Querem ser atrizes completas e jamais serem julgadas com características boas para “compensar o fato de beijarem mulheres”, como: ‘ela é uma pessoa ótima, mesmo que namore com outra mulher’. Além disso, Marcela sonha em atuar ao lado da Adriana Esteves, da Débora Lamm e da Inêz Viana, as mulheres que a inspiram.
São mulheres que possuem uma sintonia surreal e que sonham com o fim da pandemia para poderem voltar a respirar arte por todos os cantos do dia. <3
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Hoje em dia elas entendem que isso fez parte da história, mas tentam sempre ressignificar o sentido de família. A Marcela passou o último natal com a família da Renata, os amigos estão sempre por perto, inclusive, são grandes admiradores do casal. Elas fomentam o lar, o amor e o cuidado. Tudo o que viveram serve de fortalecimento não só na relação, mas também enquanto seres humanas.
Quando perguntei sobre o amor, me disseram que o amor, mesmo que de forma geral, é político, porque ele está em tudo. Identificam esse atual momento como o pior que já viveram em relação ao ódio e à ignorância disseminada e que, mais perigoso que isso, é sobre o “agressor” estar gerando o nosso país. “O amor tem que ser colocado em prática. Não responder o ódio com mais ódio.”
Renata comenta o quanto o ódio é tentador, o quanto nos deixamos levar pelo impulso do ódio. O amor, não. Ele é muito maior que a gente. O amor está entre as relações de pessoas conhecidas (amigos, familiares) e também nas relações sociais. “Quem ama não coloca uma calçada com espinhos em cimento para as pessoas em situação de rua não poderem deitar embaixo do viaduto. Como que chegamos nesse ponto?! Se chegamos, foi porque alguém normalizou o ódio nesse nível. E o nosso maior desafio é não deixar o primeiro passo ser dado para chegarmos onde estamos, ou, agora, revertermos a situação.”
Marcela comenta que amar mulheres é ter um tipo de amizade único também. É uma relação muito mais completa - é ter respeito, trocar, entender, ter vontade de estar junto e querer que funcione, mesmo que nem tudo sejam flores. É entender que são pessoas incríveis separadas, mas que estando juntas são ainda mais.
Quanto mais a relação delas se desenvolvia, mais a Marcela achava injusto que seus pais não soubessem do relacionamento. Ela já era uma mulher financeiramente e emocionalmente independente, mas acabava tendo uma vida ‘dupla’ por dentro de casa não poder demonstrar seu amor por outra mulher.
O pai reagiu de uma forma mais tranquila, mas a mãe não lidou (e não lida) bem. Marcela costuma contar que foi a madrugada mais longa que ela já viveu. A mãe não aceitou e ela decidiu sair de casa. Renata deixou a porta de casa aberta, para que ela pudesse, ao voltar, entrar. Ela voltou com uma mochila cheia de roupas e assim passaram os meses seguintes, juntas, tentando se cuidar. Marcela começou a fazer terapia (inclusive, o pai acompanhou algumas sessões também), e começou a dividir o apartamento com a Renata.
Ela contou que não acha justo mentir. Não queria dizer que estava num bar se estava na casa da Renata, por exemplo. Além do mais, elas sentem algo tão bonito, tão bom, que merece ser compartilhado, por mais que existisse o medo de contar. Hoje em dia, ela ainda tenta, aos poucos, ficar bem com a família, mas comenta sobre o quanto é difícil. Hoje em dia, elas sentem muito que os pais não estejam presente nos detalhes bons da vida, como a forma que elas montam o apartamento delas, os motivos que dão risada, as plantinhas que acabaram morrendo mas que elas estão determinadas a aprender a cuidar, os gatos e o que as fazem felizes ou tristes.
E o quanto valem esses detalhes, afinal? Vale a pena não tentar quebrar esse preconceito que existe em troca de conviver e compartilhar a vida com os filhos? Perder essa fração de vida? E tudo isso por não aceitar que o amor? No fim, a conta não fecha.
Renata tem 39 anos, ama andar de bicicleta, dançar e escrever. Marcela tem 25 anos e na quarentena tem descoberto que gosta de trabalhar com edição. Elas vivem num apartamento juntas, com seus dois gatinhos e os milhões de pássaros agapornis que chegam até a janela para fazer uma visita e comer umas sementinhas. São mulheres que possuem uma vida cultural e social muito ativa, sempre estiveram entre teatro, cinema, bares, etc.
