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Alice e Fernanda adoram a rotina que vivem, o tempo que passam juntas dentro de casa (já que ambas trabalham de home office), as organizações que mantém, a forma que o dia começa com um café e termina deitando na cama com um longo suspiro. 

 

Comentam sobre um dia que estavam conversando com uma amiga e ela notou o quanto se comunicavam o tempo todo - se olhando, fazendo carinho, não necessariamente em conversas longas… mas sempre com um “Está tudo bem? / Quer ir embora? / Quer ficar aqui? / Quer alguma coisa?”. E como, nesses atos, estão muito presentes o amor e o equilíbrio que buscam. Nem sempre estão bem, confortáveis ou dispostas, mas sempre há apoio. 

 

Se conectaram desde o início do relacionamento através dos traumas já vividos, também. Deixaram claro suas limitações por conta de situações que já viveram, conversaram sobre as dores, acreditam no quão importante é falar para que exista o respeito e a compreensão de onde dói. Alice, completa que a Fernanda virou um suporte emocional, não no sentido de depósito ou de necessidade, mas de companheirismo. Enxerga Fernanda enquanto a pessoa mais gentil e amável com todos ao seu redor e isso sempre a fez querer ficar. 


Fernanda, no momento da documentação, estava com 35 anos. Ela é natural de Duque de Caxias, região da baixada fluminense, no Rio de Janeiro. Trabalha com atendimento ao cliente numa empresa de cursos online. Ama futebol, jogou durante anos e hoje em dia esportes em geral são seus grandes hobbies. Adora acompanhar eventos, estudar e ler sobre. É flamenguista - e virou sócia do Vasco para incentivar Alice e conseguir ingressos para ela ir aos jogos. 

 

Quando mais nova, Fernanda demorou muito no processo de aceitação sobre quem era, e achou importante contar sobre isso. Inclusive, parte de não investir no futebol foi porque era “coisa de sapatão” e ela não se via dessa maneira. Começou a se permitir sair da bolha quando conheceu um grupo de pessoas que gostavam muito da novela Rebelde (RBD) e a grande maioria eram LGBTs, saía com eles e deixou de viver a rotina dela em Caxias, descobriu outras vivências, outros espaços, etc. Quando beijou uma mulher pela primeira vez foi ok, mas quando se apaixonou foi diferente. Demorou muito tempo para se aceitar, aceitar que poderia, mas estar com essas pessoas, nesses novos lugares, foi fundamental.  


 

Alice, no momento da documentação, estava com 27 anos. Ela é natural do Rio de Janeiro, trabalha enquanto líder de um time comercial numa empresa de empréstimos. É muito unida à família e aos seus irmãos. 

 

Diferente da Fê, Alice vem de uma família evangélica e foi criada na Igreja Batista, estudando em colégios específicos e tendo essa vivência bem regrada. Na pré-adolescência se apaixonou por algumas meninas, mas fez de tudo para que isso não tivesse ‘importância’. Quando beijou a primeira menina, tudo fez sentido, mas sofreu muito pelo peso na consciência. Terminou o ensino médio e decidiu: iria parar com isso, seguir os caminhos de Deus. Resolveu conversar com a esposa do pastor, que era psicóloga, e a mulher disse que seria obrigada a contar para sua mãe. Viveu momentos difíceis, na madrugada ouvia sussurros e era sua mãe rezando no pé da cama. O tempo passou, a mãe soube de outra mulher com quem ela se envolveu e acabou saindo de casa, foi morar na comunidade do Jacarezinho num momento muito difícil de fortes guerras, em 2016/2017, vivendo uma realidade difícil e morando com o pai, que também não aceitava. Até que um dia ele cedeu e chamou a namorada para um churrasco. A mãe, em compensação, só aceitou o relacionamento com a Fernanda, recentemente.

Fernanda viveu um momento da vida em que saía muito, bebia e esquecia do que vivia. Ia nas festas, estava sempre cheia de amigos… Nessa época, conheceu Alice por conta de uma amiga em comum, sabia da existência dela, mas não lembrava muito de interações. Foi no carnaval de 2020, pré pandemia de Covid-19, que elas se beijaram, no meio de um famoso bloco no Rio de Janeiro. 

 

Não mantiveram muitos papos online, até que se viram um dia na praia antes da pandemia realmente acontecer e, com ela, a quarentena. Alice puxou assunto pelas redes sociais (brincam que ainda bem, já que Fernanda é péssima nisso) e finalmente começaram a conversar. 

 

As estradas principais que ligam as cidades foram fechadas por conta da quarentena e para que a família da Fernanda não ficasse sozinha em Duque de Caxias, a irmã chamou para que todos viessem ao Rio. Foi quando, estando na mesma cidade e Alice sozinha no apartamento, decidiram se encontrar. Ainda não havia informações sobre a gravidade do Covid, ninguém sabia ao certo, então Fernanda deu a desculpa de que iria doar sangue, realmente foi e depois foi encontrar Alice. Desde então, já estavam apaixonadas. 

 

Seguiram alguns meses de pandemia assim… Conseguiram um carro particular para buscar a Fernanda em Caxias quando precisava e diminuírem os riscos de exposição à Covid, e passavam um tempo juntas sempre que conseguiam. 

is do início do namoro, Fernanda conseguiu um emprego no centro do Rio. A pandemia estava acontecendo e era muito ruim sair da baixada fluminense, pegar diversos transportes e se expor ao Covid-19 para trabalhar. Foi então que uniram a vontade de morar juntas com a necessidade e ela foi dividir um lar com a Alice. 

 

Tempos depois se mudaram para o novo apartamento - onde estão hoje - e lugar que amam. Fernanda conta que imagina o relacionamento para a eternidade, porque ele se encaixa em tudo o que deseja. Elas adoram a rotina, adoram planejar e também adoram o que já possuem. 

 

Foram viajar pela primeira vez juntas para fora do Brasil e planejaram cada passo da viagem, contam como foi bom de se viver, mas que para além de coisas “grandiosas” assim, o que mais gostam é de deitar na cama de casa junto com a gatinha que divide lar com elas e pensar “Esse é o melhor lugar do mundo”. 

 Fernanda 
 Alice 
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