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A Renata e a Vanessa se conheceram em 2016, mas até começarem a namorar, quaaase em 2018, viveram um roteiro digno de novela intensa. 

 

Elas são de Fortaleza, capital do Ceará. Ou melhor, a Renata é de Maracanaú, uma cidade que pertence à região metropolitana. Foi na Praça da Gentilândia que escolheram fazer as fotos, a praça (e o bairro de Benfica em si) possui muitos significados na história das duas e durante a conversa fomos revivendo diversos momentos. 

 

Nessa história existe uma versão sobre o dia que elas se conheceram da qual a Renata não se lembra - sim, ela não se lembra de ter conhecido a Vanessa - mas calma que as reviravoltas chegam. Esse dia aconteceu entre diversos eventos na universidade (tinham calouradas, manifestações políticas…) e muitas pessoas circulavam pelos Centros de Humanidades do campus. Foi ali que elas se esbarraram, entre amigos em comum e a Vanessa até deu um cigarro para a Renata, mas ela justifica com o álcool o fato de não lembrar desse encontro rápido.

 

Um tempo depois, a Renata estava cursando fotografia num lugar que propõe diversos cursos gratuitos e conheceu uma menina do curso de jiu-jitsu (ela até se aventurou no jiu-jitsu depois dessa amizade!), elas ficaram amigas e na época a Renata saía com uma oooutra menina, então decidiram marcar de se encontrar e beber um dia na Praça. A amiga disse que levaria outra amiga, para não ficar sobrando entre as duas e, quando chegou lá, essa amiga era a Vanessa. Renata até brinca que quando viu a Vanessa ela sentiu um forte impacto, então ok não lembrar do cigarro, né?! Já que esse dia é o verdadeiro dia do impacto!

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Elas conversaram durante a noite toda e a Vanessa brincou várias vezes que jamais conseguiria se envolver com alguém que tem o mapa astral como o da Renata… Isso despertou na Renata a certeza de que ela nunca teria chances com a Vanessa, ficou até pensativa sobre, mas depois desse dia se adicionaram no Facebook e a Vanessa chamou ela para alguns eventos. 

 

Demorou um pouco para que saíssem e quando aconteceu pela segunda vez, foi novamente na Praça o ponto de destino. Elas passaram a noite com diversos amigos e uma comunicação totalmente atravessada, principalmente porque a Renata não assimilava nada enquanto um flerte, já que havia aceitado que não teria chances, por mais que a Vanessa insistisse e deixasse (na versão dela) claro. Então, quanto mais amigas elas ficavam, em outros eventos elas se encontravam e o resultado era igual: sempre saíam e beijavam outras pessoas.

 

No dia 17 de maio de 2017 (sim, quase um ano depois!), na mesma Praça, teria um evento em referência ao Dia Internacional Contra a Homofobia e a Vanessa convidou a Renata, que já estaria por lá fazendo um trabalho. Elas foram juntas, mas as pessoas demoraram a chegar e ficaram sozinhas no evento, sentadas. Foi então que a Vanessa soltou a frase: “E esse beijo?! Vai sair que horas?!” e a Renata se desconcertou por completo, abrindo um sorriso. Foi logo depois desse momento que, finalmente, elas se beijaram. 

 

Elas contam que nesse dia estavam todos aguardando acontecer o impeachment do Michel Temer (aquele famoso momento em que ele entrou ao vivo e disse, depois de uma pausa enorme: Não renunciarei). Portanto, nem rolaram as gravações que a Renata iria participar trabalhando na Praça e elas ficaram juntas mais tempo, depois foram embora.


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Depois do primeiro beijo elas começaram a conversar todos os dias, num ritmo muito diferente do que era anteriormente, além de se encontrar em todos os intervalos possíveis na Universidade. 

 

Na época, a Renata estava “de rolo/ficando” com um menino e elas contam que, mesmo amando esse primeiro momento de conhecimentos e conversas, foi também um período muito conturbado. Passaram 7 meses num relacionamento sem rótulos, ficavam com outras pessoas e acabavam brigando muito, era uma comunicação bastante difícil porque envolvia um respeito em saber os limites e no querer deixar livre, mas por outro lado uma carga muito intensa entre elas. Hoje em dia, elas recordam o quanto as duas terem um acompanhamento terapêutico na época foi fundamental para entenderem o que estavam vivenciando e conseguirem visualizar tudo com maior clareza. 

