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A Nathália e a Iasmim começaram a namorar em 2019 com um detalhe: elas já moravam juntas. Dividiam um apartamento com diversas outras pessoas enquanto estavam fazendo a graduação em Direito, no Rio de Janeiro. De lá pra cá, passaram por vários espaços: optaram por morar sozinhas num apartamento bem menor, em Caxias, na Baixada Fluminense, lá enfrentaram a pandemia juntas e depois voltaram ao Rio, com um relacionamento muito mais amadurecido e fortalecido. 

 

Na mudança de volta foi que a ficha caiu sobre o quanto cresceram: quando foram pela primeira vez morarem sozinhas enquanto um casal, tinham uma mala de cada e uma televisão; Quando voltaram, precisaram de mais de um caminhão de mudanças. Construíram a casa juntas, os móveis, lembram de quando chegou o fogão, a cama e a máquina de lavar. No momento pensaram: “Como saímos de uma mala e chegamos nisso aqui?!”.

 

Como tudo foi muito batalhado para ser conquistado, é também muito valorizado. Cuidam de cada detalhe, dos móveis, ao amor que dão aos gatos, o cuidado com as plantas, até o quanto ainda desejam crescer juntas. Sentem que o que vivem é um sentimento puro de família, seja no momento de fazerem um churrasco juntas com vários legumes e uma carne só ou no momento de sentar e conversar sobre o que estão sentindo. 


Nathália é advogada e cantora. Ela estava com 26 anos no momento da documentação, chegou ao Rio de Janeiro para estudar Direito em 2015, mas é natural de Salvador e toda a sua família reside lá até hoje. Antes entendia a música enquanto um hobbie e hoje faz isso de forma mais profissionalizada: possui conteúdos no Spotify (segue ela, gente!) e trabalha nas suas próprias canções.

 

A Iasmim também é advogada. Estava com 28 anos no momento da documentação e é natural de Caxias, na Baixada Fluminense. Na pandemia descobriu vários hobbies, como desenhar, cozinhar e auxiliar a Nath na sua carreira musical. 

 

A Nath acredita que a relação que elas constroem é muito baseada nas ações - nos atos de serviço. Ela traz o exemplo de que não consegue conversar com os gatinhos em casa, por exemplo, mas mostra nas ações e dialoga com eles, demonstra o quanto ama e recebe o amor deles. Assim, no relacionamento delas, elas dialogam e se sentem seguras. Além disso, o amor envolve muitos desafios e enquanto vivem isso sentem que surgem novas perspectivas sobre o mundo. 


Quando a Nath se mudou para o Rio de Janeiro, foi logo encontrar uma amiga que já estava fazendo faculdade de Direito e acabou adentrando no grupo de amigos cariocas dela. Nesse grupo, estava a Iasmim. Um tempo depois, cansada de transitar por vários espaços, decidiu morar em uma república - foi aí que começaram a dividir apartamento. Lá elas viraram amigas, interagiam com todos da casa, viam shows na TV, faziam refeições juntas etc. 

 

Elas não eram suuuuuuper amigas e lembram que a Iasmim era uma pessoa mais fechada, mas em um dado momento começaram a se aproximar mais - se aconselhavam, ouviam músicas juntas… As pessoas ao redor notaram essa aproximação, mas elas não viram nada demais acontecendo. Foi em agosto de 2019, num momento em que a Nath estava mais tristinha pois vivia em torno da prova da OAB, que a Ias chegou até ela e a convidou para sair e ficar bem. Elas estavam num momento ruim de grana, acharam que não ia rolar, mas encontraram um evento chamado “Isoporzinho das Sapatão” e decidiram ir - pela primeira vez saíram juntas/só as duas em algum lugar. 

 

No evento, se divertiram muito. Conversaram sobre as músicas da Nath, sobre coisas super profundas, antigos relacionamentos… até que alguma chave, em algum momento, virou. Foi ali que elas sentiram que algo poderia acontecer - e se viram de uma forma diferente pela primeira vez. 

 

O cigarro acabou, elas tiveram que comprar cigarros avulsos e a Nath ensinou uma forma de conseguir desconto, mas nessa conversa chegou muito próximo da Iasmim para falar. Ela se desconcertou, sentiu algo acontecendo e numas brincadeiras entre cigarros se beijaram. 

Nos dias seguintes ao evento (e ao beijo) tudo ficou meio caótico. A Nath foi assaltada, então estava sem celular e, para ajudar, a Ias evitava ela dentro de casa. Todos os dias a Ias acordava mais cedo, ficava pronta antes do horário da Nath levantar e só batia na porta dela para acordá-la (já que ela não tinha despertador), mas saía logo em seguida, não dando a chance de uma conversa. 

