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Dalila estava com 28 anos no momento da documentação, nasceu em São Paulo, mas se mudou para uma cidade interiorana próximo à Campinas ainda jovem. É uma pessoa bastante calma, sempre encontrou formas de se adaptar aos diferentes cenários de sua vida - e por isso, gosta de se definir como um camaleão. Formada em contabilidade, começou sua carreira na área administrativa, mas foi aos 24 anos que aproveitou novas oportunidades, indo para hotelaria. Adora yoga e pilates. 

 

Andréia, no momento da documentação, estava com 47 anos. Nasceu em São Paulo, saiu de casa aos 17 para desbravar o mundo. Formada em contabilidade, tinha o sonho de trabalhar na Bolsa de Valores e chegou bem perto disso: ingressou em um escritório vinculado à Bolsa, mas o destino tinha outros planos. O departamento de hotelaria no mesmo escritório despertou maior curiosidade, uma das colegas tirou licença-maternidade e ela pegou algumas das suas responsabilidades. Dez meses depois, veio uma promoção e uma proposta: mudar para Recife trabalhando com isso. Era 2003, ela tinha pouco mais de 20 anos e topou na hora, sem nem pensar duas vezes. Passou três meses trabalhando em Angra dos Reis para entender como os hoteis funcionam, depois desembarcou em Recife e ficou por lá alguns anos. Desde então, já possui mais de 20 anos de carreira na área, trabalhando principalmente no nordeste.

 

Juntas, Dalila e Andréia formam uma parceria que se complementa: Dalila é metódica, cuidadosa, calma. Lembra Andréia de levar o casaco, beber água ou ajeitar a postura. Andréia vem com a agitação, o espírito aventureiro, lembra Dalila de viver o momento, a juventude. 



 

Depois de passar anos morando no Nordeste, Andréia passou por algumas questões familiares e precisou voltar para São Paulo. Retornou sem emprego, sem contatos e sem um plano claro, considerando até mesmo a possibilidade de um intercâmbio. Enquanto isso, enviou alguns currículos e, em pouco tempo, recebeu uma proposta de emprego em um hotel conhecido em Campinas. Foi lá que conheceu a Dalila.

 

No início, era complicado entender os sentimentos que começavam a surgir entre elas. Dalila tinha 23 anos, estava começando sua carreira. Andréia, além da diferença de idade, ocupava um cargo de liderança. A posição profissional pesava e decidiram manter o relacionamento em segredo. Por mais que a idade fosse um fator, Dalila sempre foi uma pessoa muito madura e isso nunca interferiu na relação, tinham mesmo era receio da questão profissional. 

 

Se conheceram um pouco antes da pandemia de Covid-19 e do lockdown acontecer. Quando foi declarado, o hotel ofereceu uma opção de demissão voluntária - os empregados se demitiriam mas teriam todos os direitos garantidos - e elas optaram por fazê-la, e assim, poderiam também assumir a relação sem mais o medo disso interferir no trabalho. Depois disso, passaram por um novo momento: assumir à família. Alguns meses depois, contaram para a mãe da Dalila. Era um momento bem significativo, a primeira vez que falaria da sua sexualidade, somado ao fato de estar com uma mulher mais velha e, ainda, o desejo de sair de casa. Apesar da complexidade, sua mãe, uma mulher incrível, acolheu a notícia com compreensão e amor. Esse período de adaptação levou alguns meses, mas foi essencial para fortalecer a relação entre elas. Ainda nesse processo, tiveram a primeira viagem juntas, o primeiro trabalho pós-demissão e receberam uma nova proposta para trabalhar juntas em Porto Seguro.



 

A primeira mudança que fizeram para Porto Seguro a fim de trabalharem juntas foi um divisor de águas na vida da Andréia e da Dalila. Andréia assumiu a gerência, enquanto Dalila cuidava da parte operacional. Em meio à pandemia, estavam no único hotel aberto em Porto Seguro. Esse período marcou o início de uma vida compartilhada, tanto no trabalho quanto na relação pessoal.

 

Mesmo em tempos desafiadores, encontraram maneiras de aproveitar. Passearam por Arraial d’Ajuda - o local onde fizemos as fotos - beberam água da fonte lendária que promete trazer de volta aqueles que a experimentam e visitaram Trancoso. Essa última viagem ficou ainda mais especial com uma pousada em que se hospedaram e da qual gostaram tanto que, três anos depois, decidiram arrendá-la e trabalhar nela como administradoras.

 

Quando o contrato em Porto Seguro terminou, um novo destino chegou: Porto de Galinhas, em Pernambuco. Em Pernambuco trabalharam em hoteis distintos, exploraram novos hábitos alimentares e descobriram formas diferentes de viver. Foi nesse período que Dalila despertou um amor especial pela cozinha, criando cafés da manhã não só para elas, mas também para vender.

 

Em 2022, surgiu uma oportunidade de retornar à Bahia, entre Porto Seguro e Trancoso, para trabalhar novamente com hoteis e pousadas. Decidiram voltar e, dessa vez, arrendaram a pousada que tanto haviam amado anos antes. Moraram em Arraial d’Ajuda e se deslocavam diariamente para Trancoso, onde gerenciavam a pousada. Dalila voltou a se dedicar à culinária, inclusive fazendo isso na pousada: elaborando cafés da manhã em sua maioria vegetarianos. Ficaram quase um ano nessa rotina. Após o período na pousada, seguiram para outros trabalhos, foi então que Dalila criou o Manhãs e Marés: um serviço especial de cafés da manhã, atendendo tanto pousadas/hoteis quanto clientes individuais. Atualmente, Andréia continua sua carreira na administração de pousadas e beach clubs, enquanto Dalila equilibra sua paixão pelos cafés com o suporte à administração.


Hoje, além do trabalho e do tempo de qualidade juntas, Andréia e Dalila dividem o amor por uma gata que adotaram. A vida que construíram reflete a busca constante por leveza, equilíbrio e conexão. Elas se alegram com as pequenas e grandes mudanças que alcançam juntas, aprendendo a ser pés no chão, mas sem se cobrar demais.

Dalila conta que Andréia traz a agitação para a vida dela e foi num desses momentos que surgiu o “Praciar” - ato que fizemos na hora da documentação: sentar na praça e observar. Compram uma cerveja, ficam de boa, assistem o movimento. Dalila gosta de dormir cedo, então ficam na praça até ela começar a sentir sono, e vão embora. Adoram a calmaria do relacionamento, acreditam que o amor próprio é a chave para ele dar certo e, ainda mais para a Andréia, que se vê enquanto uma pessoa agitada que sempre fez “muita balbúrdia”, a calma da Dalila a ensina o tempo todo. Entendem esse amor refletido no respeito por ser quem são, no momento de cada uma, nos limites das inseguranças e em enfrentar os momentos difíceis juntas. 

 

No momento da documentação, inclusive, haviam acabado de chegar de um encontro de famílias que só aconteceu depois de cinco anos de relacionamento, lá em São Paulo. Pensam na demora e na insegurança que tinham pelo fato da diferença da idade, por terem familiares mais velhos presentes, senhores e senhoras de 80 e 90 anos e que havia receio do que poderiam ouvir, ainda mais por verem Dalila como uma “menininha” e por ela estar namorando uma mulher mais velha. Todavia, foi incrível, acolheram Andréia de uma forma maravilhosa e admiraram a felicidade delas. Nesse ato elas enxergam o amor, entenderam que o importante é serem felizes, estarem em conforto e cuidado. 

 Dalila 
 Andréia 
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