A Vitória e a Maiara possuem um relacionamento a distância, vivendo entre as capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo. A Vitória veio para o Rio uma vez só, enquanto a Mai vai com maior frequência, adora São Paulo e pretende morar lá em breve.
Nos encontramos no Parque Ibirapuera. Elas gostam de estar em parques, com a canga no chão, sentadas ou deitadas, falando sobre a vida. Adoram visitar museus e restautantes também. Além disso, a Vi gosta de fotografia, faz poledance, escreve bastante e antigamente elas até trocavam poemas. Enquanto a Mai jogava bastante futsal e adora cozinhar.
Elas acreditam que hoje em dia tudo tende a ser mais acelerado (os áudios, as rotinas, os fluxos das coisas) e isso acaba fazendo com que a gente não preste tanta atenção no outro. Então talvez o que elas querem de verdade parece ser mínimo, mas se trata de uma essência: se cuidar. Resgatar um senso coletivo - sermos menos robotizados, acelerados nas ruas - e olhar pra você sabendo quem você é, para então poder amar o outro sendo quem o outro é também, sem medo de sofrer por conta disso.
A Vitória tem 21 anos, mora em São Paulo e faz faculdade de moda, com estágio em figurino. Já a Maiara tem 27 anos, mora no Rio de Janeiro e faz faculdade de engenharia química. É assistente em uma grande empresa de cosméticos, trabalha na área de análise de dados.
Elas se conheceram no início de 2016, através do Facebook. Na época, adicionavam várias pessoas que possuíam amigos em comum. A Maiara achou a foto da Vitória muito bonita, porém o status dela estava como “relacionamento sério” e ela não puxou nenhuma conversa. A verdade por trás dessa história é que não existia nenhum relacionamento, tudo era uma brincadeira entre a Vitória e uma amiga dela por conta de um homem que estava dando em cima dela. Por fim, o tempo passou, a Mai também se envolveu com uma menina em um relacionamento que acabou não sendo muito bom pra ela e desistiu de puxar assunto com a Vitória.
Um tempo depois, no Snapchat, rede social pioneira nas postagens em formato de storie, a Vitória postou vídeo recitando um poema dela. A Mai respondeu sobre o jeito que ela falava a palavra “amor”, por conta do “r” ser puxado, e achar isso muito fofo. Elas conversaram um pouco e isso foi o bastante para desenvolver o interesse. Um tempo depois, começaram a se relacionar de forma online, pois para ambas ainda era muito difícil se encontrarem pessoalmente por questões financeiras e o alto custo das passagens de São Paulo para o Rio de Janeiro.
Quando se encontraram pessoalmente pela primeira vez, já em 2017, a Maiara foi até São Paulo. Ambas passaram por processos para contar aos familiares que estavam se relacionando, a Maiara contou para a irmã que já imaginava e que acompanhou ela nessa viagem, então foi a primeira a saber e foi logo no início. A Vitória contou um tempo depois, imprimiu umas fotografias que tiraram e mostrou para a mãe, contando ser a namorada. A mãe processou isso durante um tempo, o irmão dela já sabia (e até já conhecia a Mai), então ajudou na conversa também. Ela deixou a Mai frequentar a casa e depois da primeira vez que foi mais delicada, passou a adorar as visitas. Hoje em dia a Mai vai bastante para lá e elas se dão muito bem, prepara feijão preto, saladas e tudo na mesa vira discussão quando ela não come muito.
Quando a Vi foi uma vez ao Rio, em 2018, passou um feriado. A frequência que elas se encontram depende muito, antes era cerca de três vezes ao ano, agora aumentou um pouco porque pelo homeoffice a Mai pode ficar um tempo a mais em São Paulo. Mas a distância ainda apresenta dificuldades, as despedidas não são fáceis, por isso desejam a mudança.
A Maiara fala que, por ser muito fã da Maria Rita, sempre que pensa no amor lembra quando ela canta: ‘’Se perguntarem o que é o amor pra mim, não sei responder, não sei explicar… Só sei que o amor nasceu dentro de mim, me fez renascer, me fez despertar’’. Ela entende que essa é a sensação que o amor traz, principalmente o amor que elas estão criando juntas. Despertando um novo mundo, uma nova possibilidade. “A Vi é meu primeiro relacionamento sério com mulher. Não que eu tivesse um histórico grande com homens. A Vi é meu relacionamento concreto. É essa relação de cumplicidade e suporte, sabendo que tô fazendo bem pra ela e que ela também tá me fazendo bem.”
A Vi fala que além da construção, é política e luta. No dia anterior à nossa conversa, por exemplo, elas foram em um bar sapatão. Ela conta o quanto foi importante ter ido lá, o quanto foi diferente ter ido num ambiente confortável pra gente. “Me senti confortável pra amar e poder fazer o que todo mundo faz.” a Mai complementa com “Poder dar a mão, beijar, fazer carinho. O que é trivial pra todo mundo…”
Para a Vitória, estar com a Maiara é se sentir em casa. Ela sabe seus defeitos, mas ela não vai embora por causa disso. Ela ama e isso é o que importa.