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A Talita também passou por uma fase muito importante e gosta de falar sobre o fato de ser uma mulher lésbica cristã. Sobre orar, fazer ceia, cantar com outras mulheres lésbicas e bissexuais cristãs. Sobre o quanto foi difícil impor isso em casa, mas também o quanto é legal ver a mãe dela, por exemplo, caminhando diariamente num processo de aceitação. O quanto fica feliz quando a mãe dela assiste algo e indica para ela e a Louise assistirem juntas porque acham que “elas vão gostar” e geralmente nesse algo (filme, série), ter algum personagem LGBT muito representativo. O quanto nesses detalhes ela também quer mostrar que o amor está ali, que ela ama a filha dela como ela é e que a relação de família que elas constróem é também um amor puro, saudável e bonito. 

 

Por fim, ela acredita que o amor entre mulheres vai contra qualquer coisa que nos é imposta, porque nós temos “liberdade”, mas até que ponto? nós temos, sim, mas não muito. Nós podemos amar, mas não em praça pública. Nós podemos postar, mas não podemos nos expor. Se formos colocar nosso amor para o mundo, é melhor termos cuidado… e se formos colocar nosso amor para o mundo sendo mulheres negras, então… é melhor termos muito mais cuidado ainda! Porque é muito perigoso. Então de fato somos livres? Se pegarmos na mão é uma afronta para alguém? Em um momento da conversa ela disse uma frase que eu queria destacar aqui, que é: “a gente tá simplesmente sendo uma mulher lésbica racializada. E se Jesus viesse na terra, na minha ideia, ele seria uma mulher, lésbica, negra. Sentada aqui. Igual a gente tá. Aqui perto da gente. E eu queria ver como iriam olhar para ela”.

Nas últimas duas perguntas que fiz, uma brinquei, perguntando sobre a Luiza, elas riram e falaram que hoje são super amigas, se falam e que estão bem, tá tudo certo! O grupo voltou a ficar ativo! Vitória! 

 

E a outra foi sobre o que elas gostariam de ver acontecendo para a comunidade LGBT ter mais acesso à cidade, e elas me disseram que era acessibilidade: é o transporte, é conseguir chegar até o cinema, é sobre a classe, sobre o acesso a leitura… é sobre ter um projeto político para que as pessoas tenham acesso de verdade às coisas, de forma orgânica, ou seja, que elas entendam a importância disso. Que a gente não só sobreviva, que a gente participe ativamente da cultura da cidade, dos espaços e do pensamento crítico com representatividade, porque a Talita conta que a primeira mulher lésbica que ela conheceu de verdade foi a Louise, e se ela não tivesse conhecido? quem seria? com quantos anos ela teria tido essa referência? "A gente sente muita falta disso porque quem não tem acesso acaba só descobrindo a vida além da sua bolha muito mais tarde”. 


 

A história da Talita e da Louise te ajudou de alguma forma? Gostaria de mandar uma mensagem para elas? Vem cá que conectamos vocês ♥

 

 

Tem alguma proposta de trabalho para elas? Opa! Pode mandar por aqui! 

 

 

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Mas e aí? Não desgrudaram e ficaram assim? Final feliz? Não em drama sapatão do Documentadas! 

Uma pessoa que conhecia as duas viu e contou para a Luiza. Sendo que, a Louise, por ter estado longe nos últimos anos, nem imaginava sobre o relacionamento que as duas viveram. Então ela não entendeu nada quando recebeu diversas ligações da Luiza brigando com ela por ela ter ficado com a Talita. Foi treta atrás de treta. 

 

Nessa época elas (Talita e Louise) começaram a se ver todos os dias na praia, porque a praia era um lugar que a Talita poderia ir sem precisar dar tantas satisfações para os pais dela, ou seja, representava essa maior liberdade. E foi na praia que conseguiu explicar para a Louise tudo o que aconteceu nesses anos, tudo o que estava sentindo naquele momento, e por mais que estivesse uma situação muito turbulenta (que veio a piorar uns dias depois por conta de um momento ruim envolvendo as três), a relação dela com a Louise só melhorava, aumentando e se consolidando. Foi uns meses depois disso, em junho de 2017, que elas começaram a namorar oficialmente.

 

De 2017 pra cá muuuuuita coisa aconteceu. Ambas cresceram muito e o relacionamento mudou muito. A Louise trouxe uma calma antes inimaginável para a vida da Talita, ela ensina a pensar mais, a ir com mais calma, caminhando mais devagar. Elas também falam sobre a importância da comunicação e do medo de ser abusivo. Hoje em dia, por sermos mulheres, caímos muito num conto de que existem poucos relacionamentos abusivos entre nós, mas a verdade é que podemos ter atitudes muito abusivas sem percebermos. Então elas falam sobre esse “medo” ser um medo bom, um medo de cuidado, algo necessário sobre ter consciência e comunicação, sobre tentar sempre pegar leve, falar sobre as coisas, serem mais abertas e sinceras. 

Naquele dia, a Talita contou que a versão dela foi esperar que a Luiza e a Louise ficassem bem, mas que ela não soube exatamente o que fazer, só seguiu na festa, porque sabia que elas precisavam se resolver primeiro. Os dias foram passando e como a decisão da Louise foi o afastamento total, a Talita e a Luiza continuaram ficando algumas vezes, até que: tcharam! Começou, ali, um certo relacionamento. Não era um namoro oficializado, até porque ambas eram da igreja e não poderiam falar ou postar sobre, mas elas estavam juntas. Isso durou entre o ano de 2014 e 2015. Foi um período um pouco complicado porque envolvia um certo auto ódio por conta de acharem errado e ao mesmo tempo continuarem o que estavam fazendo, não conseguiam se assumir socialmente, e também não se aceitavam completamente. Foi em 2016, quando estava com 19 anos, que a Talita percebeu que não aguentava mais viver em uma situação assim. 

