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A Bruna é uma mulher que sempre quis uma relação leve, alguém que a acompanhasse nas suas aventuras de nômade pela vida e que as coisas fluíssem de uma forma sem brigas ou super cobranças, mas achava que isso seria praticamente impossível de encontrar, até que conheceu a La Salle. 

 

Inicialmente, foi através de um match num aplicativo de relacionamentos que se encontraram, mas moravam há mais de 200km de distância (entre Curitiba e Ponta Grossa, no interior do Paraná) e decidiram uniram o útil ao agradável: a Bruna procurava uma personal para fazer atividades durante a pandemia e a La Salle fazia atendimentos online, então começaram a ter uma relação profissional de treinos online. 

 

Durante seis meses se encontravam online, treinavam e também conversavam sobre outros projetos: a Bruna propôs uma ideia de criar uma academia voltada ao corpo enquanto uma ideia sexual, no sentido de valorizar a sexualidade dos corpos de forma consciente. Enquanto conversavam, Bruna chegou a pensar “Vou casar com essa mulher ainda!” mas o flerte não desenrolava muito porque a La Salle não dava muitas aberturas para além do contato profissional.



 

Não há como não começar essa história falando da forma que elas se conheceram - dessa vez, pessoalmente. Numa das idas até Curitiba, a Bruna, depois de 6 meses de trocas online com a La Salle, falou sobre elas se encontrarem para pelo menos se verem frente a frente. A questão é que tinham pouco tempo: cerca de 8 minutos, entre uma agenda e outra da La Salle, e o encontro seria dentro do próprio carro da Bruna. Elas confessam que os 8 minutos se estenderam um tanto a mais, porém, naquele dia não se beijaram, mesmo com os flertes diretos da Bruna e assim ela voltou para Ponta Grossa sofrida, meio indignada que não tinha dado certo.

 

Quando a La Salle percebeu que a Bruna iria desistir do flerte, resolveu abrir mão. Marcaram um segundo encontro e, como Bruna é muito religiosa, resolveu ir até o seu pai de santo consultá-lo para saber se esse casal tinha chances de dar certo. Aí veio a surpresa: ele disse que sim, que elas seriam bastante felizes juntas, mas que um acidente de trânsito iria acontecer e deixaria a La Salle sem o movimento das pernas. 

 

Pensando nas viagens e na distância que moravam uma da outra, não teve escapatória: o segundo encontro foi no terreiro, para benzer as pernas da La Salle e fazer com que esse acidente jamais acontecesse. [e podemos dizer que, mesmo inesperado, deu certo, né?]


 

Depois da reza, comeram uma pizza com o pessoal do terreiro e finalmente deram o primeiro beijo - um beijo todo descompensado e errado, o que trouxe um segundo susto de “Isso não vai dar certo!”, mas nos beijos seguintes tudo se encaixou. 

 

Quando perguntei para a La Salle como ela se sentiu quando viu uma pessoa propondo um encontro para benzer as pernas dela, ela riu e disse que por mais estranho que soasse, ela reagiu de forma tranquila. Sua família sempre foi ligada à umbanda e sua avó ao candomblé, então sempre teve a religião por perto. Estava assustada com a questão do acidente, claro, mas não cogitou não ir até o terreiro. 

 

Depois disso, resolveram fazer um terceiro encontro: dessa vez, na casa da mãe da La Salle. Bruna levou algumas comidas que a mãe dela fez e fizeram um encontro-de-comidas-de-mães. Brincam sobre esse jeito nada convencional de começar algo ter sido muito gostoso porque fez ser único, nunca tinham experimentado algo assim e se sentem muito felizes de ter se permitido viver isso sem julgamentos. 


 

No momento da documentação, a Bruna estava com 43 anos e trabalha na direção de uma agência de marketing que possui sede em São Paulo, mas divide base em Curitiba já que muitos clientes são de lá. Quando ela morava em Ponta Grossa, também era por causa do trabalho e, mesmo não sendo natural do Paraná, ela adora a vida de nômade que leva com muitas mudanças e se permitindo estar em lugares diferentes. 

