Talita estava com 36 anos no momento da documentação. É natural do Rio de Janeiro, mas mora em São Paulo há oito anos, quando se mudou por conta do trabalho, sendo gerente de operações em uma multinacional na área de resseguros. No tempo livre, adora passear, fazer atividades físicas, jogar futebol, estar com os amigos e reunir pessoas. Sua família ainda mora no Rio de Janeiro, então busca ir com frequência e ver a cidade com olhares de turista.
Natália estava com 28 anos no momento da documentação, é natural de São Paulo, da zona norte. Adora a vida na cidade, as pessoas, os encontros, os bares, exposições, teatros… Trabalha na área de direitos humanos, dentro de uma organização que tem isso enquanto propósito. Gosta muito dos rituais diários e também de tudo o que fala sobre a espiritualidade (do céu, das estrelas…) e também é apaixonada por literatura.
Foi em agosto de 2022 que Nath e Talita se conheceram, num momento pós-pandemia que começaram a sair de casa, depois de muito se isolar durante os momentos de Covid-19.
Talita chegou a voltar para a casa da sua família no Rio de Janeiro e, quando a vacina foi liberada, veio novamente à São Paulo. Sempre que tentava encontrar os amigos, era em casa ou em praças públicas, foi num dia bastante atípico que se sentiu cansada, depois de uma mudança, e viu que merecia desestressar curtindo um samba.
Natália, por sua vez, também vivia um processo de começar a sair após os meses de reclusão. E também tinha vários motivos para não querer sair naquele dia. Mas conheceu uma banda de samba numa ida para o Rio e essa seria a primeira vez da banda em São Paulo. Ela pensou: é a chance de garantir um bom samba em casa! Sente que foi um momento de respiro, um samba de muita liberdade, depois de tanto tempo. Elas se encontraram mas também encontraram muitas pessoas, dançaram, foram felizes.
Nath voltou contente para casa pela noite que viveu, não lembra muito bem com detalhes de tudo o que aconteceu no samba, mas no dia seguinte tinha uma mensagem da Talita no Instagram dela propondo o que ela quisesse: um vinho, uma cerveja, um café. Talita também estava muito feliz pelo dia e por ter conhecido Nath. Ela ficou surpresa com a mensagem - positivamente surpresa. E topou o encontro.
A questão do primeiro encontro da Nath e da Talita era a seguinte: elas haviam se conhecido em uma festa, conversado numa rede social e não sabiam muito sobre a vida uma da outra; Queriam se encontrar, mas a rotina demandava correria. Marcaram para duas semanas depois, mas foram surgindo compromissos e mais compromissos, Nath entendia que o ideal seria um tempo de qualidade, mas era melhor se encontrarem logo do que só adiar para sabe-se lá quando o encontro. Marcaram um almoço, no meio de um sábado - inclusive no restaurante em que fizemos a documentação acontecer.
Logo o primeiro abraço foi interrompido por uma conhecida que estava passando na rua no meio da situação e que começou a conversar, mas quando finalmente sentaram, almoçaram, dividiram uma cerveja… sentem que esse encontro já estava destinado à acontecer. Conversaram sobre muitos assuntos e não viram o tempo passar. Mas passou: e já era a hora do outro compromisso, foi quando Nath falou “Olha, eu preciso ir, tenho um outro compromisso. Mas à noite eu vou pra um samba, aniversário de um amigo. Se você quiser ir…”. Talita inventou um compromisso na hora também, brinca que o compromisso dela era esperar o compromisso da Nath, e assim se reencontraram no aniversário do amigo.
Elas estavam tão conectadas que o amigo, aniversariante, chamou a Nath em um canto dizendo o quanto estava encantado por ela estar em um relacionamento, queria saber mais sobre essa nova pessoa. Ela riu e disse: “Conheci essa menina hoje!”. Mas essa fala vindo de uma terceira pessoa percebendo como elas já estavam em sintonia permaneceu sempre marcada em como a relação se constrói.
