas. Foram juntando as coisas aos poucos e, pra falar a verdade, até hoje quando vão visitar os pais de Débora voltam com alguma mochila no carro pegando um pouco mais de coisas.
Comentam bastante sobre essa adaptação familiar, também, porque Paula tem um filho de 21 anos. Débora fala sobre o quanto ela gostaria de ter uma família e que Paula chegou com “um combo completo”: filho, sogra incrível, família grande, etc. Citam um ano novo que passaram juntos, na casa dos pais da Débora, jogando, rindo, muito parceiros, ele com a namorada e quando ela se deu conta, entendeu: “É isso que eu quero pra minha vida”.