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Encontrei a Emily e a Bibiana em um fim de tarde próximo à orla do Guaíba, em Porto Alegre, há uns meses atras… foi durante um movimento inicial, em que elas estavam se permitindo sair na rua novamente para ver o pôr do sol (depois de todo o período de isolamento pandêmico) que elas toparam fazer parte do Documentadas.

 

Sentamos na grama, numa área distante de onde a maioria das pessoas circulavam e conversamos por um tempo, nos conhecendo e compartilhando ideias. Ouvi o que elas pensavam sobre o amor, sobre as relações que as mulheres constroem juntas e, claro, sobre a relação que elas construíram em meio à pandemia.

 

A Emily acredita que o amor é algo muito relacionado à aceitação, ou seja, que nem sempre a pessoa amada vai ser o que você espera, ou que os projetos que vocês desejaram vão ser exatamente o que vocês imaginaram, mas que o amor está nesse lugar de aceitar a realidade e de conseguir ser compassivo. O amor fala sobre conseguir ter compaixão pelas coisas, mesmo quando elas não são aquilo que desejamos. E que, até mesmo como um acréscimo, o amor entre mulheres surge enquanto uma vontade muito latente de construir algo, enquanto um projeto de vida, envolvendo casa, respeito, vontades… é literalmente uma construção conjunta. 

 

A Biba ouve ela falando tudo e a observa, depois complementa: ela entende o amor enquanto um apoio e um cuidado que está ali (não naturalmente, porque temos que cuidar, disponibilizar nosso tempo e nos dedicar, não podemos largá-lo… mas ele está ali). E entende a relação dela com a Emily enquanto duas mulheres que não soltam as mãos. 


























 

Bibiana possui 35 anos, é funcionária pública, moradora de Porto Alegre e participa de coletivos e iniciativas LGBTs dentro do próprio Tribunal do Trabalho, entre comitês de equidade de raça, gênero e pessoas com deficiência, trabalho que desempenha com muito orgulho. 

 

Emily possui 29 anos, é redatora e trabalha com publicidade, além disso, também atua enquanto artista burlesca produzindo um sarau - o Sarau Pelado. O intuito do evento é que as pessoas se sintam à vontade para despir-se e estar nu, numa forma de aproximar cada pessoa com o próprio corpo, o ‘despir-se’ não é só de roupas, mas dos preconceitos que carregamos, e através de uma literatura mais íntima e de uma arte acolhedora poder deixar as pessoas à vontade para serem quem são.  

 

Elas acreditam que a cidade precisa da cultura para existir e que o acesso à cultura é algo básico e primordial, porém, mais que isso, falamos sobre o momento crítico em que estamos vivendo e quando pergunto sobre como elas enxergam à cidade e o que gostariam de mudar a primeira coisa que surge na resposta, sem titubear, é a vontade de que todas pessoas tenham acesso à moradia e alimentação. Parece ser algo simples, mas comentamos sobre a população em situação de rua em Porto Alegre ter crescido em números gritantes e a forma que a cidade muda aos poucos, a desigualdade cresce e nos sentimos paradas em meio à isso tudo, então elas comentam iniciativas que tentam ter em meio à pandemia para ajudar da forma que podem, ou seja, a conclusão é: no momento não tem como essa não ser a questão de direito e de mudança prioritária: acabar com a fome e ter moradia digna. 



























 

As duas se conheceram através de um aplicativo de relacionamentos um tanto quanto famoso por aqui (né, Tinder?), no ano de 2019. Foi num encontro sem nenhuma pretensão que o verdadeiro “match!” aconteceu: o papo foi bom, elas se divertiram e curtiram bastante. Até que, no meio da noite, começou uma chuva muito forte - fazendo-as tomar aquele banho! - e por estarem perto da casa da Emily, ela chamou a Bibiana para entrar... a partir daí tudo fluiu. 

 

No começo da pandemia elas chegaram a morar juntas um tempo, porém sentiram necessidade de estarem cada uma em suas casas. Não existiu um motivo exato na volta, foi uma movimentação e uma decisão tranquila, muito mais sobre o espaço delas do que sobre a relação em si. E, quando perguntado sobre momentos difíceis que passaram juntas, elas pensam e chegam à conclusão que nenhum desentendimento pessoal foi (e tem sido) maior que viver (e sobreviver) a pandemia uma ao lado da outra.

 

A pandemia ensinou muito sobre lidar com as nossas emoções e com os nossos sentimentos - para além de todos os problemas e incertezas que ela nos trouxe - então elas explicam que a Emily é a pessoa que quer lidar com os problemas na hora, quer resolver logo, enquanto a Bibiana prefere esperar e absorver tudo para depois conversar sobre as coisas. O desafio, entre elas, é estabelecer esse equilíbrio. Se apoiar entre as chateações diárias que os problemas externos nos trazem (a pandemia, a política, as incertezas) e tentar conversar sobre os internos (a relação em si). 

 

No mais, vivem dias relativamente tranquilos, entre beber, fumar na varanda do apartamento da Bibiana e passear nos fins de tarde na pracinha do bairro. ♥

 Bibiana 
 Emily 
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