Conheci a Aline e a Isabela em Salvador alguns dias antes delas se mudarem para Dublin, na Irlanda. E o que gosto em especial é que essa notícia foi dada de forma totalmente despretensiosa durante a nossa conversa, quando perguntei sobre a rotina delas - se moravam/se já moraram em algum momento juntas e como era essa questão - me deixando muito surpresa e ansiosa para entender melhor a história.
Depois que começaram a namorar, em meados de outubro de 2020, o começo do novo ano foi com uma transferência que a Aline recebeu no trabalho e precisou se mudar para São Paulo. A Isa embarcou nessa ideia e moraram juntas por lá. Sentem muito por terem desbravado tão pouco a cidade, visto que a pandemia ainda era forte, e ficaram quase um ano no sudeste.
Voltaram a Salvador, e dessa vez foi a Isa quem precisou se despedir: para um intercâmbio já sonhado há tempos! Dublin era o destino e passaram 7 meses à distância. Não foi nenhum pouco fácil. Contam que não há costume, há uma normalização da rotina, mas ficam felizes em saber que passou. Hoje em dia, constróem a nova vida juntas… mesmo ainda não sabendo como exatamente será, sem planejamentos concretos pelo incerto de um novo país, estão muito animadas em viver algo completamente novo.
Foi através do Twitter que se conheceram. Isa conta que tem conta na rede social desde os primórdios, tipo 2009, mas foi durante a pandemia que estava interagindo com um amigo que possui em comum com a Aline.
Aline viu a interação na timeline e resolveu curtir os tweets e seguir a Isa (viu pelo perfil que ela beijava mulheres, também) e quando a Isa recebeu a notificação pensou “Oxe, ela me segiu?!”, mas ok… seguiu de volta. Passaram-se uns dias e elas conversaram. Naquele tempo ocioso da pandemia a conversa demorou horas e virou algo frequente, viravam madrugadas conversando sobre qualquer coisa.
Isa morava com os pais e com o medo da pandemia de Covid-19 demoraram para se encontrar, mesmo que a Aline morasse sozinha. Apenas meses depois, em setembro, o encontro foi acontecer. Desde então, não se desgrudaram mais.
Aline, no momento da documentação, estava com 31 anos. É de Salvador, trabalha enquanto arquiteta e estava com um projeto em que produz coleiras/colares para cachorros, com identificação (nome e telefone) como chokers, começou enquanto hobbie e foi tomando maiores proporções até comercializar.
Isabela, no momento da documentação, estava com 32. Também é de Salvador, trabalha enquanto assistente social e adora cantar, é um grande hobbie.
Depois que começaram o relacionamento e viveram as mudanças para São Paulo, elas contam que decidiram noivar. Compraram a aliança juntas, sem saber, tratam com muito carinho a importância do ato de casar, e até hoje debatem sobre a data em que isso irá acontecer. Entendem o quanto foi difícil ficar todo o tempo longe, depois que precisaram passar pelos períodos da distância (de São Paulo e de Dublin) e que só a terapia as ensinou a criar um verdadeiro diálogo, a lidar com os ciúmes, os processos internos… Acham importante falar isso sem grandes romantizações, porque ao olhar pra trás sabem valorizar o intenso caminho que foi percorrido com muitas conversas e muita disposição para chegar até aqui.
Isa é mais cuidadosa nas palavras, mesmo entendendo que às vezes se fecha. Aline é mais direta, fala sobre o que está sentindo, mas sabe que nem sempre é fácil de se encaixar.
Elas contam o quanto, entre todas as dificuldades, a distância até que ajudou em vários processos: antes de viajar elas estavam brigando muito, se sentindo perdidas na relação… assim, faziam chamadas de vídeo, viviam seus momentos individuais, sentiam suas saudades.. sentiram que quando voltaram tudo já estava diferente internamente e externamente.
Isa fazia de tudo para tentar trazer Aline pra perto durante a viagem: Contava das novas culturas que estava aprendendo, mostrava os lugares que visitava… Enquanto isso Aline sempre visitava os pais dela em Salvador, mantinha a rotina delas para que tudo estivesse saudável. Era as formas que encontravam de se sentirem mais próximas.
Assim, Isa enxerga o amor em todos os detalhes do seu dia: seja com sua família, no seu relacionamento, com os bichinhos… sempre entrega amor em suas versões. Aline completa que, por serem mulheres, sente que o amor precisa ser mostrado em público porque acredita na potência do nosso amor, falar sobre sermos quem somos é mostrar que estamos vivas, mostrar nosso afeto nas redes sociais, para as nossas famílias, vivermos esse amor é algo que nos potencializa.