Thayanne e Camila vieram de lugares bem distantes, mas se encontraram em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, em 2017, entre aplicativos, amigos, universidade e gostos em comum.
Thay é de Barbacena, Minas Gerais, mas se mudou para o Rio de Janeiro com a família que foi para Cabo Frio quando ela era mais nova. Na faculdade, passou para a UFF (Universidade Federal Fluminense) e se mudou para Niterói.
Cami é de Salvador, chegou até Niterói também por conta da faculdade (que também era na UFF) e passou oito anos morando lá. Hoje em dia, ela e a Thay moram no Rio, num apartamento que comemoram juntas terem conquistado depois de tanto tempo que passaram entre repúblicas e casas compartilhadas com amigos.
Foi por conta de um aplicativo de relacionamento que elas se conheceram, mas quando deram ‘match’ resolveram, nas suas palavras, “brincar de rebuceteio”: abriram o Instagram e foram ver os amigos e amigas que tinham em comum. Nem imaginavam quanta coisa teriam em comum, na verdade: a Thay estudou no Ensino Médio com um dos melhores amigos da Cami, ela também conhecia e frequentava casas de outros amigos em comum e assim foram descobrindo que conheciam as mesmas pessoas, as mesmas histórias e os mesmos eventos, mas nunca se encontravam nos espaços. Sem contar nos gostos para as coisas, que eram muito parecidos, mas que também nunca tinham se cruzado até então.
Nessa época que se encontraram, em 2017, a Cami ainda estava saindo de um relacionamento aberto do qual não se sentia confortável e era um desafio viver um novo relacionamento com alguém. Elas brincam que o verdadeiro incentivo por trás do namoro acontecer foi o fato de que começaram a pegar a barca Rio x Niterói todos os dias juntas, quando ambas conseguiram trabalhos na capital. Como iam e voltavam no mesmo horário, se ver diariamente foi um empurrãozinho ao romance ser criado.
Viviam momentos muito difíceis também em relação aos perrengues financeiros. Ambas moravam em repúblicas e tinham pouco dinheiro para se manter. No primeiro encontro, por exemplo, beberam literalmente um chopp porque era o que poderiam pagar. Passavam por várias crises e sentem que foi um encontro que só falaram sobre problemas, mas que mesmo assim se deram muito bem, porque se sentiram em um espaço seguro para compartilhar as coisas.
Tudo virou logo no início do namoro, quando elas conseguiram um emprego. Foi uma grande felicidade, um momento muito eufórico - e não, não era só porque com o emprego elas passaram a se encontrar todos os dias nas barcas. Com um salário elas poderiam começar a fazer coisas juntas, mesmo que sobrasse muito pouco, elas aproveitavam cada centavo: foram em vários museus, passearam em todos os lugares gratuitos possíveis, tomavam mesmo que fosse apenas uma cerveja, mas se divertiam muito.
Com o tempo, passaram a ficar escondidas na república uma da outra, porque pelas regras não podiam receber visitas - porém, contudo, entretanto (!!!) a regra dizia visitas masculinas, então elas não estavam tão contra assim. Aos poucos entenderam que não valia a pena continuarem gastando cada uma em sua república e que seria mais fácil morarem juntas dividindo apartamento com outras amigas, foi assim que se mudaram para um novo lugar.
Depois, o desejo virou outro: morar numa casa com janelas, que entrasse sol, que tivessem espaço (mais de um cômodo) e que pudessem se sentir em casa realmente. Isso aconteceu recentemente, agora, na casa do Rio, e elas não poderiam estar mais felizes. Decoram tudo juntas, aproveitam a cidade e o ambiente ao redor. Inclusive, estão noivas! Ficaram noivas durante a pandemia, quando entenderam que mesmo que estivesse tudo errado ao redor, o relacionamento era uma fonte de felicidade muito grande e dentro desse lar constróem mais um pedacinho do relacionamento. É como se um novo momento de euforia estivesse acontecendo.
O momento de euforia é reflexo do quanto cresceram juntas. Amadureceram, viram suas vidas mudar profissionalmente. Agora, estão conseguindo construir planos verdadeiros pela primeira vez, entendendo o que querem se tornar. Já passaram por muitas vivências juntas desde 2017 até hoje: apresentar a ambas as famílias uma namorada pela primeira vez, até conquistar pequenas e grandes coisas que sempre sonharam.
Ainda querem, dentro dessas mudanças, viver as coisas de forma saudável. Falam sobre suas relações com seus empregos e com a cidade em que vivem. A Cami, que no momento está com 26 anos, trabalha com consultoria estratégica e deseja ser feliz para além do trabalho, ter uma relação boa com seu ambiente e com a sua rotina, mas não depender dele por completo. Ela também deseja ser mais ouvida e ser mais considerada enquanto mulher numa sociedade.
Já a Thay fala sobre como tenta diariamente transformar a sua rotina na relação mais saudável possível para que as 8h diárias que passa trabalhando na empresa não seja algo que ultrapasse o limite do próprio corpo. Ela comenta que hoje vivemos um momento de desigualdade e de pessoas que demonstram ser pró desigualdade - as pessoas falam o que pensam ser vergonha alguma - e ela gostaria muito de ver as coisas mudarem, ver a vida com mais esperança.
Tanto a Thay, quanto a Cami, são muito ligadas à família e acreditam que nessa base aprendem os ensinamentos do que é o amor.
Thay conta que remete amor à relação que os pais dela possuem, pois são pessoas simples, trabalhadoras e com eles aprende muito sobre a vida. Para ela, também, o amor envolve carinho e cuidado. Já a relação com a Cami mostra pura leveza, mesmo nos momentos difíceis foi leve e prezando pela liberdade de cada uma.
Cami traz o exemplo do amor desde momentos corriqueiros, como a avó contando sempre as mesma história, às memórias afetivas que sente quando está em casa, a família que recebeu a Thay tão bem quando ela visitou Salvador e também o que aprendeu com a mãe, sobre sempre deixar uma marca boa pelas pessoas com quem ela cruza: uma felicidade/fazer algum bem - assim é uma forma de amar também. Dentro da relação ela entende junto com a Thay que ninguém é feliz sozinho e que juntas elas conseguem muito mais, por isso, estão sempre rodeadas de afeto e deixando também afetos por onde passam.