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Sophia quando pensa em inspiração vem logo a mãe dela na cabeça porque sempre foi a figura que representa todas as superações ao decorrer da vida (beijo, dona Maria Antônia!).

Bruna também fala muito sobre a mãe e sobre a bisa - a pessoa que ela mais admira. Pensar na bisa é pensar na paz - era uma pessoa muito boa e querida por todas as pessoas, cujo também pensam nela com esse carinho enorme. 

 

A família delas têm lidado de forma respeitosa, tentando, aos poucos, entender. Elas também dão esse espaço e o tempo delas processarem as coisas. A mãe da Bruna hoje em dia adora a Sophia e até sente um pouco de ciúme. E o pai da Sophia chamou a Bruna para passar o último natal na casa deles. 

 

A relação delas é formada por uma comunicação muito aberta, falam sobre as outras relações, os traumas de vida, criam laços de fortalecimento. Acreditam que o amor é físico e inatingível. Sentem o amor e consideram algo muito sagrado - por ser imaterial mas por você conseguir sentir. “É um sentimento com vida própria”. 
 

Antes da pandemia voltaram mais uma vez ao MAM, durante uma abertura de exposição. Fizemos questão de fotografar exatamente no local que aconteceu o primeiro beijo, naquele quadrado, cheio de memória afetiva. 

 

Cantarolei Minha Pequena Eva enquanto fotografava.  

Conversamos muito sobre o nosso corpo ser político enquanto mulher lésbica e tudo o que isso envolve. Elas acreditam que o amor entre mulheres envolve um cuidado muito maior e acreditam que as relações requerem sempre uma manutenção, uma atenção diária. “O amor entre mulheres é algo que vem na gente, porque ninguém nunca nos ensinou como amar as mulheres, você apenas sente, e então ama”, diz Sophia. Ela comenta que não sabe olhar para o corpo de uma mulher como olham os homens e que já ouviu amigos falando “pô, então você nem gosta de mulher tanto assim, se não acha ela gostosa, se não olha pra bunda...”, e mesmo que ela saiba que isso não signifique nada, entende que ela não liga pra isso porque ela nunca foi ensinada a gostar de mulher como os homens são, ainda jovens, de acordo com o patriarcado - ou seja, não existe regras para nós gostarmos de mulher, nem manual de instruções, porque nem nos consideram (nós, mulheres que se relacionam com mulheres)  dentro do sistema patriarcal. A Bruna conta que amigos homens já fizeram ela parar de trabalhar para olhar mulher bonita passando... e que o sentimento sentido foi de desrespeito e desconforto.

 

Bruna contou que uma cidade feliz e ideal para ela seria uma cidade da qual ela possa andar na rua sem medo - que ninguém olhe feio, solte comentários quando ela passa. Ela quer andar com paz. Desde pequena ela se entende enquanto mulher lésbica e comenta que na escola, quando perguntavam o menino que ela gostava, dizia logo o nome do mais bonito e disputado, para assim ficar no canto com um descargo de consciência por saber que ele não daria bola para ela. 

Sophia tem 21 anos e é lojista, mas cursa Cenografia. É aí que acontecem seus trabalhos no carnaval: ajudando a montar os carros alegóricos. 

 

Bruna tem 21 anos também, é cozinheira em um restaurante na Barra da Tijuca, mesmo morando em Niterói - e faz essa jornada diariamente. Ela tem uma cabeça muito aberta, fala sobre amor, diz que amar é muito diverso e que quando você percebe, já aconteceu. Ela demonstra muito cuidado com a Sophia, principalmente cozinhando as comidas favoritas dela e fazendo receitas bem elaboradas (leia-se, um pão cor de rosa, com massa natural, porque é a cor favorita dela…………. pois é, não tem coração que aguente ler isso, foi difícil pra mim também segurar a vontade de abraçá-las).


 

Ambas amam maquiagem e seu maior hobbie é fazer vídeos para o tiktok. Estão na rede social desde antes do grande boom durante a pandemia. Inclusive, vale citar, que o pedido de namoro foi feito por lá, já que estavam separadas pela quarentena.  

Carnaval no Rio, dia de chuva, tinder ligado, glitter no corpo, bloco lotado, passando pelo Museu de Arte Moderna (MAM). Imaginou a cena? 

 

Quando a música toca embaixo do concreto do MAM o eco é imenso. Você sente seu corpo todo tremer. Pessoas em cima de pernas de pau dançam ao redor no espaço entre a grama e a calçada. Ali, tudo faz sentido: de fato, é carnaval no Rio.

 

Foi assim que Bruna e Sophia se conheceram pela primeira vez, entre chuva, tinder e bloco. Se encontraram no meio da multidão… e sabe o que faz tudo ser tão característico de uma cena real do carnaval? o primeiro beijo ter sido ao som de Minha Pequena Eva, contando com todas as pessoas ao redor cantando e pulando muito.

 

Acho que uma das coisas mais instigantes nessa história toda é que a Sophia era crítica assídua do Tinder. Dizia que jamais serviria para algo e que não dava para esperar nada “dessas pessoas”. Melhor ainda é o fato de que elas moram muito longe uma da outra, se encontraram porque foi um dia do qual a Sophia foi até o centro da cidade e assim que a Bruna apareceu ela deu ‘like’ pensando: é bonita, mas sei que não vai dar em nada.

 

A Bruna, pelo outro lado, assim que descobriu que a Sophia trabalhava em um barracão de escola de samba já queria pedir logo em casamento. Apaixonada pelo carnaval e pela Sapucaí, ficou empolgada ouvindo as histórias que Sophia contava. 

 Bruna 
 Sophia  
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