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Jade, no momento da documentação, estava com 27 anos. É natural de São Paulo, da zona leste, mas hoje em dia mora próximo à USP para ficar perto da faculdade, da Laura e para economizar o tempo diário que levava no transporte público. Ela é jornalista, cursa mestrado e trabalha enquanto assessora de comunicação. Conta que passa o dia fora, trabalhando de forma presencial e tem uma rotina bastante atarefada. Na pandemia de Covid-19, trabalhava em casa e era bem diferente, então agora ela e Laura readaptam o cotidiano para aproveitar o novo lar e passar o maior tempo possível com a Marininha, gatinha de estimação - chegam em casa, tomam café juntas, conversam sobre o dia, assistem TV, aos finais de semana leem e Jade tenta praticar yoga.

 

Laura, no momento da documentação, estava com 26 anos. É natural de Aragarças, em Goiás. Morou em Minas Gerais, numa cidade interiorana, onde começou a cursar publicidade, mas achou um pouco frustrante porque não tinha muitas oportunidades lá, até que conheceu uma professora que contou para ela sobre o curso de Educomunicação na USP e ela tentou a transferência, em 2019. Hoje em dia, ela trabalha com mídias sociais, numa rotina semelhante à Jade, a diferença é que tenta ir de bicicleta para fugir do transporte público, conta rindo. Ama assistir filmes, está cursando uma pós-graduação em audiovisual e gosta de passar tempo de qualidade em casa. 

 

Para elas, o amor é estar num lugar de segurança. Quando falam sobre isso, Jade lembra de uma situação que viveu em que foi assaltada e que a primeira pessoa que pensou em ligar/precisar falar foi a Laura, e que depois disso caiu a ficha: significa que ela é seu porto seguro. O amor significa uma ajuda diária, o ponto que deseja evolução, de querer ver crescer - e estar do lado nesse crescimento. Laura pontua que viveu cercada de muito machismo e que sempre faz de tudo para ver o dia delas sendo bom em conjunto: sempre cuidam da casa, dividem as tarefas, fazem questão de que as coisas não fiquem pesadas pra ninguém, deixam tudo confortável, cuidadoso, sabem que se não for assim, vai ficar pesado para uma pessoa só. Querem o espaço equilibrado e verdadeiramente seguro para o amor existir. 

Foi em 2019 que se conheceram, quando a Laura se mudou para São Paulo e começou o curso na USP. Jade também estava no curso, de início surgiu o interesse, mas ambas eram tímidas e não sabiam como demonstrar. Haviam amigos em comum, eventos, coletivos, então tentaram aproveitar essas brechas. Foi num dia em que Laura estava numa reunião do coletivo LGBT+ que viu Jade e pensou “Bom, ao menos bissexual ela é!” que a esperança começou a surgir. 

 

Pelo lado de Jade, ela viu uma publicação num grupo de Facebook em que os novos estudantes se apresentavam e falavam coisas básicas como nome, idade, signo, orientação sexual, se estava solteiro… e a Laura comentou. Ali ela já soube o que interessava. Entre maio e junho começaram a conversar e interagir mais, foram até no cinema assistir Toy Story, mas nada aconteceu. Até que surgiu um jantar na casa de um amigo - que até hoje acreditam ter sido uma marmelada, porque os amigos marcaram, mas ninguém deu as caras! - e só elas foram. Beberam muito, ouviram música, o anfitrião foi dormir e deixou elas na sala, se divertindo, até que demonstraram que tinham interesse uma na outra. 

 

Depois do primeiro beijo, ficaram juntas por alguns meses, mas Laura tinha acabado de se mudar e estava confusa com tudo ainda, conhecendo a cidade, não queria um relacionamento sério. Sentia que sua vida no interior era muito diferente do que experimentava na capital. Logo que optaram por não ter um relacionamento, a pandemia de Covid-19 começou, ela decidiu voltar para Goiás com a gata (Marininha) pelo fato das aulas terem parado e não ter motivos para continuar em São Paulo. Ficou um ano lá, mantiveram bastante contato online e contam que parecia até um web namoro.


Em junho de 2021, as aulas estavam retomando e Laura decidiu voltar a morar em São Paulo. Chegou querendo muito reencontrar Jade, obviamente. Sentem que a vida estava muito estranha, era tudo bem diferente de 2019/2020. Primeiro que não existia mais aquela sensação de mudança/recém chegada na capital, segundo que a vida em si estava estranha, muitas pessoas morrendo, uma sensação de fim-de-mundo, e terceiro que elas estavam financeiramente estáveis, tinham seus trabalhos (diferente de 2019), o sentimento era outro - e estavam mais maduras para a sensação de querer estarem juntas, pensarem sobre um namoro. Se estabilizou na cidade novamente e em setembro começaram, de fato, a namorar. 

 

Jade tinha muito medo de pegar Covid, morava com a família e pegava transporte público diariamente, tinha medo de colocá-los em risco. Então decidiu procurar um lugar para morar próximo à Laura e à faculdade. Primeiro, moraram próximas mas em prédios separados. Depois, moraram no mesmo apartamento, mas em quartos separados, dividindo com outras pessoas. E agora, finalmente, conquistaram seu próprio lar, um lugar com a cara delas em todos os detalhes da decoração e muito espaço para a Marina ficar à vontade.

 

No dia da documentação, inclusive, iria rolar um “chá de casa nova”, uma celebração para os familiares comemorarem a conquista e presentearem com ítens para a casa. Elas confessam que estavam bem ansiosas pelos presentes, queriam muito saber se iriam ganhar um aspirador (e ganharam! hahaha). Fazer a documentação nesse momento foi importante, também, porque a mudança em si foi muito caótica e viver momentos assim causam um certo apagão sob as coisas boas que vivemos, o caos se instaura e ficamos submersos até passar, então foi uma conversa importante para relembrar o trajeto até ali e ver os detalhes da casa sendo construídos.

 

Por fim, em março a Jade pediu a Laura em casamento - e conta que está esperando o pedido de volta, porque para elas tudo acontece de forma igual.

 Jade 
 Laura 
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