Foi no Rio de Janeiro que encontrei a Janelle e a Gyanny, depois de elas enviarem uma mensagem para o Documentadas falando sobre um projeto que possuem e nos convidando para ir até Belo Horizonte fotografar alguns casais por lá. O motivo do encontro no Rio, diferente do local de residência, é a paixão e o carinho que possuem por aqui: a Gy é carioca e a Janelle é encantada pela natureza misturada na cidade.
Janelle, no momento da documentação, estava com 41 anos. Ela é natural de Belo Horizonte e trabalha na área da fisioterapia.
Gyanny, no momento da documentação, estava com 39 anos. Ela é carioca, mas mora em Belo Horizonte há cerca de 4 anos - antes, inclusive, de se relacionarem - e por mais que tenha se formado em educação física, hoje em dia trabalha enquanto analista de mídias sociais.
Juntas, elas fundaram um projeto chamado Jesus Hope. Foi pela necessidade que sentiam de ver LGBTQIA+ sendo representados no meio cristão que decidiram criar um perfil no Instagram para divulgar conteúdos de pessoas e igrejas que falassem sobre o tema. Entendem que muitas pessoas não sabem que existem igrejas inclusivas (são mais de 200 no Brasil!) e o papel do perfil, além de comunicar e ensinar, é evangelizar entre a comunidade de uma maneira inclusiva e acessível.
Quando a Janelle e a Gyanny se conheceram, há oito anos atrás, não imaginavam que um dia iriam estar juntas. Na época, a Gy morava no Rio de Janeiro, ambas tinham outros relacionamentos e a única coisa em comum é que frequentavam a Igreja Contemporânea.
Como a igreja tem bases muito fortes no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, ela promove diversos encontros e retiros. Foi numa viagem ao Rio através de um desses encontros que o encontro das duas aconteceu, mas não virou uma amizade logo de cara. O tempo passou, ambas terminaram seus relacionamentos, a Gy se mudou para Belo Horizonte e durante a pandemia elas começaram a conversar, de forma online.
Foi no dia das namoradas que se encontraram pela primeira vez depois de passarem um tempo trocando mensagens. A Gy conta que nunca quis morar no Rio, sempre procurou outros lugares e que amou Belo Horizonte desde o primeiro momento, então um amigo a incentivou a ir, ela conseguiu um emprego e foi.
Mesmo que ainda veja muitas pessoas com mentes fechadas e situações de machismo acontecendo na cidade, deseja participar da mudança ativa para as coisas melhorarem; Hoje em dia, morando com a Janelle, sente que lá é o seu verdadeiro lar.
Atualmente, a rotina da Gy e da Janelle circula entre a família, os trabalhos e a igreja. Têm suas responsabilidades para além do Jesus Hope, organizam encontros e grupos de jovens, vão nos retiros e congressos. Intercalam seus dias com as orações, os encontros de fé e os encontros familiares.
Começar a gravar vídeos para a página foi um salto, assim como usar alguns materiais de pastores. Entregam diversos conteúdos falando a Palavra e também trazendo debates sobre inclusão, chamando pastores de diversas igrejas para opinar, etc.
Elas contam o quanto a “cura gay” atrapalha e machuca as pessoas. O quanto, também, são altos os casos de suicídio por pessoas que não se sentem parte do mundo e/ou sentem que estão cometendo algum pecado por amar alguém do mesmo sexo. Por isso, prezam pelo acolhimento mostrando isso através da fé, não da condenação.
Gy conta que quando se assumiu para a família dela houve um ponto que a fez pensar muito: ela era da Igreja Batista, mas a mãe dela não frequentava igrejas. Mesmo assim, a mãe falou que não aceitaria, que era pecado, que Deus não aceitaria, e fez questão de falar com o pastor. Ou seja: a Igreja vai muito além de um local físico - suas crenças atingem quem está fora, que ouve e acaba reproduzindo de alguma forma. No entanto, a Jesus Hope vem justamente para transformar isso: mostrar que não é pecado.
A Janelle e a Gy possuem uma relação muito calma e caseira. Acreditam que fazem o amor dar certo porque se doam para ele - através das preocupações, dos cuidados, estando junto e respeitando de verdade, acolhendo ambas família e aceitando como todos são.
A Gy acredita que o amor vem de Deus e fala sobre amar o outro como a si mesmo, com empatia, pensando no outro até mesmo antes de pensar em você. “Amar é uma construção e também um suporte”.
Por fim, também reflete sobre como até os sentimentos hoje estão muito descartáveis: estamos vivendo relações em que se acontece alguma coisa que a pessoa não goste/não queira, ela já se desfaz. Entendem que o amor não é isso, se queremos viver o amor, precisamos passar por cima de algumas coisas em algumas situações, ceder um pouco, relevar um pouco para tentar construir algo (e, claro, respeitando uma a outra sempre!) mas entendendo que é uma situação passageira que servirá para fortalecer e viver situações melhores futuramente.