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No relacionamento da Juliana e da Thacia, o que prevalece é o cuidado. Primeiro, porque estão sempre cuidando uma da outra; Segundo, porque estão sempre tomando cuidado nos lugares que frequentam. 

 

Thacia e Ju são policiais, formadas pelo BOPE. Juliana trabalha enquanto policial penal há 9 anos, enquanto Thacia é policial civil, trabalhando na delegacia de homicídios e fazendo operações. Além disso, logo no começo do relacionamento, Ju descobriu uma anemia muito agressiva e o cuidado entre elas redobrou: Thacia aprendeu a cozinhar para ajudar a companheira, Ju brinca que se sente até infantilizada de tanto cuidado - desde o pijama preparado, até as frutas cortadas. “É tudo uma forma de carinho, é maior que eu, não faço de propósito.”, justifica.

 

Tanto na cadeia, quanto na delegacia, todos sabem que elas são esposas. A vida particular não tem nada a ver com a instituição, ou seja, elas trabalham e são casadas. Por mais que amam o que fazem, acreditam que existem outras alegrias na vida além do trabalho, como por exemplo o hobbie da Ju de fazer acrobacias nos tecidos ou o quanto são devotas à religião. 

Juliana, no momento da documentação está com 44 anos e trabalha enquanto policial penal num manicômio judicial que serve a ambos os gêneros. Quando fez concurso trabalhou num presídio feminino, com cerca de 700 presas. Atualmente, neste trabalho, explica que todos os presos têm transtornos mentais e os crimes são bastante pesados. O juiz é quem determina a pessoa que irá para lá, isso serve como uma medida de segurança. O preso, então, se torna paciente do hospital, entrando em em tratamento junto à equipe técnica composta por psicólogo, psiquiatra, assistente social e terapeuta ocupacional, para tentar formas de compreender como aconteceu, identificar e tratar psicologicamente. Conta sobre as interações, a função dela e o fato de ser um local que também tem espaço para pessoas trans e travestis, oferecendo tratamento hormonal e coordenação específica LGBT+. Para Juliana, o governo do RJ faz um bom trabalho em relação ao cárcere. 

 

Thacia, no momento da documentação, está com 36 anos e trabalha enquanto policial civil na delegacia de homicídios, além de fazer operações de rua em todo o Rio de Janeiro. Para ela, é bom ter a mesma profissão que a companheira, pois assim se entendem em muitos aspectos, frequentam os mesmos cursos, a mesma área. Ju entende a sua rotina, que não é fácil… às vezes precisa sair para operações na madrugada. Explica que dificilmente em outras relações as pessoas entenderam isso. São um casal que não proíbe as vontades uma da outra e se respeitam, nesse sentido. 

Por mais que trabalhassem na mesma área, não se conheceram no ambiente de trabalho, mas pela mãe da Thacia, que as apresentou. Thacia tem uma família envolvida na profissão, a mãe dela é policial penal aposentada e ensinou muita coisa para a Ju, foi sua mentora. Em 2018 Thacia e Ju se reencontraram e começaram o relacionamento.

 

Ju conta que no mesmo ano que começaram o relacionamento, o filho dela foi morar nos Estados Unidos e ela se sentiu muito sozinha. Em 2019, no dia das namoradas, a Thacia deu uma cachorrinha de presente para ela não se sentir tão solitária: a Kira. Desde então, tratam a Kira como uma filha… ela tem berço, plano de saúde, festa de aniversário e nunca fica sozinha. Quando está só com uma delas, fazem chamada de vídeo para matar a saudade. No momento da documentação o filho já tinha voltado ao Brasil e brincam que ao invés dele ter uma cachorra, tinha uma irmã. “Ela é muito mimada. Ela arranca sorrisos, é uma benção. Faz você se sentir a pessoa mais amada do mundo. Você sempre ri com a presença dela”, diz Ju.

 

Adoram a rotina que vivem. Gostam de dormir cedo, entre 21h ou 22h já estão na cama, depois acordam às 05h30 da manhã, saem para trabalhar com o café já pronto, ou tomam café na cama. Ainda de madrugada, passeiam com a cachorra. 

 

Thacia mora em Maricá (diferente da Ju, que mora em Niterói) e fala sobre lá ser uma cidade muito única. Vê bastante público LGBT, as coisas geralmente são gratuitas e tem uma qualidade de vida muito boa. 


Sentem que já erraram muito nos relacionamentos anteriores, então quando resolvem ficar juntas querem fazer dar certo. E querem se colocar uma no lugar da outra. 

 

Para Ju, o amor é entrega, tempo, dedicação, construção. Com a Thacia, o amor significa companheirismo. 

 

Thacia vê o amor que elas possuem como uma amizade, acima de tudo. O relacionamento é a coisa mais preciosa que ela tem. A Ju conhece ela por completo, são parceiras. Nunca tinha encontrado isso, sempre se viu separando relacionamento de amizade e com ela encontrou essa junção - tem uma melhor amiga e uma esposa. Diz que isso faz toda a diferença. Ela não sabia cuidar de ninguém, além de si própria, e agora aprendeu a fazer tudo pela outra pessoa. 

 

Juliana diz: “Ela deixa a parada boa, aquilo que é ruim, ela deixa boa”.

E Thacia completa: “Antes de pensar em você, você pensa e se preocupa com o outro. Eu não ligo pra saber onde ela, só ligo pra saber se ela tá bem, se chegou bem. Amor é o desprendimento, ver a pessoa bem, feliz, voe. Você quer que pessoa voe e eu quero tá do lado pra acompanhar.” 


Thacia explica que elas nunca sofreram discriminação, agradece à Deus por isso e conta que também não possuem o costume de ir em festas e Paradas LGBTs justamente por causa do tumulto e da exposição. Pela profissão, o tempo todo tomam cuidado sobre os locais que frequentam e o que pode acontecer ao seu redor. De qualquer forma, acham que andar na rua de mãos dadas e se beijar em público não tem problema nenhum e por isso fazem com naturalidade. 

 

Depois, ela lembra de uma situação, em que foram numa churrascaria juntas e um homem ficou encarando por muito tempo. Ela ficou muito desconfortável, não sabia se ele as conhecia, se estava sendo preconceituoso… No fim, trocaram de mesa. Sente que não podem ir para qualquer lugar, visitar qualquer amigo… É uma questão de preservar a vida delas e de quem tá com elas. 

 Thacia 
 Juliana 
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