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Foi por uma brincadeira entre a Dandara e a amiga que estava hospedada na casa dela, que a história de amor entre Dands e a Raquel começou. Vamos lá, eu explico: Era um dia ruim, ela estava chegando em casa triste e amargurada, quando abriu a porta e viu a amiga se divertindo olhando para o celular. Na hora, indignada, perguntou por qual motivo estava rindo, se tudo nesse mundo andava tão ruim. A amiga contou que tinha baixado o Tinder e estava conversando com um cara que de tão sem noção chegava a ser cômico - o papo era muito ruim, todo errado, mas ela estava até se divertindo e disse “Amiga, baixe o Tinder também, dá match com ele! Vamos ver se ele vai dizer o mesmo pra ti!”.

 

Na hora Dandara imediatamente duvidou do algoritmo. Mas é aquela coisa: com algoritmos não se brinca. Ela viu a conversa, tomou um banho e decidiu baixar o aplicativo. Realmente achou o cara, deu match e aconteceu o que esperavam: um copia e cola da conversa com a amiga. Acharam tudo bizarro e riram a noite toda dessa situação. Entre rirem da própria desgraça, Dands resolveu usar o aplicativo um pouquinho, mesmo que não estivesse tão disposta a conhecer pessoas, até que deu match com a Raquel.

 

Raquel, por sua vez, tinha acabado de sair de um relacionamento que fora bastante traumático e usava o Tinder para se distrair e conhecer outras possibilidades de conversas. Durante o ano de 2021, quando conheceu a Raquel, achou que ela seria uma ótima companhia. Foi quando conversaram, decidiram ir ao museu juntas e passaram o tempo todo só conversando, nem chegaram a se beijar. 


 

Depois do primeiro encontro que tiveram no museu, Raquel e Dandara seguiram conversando e saindo, até que ficaram. Um mês depois do primeiro beijo começaram a namorar. Dandara não aceitou o pedido de namoro da primeira vez - pois é, Raquel até pediu, mas ela disse: “Não.”. Nada mudou, seguiram ficando. Entendem que precisavam resolver outras situações, relacionamentos inacabados e medos de se relacionar seriamente. Precisavam entender seu tempo. 

 

Por mais que não queriam namorar, seguiam ficando e não ficavam com mais ninguém, foi quando Raquel desistiu e falou: “Não vou mais falar sobre o assunto. Ela está namorando, só não quer ver”. E assim seguiram, até que um tempo depois foi Dandara quem fez o pedido e oficializaram o relacionamento. 

 

Hoje em dia, no momento da documentação, anos depois do começo do namoro, nos encontramos num dia turbulento em meio à mudança de apartamento delas: vão morar juntas pela primeira vez. Entre carregar coisas de um lado para o outro, arrumar caixas e comprar móveis, tiramos um tempo para tomar um café no Pelourinho, lugar escolhido por ser bastante frequentado por elas. 

Dandara no momento da documentação estava com 26 anos, ela é natural de Salvador, trabalha enquanto estagiária em advocacia e tem um grande hobbie na fotografia - também trabalhando nessa área no tempo livre.  

 

Raquel no momento da documentação estava com 27 anos, também é natural de Salvador, trabalha com auditoria e conta que tanto ela quanto Dandara possuem ligações muito fortes com a Umbanda e o Candomblé, então além dos hobbies, no tempo livre estão muito presentes em suas religiões.

 

Conversamos muito sobre o quanto o processo da mudança vem sendo algo significativo para elas - e como documentá-las nesse momento também é importante. Dands conta que é uma pessoa muito apegada aos seus bens materiais, que a grande maioria das suas coisas representa sentimentos, pessoas, momentos… e a mudança está sendo um passo muito grande em praticar o desapego. Uma nova e desafiadora fase. 

 

A mudança também representa o novo desafio da convivência, com questões de casa, detalhes do cotidiano, novos conflitos ainda não vividos… coisas que também são boas. Antes de se relacionarem, entendem que passaram por muitos momentos difíceis, traumas, situações que faziam com que não falassem e se abrissem, viviam com marcas guardadas. Juntas começaram o exercício de falar e investigar uma à outra e acreditam que morando juntas isso possa se tornar ainda mais forte. 

Para Dandara, amar é ser companheira. Ela acredita que ser uma mulher preta se relacionando com outra mulher preta é algo político 100% do tempo, algo muito intenso que fala também sobre sua própria raíz.  

 

Raquel não quer ficar falando o tempo todo que beija mulheres, ficar reafirmando, quer ser tratada com normalidade, mas entende também que colocar como normal não adianta num momento que precisamos reivindicar, por isso se coloca nos espaços de luta. Para ela o amor é uma construção contínua -  você se descobrir e redescobrir. É também estar sempre acrescentando nas relações: “Talvez algo já existe em você e o outro te ressalta, te soma”. Ela conta que quando brigam ou discutem/se veem nessas situações difíceis, sente que precisa sentar, conversar, se localizar no que está acontecendo, colocar pra fora. 

 Raquel 
 Dandara 
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