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Júlia e Eduarda estão juntas há 8 anos e no momento da documentação estavam morando em uma casa na Ilha do Governador, junto com seus cães Boris e Caju. 

 

Contam sobre quantas Júlias e quantas Dudas já existiram durante esses anos de relação, vidas já viveram e muito amadureceram. Nunca foram pessoas que dão muito valor aos bens materiais - desejando o carro do ano, a viagem mais cara… - suas prioridades envolvem a casa cheia de gente, almoço em família, um domingo recebendo os amigos e as confraternizações em si. 

 

Duda conta que quando chegou na família da Júlia descobriu que por lá tudo era ‘muito’. Sempre foram muito unidos, sempre contavam um com o outro para tudo. São pessoas intensas. No relacionamento e na vida em si elas enfrentaram muitos desafios desde o primeiro momento (cuidar dos avós da Júlia, viver com o luto, começar um novo empreendimento em meio à pandemia…) e sentem que tudo isso só foi possível de sobreviver por conta do amor. As relações que mantém são pautadas no amor. E isso está longe de representar algo sempre feliz, mas sim um espaço cabível de erros, que nos dias mais difíceis ou mais rudes o amor continue ali. É uma coisa natural: se sentir aceita da forma que você é. 

Júlia, no momento da documentação, estava com 31 anos. É natural do Rio de Janeiro e trabalha enquanto professora de matemática e física, dando aulas particulares. Já trabalhou em escolas, mas prefere seguir com aulas particulares porque acredita que cada criança possui uma maneira de aprendizado. Tem vários alunos adolescentes e crianças, entre eles alguns com espectro autista e desenvolve um trabalho específico individual, atendendo suas demandas. Trabalha na cidade do Rio de Janeiro, mas também faz aulas online. No mais, preenche sua semana com a grande paixão pelo Fluminense e não perde um jogo. 

 

Eduarda, no momento da documentação, estava com 30 anos. Trabalha enquanto maquiadora, fazendo maquiagens sociais e artísticas há mais de 8 anos. Fez faculdade de teatro, mas acabou num curso de maquiagem e percebeu que a maquiagem sempre esteve presente na sua vida. Além disso, adora diversas outras formas de arte, como pintar, fazer miçangas, artesanato… E também passa bastante tempo cuidando das plantas ou cozinhando. 

 

Foi em 2015 que elas se conheceram, por conta de uma amiga em comum que queria muito apresentá-las. Depois que Duda terminou um namoro, elas conversaram pelo Facebook e decidiram se encontrar. Começaram a namorar com o passar dos meses e viviam muito tempo juntas no primeiro ano de relacionamento, até que decidiram morar na casa da família da Júlia. 


Inicialmente moravam no quarto da Júlia - e a Duda chegou mudando algumas coisas, tirando vários posters do fluminense… afinal, se iria morar lá, precisava estar à vontade no local. Tudo sempre foi muito conversado, ela foi se sentindo parte… e a casa em si foi mudando também. 

 

Surgiram demandas para cuidar do avô da Júlia, que estava muito doente, então a mãe acabou indo morar no apartamento ao lado com os avós da Júlia e as duas ficaram no apartamento em companhia do irmão. Foi então que começaram a mudar algumas coisas para além do quarto, sentir pela primeira vez que moravam num lugar delas e que as coisas eram responsabilidade delas. Mas ainda não havia completa noção sobre os gastos, as contas, já que tudo era feito em conjunto - viviam entre o apartamento em que moravam e o apartamento ao lado em que estava o restante da família. 

 

Depois de viverem o processo de adoecimento do avô, Júlia perdeu o pai para a Covid-19, em sequência o avô e a avó por outras doenças. Foi uma série de lutos em um ano muito difícil de lidar, principalmente pela avó, que foi algo inesperado e era a mulher que unia a família, uma base de admiração e carinho muito grande. Vivendo o luto entenderam que seria bom morar numa nova casa, ter um espaço só delas, algo que ainda não tinham tido a oportunidade de vivenciar. Respeitaram o processo da mãe da Júlia, que também sofria pelas perdas, e não queriam deixá-la sozinha - a solução foi arranjar um lar pertinho do apartamento, assim podem visitar o tempo todo. 


Só depois do luto em que vivenciaram, começaram a viver uma relação que era mais focada nas duas - e não que antes elas não vivessem juntas e com todo o carinho envolvido, mas a família sempre foi parte da vida. Contam que quando iam comer um pastel, por exemplo, não era um pastel > eram dez, levavam para todos. Uma pizza não era uma pizza pra elas, era uma pizza pra todos em casa. Sorvete sempre foi uma alegria comprar diversos potes e sabores… A relação sempre foi pensando em todos. 

 

Ter um novo lar é reaprender a pensar sobre elas e o que elas desejam. 

 

Duda conta sobre uma lembrança de um momento em que quebrou uma coisa na casa da Julia e que começou a chorar, porque na sua criação era muito cobrada para ter cuidado, brigavam se quebrava algo, era ruim, desastroso. Quando aconteceu, a sogra olhou e falou: “É bom quebrar, assim uma hora acaba o jogo e a gente compra um novo!”. Nunca tinha esperado isso ou pensado dessa maneira, foi aprendendo aos poucos a ter uma nova relação com as coisas e valorizar as pessoas. Júlia completa lembrando também do início, conta que para ela é muito importante as pessoas da casa almoçarem juntas à mesa, e que como isso nunca fez parte da criação da Duda, para ela não tinha diferença, às vezes não fazia questão. Isso deixava Júlia muito magoada. Foram alinhando isso, entendendo que era algo importante na relação. Medindo suas criações diferentes enquanto algo que pode somar uma à outra… e assim começaram a estabelecer uma melhor comunicação. 


Destacam o quanto se apoiam em tudo. Desde o primeiro ano de relacionamento, por exemplo, quando decidiram fazer uma viagem para o Uruguai e Argentina e decidiram que fariam maquiagens artísticas vendendo glitter no carnaval para conseguir bancar, até durante a pandemia, quando se viram sem emprego e fundaram uma empresa de doces que foi um verdadeiro sucesso e o sustento da casa durante um bom tempo. 

 

Entendem que precisamos doar o que queremos receber e que ouvir, acolher, são atos de amor também. 

 

Enxergam o amor enquanto tempo de qualidade na relação e se esforçam para compartilhar até o que não têm, por exemplo: sorrir num dia que as coisas não estão boas. Júlia cita “mesmo que a gente se embole amanhã, a gente continua sendo a gente” e explica que o amor está nisso, numa dedicação contínua e num entendimento/respeito pelo outro.

 

Por fim, destacam o quanto vivem uma relação baseada no cuidado. Duda arruma os lanches da Júlia antes dela sair para dar aula… às vezes quando Júlia acorda já tem até café na cafeteira com um bilhete ao lado. Isso faz diferença porque passou muitos anos se alimentando mal quando saía para dar aula e agora sente que, para além de saudável, é um gesto que envolve muito carinho. 

 Eduarda 
 Julia 
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