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Quando elas se assumiram de vez, decidiram não ir mais à igreja, mas buscaram outros meios e igrejas inclusivas. Hoje em dia elas moram em um lugar maior e depois de 4 anos a mãe da Ju decidiu conversar com elas e aceitar de fato o relacionamento (a família da Tay já lida bem há um tempo). 

 

Elas adotaram pets e vão casar neste ano. 

 

Tayna fala sobre a diferença de organizar um casamento hetero e outro gay, porque no casamento dela com um homem eles ganharam tudo... e agora no casamento com a Ju elas batalham por tudo, porque não ganharam nada, estão pagando sozinhas, recebendo apoio de amigos e seguindo como podem. Em compensação, estão curtindo muito mais, gostando de organizar isso tudo. 

 

Elas acreditam que amar envolve a pessoa em si, não o gênero dela. É uma construção que se faz dia após dia. Entendem que o relacionamento delas é muito mais leve e de muita parceria, além de não ter traços abusivos. “A coisa realmente flui”. Quando elas entenderam que podem construir uma família juntas e que se amam de verdade, quando veem a casa em harmonia, entenderam também que é ali que o amor está. E falam sobre a diferença de não ter o machismo, não ter que estar sempre servindo o homem e não fazerem parte de uma construção social que diminui tanto as mulheres. 

 

São pessoas que amam estar na praia, que sonham em andar de mãos dadas sem medo. Desejam viver sempre assim, fluindo. Gostam de passar o dia na areia, levam a cachorrinha para brincar e se sentem felizes vendo o mar. 

Um tempo depois, aconteceu o retiro de carnaval e a Tayna fez de tudo para ficar no mesmo quarto que a Jú. Ela decidiu que queria voltar. Mandava mensagem pra Jú e ela ignorava porque ainda estava no processo de tentar “ser hétero”. O retiro acabou em confusão porque elas acabavam se esbarrando nos lugares, se encontrando no banheiro… e foi aí que ela ouviu a Ju falando com o ex dela no celular. Ficou tão triste que decidiu ir embora do retiro. Seguiu a vida dela, conheceu outras pessoas, foi para a Lapa (bairro boêmio do Rio) beber com os amigos… e a Lapa para elas significava uma vida de vagabundagem, de quem se perdeu. A Ju, inclusive, quando soube mandou uma mensagem pedindo para a Tay “voltar para Jesus e não fazer isso com a vida dela”... Hoje em dia elas lembram dando gargalhadas. Foi logo depois disso, no aniversário da Tay, em que realmente voltaram a se falar.  

 

Decidiram se encontrar de novo, se beijaram e entenderam que o sentimento continuava ali.  De março até setembro ficaram escondidas. Faziam de tudo para se encontrar, tinham um colchão dentro do carro porque nunca sabiam onde dormir. Não podiam ir para lugares abertos ou movimentados porque algum conhecido poderia ver e seguiam frequentando a igreja sem ninguém desconfiar, mas aturando muitas piadinhas sobre homossexualidade vindo do pastor. 

 

Em setembro os pais da Ju descobriram que elas estavam juntas, a mãe passou mal e foi para o hospital, mas ela estava se sentindo mais segura de conseguir bancar a briga falando que ficaria com a Tay por amar ela de verdade. Ao mesmo tempo, não queria passar por tudo de novo, então fugiu e ficou “desaparecida” por três dias. Os pais, obviamente, ficaram muito preocupados, mas decidiram que não queriam perder ela, que iriam tentar aceitar. E assim, elas continuaram se relacionando, de setembro até março, nessa situação - entre a família aceitar-não-aceitar - até que em março conseguiram alugar uma kitnet e foram morar juntas.  

O contato com a Juliana se mantinha cada vez mais forte e elas acabaram ficando. Depois do primeiro beijo, passaram três meses se relacionando (entre si e com os namorados). A Ju faltava a faculdade e ia para a casa da Tayna de manhã, depois elas seguiam suas rotinas à tarde e à noite viam seus namorados. A Tayna fala o quanto era horrível o sentimento da traição pra ela, por estar enganando alguém, mas mesmo assim não tinha outra opção porque o namorado não aceitava o término (já tinha tentado e não cogitava mais).

 

O tempo todo elas se viam na igreja também, sem ninguém desconfiar.  

 

Um pouco antes do réveillon, o noivo da Tay viu uma mensagem da Ju no celular dela, chamando a mãe dela de “sogrinha” (pode rir, vai), entendeu tudo e ameaçou elas dizendo que iria contar para todo mundo. Então ele fez uma reunião com a família, com os amigos e o com o pessoal da igreja e contou. Inclusive, a Tay não foi “autorizada” a participar. Mas ela conseguiu contar para o irmão antes que ele soubesse na reunião. Por fim, todos os amigos reagiram achando que elas fossem passar pela cura gay, até o bispo da igreja já sabia.

