Amanda e Júlia se conheceram no ensino médio. Estudavam no mesmo colégio que os pais da Amanda se conheceram, mas em turmas diferentes. Júlia conta que desde a primeira vez que se viram sentiu que seria algo especial, como se já soubessem que ficariam juntas. Amanda, na época, ainda não havia se relacionado com mulheres.
Júlia já tinha se relacionado brevemente com uma amiga de Amanda, mas não tinham os grupos de amigos como ligação em comum, era apenas este fato que as unia. O primeiro contato mais marcante aconteceu na orla de Imperatriz, justamente no local onde anos depois fizemos essa documentação acontecer. Júlia estava com um problema: um ‘chupão’ no pescoço - e morria de medo que a família descobrisse. Amanda se ofereceu para ajudar, deu dicas de como disfarçar e depois seguiram juntas para pegar o ônibus. A partir desse dia, começaram a conversar mais online, se aproximaram no colégio e, pouco a pouco, também juntaram os grupos de amigos. Ainda que, no começo, muitos (para não dizer todos) acreditavam que o relacionamento que ali se formava seria só algo passageiro.
Quando a mãe de Amanda descobriu, a situação ficou tensa. Foi então que Júlia tomou a iniciativa: decidiu ir até a casa de Amanda para conversar com a família e oficializar o pedido de namoro. A questão é que, sem que Amanda soubesse, no dia seguinte cedinho já estava lá, falando com os pais. Amanda levou um susto quando acordou e ouviu a voz de Júlia dentro da própria casa, já pedindo a mão dela em namoro.
No início, os pais de Amanda até aceitaram a relação das duas, mas não acreditavam que o relacionamento fosse durar. Deixavam elas namorarem apenas na porta de casa, sentadas, sob supervisão. Hoje em dia elas riem lembrando, mas a verdade é que ninguém sabia direito como lidar com o início da relação. Quando os pais perceberam que o namoro duraria meses, afinal, seguia firme semana após semana, começaram a proibir as saídas juntas ou parar de aceitar os namoros na porta de casa. Isso justifica o quanto acreditavam que era apenas uma fase, uma brincadeira jovem… e que não iriam lidar com uma relação de verdade entre duas mulheres; Mas, mesmo depois das proibições, Amanda e Júlia continuaram se encontrando na escola e aproveitavam para escapar das aulas e passar tempo na orla da beira do rio Tocantins.
Com as restrições aumentando, precisaram encontrar novas maneiras de continuarem se encontrando além da escola. Muitas vezes, enquanto os pais de Amanda saíam nos finais de semana, Júlia ia para a casa dela e, quando eles chegavam, corria para se esconder embaixo da cama. Foram várias noites em que os pés dos pais de Amanda chegaram a passar bem perto dela embaixo da cama, sem desconfiarem de nada. Hoje em dia, essa história é contada com humor - inclusive pela mãe da Amanda já sabe que isso tudo acontecia e se nega a acreditar.
Com o fim do ensino médio e o início da independência financeira, Amanda e Júlia decidiram morar juntas. Essa mudança trouxe mais autonomia e diminuiu as interferências da família no relacionamento. Ao longo dos anos, passaram por algumas mudanças de casa, entre imprevistos e ajustes da vida, mas hoje vivem um momento de maior estabilidade: conseguiram juntar dinheiro e dar entrada na primeira casa própria, só delas. Ainda parecem não acreditar que o sonho está se concretizando, lembrando que começaram com quase nada, uma cama e poucos móveis, e agora conseguem enxergar, na prática, tudo o que construíram lado a lado.
Reconhecem que o início não foi fácil. Como eram bastante jovens, as brigas por ciúmes eram constantes, era muita “intensidade adolescente”. Hoje, com mais maturidade, conseguem rir de muitas discussões que pareciam grandes, mas eram apenas inseguranças. Entendem que o vínculo delas é mais forte do que qualquer conflito e que existe uma “fissura” que sempre as faz escolher uma à outra. Com o tempo, aprenderam a transformar a relação em parceria: compartilham jogos em casa, passeios, almoços simples e a rotina com cuidado.
Este cuidado se tornou parte essencial, uma base. Quando uma acorda mais cedo compra pães e lanche para a outra levar ao trabalho, dividem cafés da manhã, tarefas em casa, acolhem os medos, sonham alcançar novos lugares (seja no trabalho, na faculdade ou na vida pessoal)... Quando uma enfrenta dificuldades no trabalho, a outra é quem primeiro ouve, aconselha e acalma. Para elas, esse equilíbrio é o que faz com que a história dure dos tempos de escola até a conquista da casa própria.
Amanda estava com 24 anos no momento da documentação, nasceu e cresceu em Imperatriz, no interior do Maranhão. Atualmente cursa Engenharia Civil e estagia na área. Aos 18 anos, decidiu sair da casa dos pais, em meio ao desejo de viver a relação dela com a Júlia de forma livre e independente. Gosta de programas simples do dia a dia, como assistir televisão e jogar jogos de tabuleiro.
Júlia estava com 25 anos no momento da documentação, nasceu em Belém do Pará, mas ainda criança se mudou para Imperatriz, onde construiu a maior parte de sua vida. Trabalha como assessora de crédito em um banco e conta que começou a trabalhar muito jovem, próximo dos 14 anos, então já passou por diversos trabalhos diferentes. Parte da família ainda vive em Belém e em cidades do interior do Pará, enquanto outra parte está em Imperatriz, fortalecendo os vínculos na cidade.
Ambas compartilham a experiência de terem saído cedo da casa dos pais e de terem buscado independência desde jovens. Suas histórias se mesclam com orgulho e vontade de serem independentes, formando um lar.

