 

La Salle estava com 24 anos, ela é formada em educação física e atualmente cursa nutrição. Como trabalha com consultoria online e suplementação, isso também possibilita que possa estar em outros lugares, não necessariamente em Curitiba. Sendo assim, logo depois do começo do namoro, resolveu que se mudaria para Ponta Grossa e passaria um tempo com a Bruna. 

 

Quando chegou lá, a Bruna morava em um apartamento gigante e não tinha móveis, tudo era meio encaixotado e ela vivia lá com os gatos. A La Salle chegou com as coisas dela, a cachorrinha de estimação e foi trazendo também decorações, elas foram comprando móveis juntas e transformando o lugar em um lar de verdade. Depois de alguns meses, a mãe da Bruna teve um problema de saúde e foi para Ponta Grossa também para morar com elas. 

 

Bruna conta que a vida dela sempre foi intensa então não tinha porque ser diferente nesse momento de início de namoro. 


 

Quando chegou o momento de se mudar de Ponta Grossa, decidiram: “Vamos casar aqui”. Entendem que o relacionamento fluiu muito bem lá, elas adoravam a cidade e tudo o que viveram lá faz parte da história delas, então não encontravam um lugar que mais combinaria com a cerimônia do que estar lá.

 

O único problema é que nenhum convidado morava lá. Isso fez com que os convidados que realmente confirmassem presença mostrassem o quanto amavam elas. No fim, deu tudo muito certo! Até hoje os convidados relembram do dia contando que foi o melhor casamento que já vivenciaram. A cerimônia aconteceu de forma religiosa numa cachoeira, com os pés dentro d’água, só com os padrinhos presentes - e depois, em forma de festa, num espaço aberto e super diferente, com os padrinhos vestidos com as cores do arco-íris e tudo pensado nos mínimos detalhes. 

 

A Bruna entende que o amor é a base de qualquer relação humana e que para ele acontecer é preciso muita doação. Quando pensa nas outras relações que teve, lembra que se sentia cansada de só doar e nunca sentir que recebia algo em troca, e talvez por isso conviver com a La Salle seja tão diferente: é muito equilibrado. Ela acredita que o amor entre as mulheres é uma base forte na sociedade, visto que a mulher é de fato a base da sociedade e quando uma mulher ama ela faz algo revolucionário, ela constrói e também desconstrói diversas coisas ao seu redor.


Elas entendem que ser quem são e amar quem amam não é uma opção e para entender isso é preciso muito trabalho sobre a autoaceitação. 

 

La Salle vê a homossexualidade de forma tão normal quanto a heterossexualidade e trata o amor sempre enquanto universal. Porém, na sua vida, passou por diversos enfrentamentos à desigualdade. Já foi atleta profissional de fisiculturismo e depois de se assumir perdeu diversos seguidores e apoiadores, e se sentiu completamente desvalorizada. Até hoje, dentro da sua profissão, é muito difícil ser uma mulher entre os espaços predominantemente masculinos. Na universidade, por exemplo, sempre precisa tirar uma nota muito alta para mostrar que sabe sobre o conteúdo e por vezes é desvalorizada pelos próprios professores homens já que é uma das únicas mulheres da turma. Entende que é preciso seguir para ocupar os espaços de poder no meio acadêmico e mudar isso, incentivar que mais mulheres estudem musculação, suplementação, nos mostrar enquanto uma nova alternativa e trazer novos projetos com a sua presença. 

 

Bruna, dentro da diretoria de uma empresa, fala sobre a importância que sabe que o seu papel têm na representação e na busca por mais diversidade. Hoje a empresa é comandada por três mulheres, mas luta por estar sempre num ambiente mais inclusivo. Ela acredita no poder do cuidado - seja com a natureza, com os bichos ou com os humanos - e acredita que todos devem ser respeitados. Por fim, ela diz: “Desde pequenos passamos por um processo muito dolorido para nos encontrarmos. Passei por momentos que não conhecia ninguém gay, foi muito solitário me encontrar enquanto uma mulher lésbica. Se o mundo fosse mais acolhedor esse processo seria mais fácil”.

 La Salle 
 Bruna 
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