 

Em setembro ela resolveu comemorar o aniversário de um amigo no Acústica, um bar no centro do Rio, que representou por muitos anos um ambiente altamente jovem, boêmio e  alternativo. Lugar que a Louise, que já tinha voltado, a morar no Rio, frequentava muito naquela época também. Nesse dia, ela não foi, mas a Talita conta que para ela ter ido, foi quase como um divisor de águas. Ela se sentiu liberta, beijou outras meninas e se divertiu sem medo de outras pessoas olhando. O fotógrafo tirou uma foto em que ela aparecia junto com outras pessoas, no palco, com uma latinha de cerveja antártica na mão. E, adivinha você, quem viu essa foto nas redes sociais do Acústica? a Louise. 

 

Ela salvou a foto, mandou para umas amigas que tinham em comum e que ela ainda conversava (que não eram diretamente da igreja, mas que frequentavam o mesmo grupo), falando “será que ela finalmente se assumiu?! será que ela está indo no Acústica?! ela ta bonitinha, né?! acho que vou mandar mensagem pra ela!” e então pediu o número da Talita para o ex dela (lembra? aquele do começo da história!). Foi quando ela mandou mensagem e elas acabaram passando o dia conversando. Nessa época, logo em seguida, é o aniversário delas - ou seja, elas fazem aniversário em datas bem próximas - então pela volta da comunicação, aproveitaram de se reencontrar pessoalmente também. Pensaram em ir no Acústica, marcaram, aconteceu, foi tudo super engraçado, a Louise bebeu demais e dormiu a festa toda, acordou no fim da festa e por uma coisa meio sem explicação, meio impulso&destino&álcool, elas ficaram. Combinações que encaixam completamente. Elas também encaixaram. E não desgrudaram. 

Foi por conta da igreja que a Talita e a Louise se conheceram, lá em 2012, mas a Louise nunca fez parte da igreja. Calma, eu explico! Ela fez um cursinho pré vestibular e conheceu uma menina chamada Luiza (grava esse nome, Luiza vai fazer parte da história por um bom tempo!). A Luiza era da igreja e chamou o pessoal para ir em um evento que teria lá, por ser divertido, ter música, conhecer pessoas legais… e a Louise topou. Chegando lá, ela viu logo a Talita e se surpreendeu pelo fato da Talita ser muito nova (na época, tinha 14 anos e a Louise 18) e sabia tocar muito bem. Todas fizeram amizade e formaram um grupo de amigos (e muitos mantêm amizade até hoje). 

 

Naquela época a Louise já sabia que gostava de meninos e de meninas, mas tinha uma tendência maior a ficar com meninos por conta de todas as questões sociais que isso envolvia. Foi então que começou a namorar com um dos meninos do grupo (por sinal, primo da Luiza) e um tempo depois descobriu que a Luiza gostava dela. Ela não se sentia confortável estando nessa situação e os encontros com o grupo ficavam cada vez mais desconfortáveis, então optou por terminar o relacionamento e na época até tentou algo com a menina, mas por conta da igreja e de todo os preconceitos que envolve o corpo de duas mulheres juntas, elas não conseguiram manter nada. Foi bem difícil para as duas, seguiram a amizade e o grupo, mas os sentimentos eram sempre bastante misturados. 

 

A Louise sempre respeitou isso e todos os limites sobre até onde poderiam ir nas suas relações, até que um tempo depois disso tudo aconteceu uma festa de ano novo (nessa época, a Talita já estava com 16, e a Louise e a Luiza com 19), e durante a festa tiveram um momento típico de “deixar o que houve de ruim no ano que passou”, então elas conversaram, entenderam que não iriam dar certo mesmo, ficaram bem, seguiram a festa… e quando amanheceu… a Louise viu a Luiza beijando a Talita. Na hora ela ficou muito triste, magoada, porque ela não entendeu as coisas direito, elas eram muito próximas, tinha muita amizade envolvida e o sentimento a mais pela Luiza também… foi aí que decidiu pegar suas coisas e ir embora. Depois desse dia, ela literalmente sumiu da vida de todos do grupo, inclusive se mudou de cidade. Nunca mais viu os amigos “da igreja”, nem manteve contato com eles. 

A história da Talita e da Louise é uma daquelas que dou risada no começo porque a primeira frase que ouço depois do “como vocês se conheceram?” é um “ai meu deus, vamos lá!”. Então, antes de começar o texto, eu queria deixar aqui um: ai meu deus, vamos lá! Hahahaha. 

 

Brincadeiras à parte, essas meninas ganharam 500% do meu coração do começo ao fim dessa história. A Talita tem 23 anos, é formada em letras, já trabalhou como editora de livros e também foi livreira, e a Louise tem 26, é formada em enfermagem, mas também fez um pouco de biologia e de filosofia. Ambas deixaram de lado suas formações para lançarem a Pega Leve, uma empresa de alimentação saudável (segue elas aquiii! entregam por toda a cidade do Rio de Janeiro!) .

 

Além disso, a Talita é baterista. Ela começou tocando inicialmente na igreja, por ser filha de mãe e pai pastores, e hoje em dia faz parte de uma banda, a Volo Volant (curte o som deles clicando aqui!). A Louise inclusive acompanha a banda desde o começo, vende as camisetas no show e tudo mais ♥ por conta da pandemia, os shows não estão acontecendo, mas já lançaram um EP e pretendem voltar assim que a vacina permitir!

 Louise 
 Talita 
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