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A chave só virou quando, depois de uma briga por coincidência, elas se encontraram em um ensaio fotográfico do qual a Vanessa estava sendo modelo. Quando a Renata chegou, deu de cara com ela já em frente à câmera posando e surgiu um clima muito estranho. 

 

Depois do ensaio elas saíram e a Renata contou sobre um sonho que ela teve, do qual elas caminhavam em um lugar e a Vanessa olhava para ela e dizia “E é por isso que eu te amo.”, e ela se sentia totalmente surpresa, porque não era algo que esperava ouvir da Vanessa. Enquanto ela contava a Vanessa ficava olhando, bastante atenta em cada detalhe.

 

Um tempo depois do sonho, elas estavam conversando online sobre 5 coisas que gostavam uma na outra, e a resposta da Vanessa foram as 5 coisas e um extra: a 6. estava escrita: “E é por isso que eu te amo.”.

 

Ler a declaração foi algo que fez a Renata ficar completamente surpresa, ela estava na faculdade e contou para um amigo, que perguntou se ela também amava a Vanessa e ela respondeu sem hesitar que sim. Foi então que muita coisa mudou. Quando elas perceberam esse amor que sentiam e se permitiram falar isso, a comunicação ultrapassou diversas barreiras. Elas ficaram mais próximas e se enxergaram de uma forma diferente, sendo carinhosas e estando confortáveis uma com a outra. A partir disso, assumiram o relacionamento, não se envolveram mais com outras pessoas e se viram dispostas a estarem juntas.


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A Renata tem 24 anos, faz Biblioteconomia, adora basquete e tem uma loja de camisetas (que vocês podem conferir clicando aqui!). Ela faz estágio em um Instituto de relações internacionais que dialoga entre o Brasil e alguns lugares da África e seu papel é organizar a biblioteca do lugar. Além disso, é apaixonada por fotografia e por audiovisual. 

 

A Vanessa tem 24 anos, é psicóloga, possui uma loja de acessórios e também ama fotografia. Ela dedica boa parte do seu tempo aos estudos sobre diversidade e relações raciais (com foco nas mulheres negras - que inclusive foi o tema do seu TCC) e, junto com a Renata, participa de um Coletivo LGBT em Fortaleza. 

 

A Vanessa fala sobre como foi se entender enquanto uma mulher negra e que suas referências vieram desde dentro de casa - pela mãe - até por figuras representativas na história e na literatura, como Marielle Franco, Djamila Ribeiro, Ângela Davis e Sueli Carneiro. Falamos também sobre as diversas coisas que fizemos e a importância de destacarmos isso dentro da nossa comunidade (como elas, que trabalham com suas profissões mas têm muitas outras profissões e já fizeram muita coisa por fora de uma palavra só que define formação) e de como precisamos incentivar o mercado de trabalho para quem faz de tudo nessa sobrevivência ao cotidiano.

 

A Renata também lembra da mãe e, além disso, no âmbito artístico, diz que o primeiro professor de cinema é quem inspira e quem contribuiu para o reconhecimento próprio. Além disso, uma professora da faculdade a inspirou muito a seguir no curso de biblioteconomia. 

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Hoje em dia, elas sentem que a comunicação foi um dos maiores saltos no relacionamento. E, por mais que ainda existam desavenças, conseguem dialogar e ficar bem. Nesse momento fica mais claro o sentimento de amor para a Vanessa, porque volta ao que falamos inicialmente, de que precisa ser vivido com respeito. Ela acrescenta também o fato de que um problema delas é delas, mas um problema vivido por cada uma é compartilhado quando elas se sentem à vontade para isso (e por isso a comunicação serve para também trazer confiança no amor). 

 

Por fim, a Renata enxerga o quanto evoluíram, enquanto um casal e enquanto indivíduos. Ela acredita que o amor entre mulheres é mais carinhoso e cuidadoso e que, se pensado de uma forma romântica, ela se sente muito mais à vontade com mulheres. Já viveu situações em que homens abordaram a forma de se relacionar não-monogâmica dela enquanto algo sem limites, sem pudor e sem responsabilidade afetiva, enquanto ela não enxerga o amor assim. E, de uma forma não romântica, sente que as mulheres se identificam e se encontram, pensando nas relações familiares que construiu e no quanto o apoio é absolutamente natural entre as mulheres da casa. 

 Rennata 
 Vanessa 
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