Todo o início do namoro, ou melhor, do não-namoro - e você já vai entender o motivo - foi marcado por um momento muito conectado, unido. Todos os amigos comentavam que elas já estavam namorando, só não nomeavam. E era tranquilo para elas, estava “acontecendo”. Assim foram seguindo os meses em 2022. Sentem que tudo ainda era mais fluído porque não circulavam pelos mesmos meios. Os amigos não eram amigos em comum, acabaram se tornando aos poucos… Não tinham trabalhos semelhantes, não tinham rotinas semelhantes… Se não fosse pelo evento de samba, não se conheceriam por outros meios rotineiros. Então o cotidiano diferente trazia um interesse e uma fluidez que era algo novo na vida delas.
Quando 2023 chegou, Nath recebeu uma proposta de trabalho que envolveria se mudar para Brasília. Quando contou para Talita na hora ela apoiou, falou como era incrível, como seria uma nova jornada maravilhosa. Nath não sabia qual reação exatamente esperava, mas essa foi outra surpresa muito boa: o incentivo imediato. Ela tinha quatro dias para decidir se iria se mudar e, com o apoio da Talita vibrando e torcendo por ela, topou a proposta.
Naquele mesmo fim de semana, entre os quatro dias, foram no samba novamente (o mesmo em que se conheceram) e no dia seguinte Talita pediu Nath em namoro (viu, aí sim elas estão namorando… aham!) com um pedido super querido em formato de podcast para se ouvir no café da manhã (contando a própria história delas) e no domingo à noite a ficha caiu: “Meu Deus do céu, eu estou namorando, estou indo pra Brasília”.
Talita apresentou a Natália para sua família enquanto sua primeira namorada, numa ida de muita festa ao Rio de Janeiro. Os tios, primos, as crianças da família, todos se reuniram numa quarta-feira fazendo um grande churrasco.
Com Nath em Brasília, sempre que podia, Talita viajava para lá. Com a possibilidade de trabalho em home office, no começo iria para passar um fim de semana ou feriado, mas depois acabava passando dias e mais dias. Até que meses depois, em dezembro, foi e ficou três meses. Contam que por mais que a distância mexa muito com a saudade, sentiam uma troca muito grande envolvendo a parceria. Ao todo, Natália morou um ano e meio em Brasília e contou com progressos muito importantes na vida profissional. A relação também passou por muitas fases significativas: amadureceram no processo, amadureceram as relações com as suas famílias, suas independências… Mas hoje em dia, juntas na mesma cidade, ficam felizes de estarem mais próximas fisicamente novamente.
Em fevereiro de 2024 noivaram numa viagem para Santo Amaro, na Bahia, no dia de Iemanjá. Foi num lugar tradicional, na festa da cidade, com boas energias, num pedido sem muito planejar, onde estavam se sentindo muito bem. Gostam muito de estarem sempre chamando boas pessoas para perto, sejam pessoas que param para elogiar o amor bonito que demonstram sentir, os amigos ou os familiares.
No momento estão planejando o casamento e descobrindo o quanto adoram a ideia da celebração. Nessa reflexão sobre como estão felizes se permitirem celebrar um amor tão bonito, percebem que essa relação realçou a melhor parte delas, porque tantas outras relações (amorosas ou não) despersonalizam e fazem com que as pessoas se percam do seu caminho, não se reconheçam mais… enquanto ali é muito bom perceber que a relação que constroem fortalece quem são em seus melhores lugares, mas não só - instiga para que sigam descobrindo outros desejos, inspirações, que cresçam.
Para Talita, o amor que vivem hoje em dia é um amor que acrescenta: se vê o tempo todo somando mais amigos, a família aumentando, a mãe mudando o olhar sobre a vida, a parceria o tempo todo presente nos detalhes - seja num café, num esforço que dividem para não ficar tão pesado, no quanto compartilham como está sendo o dia fazendo a companhia presente… é um amor que circula entre o pequeno e a escolha de vida.
Para Natália, a relação representa um autoconhecimento muito grande. Mostra que é possível mudar. Mostra o poder da disposição. E o quanto isso se reflete nas outras coisas: sente que ter uma relação saudável faz com que ela tenha um posicionamento muito mais firme em outros lugares da vida, não aceite situações de abuso em outros ambientes, não releve coisas que são violentas, esteja sempre pensando sua comunicação… são momentos assim que percebe como o amor que vivem é muito além de algo romântico, é uma mudança diária.

























