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Quando estávamos fazendo as fotos ela brincou com a Bia dizendo para fazermos algumas fotos dançando e a Bia argumentou que ela não dançava com ninguém “só contigo”, e na fala da Marina ela traz essa ocasião, sobre a Bia se permitir à dança. E nesse permitir-se damos gancho ao assunto de que estamos em busca de nos permitirmos porque queremos justamente nos entender, nos cavucar, nos desvendar. E chegamos ao questionamento de: por que, na sociedade em geral, tão pouco as pessoas se permitem?

 

Então entendemos também que o amor, de alguma forma, dialoga com estar dispostas a despertar coisas na gente para mudar o outro também. Um não-querer ser quadrado o tempo todo, estar limitado ou não ser um ser-pensante. Brincamos com a palavra “gelecas” porque Marina diz se sentir uma geleca, sempre em mil movimentos e não-sólida, como algo que consegue se moldar - mudar. Por fim, ficou a sensação de não querer nunca que essa “geleca” cristalize, se conforme, se adeque. Estejam sempre se transformando para que transforme, também, os outros.  

Por fim, entramos em um papo muito importante sobre o amor e sobre como as relações acontecem - não só afetivamente, mas como nos permitimos estar uns com os outros. 

 

A Bia entende o amor enquanto reconhecimento e enquanto uma força muito grande, uma vontade de estar de verdade com alguém - no companheirismo, na vontade de fazer coisas juntas - e de reconhecer, mesmo se não entender. Ela acha que a base do amor é a confiança e o diálogo e que, para além disso, nas relações com mulheres, sejam amigas, as mulheres da família, ou relações amorosas, existe uma força em querer se fazer o bem sempre. Essa força envolve o zelo, a escuta e o querer-justiça. São relações que ela preza muito. 

 

Para a Marina, existem duas coisas que estão muito relacionadas com o amor: a permissão e a pressa. A pressa, na verdade, é a espera, o ritmo, o tempo. Temos que aprender a esperar as coisas, a entender o ritmo do outro, a se adaptar ao ritmo do outro também… porque quando temos pressa, acabamos por cortar um pouco a graça das coisas, atropelar e deixar sem sentido. Já a permissão entra enquanto uma importância em se entregar, em tirar tabus, tanto sexual quanto emocionalmente: ter a confiança e a leveza de se permitir.

Em seguida do começo do namoro (e no dia seguinte que o foraBolsonaro foi eleito), elas alugaram um carro e fizeram uma viagem para a Bahia. Foi muito importante ter esse momento não só pela situação tensa que todas nós mulheres estávamos passando (e elas, tendo uma a outra, estando juntas, se acolhiam e se ajudavam), mas por ser uma forma diferente de dar início ao relacionamento.

 

Ao decorrer de toda a relação tudo sempre foi construído com muito diálogo e conversa. Elas estão juntas em muitos momentos e contam uma com a outra para tudo.

 

Inclusive, o apartamento surgiu em um momento muito especial de mudanças e de olharem para si e entenderem que seria um passo importante morarem juntas. Foram meses procurando um lugar que fizesse sentido, que elas pudessem arcar com os valores e quando acharam esse, foi um completo acolhimento. Tudo nele tem a carinha delas e cada detalhe é pensado em conjunto.

As duas são mulheres muito divertidas e acreditam que isso possa estar ligado à forma que, tanto elas foram criadas, quanto ao meio que estão inseridas. Acreditam no corpo enquanto livre e sem julgamentos e para elas é muito importante que as pessoas estejam realmente à vontade. 

 

A Bia conta que sua construção enquanto ser e suas maiores inspirações vêm da irmã e também da amiga, Mariana, que é colega de trabalho e quem a colocou dentro da agência. É uma pessoa que traz bastante admiração pelo estilo de vida, pelas questões profissionais dentro da fotografia e por tudo o que já ensinou.

