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A Carol e a Gabi possuem a mesma idade, 22 anos. Nasceram com uma semana de diferença. Brincam que a única coisa diferente no mapa é o ascendente. 

 

Estão juntas há pouco tempo, mas o sentimento que existe dentro da relação é gigante. Se conheceram através da militância. Gabi é dançarina e professora de dança, Carol faz biblioteconomia e é fotógrafa. Ambas fazem parte de um coletivo na militância estudantil, o Juntos! e se conheceram durante a festa de aniversário de um amigo em comum. Carol é a mais engajada, comanda a bateria - e toca surdo, nos atos. Também gosta de tarefas organizacionais e de  mobilizar o máximo de pessoas possíveis. Carol, por ter uma vida muito agitada entre trabalho e estudos, acaba participando ativamente de eventos específicos, pegando menos tarefas. 

 

Começaram a conversar de fato porque a Carol mandou uma mensagem, durante a pandemia, chamando a Gabi para participar de um evento online que o coletivo feminista iria promover. Bateram um papo, marcaram de sair “quando tudo melhorar”. Uns meses depois começou a campanha eleitoral e a Carol estava saindo todos os dias para cumprir seus trabalhos na rua e participar de agendas de panfletagem, enquanto Gabi saia para trabalhar e decidiu ajudar em alguma agenda diurna de campanha. Foi assim que se encontraram pela primeira vez.

Depois do primeiro dia passaram a conversar pelo whatsapp e uns amigos em comum decidiram se reunir num domingo à tarde para comer na casa que dividiam (casa que a Carol também morava, inclusive) e ela resolveu convidar a Gabi, que passou um baita perrengue! Mas finalmente conseguiu chegar em tempo.   

 

Como sempre, nem tudo são flores. Quando a Gabi chegou, bateu um sentimento estranho na Carol, de estar saindo da zona de conforto, estar se permitindo demais. Ela começou a reagir mal, estava nervosa, ficou se esquivando durante um bom tempo. Foi numa persistência da Gabi de tentar se aproximar que elas acabaram dando o primeiro beijo. 

 

Depois disso, com o corpo mais relaxado e alcoolizado, a Carol entendeu que estava tudo bem e elas acabaram dormindo juntas em casa. No dia seguinte ela precisava sair bem cedo, enquanto a Gabi tinha um compromisso mais tarde e prometeu que esperaria ela voltar. Com o atraso por situações que provocaram interferências nos planos, a Gabi precisou sair antes da Carol voltar, e não conseguiram sequer conversar direito. Voltaram a se falar apenas pelas redes sociais.  

 

Foi num futuro próximo, depois da campanha eleitoral, quando elas realmente conseguiram se curtir e se conhecer melhor. Carol é uma pessoa intensa e que gosta da intensidade, acredita que tudo deve ser vivido. Gabi é um pouco mais calma e tranquila, estava indo aos poucos. Marcaram de se encontrar em um ato político feminista, na Cinelândia, gritando por justiça para uma menina que tinha sido abusada sexualmente - e foi lá que a Gabi viu a Carol comandando a bateria e entendeu: estava apaixonada. 

Gabi nasceu no interior de São Paulo, na cidade de Bauru. Morou em várias outras cidades interioranas, como Ipatinga (MG), Salto e Campinas, até que se mudou para o Rio de Janeiro para cursar a faculdade de dança. Tem como inspiração a irmã, que, por ser mais nova, quer servir de exemplo e a ver crescer. Batalhou (e batalha) muito para sobreviver em uma cidade grande como o Rio de Janeiro, trabalha com vários tipos de coisas, já morou em vários lugares diferentes e busca sempre sua independência financeira.

 

Carol é carioca e ao namorar mulheres sente que está se relacionando com alguém de igual para igual. Na vida aprendeu a se colocar em primeiro lugar e com a Gabi aprendeu a ser mais cuidadosa. Tem como inspiração a sua irmã, também, mas dessa vez é a irmã mais velha, que foi grande influenciadora de tudo o que ela gosta, desde músicas até mitologia grega. Para Carol, a irmã representa a força feminina. 

 

Há pouco tempo atrás a Gabi tomou a iniciativa de contar para a família que elas estavam namorando e a reação não foi muito boa. Ainda estão em processo de aceitação, mas o sentimento que mais dói é que acabam julgando a Carol sem a conhecer. Por mais que seja uma família muito unida e muito amorosa, sentiram o namoro como um baque muito grande.

 

Por outro lado, a Carol não opina muito sobre o assunto, só quando a Gabi pede ajuda. Prefere se manter mais distante para não influenciar negativamente de alguma forma, mesmo que se mantenha ao lado da Gabi dando carinho e cuidado. A Carol já passou por esse momento e também não foi fácil, então tenta dar algum tipo de suporte. No primeiro dia que tentamos fazer nosso encontro, tivemos que cancelar de última hora, porque ela tinha sido expulsa de casa - não por ser LGBT, mas por ter outros problemas envolvendo a família. Ela, hoje em dia, optou por morar sozinha e próxima da Gabi, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. 

Durante toda a nossa conversa falamos muito sobre questões sociais envolvendo os espaços em que estamos inseridas. Carol, sendo uma mulher negra e lésbica, não se sente segura em nenhum momento fora de casa. Ela se vê numa postura de atenção o tempo todo, sente que precisa estar atenta caso algo aconteça. Ao mesmo tempo, entende que não tem medo de andar de mãos dadas - mesmo que receba muitos olhares - porque andar de mãos dadas com uma mulher na rua significa resistência. Entende que o amor entre mulheres é um ponto fora da curva. 

 

Por mais que a Gabi se relacione com homens também, ela acredita que o amor entre mulheres se torna muito diferente porque não tem o peso das questões sociais (vulgo patriarcado), do tipo "obrigação do homem de trazer dinheiro pra casa e da mulher de fazer a janta" e sente que as mulheres se permitem mais. 

 

Por fim, ambas sentem que pertencem à relação, que vivem algo revolucionário enquanto se amam e constroem essa conexão.  

 Gabi 
 Carol 
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