 

Num dia conseguiram conversar um pouco enquanto fumavam um cigarro, mas no momento em que a Nath se aproximou a Ias logo deu a desculpa de que estava tarde e que precisava dormir e saiu do ambiente. Isso deixou a Nath muito frustrada, pensava que a Ias não ia querer mais nada com ela e os amigos falaram: “Foge enquanto é tempo!”. Mas ela decidiu conversar com uma amiga em especial, que confiava, tomando uma cerveja no bar e essa amiga orientou: “Dê tempo ao tempo”. 

 

Na mesma semana a Ias mandou para ela a playlist do evento que elas foram e assim elas começaram a conversar pelo Facebook. Uns dias depois, conversando na terapia, a Ias percebeu que isso era apenas um medo momentâneo e que ela merecia se permitir viver aquele momento bom com a Nath - então decidiu falar com ela e chamar para beber uma cerveja. 



 

É um sentimento gostoso para elas relembrar que no começo, mesmo se conhecendo e convivendo há anos, elas passaram pelo nervosismo de não saber lidar uma com a outra. Surgiam perguntas como: “Você gosta de pizza?” sendo que a resposta era óbvia porque elas viviam comendo pizza em casa com os outros moradores. Mas, mesmo sendo algo bobo, era uma forma de se redescobrirem aos poucos. 

 

Depois de um tempo, a Nath chamou a Ias para conversar e elas decidiram vivenciar de verdade o que tinham enquanto um relacionamento. Foi um pouco depois disso que o contrato do apartamento estava por vencer e elas decidiram seguir morando juntas, mas num espaço novo e só delas. 

 

Elas não esperavam que a pandemia de Covid-19 começaria em seguida. Foi um baque, mas seguiram nessa descoberta diária: conviver juntas obrigatoriamente, sem a opção de sair de casa, é também descobrir muito sobre a convivência com a pessoa que se ama. 

Entendem que viver a pandemia naquela situação de imersão em um relacionamento recente era delicado, mas fizeram de tudo para dar certo. Hoje em dia, trazem o conhecimento que se criou uma com a outra algo muito positivo, mas não descartam as dificuldades nas ansiedades, nos atritos e no ato de aprender a conviver com as diferenças, de conversar e de dialogar sobre os sentimentos. 

 

Na pandemia, também passaram pelo desemprego da Ias, a situação financeira apertou e isso também influenciou muito sobre o valor que dão às coisas que conquistaram. 

 

Além disso, a Nath fazia um exercício intenso de incentivar a comunicação do casal - e principalmente de incentivar que a Ias falasse mais sobre o que sentia/a procurar o que sentia. Tudo partiu do entendimento de que o que ela sentia também afetava o dia a dia do relacionamento. 

 

Foi assim que seguiram juntas e que hoje em dia não se veem de outra forma: estão noivas! Planejaram o casamento aos poucos, com ideias em casa, mas querem vestidos e coisas tradicionais porque acreditam que merecemos isso. Contrataram uma cerimonialista que gostam e, por mais que já tenham passado por uma situação de lesbofobia na hora de procurar um local, encontraram outro e estão super empolgadas! Será lindo ♥


Conquistando também o apoio da família, ficam muito felizes em compartilhar as coisas do casamento e receber conselhos dos familiares que acreditam na potência do amor que elas vivem. 

 

A Ias contam que se sente num grande oceano. Ela nada em amor pela Nath - tudo ao redor dela é água; tem coisas que ela gosta ali e tem coisas que pode não gostar, mas não sabe separar o oceano do mar, tudo está junto e ela ama tudo. Acredita, também, que no dia que souber reconhecer o que ela ama e o que ela não ama, de forma específica, vai entender que esse sentimento provavelmente acabou, então ela ama por completo tudo aquilo em que ela se vê nadando: o amor. 

 

A Nath completa de que esse amor é de uma forma livre também, no sentido de não sentir medo, de poder ser quem são. E que, amar da forma que amam, não representa que todo dia seja bom. Há dias muito puxados, difíceis e chatos, mas o bom é saber que nada vai acabar por isso: é só um dia ruim. 

 

Por fim, amam os atos que envolvem a relação delas: desde o pai da Ias levar caldo quando a Nath está doente, até a forma revolucionária de ver mulheres se amarem através do respeito. Entendem que não vivem regras sociais como as colocadas no mundo heterossexual: se estão casando, por exemplo, é porque querem. E isso as deixa muito confiante de que a relação se baseia somente naquilo que constroem. 

 Nathália 
 Iasmim 
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