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Encontrei a Ellen e a Bianca num bar em Curitiba - PR, num dia chuvoso de domingo. Neste bar são frequentadoras assíduas, já que adoram estar lá com os amigos e também enxergam o local enquanto um espaço de resistência da esquerda, de diversas culturas que se misturam e do público LGBTQIA+. Durante a nossa conversa, contam sobre a história do local (que passou por diversos donos), a expansão depois da pandemia e compartilham momentos que já estiveram lá com muitos amigos, se divertindo e bebendo uma cachaça única, produzida em Paranaguá, na região litorânea do estado.

 

É nesse bar que elas se sentem confortáveis, são bem recebidas e bem tratadas. Citam também que viver em Curitiba no momento de eleição não estava sendo fácil, havia muito medo de pessoas radicais que possuem posse de armas, assim como as festas e espaços da esquerda acabavam estando sempre alertas, redobrando a segurança, mas que isso para elas ressalta o quanto precisamos ocupar ainda mais os espaços e as ruas.  

 

Ellen, no momento da documentação, estava com 29 anos. Ela é pedagoga e trabalha no interior do estado dando formação continuada (para diversas séries com idades diferentes).

 

Bianca, no momento da documentação, estava com 27 anos e trabalha sendo psicóloga, mas nos momentos livres gosta de praticar esportes e crossfit. 

 

Além de frequentar o espaço que fizemos as fotos, elas contam o quanto adoram sair, viver a vida boêmia e também receber amigos em casa - sempre prezam pelas socializações com quem amam. 


 

O relacionamento delas vem durando cinco anos, mas se conhecem desde quando a Ellen passou no vestibular, entrou na faculdade e começou a se interessar por política. Naquela época, passou a fazer parte de um coletivo estudantil e encontrou a Bianca numa viagem ao Congresso da UNE, no Rio de Janeiro. Ellen nunca tinha namorado uma mulher, apenas beijado em algumas situações, mas de cara se apaixonou pela Bianca. 

 

A Bianca estava namorando naquela época, então a Ellen não demonstrou nenhum interesse. Com o passar do tempo, já em 2017, a Bianca terminou o relacionamento e a Ellen ficou sabendo - só que dessa vez, quem namorava era ela, mas como o relacionamento era aberto decidiu chamar a Bianca para sair. 

 

Bianca brinca que foi um chamado bem direto, através do Instagram, porque elas não eram amigas ao ponto de manter conversas e não fazia a menor ideia do interesse da Ellen, mas chegou a mensagem inbox e topou o encontro. A Ellen, por sua vez, conta que o interesse era gigantesco e não sabe como isso não estava explícito, porque encontrava a Bianca nos lugares e acompanhava ela nas redes sociais. 

 

No primeiro encontro, Bianca estava ainda muito triste pelo término do antigo relacionamento. Elas se encontraram, saíram, continuaram saindo por um mês e não se envolveram fisicamente. Foi no último dia de aula da Ellen, quando ela estava bebendo uma bebida de qualidade duvidosa depois da aula, que ficou com a Bianca e entendeu que gostava dela e não queria mais seguir o relacionamento aberto que vivia.  

 

Depois do primeiro beijo e do processo de término da Ellen, continuaram se encontrando o tempo todo. Era dezembro e elas passaram o ano novo juntas, quando depois, em 2018, a Ellen pediu a Bianca em namoro depois de assistirem um show da AnaVitória. 


Nesse período em que estão juntas, já passaram por muitos altos e baixos. Comentam que possuem uma comunicação “de centavos” e que nem fazendo vários cursos acreditam que melhorariam. Entendendo que nem sempre conseguem comunicar o que sentem, prezam por entender qual é o lugar de cada uma dentro da relação, tentando sempre deixar a escuta ativa e pensando nos meios termos que agradem ambas. 

 

Desde 2018 a Ellen já morava sozinha e, depois de um tempo, a Bianca decidiu sair da casa dos avós, foi quando decidiram morar juntas. Visitaram um apartamento e alugaram, do qual apelidaram de “batcaverna”, depois disso, adotaram dois gatos, resgatados em ONGs. 

 

Bianca fala sobre a pressão que envolve se relacionar no mundo e no sistema que vivemos hoje. Se espera muito da produtividade, até mesmo nas relações humanas, então tenta enxergar o amor na contramão: como um ato de cuidar e ser cuidado, se permitir estar vulnerável, sem hierarquia, amando outra mulher. 

 

Por fim, ainda não é fácil lidar em como a sociedade trata esse amor de forma diferente: desde tentarem sempre ver a Bianca como “o homem da relação” provando um vinho num jantar, pagando a conta ou em diversos outros momentos, até o quanto gostariam de educar a sociedade para que fossem lidas mais natural possível. Ellen fala sobre a importância da educação enquanto uma questão social: a importância de passar conhecimento, educar e ouvir as pessoas, inclusive a população mais jovem, e tratar os espaços educativos enquanto também espaços de acolhimento. 

 Bianca 
 Ellen 
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