 

Já a Marina contou que ter feito balé desde criança a fez ter muita disciplina e aprender muito sobre a forma de lidar com os outros e ter responsabilidades, por isso também as professoras que a acompanharam durante todo esse processo são de grande importância para que ela tenha se tornado a mulher que se tornou. Ela fala sobre o quanto o olhar das professoras moldou o olhar que ela tem sobre as coisas. Além disso, a avó dela também é fonte de inspiração diária, por ser uma mulher da roça, sempre muito alegre, e sendo uma mulher não-branca, muito forte, que carrega muitas coisas na sua existência. 

 

No começo do relacionamento delas, ou melhor, antes de ser realmente um relacionamento sério, quando perceberam que estavam bastante envolvidas, surgiu uma certa insegurança. E aí dialogaram sobre o que fazer: encaravam? desistiam e seguiam suas vidas? Foi quando entenderam que estavam dispostas a encarar e começar algo em conjunto. 

Um tempo depois de ter terminado um relacionamento, a Bia se reconectou com uma amiga da escola e essa amiga estava namorando uma menina que era de Vitória e trabalhava na mesma empresa que a Marina, então a amiga e a namorada tiveram a ideia de apresentar as duas e uni-las enquanto um casal. A versão da história contada pela Bia é bastante simples: a amiga dela mandou uma mensagem falando da Marina e passando o Instagram dela para a Bia seguir e conhecer. Ela achou a Marina bonita, curtiu, mas não começou a seguir na hora. Um tempo depois a Marina começou a seguir ela e ela seguiu de volta. Foi isso. 

 

A versão da Marina, por mais que seja com o fim semelhante, começou de outra forma. Ela estava em uma fase que se permitiu se envolver e conhecer novas pessoas, mas estava indecisa ainda e uma amiga aleatória, naquela semana, chegou dizendo que tinha alguém para lhe apresentar. Quando mostrou o Instagram de uma menina, ela olhou e achou ok, mas não teve muito interesse, porém a menina tinha uma foto com outras pessoas marcadas e nessa foto estava a Bia, foi aí que ela entrou no Instagram da Bia, se interessou e passou a segui-la. No dia seguinte, ao encontrar a amiga em comum que ela e Bia tem, essa amiga disse que queria apresentar uma pessoa para ela e ela ainda brincou “nossa, o que tá acontecendo essa semana, que todo mundo quer me apresentar alguém?!” e quando viu o Instagram ficou em choque, porque era logo a menina que ela tinha seguido. Pensou: ok, eu realmente preciso conhecer essa menina, de alguma forma ou de outra, a gente vai ter que se encontrar! E foi então que Bia começou a segui-la de volta.

 

Numa interação de stories sobre gatos, elas marcaram de sair. E o que era para ser um encontro em um restaurante todo bonito, bacana e conceituado, deu errado, mas deu certo: o restaurante estava fechado e o único lugar próximo era um boteco super “pé sujo”. Elas se deram tão bem que ficaram no bar até 4h da manhã, foram para a casa da Marina, a Bia saiu de lá no dia seguinte e, para fechar com chave de ouro o date de sucesso, saiu com as roupas da Marina porque o gato tinha feito xixi em todas as roupas dela.

A Bia e a Marina são duas mulheres incríveis em cada detalhe do que constróem dentro do relacionamento e dentro do lar, desde o cuidado que têm com a casa, com o preparo da comida, com a forma que se tratam, até em suas visões de mundo, de poder de escuta ativa e da forma que lidam com as pessoas e com os animais.

 

O encontro delas aconteceu por intermédio das amigas, mas ao decorrer da explicação a gente entende que era mesmo para ter acontecido. 

 

A Bia tem 24 anos, é carioca, fotógrafa e trabalha enquanto assistente em uma agência que presta trabalhos visuais para marcas de moda. Adora videogame, sonecas durante o dia, ler e acompanhar a Marina nas aventuras na cozinha. 

 

Marina tem 29 anos, é natural de Vitória, no Espírito Santo, mas mora no Rio de Janeiro desde 2014, quando cursou a pós-graduação. Ela trabalha enquanto publicitária e produtora, ama cozinhar, principalmente inventar receitas, quase como uma alquimia, testando comidas e temperos. O que ela e a Bia mais amam fazer juntas é assistir reality shows: de todos os tipos possíveis. 

 Bia 
 Marina 
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