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Foi através de um aplicativo de relacionamentos, em 2016, que a Mayara e a Maria Clara se conheceram. Elas conversaram um pouco, trocaram algumas ideias... e um tempo depois, a Clara estava numa roda de amigas, conversando, na rua, quando viu uma moça passando e identificou as tatuagens e o jeito parecido com “aquela que havia dado match no Tinder”. Ela conta que Mayara veio lhe encarando, mas que ambas não tinham certeza se eram mesmo quem imaginavam, então trocaram mensagens para se certificar, do tipo “eu passei por você agora há pouco?" e interpretaram aquele encontro como um sinal, para se encontrarem mesmo, com data e hora marcada, em breve. 

 

No fim de novembro de 2016 foi quando começaram a se relacionar e vivenciar momentos de altos e baixos, idas e vindas. Em setembro de 2017, quase um ano depois, foi quando realmente entenderam o que tinham enquanto um namoro. 

 

Esse entendimento e essas “idas e vindas” levaram tempo por conta de processos bastante internos e hoje, olhando para trás, percebem que o relacionamento mudou muito desde o início. Parte desse processo vinha de uma movimentação mais defensiva da May, que aos poucos foi compreendendo que elas estavam juntas para se ajudar. Nesse primeiro ano, a May sofreu um episódio de homofobia bem doloroso. Ela estava sozinha, num lugar até então seguro e foi agredida por pessoas que chegaram de fora da sua casa. Esse movimento de passar por violências muito graves que jamais imaginaria trouxe muito sofrimento e também um sentimento de querer encontrar a Clara por a entender como um apoio e alguém com quem poderia contar. Enquanto a Clara, por sua vez, respeitou e acolheu de forma essencial, deixando com que mesmo entre muitas dores, a May pudesse se sentir em segurança ali. 

 

Assim, com o passar do tempo e dessas turbulências, elas foram amadurecendo o sentimento. Outras coisas que envolviam a relação também foram amadurecendo naturalmente, como ciúmes, relações com familiares (que passaram a compreender e apoiá-las) e o próprio respeitar espaços de cada uma foi fundamental para que a relação pudesse ter maior conexão e intimidade. 







 

Tanto a Mayara, quanto a Maria Clara, possuem 28 anos. Mayara é de Rio Claro, mas foi morar em Campinas há 9 anos para ser publicitária - profissão que desenvolve em uma agência - trabalha com atendimento ao cliente também, além de alguns trabalhos com redação, que é o que ela mais gosta. A Clara é boleira, faz bolos por encomenda, tanto caseiros, quanto para festas (e são muuuuuuito gostosos!). Além disso, a Clara também faz alguns trabalhos temporários em atendimento e suporte ao cliente. Ah, outra informação sobre elas que não poderia faltar, né? Elas são opostos complementares nos signos: áries e libra - e isso sempre esteve presente nas conversas, desde que se conheceram.  

 

No momento que nos encontramos conversamos bastante sobre a pandemia, elas contam que a adaptação foi difícil, tanto no trabalho, quanto na relação, na vida, nas amizades, no dia a dia. O trabalho envolvia vendas na presencialidade e tiveram que trazer os clientes para o meio online, sendo um desafio imenso, sentindo desconfortos pelas videochamadas, desconhecimento de tecnologias, foi uma adaptação bem grande. Elas entenderam que trazer o conforto para a situação é o maior desafio em seus trabalhos, tentam descontrair e fazer os clientes se sentirem tranquilos, mas ligar uma câmera não é fácil (e possível) para todo mundo.

 

Além disso, foi difícil parar de fazer o que mais gostavam, como sair com o Paçoca (o cachorrinho mais educado e querido desse mundo!), ir à praia e sair um pouco do mesmo espaço dentro de casa para conseguir se movimentar, então perceberam ansiedades aumentando, momentos de maiores cobranças e imediatismos. 

 

A forma de tentarem se ajudar e deixar tudo mais leve foi reinventando os espaços em casa, a May se mudou para dividir o lar com a mãe da Clara e a Clara e a partir disso elas passaram o tempo livre maratonando séries, compartilhando refeições e investindo nos instrumentos musicais. Elas têm se permitido sair para andar de bicicleta, brincar com o Paçoca, visitar a família e ir até a casa no sítio.  



 

Elas sempre se enxergaram dispostas a viver o amor e a estarem juntas e isso é o que mais se destaca para a Mayara. Ela diz que ambas sempre estão percebendo uma à outra de maneira inteira, com suas qualidades e defeitos.

 

Quando enfrentam momentos em que as coisas se tornam um pouco mais sensíveis, entendem que é preciso encontrar força conversando e buscando uma na outra, porque o amor está também nessa persistência, nessa vontade de estar juntas e nesse encaixe que ele possibilita.

 

A Clara percebe que o amor é desejar e entender o que queremos para o outro (a pessoa com quem nos relacionamos) e para a gente (a nossa relação) - e não só, para que isso se espelhe/se reflita nos outros também, nas nossas relações com as pessoas que estão ao nosso redor, visto que o amor não precisa envolver apenas o romântico e o sexual. Ela acredita que amor envolve companheirismo, incentivo, uma parceria mesmo. Isso faz com que as coisas permaneçam fortes e saudáveis ao longo dos anos, trazendo essa preocupação em relação ao bem estar… e, principalmente entre as mulheres, no que envolve afeto, porque acredita que o companheirismo e a escuta são nossas principais características.





 

Tivemos várias conversas sobre como vimos as relações humanas hoje, além do relacionamento delas, mas como as pessoas se relacionam hoje em dia e, alguns dias depois, recebi uma mensagem falando como foi importante a participação no projeto porque fez com que elas olhassem para o relacionamento delas com maior respeito pela história que construíram juntas. Fiquei feliz pelo o que o Documentadas provoca na gente, esse autoconhecimento, mas também pelo reconhecimento que merecemos ter porque nos amarmos, enfrentarmos tantos preconceitos e termos uma história que resiste e que se permite conhecer, estar aberta e aprender com seus erros, é de fato, ter coragem. 

Obrigada por compartilharem a história e aproveitem o amor de vocês, meninas ♥

 Mayara 
 Maria Clara 
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