top of page

Tanto a Roberta, quanto a Alessandra, sempre sonharam em ser mães e ter uma família. Nos 16 anos em que estão juntas, planejaram e enfrentaram diversos desafios para terem seus filhos: o Alexandre, a Sofia e a Rafa.

 

Hoje em dia, morando na cidade de Contagem - Minas Gerais, elas dividem seu tempo entre o trabalho (sendo professoras em escolas públicas), a rotina das crianças, os encontros com a família, as responsabilidades na igreja e os momentos de divertimento - esses, as crianças mesmo contam quais são: brincar com a Amora (a porquinho da índia), ir ao clube, assistir filmes e passear no parque. 

 

Alessandra vê o relacionamento delas com muita cumplicidade, parceria, perdão, união e companheirismo. São companheiras em todas as horas, contam o quanto mudaram juntas nesses anos de relação e o quanto pretendem sempre evoluir. Roberta fala sobre enxergar o amor enquanto algo único, mas entende que o nosso - de mulheres que amam outras mulheres - precisa estar sempre em enfrentamento ao preconceito. Cada vez mais entendem a importância de se ver representadas: desde nas mídias, até nos trabalhos. E o quanto fazem questão de mostrar que são capazes em tudo o que podem fazer, para que o preconceito nunca abra espaço para alguma discriminação por serem quem são.



Foi através da pedagogia que elas se conheceram - e acreditam que foi Deus quem colocou uma na vida da outra - elas não estudavam na mesma universidade, até que a Alê conseguiu transferência para a universidade que a Roberta estudava. Nessa época, a Roberta tinha um problema grave no joelho e passou por diversas cirurgias, ficava bastante tempo fora das aulas por conta disso e o dia que elas se conheceram foi devido à uma comemoração pela volta da Roberta. As amigas do curso resolveram tirar uma foto, comemorando, e a Alê sem nunca ter conversado com a Roberta participou da foto, e pior: foi tão empolgada que quase bateu no joelho imobilizado dela.  

 

Um tempo depois, entre a vida acadêmica, começaram a conversar. Tudo se intensificou numa viagem que realizaram até Ouro Preto, da qual a Alê levou a sobrinha e a Roberta estava ainda sem andar por conta do joelho, então acabaram ficando juntas muito tempo, não seguindo a maioria dos passeios. 

 

No semestre seguinte, para surpresa de ambas, visto que nunca tinham se relacionado com uma mulher, entenderam que estavam apaixonadas uma pela outra. Sentem que tudo foi uma descoberta muito íntima e vivendo no tempo delas, entendendo limites e construindo uma nova forma de amar. 




Depois que assumiram o relacionamento, tudo foi caminhando com o tempo: se formaram, passaram em concursos, guardam dinheiro para investir em um apartamento… Para a Roberta foi mais difícil sair de casa, ela é a única filha mulher e sempre foi muito ligada à família. A Roberta, por ter diversos irmãos, teve uma mudança mais facilitada. 

 

Eles estavam guardando dinheiro porque o plano de terem uma família estava cada vez mais próximo. Contam que não foi fácil, ainda mais com o salário de professoras de escolas públicas, mas encontraram clínicas e conseguiram parcelar os exames. Na época, como as duas queriam engravidar, tentaram fazer o processo juntas - hoje em dia entendem que provavelmente não daria certo, pela quantidade de hormônios e tudo o que envolve a gravidez simultânea.

 

Portanto, a Roberta gerou o Alexandre e logo depois (cerca de 6 meses) a Alessandra engravidou das meninas. Eles possuem cerca de 1 ano e 1 mês de diferença. 




Elas contam que sendo educadoras, tendo muito contato com crianças no trabalho e também na família (os sobrinhos, por exemplo) achavam que isso seria um facilitador na hora de educar os próprios filhos, mas que na verdade tudo é bem diferente - você participa de todos os processos existentes, desde alimentação, até ensinar tudo o que eles sabem (e que vão construir o ser social que são), enquanto os sobrinhos o contato era como um passeio no shopping. A educação é um dos maiores desafios e o que elas mais cuidam e se preocupam também.

 

Desde o momento de gerar até o momento de educar elas vivenciaram diversos preconceitos: na clínica, na escola na hora de matricular as crianças, no registro do Alexandre que foi muito difícil de conseguir… mas transformaram isso em oportunidades também. O caso do Alexandre, por exemplo, por não conseguir registrá-lo perderam o convênio que elas tinham, nisso sempre que precisavam levar ele para algum lugar e estavam sem documento, eram vistas com péssimos olhares. Depois da batalha que travaram, a juíza da cidade autorizou o caso dele e em seguida das meninas, e isso abriu diversas portas para as crianças que estavam sem registro e que tinham mães e pais LGBTs terem seus processos realizados. 

 

Entendem que tudo o que viveram foi muito entre elas, ou seja, uma apoiando a outra. Foram períodos bem difíceis, como também problemas de saúde durante a gravidez de ambas, mas suportaram porque sabiam que não estavam sozinhas. Por mais que hoje tenham a família que sempre sonharam, entendem que nem tudo é romântico e feliz, valorizam cada passo que deram juntas até aqui. 



Hoje em dia, mesmo morando em Contagem, trabalham em cidades próximas. A Roberta, pela primeira vez, foi trabalhar numa escola em que a diretora é casada com uma mulher. Assim ela se sentiu à vontade para falar que se relaciona com uma mulher e sente que está sendo tudo diferente: o acolhimento, o trabalho em si, a forma que a Alê praticamente faz parte da escola porque visita e é super bem recebida. Ela entende que essa é a importância da representatividade vir “de cima” também, estar em cargos de poder. 

 

Além do trabalho, a rotina delas envolve a presença na Igreja Contemporânea. Contam que quando se conheceram eram católicas, mas a partir do momento que ficaram juntas pararam de comungar (porque quando se toma a hóstia, se confessa, e a relação que elas tinham era lida enquanto pecado). Eram mulheres muito ativas na igreja, desde grupo de jovens até retiros, e por mais que ninguém chegou a falar diretamente que elas não poderiam ir, não se sentiam mais parte, então decidiram se afastar. Passaram um tempo procurando igrejas evangélicas, até tinham um certo preconceito inicial e não encontraram nenhuma que gerasse identificação. Foi através de uma entrevista que conheceram um pastor e decidiram saber mais sobre a igreja - que tinha sede em Belo Horizonte, mas era num hotel e elas acharam isso muito estranho, não foram - quando a igreja passou a ter um espaço físico decidiram ir, chegaram lá e foram bem recebidas, adoraram e decidiram fazer parte. 

 

Dentre as prioridades com certeza está a fé. Acreditam que, além do encontro delas, as crianças também são presentes de Deus e que tudo se encaixa com a crença. 

bottom of page