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Assim como os momentos delas serem leves, a família também aprendeu a lidar de uma forma legal com o relacionamento delas. Foi criado até um grupo no whatsapp com elas e as mães e a foto do plano de fundo do celular do pai são as duas juntas. Entretanto, não foi tão fácil no início. A Duda resolveu se assumir, num ato de coragem, durante o segundo turno das eleições de 2018. Estava vendo a grandiosidade do retrocesso na eleição do então presidente foraBolsonaro e entendeu que não cabia mais espaço para se esconder. Foi um período que a violência e os discursos de ódio estavam batendo recorde, então se tornou muito significativo e importante se reafirmar e resistir, mesmo com nossa sensibilidade muito fragilizada somada ao processo de "saída do armário". 

Hoje em dia, Duda conta que se inspira demais na mãe e fica feliz de ver as famílias unidas. Quando pergunto sobre onde elas encontram o amor e o que elas pensam sobre, dizem que amor está envolvido com a liberdade porque amar é respeitar e permitir ser livre. E amar outra mulher é se identificar, principalmente por entender que a outra passa pelo mesmo que você. 
 

A Duda e a Maíra se conheceram na universidade, em 2016. Foi durante a ocupação da UFRGS, que pedia melhorias no sistema de ensino, que elas ficaram amigas e que fizeram um grupo de mulheres lésbicas e bissexuais que participavam da ocupação, onde todas viraram amigas e mantém contato até hoje - inclusive, tatuaram o número da sala que dormiram durante a ocupação, por ter tanto significado nesse grupo. O primeiro beijo entre as duas rolou na ocupação mesmo, mas não virou algo sério em seguida, demorou um tempo... até que (por coincidência) uma foi morar próximo da outra e passaram a se encontrar com frequência. Decidiram tentar algo e foram, cada vez mais, se apaixonando.  

A relação delas é composta por uma convivência muito leve. Possuem bastante abertura para falar sobre tudo e contar com o apoio mútuo. As duas têm diversas tatuagens juntas, de divertidas à frases significativas e as histórias sempre remetem à: estávamos bêbadas e tivemos a ideia de tatuar isso, no fim, amamos. 

A Duda tem 22 anos e é natural de Progresso, uma cidade bem pequena no interior do Rio Grande do Sul, além de ter morado boa parte da vida em Lajeado, também no interior. No fim do ensino médio, passou no vestibular e se mudou para Porto Alegre. Cursou história e hoje em dia faz mestrado enquanto trabalha como Analista de Relacionamento em uma startup, a TAG.

A Maíra tem 23 anos, é natural de Porto Alegre, está se formando em ciências sociais e em busca de um emprego atualmente (mandem jobs! tem alguma vaga para indicar? clica aqui!). Ela adora assistir o jogo do Inter, ler, caminhar por aí e cozinhar. 

Cozinhar, inclusive, é o que elas mais amam fazer juntas. Além disso, brincam que estão sempre sendo taxadas como "pessoas que não param quietas". Gostam de caminhar pelo bairro, de viajar, de ir em trilhas, cachoeiras... de ver gente e de ver mato. Elas já participaram de diversos projetos envolvendo uma certa militância também, como o Lésbicas que Pesquisam (um espaço de visibilidade à presença lésbica na academia) e o Pedal Pela Memória (passeios ciclísticos que envolvem contar a história da cidade de Porto Alegre).
 

Logo que cheguei no apartamento da Duda e da Maíra vi que o nome do prédio era 'Maíra' e brinquei "já entendi porque vocês escolheram morar aqui". Então, desde o começo, subindo as escadas, fui ouvindo o quanto elas terem se mudado para o novo apartamento foi tão importante. 

Antes de chegarem aqui, a Duda dividia apartamento com umas amigas. Era legal, mas a relação delas não era a mesma coisa, sempre sonhavam em ter um cantinho só delas. A Duda decidiu procurar um apartamento num bairro vizinho, mais calmo, na zona central de Porto Alegre. A pandemia foi como um "test drive" para a Maíra passar um tempo nessa nova casa e elas entenderem se conseguiriam viver juntas assim. Aos poucos foram decorando como gostam, colocando a carinha nas estantes, na sala, na cozinha... Têm sido muito bom e dado muito certo. Hoje em dia elas tiram momentos no dia para conversar sobre assuntos aleatorios e trabalham dentro de casa. Comentam que sair da Cidade Baixa, o bairro mais movimentado (e por consequência violento) e ter se mudado para o Bom Fim ressignificou até a forma que olhavam a cidade. Sentiam muito medo e planejavam sair do estado antes de encontrarem esse apartamento, agora, sentem que tem conforto para colocar os planos de mudanças mais para frente e ir planejando com calma. 
 Eduarda 
 Maíra 
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