Emily e Raissa se conheceram em 2020, no auge da pandemia de Covid-19, através de um grupo no WhatsApp com mais de 200 fãs de Camila Cabello e Fifth Harmony. Emily, passando por um momento difícil, encontrou conforto nas músicas da banda por sugestão de uma amiga - a mesma que sugeriu a entrada dela no grupo para interagir com outras pessoas. No início, Emily era mais reservada, mas achava divertido o jeito de Raissa, que frequentemente saía e entrava no grupo, geralmente irritada com algum acontecimento.
O primeiro contato direto aconteceu de forma despretensiosa, numa conversa sobre alturas, quando Emily comentou que Raissa era muito baixinha. Com o tempo, as interações cresceram, mesmo enquanto Raissa flertava com outra garota de Manaus, algo que Emily chegou até a incentivar. Porém, meses depois, as duas perceberam que gostavam uma da outra e, sem hesitar, assumiram isso diretamente no grupo, na frente de todos. Era improvável, achavam que nunca aconteceria nada porque consideravam a longa distância entre os estados e o fato de nunca terem se visto pessoalmente, mas decidiram levar a diante. “Qual a probabilidade de dar certo?”
Com o passar do tempo, foram ficando cada vez mais próximas e com a conexão fortalecida. Raissa adotou uma gatinha que virou a mascote do grupo, e elas se acostumaram a lidar com a diferença de fuso horário entre Manaus e Sergipe. Até a família de Emily já reconhecia Raissa e as amigas do grupo como parte da rotina porque Emily estava sempre em chamadas ou conversas online. Quando se deram conta de que estavam completamente entregues à relação, oficializaram o namoro online, que durou mais de um ano até que finalmente se encontraram pessoalmente.
Namorar online por um ano sem se encontrar pessoalmente foi um desafio que trouxe muita ansiedade para Emily e Raissa. Elas sabiam que a distância não era fácil de superar - e para completar, a passagem era cara, não havia como pegar um ônibus, e seria necessário economizar muito para um encontro que, inevitavelmente, mudaria suas vidas. Mesmo com essa consciência, os meses tornavam a espera mais difícil. Pequenas discussões começaram a surgir (e aumentar), dormiam pouco, estavam se desgastando pessoalmente e cogitaram, inclusive, se bloquear e abandonar a relação antes mesmo de se encontrarem.
No meio desse turbilhão, Emily sonhava em entrar na universidade. Porém, nunca havia se inscrito no ENEM, desacreditava em ser capaz. Foi Raissa quem insistiu, incentivou e esteve ao seu lado nos estudos. Mesmo nos momentos mais tensos do relacionamento, quando pensavam em desistir e se bloquearem, Emily pediu que Raissa não se afastasse, dizendo que precisava do apoio naquele momento. A aposta deu certo: Emily passou no ENEM e, pouco depois, ganhou a bolsa de estudos, que usaram para comprar o computador que usam hoje em dia nos estudos em suas ambas graduações.
Com essa nova conquista, a conversa sobre o tão aguardado encontro voltou a acontecer. Decidiram dividir o custo da passagem: Emily pagou metade, e Raissa a outra metade. Mesmo assim, o medo persistia. “Você quer vir mesmo? É outro estado... Outra cultura... Sua família está aí”, questionava Emily. A viagem, que inicialmente seria para dois meses, era um teste: entender como lidariam com a nova cultura, com o dia a dia juntas e, principalmente, com a relação que construíram à distância. Não saberiam ainda se seria um namoro ou uma grande amizade.
Um dos maiores desafios para Raíssa ao sair de Manaus foi contar para os pais sobre a viagem. No início, eles não acreditaram que ela realmente iria. Quando o dia chegou, tentaram impedir, mas, sendo maior de idade, ela manteve sua decisão. No entanto, toda a confusão acabou fazendo com que perdesse o voo. Depois de conversar com a família, garantindo que voltaria em algum momento, recebeu o aval deles para seguir em frente.
Chegando a Aracaju no final de 2021, logo no primeiro mês Raíssa conseguiu se sentir bem na cidade e arranjou um emprego. Viu a relação dar certo com a Emily, superou os medos e as inseguranças. Embora tivessem receio de que a convivência mudasse físicamente, perceberam que a conexão construída online era verdadeira, não eram “personagens”; E mais que isso: tinham uma mentalidade de que seriam mais amigas do que namoradas, apesar de todos ao redor afirmarem o contrário, mas logo se renderam ao óbvio: oficializaram o namoro novamente pouco depois dos primeiros dias juntas.
Até hoje, Raíssa não voltou a Manaus, mas carrega o desejo - e a saudade - de reencontrar sua sobrinha, amigos e familiares. No entanto, já está adaptada à vida no Sergipe e pretende continuar construindo seu futuro ao lado de Emily, com quem compartilha uma história de desafios e cumplicidade.
m 26 anos no momento da documentação. Nasceu em Aracaju, mas morou boa parte da vida em Itaporanga d’Ajuda, cidade sergipana. Hoje em dia reside próxima da universidade, num local chamado Rosa Elze, onde estuda Leitura de Espanhol na UFS e trabalha em projetos acadêmicos. A mudança foi necessária após um tempo enfrentando a rotina exaustiva de acordar cedo e voltar praticamente de madrugada, por longas horas de transporte público. Além do trabalho e dos estudos, Emily aprendeu com Raissa a se apaixonar por jogos clássicos como Super Mario, também adora filmes de comédia, animação e ouvir música.
Raissa estava com 22 anos no momento da documentação. Nasceu em Manaus e está em Sergipe há pouco mais de dois anos. Em 2024, começou a cursar Ecologia na UFS e trabalha como auxiliar administrativa. Fã de jogos online, ela também é apaixonada por cinema, compartilhando com Emily o gosto por momentos tranquilos e divertidos.
Agora, Raíssa e Emily dividem a vida em uma casa que se tornou cheia de afeto e propósito. Elas moram sozinhas, mas compartilham o lar com o irmão mais novo de Raíssa, uma criança extremamente carinhosa, que ama estar com elas. As famílias das duas também apoiaram como esteve ao alcance: os pais de Raíssa ajudaram com eletrodomésticos, e a família de Emily oferece suporte estando próxima. Vivendo na cidade próxima à universidade, encontraram um equilíbrio onde tudo é mais acessível e a rotina faz mais sentido.
Para Emily, o relacionamento é um porto seguro. Elas aprenderam a identificar os momentos de ansiedade uma da outra e a criar um espaço de calma e cuidado. A universidade, que sempre foi um grande sonho, representa uma nova possibilidade de futuro, construído juntas. Apesar das noites em claro estudando, trabalhando e enfrentando os perrengues que não são fáceis, elas reconhecem como é importante ter esse apoio em cada etapa - seja lidando com os compromissos acadêmicos, seja lidando com as demandas da casa ou com as demandas familiares.
Raíssa sente orgulho do que construíram e da admiração que recebem dos amigos e familiares. Ela valoriza profundamente o vínculo, o apoio e a sensação de estar formando uma família, ama estar com o irmão da Emily e sente que o lar é um espaço que vai muito além do cotidiano, mas que reflete a vontade de crescer juntas, um encaixe.
