 

Já a Jú, decidiu contar para a família logo no primeiro dia do ano, e tudo envolveu muito choro. O irmão reagiu de forma bem ruim, a religião estava muito envolvida na história. Trataram como se ela tivesse uma doença, um karma, um pecado. Foram pessoas até a casa benzer ela e tudo mais e o pai e o irmão queriam até bater na Tayna. Toda a situação durou um bom tempo, foi muito traumático. E fizeram de tudo para separá-las. 

 

Vivendo esse turbilhão de coisas, a Tayna achou melhor mandar uma mensagem para a Ju dizendo que não podiam mais continuar, que não iam conseguir vencer isso, lidar com tudo e serem felizes juntas. E a Ju acreditava e admirava muito a Tayna, então entendeu que se ela falou aquilo é porque chegou no limite... decidiram não seguir contato.

 

Elas continuaram indo na igreja, mas as famílias organizaram toda uma situação para que elas não pudessem nem se olhar. Não podiam chegar perto ou ter contato. A Tayna comenta o quanto foi muito mais doloroso terminar com a Juliana do que terminar o noivado. Não conseguiu esquecer de fato a Jú ou deixar o sentimento de lado. 

Foi nesse momento que a Juliana fez uma viagem e durante o período que estava fora falava muito mais com a Tayna do que com o próprio namorado, mesmo que não tivesse maldade na conversa e que elas não se vissem por outro olhar além da amizade. Quando ela voltou, foram almoçar juntas e depois passar a tarde na casa da Tayna, quando entenderam o que estava acontecendo: queriam estar próximas, ficavam com os rostos pertos, faziam carinhos nas mãos… a ficha caiu. 

 

A Jú conta que já tinha sentido um sentimento a mais por meninas, mas sempre achava um jeito de entender que era loucura da cabeça dela e não levava a sério.

 

A Tayna conta que já estava sentindo o sentimento se desenvolver pela Ju, e que mesmo sendo da igreja, nunca teve preconceito e sempre esteve cercada por amigos que se entendiam enquanto homossexuais e bissexuais. No entanto, uma vez teve uma palestra na igreja com a presença de “Ex Gays”. Ela não foi, mas o noivo foi e quando ele tocou no assunto ela ficou com isso no pensamentos durante um bom tempo. Qual era a possibilidade de alguém ser homossexual e cristão? E o que tinha de errado nisso? Então ela começou a pesquisar, a estudar, e descobriu a existência de igrejas inclusivas.

 

Enquanto tudo isso acontecia, ao redor da Tayna todos estavam muito empolgados para o casamento dela, querendo escolher os detalhes, organizar a festa… e ela estava desanimada, não sentia vontade. Cada vez mais entendia o quanto a igreja era muito tradicional, com um pensamento bem ultrapassado sobre a submissão da mulher sob o homem. O noivo dela várias vezes já tinha dito ‘que ela queria ser homem’ por ela querer fazer coisas simples (dirigir, tomar atitudes…). E, por não achar justo estar passando por todos esses sentimentos sozinha, ela acabou contando para ele que estava sentindo algo por uma mulher, mas não disse quem era. E queria entender o que era esse sentimento porque não consideraria casar assim.

A primeira coisa que eu queria dizer antes de contar a história da Ju e da Tay, é: prepare-se porque você vai descobrir uma das melhores histórias de amor do mundo!!! É sério!

 

Agora, vamos lá.
 

A Tayna tem 30 anos, é gastrônoma e já trabalhou em diversos restaurantes. Por dois anos, tentou se aventurar em outras áreas e trabalhou na área administrativa de um hospital, mas depois decidiu voltar à sua grande paixão e lançou a Sabor Fit Carioca (clica aqui e vem se deliciar!) uma empresa de marmitas saudáveis. A Juliana tem 25 anos e é dentista, trabalha durante o dia no consultório e durante a noite ajuda na empresa delas (cuida das redes sociais, ajuda a preparar as comidas e, como brincam, dá muito apoio moral).

 

Elas se conheceram na igreja - a família toda, das duas, frequentava. A Tayna era noiva de um cara que era muito amigo do namorado da Jú (e ambas tinham um relacionamento bem longo). Todos saiam juntos e até então elas se falavam pouco, eram apenas conhecidas. A Tayna fazia teologia e era responsável por organizar diversos grupos na igreja, e depois de um tempo, chegou o momento do discipulado (uma apresentação sobre os valores da igreja que também funciona como grupo de estudos) e pensou em chamar a Jú para fazer parte, já que ela era mais nova por ali. Foi quando se aproximaram e começaram a construir uma amizade. 

 

Aos poucos elas aumentaram o ritmo de conversas, até que passaram a conversar o dia todo. Uma ia na casa da outra fazer grupo de estudos e perceberam que estavam conversando/se vendo mais entre si do que com os namorados/noivos. A Jú, inclusive, participou de vários momentos do noivado da Tayna, como a escolha do vestido, a preparação da festa… e quando acabou o discipulado foi um baque muito grande, pois elas não teriam mais desculpas para se ver - e queriam continuar conversando, tendo contato direto.  

 Juliana 
 Tayna 
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