Tiveram um primeiro encontro meio sem querer - queriam assistir uma peça juntas, mas não conseguiram chegar em tempo. E aí decidiram ver uma peça chamada ‘40 Anos Essa Noite’, que fala sobre vivências LGBTs. Depois da peça pegaram um uber para o bar e era engraçado que no caminho, como uma não sabia se a outra se considerava hétero ou LGBT, acabaram contando suas experiências, para deixar bem claro, estilo “uma vez vivi isso com A minhA namoradAAAA/e ai elAAA/na perspectiva delAAA”.
Depois disso começaram a se permitir conhecer, se apaixonar e viver a relação. Enquanto estudavam juntas no Tablado, os exercícios cênicos eram sempre feitos através de grupos e as cenas improvisadas com temas da atualidade. Os grupos eram escolhidos de forma aleatória, então elas nunca acabavam caindo juntas. A primeira cena que fizeram de verdade foi uma cena de Orange Is The New Black, da qual interpretavam a "Pennsatucky” e a “Boo” no dia das mães.
Após atuarem juntas no Tablado, se juntaram com um grupo de amigos e decidiram fundar uma companhia de teatro, os Banalizadores do Evoé, que durou alguns meses antes da pandemia.
a palavra está com elas
Renata: Ei, você que nos lê nesse momento, obrigada por estar aqui prestigiando esse projeto tão lindo e tão necessário! Espero que nossa história cheia de amor e arte te inspire, e que possa chegar aos quatro cantos do mundo! Diante de tanta beleza, porém, não podemos esquecer que o Brasil ainda é o país que mais mata homossexuais no mundo, e é nosso dever combater toda forma de discriminação, violência e preconceito.
Seguimos lutando pelo respeito à diversidade, por leis que punam severamente a homofobia e por políticas públicas que garantam a integridade de toda a comunidade LGBT.
Desejo do fundo do coração que todas as pessoas, dos mais diferentes gêneros, cores, raça, origem, religião ou classe tenham a mesma sorte que eu dei, e encontrem um amor assim. E que ele seja sempre a força propulsora da humanidade. ❤️
Marcela: O lugar que eu sempre me senti mais livre na vida foi no teatro. E foi em cima do palco que eu conheci o amor. Lá me apaixonei por uma mulher e foi a coisa mais incrível que já me aconteceu. As histórias sobre o amor entre mulheres devem ser escritas, contadas, gritadas. Vivemos em uma sociedade que repudia a nossa existência e minha resposta a isso é amar mais. Eu escolho todos os dias o amor. É o sentimento mais lindo que já me atravessou. Eu fico muito feliz de fazer parte de um projeto como esse que pode alcançar tanta gente e mostrar o quanto somos muitas! Nós existimos, com muito orgulho 💚🐸
"O Amor entre duas mulheres e a rejeição social desse "comportamento" gera a dor gigante daquela cujo sentimento só sabe ser livre..."
Foi através de ‘O Efeito Urano’ que Fernanda Young chegou até a Renata e a Marcela e se tornou uma das primeiras cenas que fizeram juntas, no começo do relacionamento, após se encontrarem no teatro Tablado. Renata e Marcela são atrizes, além de professora e de advogada. Elas se conheceram estudando teatro juntas, já em palco.
A Renata sempre se viu um pouco na Fernanda Young, as obras dela permitiram com que entendesse que seu corpo também era livre. Fernanda sempre dizia que não cabia nos lugares, enquanto, Renata, também se sentia assim… até que ambas entenderam que não precisamos caber em lugar algum, mas que criar nosso próprio lugar.
Renata apresentou O Efeito Urano para a Marcela. Virou o livro delas. Marcela leu e Renata releu, simultaneamente - assim grifaram tudo o que achavam importante, depois juntaram os papéis, no chão de casa, separando em três atos: a paixão, o relacionamento e o ato final. Foram para a praia, com os textos em mãos, e passaram o dia ensaiando. Depois disso, qualquer momento se tornou oportuno: passaram o texto enquanto estavam cozinhando, dirigindo e andando por aí. Se tornaram muito parceiras em ensaios, sempre trocando muito aprendizado. Hoje em dia o livro virou a parede do quarto delas, literalmente.
























