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A Nati e a Emanueli são duas mulheres com muita bagagem. Nos mostram que a idade, algumas vezes, não quer dizer tanto assim. Que a vida dá seu jeito de nos fazer viver muito em pouco tempo...E são duas mulheres que, desde sempre, entenderam o mundo através de muita força, de muita correria diária e de muita batalha. 

 

Natieli tem 22 anos e trabalha como vigilante em um ponto turístico/mercantil de Porto Alegre. No tempo livre adora jogar futebol, andar de bicicleta e curtir o tempo com a Ayla, a filha dela e da Manu (também conhecida como: criança mais desconfiada & linda possível!!).

 

Já a Emanueli, tem 19 anos, é natural de Lagoa Vermelha, cidade no interior do Rio Grande do Sul com pouquíssimos habitantes, mas mora em Porto Alegre com a família há bastante tempo. Ela faz bastante coisa e adora ser uma pessoa que aprende tudo/explora tudo. Hoje em dia trabalha como manicure, no salão que a mãe dela construiu em casa, mas tem cursos enquanto astróloga e taróloga. Ela adora ver vídeos sobre a maternidade entre mulheres (foi assim que chegou até o Documentadas, inclusive) e dialoga bastante sobre. É muito legal ver as trocas que ela faz com a Ayla e o sentimento de família e de apoio que elas construíram juntas. ♥ 

 

A Nati e a Manu se conheceram através de uma amiga em comum, lá em 2019. Foi num show da Iza, que a Manu foi com essa amiga, num espaço aberto em Porto Alegre, que a amiga delas resolveu ligar para a Nati e convidá-la para o evento. Até então a Manu não sabia quem era e quando a Nati chegou, com um jeitão mais fechado e na dela, a Manu logo pensou: “Que guria bem antipática!! Mal educada”. 

 

A amiga resolveu dar uma de cupido e juntar as duas, mas, além da pré-antipatia, a Natielli já estava ficando com outra pessoa (Pode entrar, o famoso: Rebuceteio!) e a Emanueli também já tinha outra pretendente… No fim, não rolou. Acabou que o tempo passou, o show acabou e outro dia a Nati mandou mensagem para a Manu. Ia rolar uma festa de aniversário na casa dessa ‘amiga’ e chamaram ela… Lá, elas se beijaram. Com uma certa frequência começaram a se encontrar nos lugares e aos poucos o sentimento surgiu.

 

Foi em outro show que elas se encontraram e entenderam o que sentiam enquanto a paixão. A Nati disse que não queria que a Manu fosse embora e, então, no dia seguinte elas se viram na casa dela (Detalhe: a Nati foi CAMINHANDO até a casa da Manu e era uma distância muito longa!! Ela não contou que não ia de carro ou de ônibus e só avisou quando estava chegando lá, como se estivesse no carro… e a Nati nem percebeu que a menina tinha caminhado quilômetros. Já diria a Sandy, né minha gente: “Olha o que o amor me faz...”).

 

Um mês depois do encontro em casa (e da caminhada) a Natielli fez o pedido de namoro ♥.



 

O processo da vinda da Ayla ao mundo foi muito cuidadoso e delicado e, antes de tudo, sei o quanto isso é importante para a Nati e para a Emanueli. Então queria agradecer a elas terem me concedido permissão para falar aqui, de forma não necessariamente romantizada e sim como parte verdadeiramente documental, sobre o processo da maternidade de duas mulheres e o que representou isso para as duas - em sua melhor forma de ressignificar. ♥   

obrigada e admiração por vocês três. 

 

No decorrer do ano de 2019 e logo no começo da relação das duas, a Nati sofreu uma situação de abuso. Foi um grande desespero e elas estavam sem saber o que fazer. A reação da Emanueli foi acolher e tentar ajudar como soube na hora, mesmo sendo algo muito difícil e traumático. Elas ressaltam que, nos momentos em que mulheres estão fragilizadas, geralmente o que podemos fazer é tentar estar por perto e segurarmos uma nas mãos da outra.

 

Diante toda a gravidade da situação, elas conversaram muito, tentaram se acalmar e buscar as providências corretas judicialmente. 

 

Nesse meio-tempo, a família da Emanueli recebeu a Nati em casa e elas se tornaram uma família só. Foi acontecendo uma movimentação natural da mãe, da avó e da própria Manu em torno do acolhimento e de entenderem o momento de fragilidade. Foi então que veio um sentimento das duas pensarem que elas não possuem condição para uma fertilização em clínicas e que gostariam muito de serem mães, de gerar, educar, criar e amar. E foi aí que a Nati perguntou: “você quer ter esse filho comigo?”. A Manu aceitou. E, meses depois, a Ayla veio ao mundo. 

 

Hoje em dia, a Ayla é a maior alegria em casa e, mesmo entendendo que o momento tenha sido de muito trauma e muita dor, é com terapia que elas procuram construir e literalmente dar outro significado para isto. Procuramos, também, alertar outras mulheres para que estejam sempre em apoio, uma das outras, que nunca soltem as mãos e que fortaleçam seus laços. 

 

A forma que o amor encontrou a vida dessas mulheres mostra que o amor entre mulheres consegue mover muita coisa no mundo. 


Quando a Manu e a Nati se casaram foi algo não-oficial, mas muito importante para elas. Fizeram um documento, em casa mesmo, com chocolates e comemoraram juntas. 

 

Sentem que estar juntas é o resumo de tudo. Ali, tudo é 8 ou 80. Decidem as coisas, conversam sobre o que pensam e se entendem porque o diálogo é aberto. Elas zoam muito também, a conversa (quase) não dava para ser levada à sério, porque metade do tempo era risada de uma atiçando a outra, falando bobagem e fazendo piada. 

 

Para Emanueli, o amor, acima de tudo, é a parceria que elas construíram juntas no relacionamento. Essa parceria entende a individualidade, respeita os momentos, os espaços, mas não larga as mãos quando precisa. Está sempre ali. A Nati completa que o amor para ela é muito forte, capaz de superar distâncias e dificuldades.


 

Elas acreditam que o amor entre mulheres é diferente porque ele sabe apoiar nas horas boas e ruins. E que a maternidade delas mostra como é isso na prática - por mais que não tenha sido nenhum pouco fácil (e que diariamente não seja fácil). São mulheres periféricas, são mães de uma criança negra, mães negras, parte de uma maternidade que não estava nos planos… E falam o quanto isso implica em tantas mudanças repentinas na nossa forma de pensar e de enxergar o mundo. E o quanto, também, implica na forma que queremos o mundo diferente para a Ayla viver. 

 

Elas, em especial, querem um mundo mais emancipado, em que as pessoas tenham mais condições e que os nossos direitos sejam respeitados, assim como desde cedo ensinam a Ayla a respeitar cada detalhe de cada pessoa: que a Ayla respeite cada ser como ele é. ♥


 Natielli 
 Emanueli 
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